terça-feira, 24 de dezembro de 2013

abraços natalícios

   Queridos visitantes e amigos,

   Desejo-vos nestes momentos festivos boa reflexão e conversa amiga com votos fraternos e pensamentos revigorados. Bom 2014. De coração aberto e mente afiada.

    Sempre em melodia poética e sentimentos reinventados.

   Abraços natalícios.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede»


EDUCAR PARA O TRABALHO DE EQUIPA

Educar para o trabalho de equipa é um constante desafio. Pois é sempre possível questionar as melhores estratégias quando da sua aplicação. Há métodos já testados que seguem o padrão dos comportamentos grupais e que vão dando resultados. Mas cada grupo é, de facto, único. Um governo, uma equipa de futebol, uma turma, uma família, uma redação de jornal, uma firma…

Valores vividos e entendidos de forma pessoal, ou ainda por entender, e que podem ser a força ou a fraqueza de qualquer empresa. Se existir uma séria vontade coletiva, é uma força. Se houver uma expressão de poder ou de boicote a sobrepor-se ao diálogo, é inevitável fraqueza. E isto quando não chegam algumas, quem sabe premeditadas, “insolvências” prematuramente, porque o espírito de equipa é corroído por negligências ou exclusivismos, e depressa chega aquele momento em que os (outros) membros ambicionam a sua autossuficiência para realizarem os seus próprios projetos. O que também faz parte do processo. É pena é não se evitar o que poderia ser evitado: sucessivos períodos de crise ou desaguisados. Há os conflitos que podem ser naturais, como quando os filhos se querem autonomizar, por exemplo; mas há aqueles socialmente depressivos, no seio de uma classe política ou de um clube desportivo…

Confiamos na nossa natureza gregária, o que é a motivação maior para nos predispormos para o trabalho de equipa, não obstante sabermos que, mais cedo ou mais tarde, há um preço individual deduzido, numa qualquer situação. Por vezes até é diminuto…

Se nos perguntarmos: o que é que fazemos que não é, de todo, trabalho de equipa? Ou, pelo contrário, o que é que o é, genuinamente? Julgo que ainda dá que pensar…

Fernando Pessoa, considerado filósofo da humanidade, um dos génios solitários da cultura portuguesa, não gostava que lhe pegassem no braço, porque não se achava boa companhia. Ele queria ser sozinho. Tudo indica que a vida logo de pequeno lho ensinou; daí sentir-se mais seguro na sua solidão e ter aprendido a tirar partido dela. A sua escrita subscreve-o. Tinha amigos, pelos vistos não muitos, e não estava de facto isolado do mundo. Mas fez do ato solitário da escrita o seu principal passaporte de participação social.

Na época deste poeta, na África do Sul do início do séc. XX onde fez os seus primeiros estudos, não sei que dificuldades ele representaria como aluno para os seus professores. Parece que também não gostava muito da atividade física. O certo é que os professores de hoje ainda continuam a ser confrontados com alunos que preferem desenvolver trabalho individual. Alguns desses alunos até são de temperamento razoavelmente sociável. Será que equacionarão as fragilidades das regras instituídas para o trabalho de grupo? Ou será sobretudo pelas frágeis condutas não regulamentadas, muitas e variadas, que nunca se quer denunciar porque são tão mesquinhas quanto quem do grupo as ouse denunciar?

Claro que um chefe de Estado não costuma revelar publicamente as pressões de que é vítima por parte de certos grupos económicos. Um aluno evita denunciar os abusos de um colega. Um trabalhador procura desembaraçar-se sozinho das dificuldades que certos colegas seus intencionalmente lhe colocam no caminho….

E esta é a história da Humanidade. Há quem a conceba como uma espiral. Outros por ciclos. Dois passos à frente e um atrás. Ou vice-versa. Quem compare os homens aos caranguejos dentro dum balde: quando um começa a subir há sempre algum que cuida de o puxar para baixo.

Apesar de tudo, educar continua a significar dar a alguém os cuidados necessários ao desenvolvimento da sua personalidade e faculdades. O mesmo é dizer que, se aprendemos uns com os outros, intencionalmente ou não, estamos numa permanente dádiva mútua de experiências e saberes. Mesmo que os métodos nem sempre sejam os mais pedagógicos ou legítimos.

Vamos mantendo a predisposição inata para a cooperação. Ao longo das diferentes eras da nossa existência, alguma educação necessariamente já adquirimos ao longo da história das civilizações. Mesmo que não seja o espírito de equipa o forte da raça humana, pode ser que um dia o venha a ser… Pelo menos tem despertado com vigor em situações extremas.

Entretanto, nós, educadores de profissão, cá vamos humildemente fazendo também por contribuir para a aprendizagem em grupo, na medida em que nós mesmos queremos (des)aprender.

Há dias deixou-nos um dos grandes defensores da Causa Educativa, Nelson Mandela, mas o seu legado continua mais atuante que nunca: “A educação e o ensino são as armas mais poderosas que podes usar para mudar o mundo” (inscrição mural no Bairro da Quinta da Fonte, em Loures). Um comovido agradecimento pelos seus sábios ensinamentos.
                                                                            
                                                            Laranjeiro, 12 de dezembro de 2013
                                                                        Rosa Maria Duarte

                                                                                         
 

 

 

 

[Setúbal na Rede] - Educar para o trabalho de equipa

[Setúbal na Rede] - Educar para o trabalho de equipa

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede»


«A EDUCAÇÃO JÁ NÃO É A MINHA PAIXÃO»

Hoje em dia, as declarações de amor são cada vez mais raras. Chegam despudoradamente a converter-se em declarações de desamor… É que a educação não é um investimento imediato. E preciso é arrecadar dinheiro já e agora…

«A austeridade é agora a minha paixão» tresle-se em cada declaração política na conjuntura atual portuguesa.

