terça-feira, 2 de julho de 2013

O MEU FADO


Nunca me deixarei apartar do fado
 

Vivo numa canseira louca

Pois estou encontrando maneira

De me aportar residente

Na terra contagiante do fado

Sem que o teu ciúme infundado

Me procure estrangular o ar.

 

Deixa-me assim tão somente

viver sentida ao teu lado a cantar

Os meus fadinhos d’Alcântara

Da Mouraria e da nossa Alfama

O marujo de boina e madeixa

Lisboa com cheirinho a cravo

A teima do amor perdido

A gaivota do céu encantado.

 

Gosto de ti e dos meninos

Num amor belo e grandioso

De tardia fadista tomada

Pela doença fatal dolorida

A meio de uma semicheia vida

Albergue de letra corrida

E verso humano consentido.

 

Não me toldarás a minha veia

Vital e determinada guerreira

nem que me faças passar

Por mulher vaidosa e convencida

Egoísta sórdida malfadada

Com história vulgar e conhecida.

 

Cantar onde houver guitarras

Não fosse eu mais uma Rosa Maria

Marulho poético concha de praia

Discreta livre na areia lavrada

De amor e som fresco, maresia

Tristeza que é som subido

Verdadeiro sedutor no fado.

 

Nada nem ninguém de todo nada

Me fará por momentos recuar.

Inventa aliados, gestos, disfarces

E olhares de estudada reprovação.

 

O meu destino está traçado:

 Cantarei a vida e a morte

E o canto do esbelto cisne

Amor canção em dor maior

Em homenagem ao meu destino

Meu eterno e querido pai, o Fado.

                                Alcântara, 2 de julho de 2013

                                        Rosa Maria (a fadista)

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