quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Queres pensar comigo XXVI

- O que achas da sociedade moderna, em geral?

- Bem, esse assunto é muito vasto. Deixa-me que te diga que eu não sou daqueles que fazem a apologia do passado; pelo contrário. Eu acho que a Humanidade tem evoluído, apesar de tudo, claro.

- Então faço-te a pergunta de outro modo: qual é a tua opinião sobre da qualidade de vida do ser humano atualmente?

- Agora fizeste-me pensar numa peça de teatro que está no momento em cena e que se intitula «Imóvel» no espaço do teatro de São João no Porto.

- Ah!, creio que já a ouvi anunciar na RTP.

- Sim. Esta peça tem como texto o tema do crescente individualismo e da solidão no estilo de vida urbana atual.

- Queres dizer que o Homem, apesar de estar mais instruído e evoluído, deixa o essencial comprometer-lhe o bem-estar da existência?

- Nem mais. O Homem esquece o aspeto vital de ser naturalmente gregário e só pensa nos seus problemas, nas suas próprias necessidades. Fala de si, de si, de si, de si...

- E se assim fica cada vez mais só, quem é que o ouve?

- O problema é esse mesmo! A solidão afunda-o. Cada um de nós pode ter muito valor, mas só se enriquece verdadeiramente quando alia o seu contributo a outro(s) que têm como finalidade uma obra maior e coletiva.

- Como uma peça de teatro, por exemplo.

- Por exemplo. Eu sei que a nossa educação moderna é cada vez mais acelerada e os pais nem sempre conseguem proporcionar aos filhos a vida social saudável esperada. E depois, para além de outras variáveis, também há bons seres humanos que são mais solitários na formação da sua personalidade.

- Pois é, temos muitos traços distintivos entre nós e experiências únicas.

- Pois temos e que temos que sabê-los respeitar. Só assim saberemos evoluir. Mas, mesmo sendo uns mais sociáveis que outros, é preciso que não nos deixemos cair na indiferença, na ignorância, na segregação ou no egoísmo.

- Daí as grandes carências afetivas que estão na base da inquietação e angústias de hoje que, se formos atentos, podem ter tratamento à vista.

- É. Não podemos ser cegos. Porque a maior cegueira não é a do sentido da visão.

- É a do coração e a da mente.


Sem comentários:

Enviar um comentário