Fazem-se declarações de dívidas, sem amor pelo próximo, porque as palavras amorosas, ainda que retóricas, assustam. Há o medo do fracasso internacional, mas não há o medo da deslealdade e do abuso, até da parte daqueles em quem se queria confiar e respeitar. Já se noticia que a austeridade tem as suas vantagens: mantém as famílias mais unidas, mais em casa, dividindo o pão, o que resulta em menos divórcios…

Fatidicamente, as belas cartas de amor deixam de ser lidas e consideradas ridículas: definham de vez no esquecimento e no desprezo. A distração com as contas bancárias virou costas à paixão pelo bem comum e aos sonhos partilhados.

A atitude agrava-se quando se trata da suposta proteção à Educação nacional, materializada por sucessivas declarações de desamor. Gestos e palavras que têm fragilizado o valor da confiança no futuro da aprendizagem escolar, cada vez mais preterido a favor dos valores da bolsa e do lucro.

O espectro da velha paixão pelo dinheiro a assombrar a mais antiga preocupação civil que é a Educação. Consagrada como gratuita e universal. Ou será que essa preocupação nunca chegou a ser paixão real e correspondida?

Não há seres humanos perfeitos. Em alguns títulos de filmes ou livros, e pouco mais. É verdade que não há professores perfeitos, nem alunos perfeitos. Muito menos ministros perfeitos ou sistemas perfeitos.

Mas as Causas podem devolver o norte e a confiança (quando não são pretextos extremistas ou manobras populistas) e contribuir para o clima social desejável a todos. Quem não sabe que a educação é o berço cultural e a ferramenta genuína para a identidade nacional? Mas infelizmente há sempre quem pense que a sua qualidade de vida é um condomínio fechado, a salvo dos todos os assaltos monetários, civilizacionais, emocionais…

Agora nem as escolas mais seguras e organizadas conseguem assegurar a estabilidade da comunidade educativa do ensino público português se anualmente veem reduzidos os seus direitos e as suas condições de trabalho.

A frase “a Educação é a minha paixão” deixou de ser ridícula: desgastou-se pelo uso abusivo e, sobretudo, pelas insuficientes dádivas efetivas na consumação dessa promessa sentimental adiada.

Os conturbados tempos atuais, que exigem uma maior convicção nos valores educativos, já não conseguem vislumbrar os ténues sinais da velha sensibilidade saudosista que se dizia protetora do ensino público, retoricamente fundamentada na democracia e na alma afoita do coração luso. O fado da árdua conquista.

É pena que as ridículas declarações de amor de antigamente se pareçam hoje com as secas declarações dos divórcios, sem comum acordo, por traição consumada com os contratos do novo regime jurídico sem restrições para o ensino privado com o Estado, mortalmente dilacerada pelos cortes sucessivos nos salários dos funcionários públicos, nos subsídios de alimentação e pelo exponencial desemprego, quer dos professores, quer dos alunos que se veem desprotegidos e votados à frustração da precariedade e da emigração.

Não é preciso ser-se filósofo para se pensar que a sociedade deve ter um sistema educativo justo e responsável. E são urgentes as intenções pragmáticas que compreendam e respondam às necessidades de todos os jovens e das suas escolas, com vista a uma ação social saudável e pedagógica de sucesso.

As extemporâneas declarações de amor ridículas, ainda que moribundas, parecem atingir níveis de ridicularidade ao ponto de haver quem mande condicionar o trânsito rodoviário e aéreo no período da realização das provas de acesso ao ensino superior, como aconteceu há dias na Coreia do Sul. Até a bolsa abriu mais tarde. Decididamente, não reivindicamos tanto….
 
                                                                             Laranjeiro, 13 de novembro de 2013

                                                                                                     Rosa Maria Duarte

 

 

 

[Setúbal na Rede] - A educação já não é a minha paixão

[Setúbal na Rede] - A educação já não é a minha paixão

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

2ª versão «À beira do tempo»


À BEIRA DO TEMPO

 

FADO: Pedro Rodrigues

LETRA: Rosa Maria  

 

À beira do rio da vida

Jovem marujo com tempo

Ei-lo fitando o tormento. 

Altas vagas, sofrimento,

Pálido som, despedida,

Carrega no sentimento.

 

Porque ateimas, meu amigo,

Não arrisques o teu sonho

A tempestade contigo. 

A família é o nosso abrigo

O trabalho o nosso ganho

O amor forte postigo.

 

Ergue-se o mar das redes

O vento engravida o tempo

E chovem tragos de sedes.

Indif’rente ao sofrimento

Beija de sal suas vestes

navega p’ró firmamento.

 

Olhos se acendem no agoiro

Corpos resistem n’agrura

Remos são cruzes de açoite.

 

Rez’á sprança, moça afoita,

Grit’ó nome da doçura

E cant’ó fado que cura.


                                    São Martinho, 11 de novembro de 2013
                                                       Rosa Maria