sexta-feira, 21 de junho de 2013

cidades desertificadas pela escassez de palavras com vida


O futuro das cidades depende da boa rede de comunicações, dos seus recursos naturais e industriais e da valorização cultural que se preconiza.

O valor da criatividade literária é um pilar basilar da alma de um povo e é transversal a todos os meios urbanos, mais ou menos desenvolvidos ao longo do nosso país. Somos um país de poetas, de escritores e de fadistas. A escrita e a música revitalizam os locais e as comunidades.

O futuro das palavras com sentido depende também da expansão qualitativa desta era da comunicação que assegura as atuais civilizações.

Questões: Até que ponto o texto literário ajudará (ou continuará a ajudar) a qualidade do serviço dos media? Como educar a palavra e protegê-la da corrupção? Como poupar a palavra às negociatas da mente?

 Há palavras sem retorno. Atos ilocutórios irrepetíveis. A derrocada do projeto humano evitada pela palavra sábia. A palavra nascida no pensamento saudável.

Serão boas as palavras forasteiras? Será possível a sobrevivência das cidades humanas sem livros e sem autores? Serão as cidades, um dia, novas babéis do futuro? As cidades sem diálogo inventivo sobreviverão?

Pensar a literatura como sustentação da narração credível dos factos presentes e futuros. Até o poeta da morte revitaliza a existência. O único testemunho vivido da experiência possível com a morte é o do homem que ama a palavra com vida.

Numa cidade sem palavras não há sentidos. Só a habitada por homens de palavra. Antes da água encher as barragens, já elas terão de estar cheias de palavras construtivas. A terra antes de ser lavrada, já deve estar adubada de palavras. Em viagem permanente. Mesmo não saindo de quem somos e de onde queremos estar.

Escolher uma cidade pode ser uma decisão consciente. E a escolha implica despojamento de outras vontades diferentes. A história é uma escolha. A palavra certa é uma escolha.

O êxtase da criação de uma cidade ou a sua requalificação depende da sua ecologia e da ecologia mental e verbal dos seus habitantes falantes. Mesmo no silêncio.
                                                                              Lisboa, 21 de junho de 2013
                                                                                      
Rosa Duarte

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