pintar fontes e praças sorvedouros e carros de folhas recortadas
algumas ainda verdes ânsia de conhecer voos mais altos e lugares
íntimos e imensos de cinzento-céu e branco-tempo aquém-mar.
pintar fontes e praças sorvedouros e carros de folhas recortadas
algumas ainda verdes ânsia de conhecer voos mais altos e lugares
íntimos e imensos de cinzento-céu e branco-tempo aquém-mar.
flocos de beijos e sons de vento a assobiar
fados de amor e máscaras sem rosto no ar.
Não podemos abandonar o barco porque a viagem é aquela que a nossa vontade e determinação conseguir realizar e o sonho, ainda que seja individual, encerra o projeto intemporal comum no nosso mais profundo ser de construir um mundo melhor para todos.
Medronhos caíram do topo das árvores salpindo as fragas
pontilhando vermelho sorridente cinzento pardo de pedras
decoração d'ervas secas à beira-rio Alvoco leves ondinhas
de aragem desenhando no mapa d'água luz +eu feita sombra.
- Ó vizinha, sempre quer vir connosco ver o mar?
- Não sei, dona. E valerá a pena?
- Claro que vale a pena! Está um dia bonito. Nunca viu o mar?
- Nem na tv, senhora. Nem quero ver! Só desgraças... Sabe, é que eu nunca vesti fato de banho...
- Não tenha medo, vizinha. Hoje é só para olhar o mar. Quer?
- Mas antes diga-me cá: o mar é mesmo azul? É que há quem diga que ele muda de cor...
- Hã?
- E será que ele hoje está calmo? Ele é lava de vulcão, ele é plásticos grandes e pequenos, ele é derrames de óleos e lixos variados...pobre do céu, este mar coitadinho!!
- Claro! Os fumos e os cheiros, a poluição atmosférica, sonora, verbal, mental, emocional...as injustiças, a corrupção...deixam-nos cinzentos, amarelos, pálidos, zangados, doentes...
- Mas o smog não tinha melhorado com os confinamentos? Já não falo de outros problemas...
- Sim, mas o trânsito voltou em força. E o pior são a indiferença e o egoísmo perante os problemas climáticos e muitos outros. Com o custo dos combustíveis, que é um problemão, os desequilíbrios climáticos ficam a aguardar vez...
- E entretanto as coisas agravam-se...😕
- 😟
- Eu sou aquele de cabeça oval e a rir? Sinceramente!
Somos frágeis como as pequenas árvores quase livres
no seu dançar e folhear e perfumar o céu e a natureza
sem sabermos se a nossa existência dará frutos e flores
se a nossa beleza será notada pelo pintor amador divino.
Cada passo, cada degrau no caminho da alegria ao encontro do entendimento da fragilidade da vida, advém da vontade de conhecermos quem realmente somos...
Da janela do meu sonho vejo o teu distante solto sentimento
cheio de altos prédios rasando as rotas dos aviões sem piloto
procurando aterrar no meu peito as cores do breve desalento.