sexta-feira, 31 de março de 2017

Já visitaram a exposição de artes plásticas na sala da Cafetaria do Fórum Romeu Correia, em Almada?

















Obrigado, Gonçalo.

A anedota da Anne Bota

- Olá Álvaro, bom dia.

- Bom dia, Fernando. Viram o Alberto?

- Eu acho que hoje o Mestre ficou a contemplar os rebanhos na serra da Estrela.

- Bonito! Combinei eu com a Lídia irmo-nos sentar à beira do rio Alva e afinal o cabecilha do grupo é que não aparece. (diz Ricardo).

- Não se preocupem. Afinal sou eu o vosso criador ou já não se lembram? Já se passaram uns aninhos, é verdade... Vamos até ao Martinho da Arcada para conversar e bebemos lá uns copos? (desafia F.P.)

- Também mulheres? Ó Fernando, mas tu nem és de mulheres... (sorri Ricardo Reis com uma malícia inusitada).

- Então e a minha Ode Triunfal? (lembra Álvaro)

-  Simplesmente divinal!! (F.P. aperta os ossos a Álvaro de Campos, num forte abraço, até o ouvir gemer
    Há quanto tempo vos digo: «Viver não é necessário. Necessário é criar» (e pisca com dificuldade um olho).









O autor é a própria obra
Rosa Maria Duarte
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quarta-feira, 29 de março de 2017

A anedota da Anne Bota


- Olá, amiguinha. Queres vir comigo esticar as asas por esse céu fora?

-(Olhando-o desconfiada) Estou cheia de pressa. Vou levar estas belas minhocas à minha avozinha que está constipada no nosso ninho mais adiante. Espera aí, tu não és o Fernão Capelo Gaivota?

- Viste-me no filme? Foi um filme comovente! Claro que também gostei de fazer outros.

- Só te vi nesse. Mas afinal não morreste? Ajudas-me a levar algumas minhocas que eu nem consigo piar?

- Claro, queridinha.

(O impostor  em vez de segurar com o bico as minhocas para a avozinha, engoliu-as num trago e logo de seguida voou, não deixando de grasnar:).

- O Fernão era um primo afastado. Foi promovido a capelo mas de frade.

Aeroporto Cristiano Ronaldo. Parabéns Cristiano.

Não sou da Madeira, mas respeito a vontade dos madeirenses.

O futebol proporciona momentos únicos; e não só aos seus adeptos. 

Acredito que o futebol já tenha feito muita companhia a gente solitária e proporcionado situações de integração social, mesmo que pontualmente.

O futebol não é racista, não é estatutário, nem marginalizador, por natureza. Provocará, por vezes, paixões descontroladas... 

As crianças, os jovens, os adultos gostam de ir para a rua jogar à bola com os seus familiares, com os seus amigos, com os seus animais de estimação.

Já é cada vez menos um desporto masculino.

É pena o exacerbado lado mercantilista do futebol, que movimenta valores (quase) insultuosos. Mas acredito (pobre ingénua) que um dia se possa fazer do desporto-rei um desporto mais humanista, mais desportivo e menos materialista.

O futebol nasceu entre os pobres e ganhou um ascendente inigualável em quase todas as comunidades do mundo. 

É um sonho a que qualquer ser humano pode aspirar. 

O sucesso não cai no colo. É precisa muita determinação, muito esforço, muita resiliência, muita humildade para aprender com os melhores. E Cristiano, apesar de tudo, tem esse mérito. Porque também é preciso ser forte para enfrentar sentimentos menores alheios.

Como portuguesa, muitos parabéns, Cristiano Ronaldo.


terça-feira, 28 de março de 2017

Esplendor no azul espesso

Mistérios encobre o azul espesso
do céu em todo o seu esplendor.

Manto claro-escuro do crepúsculo
momento de firmamento brilhante
cortina em leves brumas cintilante
face velada de tanto espaço errante.

Mistérios disfarça o azul espesso
no céu do seu colossal esplendor.

Tinta plasma  na primeira lua luzente
pirilampos lazúli  que segredos sente
cristais sem gelo em crateras acalenta
quarto que crescente também mingua.

Mistérios oculta o manto cerúleo espesso
do céu e índigo é o seu infinito esplendor.

Rosa Maria Duarte




A anedota da Anne Bota

- Bora fazer balonismo?

- Hãã???

- Mandar mensagens em balões? DAaaa!!!

segunda-feira, 27 de março de 2017

Autobiografia (página 30)

A nossa rotina sempre foi muito acelerada.
Quando casámos, o meu marido trabalhava em Lisboa e eu no Barreiro. Dei lá aulas durante dois anos. Depois fui para Almada.
Quando engravidei do segundo filho, já estava a dar aulas ao pé de casa. Entretanto o Manel pediu transferência para a Margem Sul.
Quando o Artur nasceu, já estávamos os dois na Margem Sul.
Quando os rapazes atingiram a adolescência, percebemos que tínhamos muita conversa para pôr em dia. Eu ainda resisti um pouco, mas acabei por alinhar em pequenos encontros ao fim da tarde, num café ou coisa do género.
Ainda hoje, quando é possível, vamos pôr a nossa conversa em dia ao fim da tarde, num café ou lugar aparentado.
Quando eu era criança e adolescente, o meu pai não deixava que eu entrasse em cafés. Levei tempo, por isso, a sentir-me descontraída nesse ambiente.
Penso que a minha vivência tem sido polivalente: tanto sou filha de um lugar popular como me tenho construído no ambiente académico.
O próprio José Cardoso Pires, que podia ter vivido só em ambientes de outra instrução, gostava muito do ambiente simples da sua gente e muitos desses eram os escolhidos dos seus romances.
Estive dezanove anos a dar aulas no Celeiro e a quase todos os eventos públicos organizados pela escola, eu levava a minha família. O meu marido chegou a conviver com alguns meus colegas e seus familiares. Penso que havia momentos de camaradagem.
Há uns anos atrás, quando comecei a frequentar a escola de fado da Mouraria, o meu marido também fazia questão de me acompanhar. Ainda lhe propus que aprendesse um instrumento, mas ele sempre gostou de frequentar cafés. Ele dizia que aproveitava para dar umas voltas na zona, para descobrir sítios, beber qualquer coisa e sabe Deus mais o quê...
Nessa escola, não pude criar laços, mas aproveitei o mais que pude para aprender e observar algumas qualidades humanas. Apreciei o ambiente de camaradagem.
Em paralelo, fui fazendo a minha aprendizagem no terreno, nas casas de fado. Aí ia sempre na companhia do marido. Foi um período em que os rapazes tiveram muita paciência com as nossas frequentes ausências de casa.
Entretanto, à segunda-feira à tarde, depois do meu trabalho, juntava-me no restaurante «A Muralha» em Alfama com o violista Vital d'Assunção e outros colegas de fado para aperfeiçoarmos a nossa escola de fado.
Foi então que surgiu a ideia da gravação de uns cd's. Foi uma experiência para mim enriquecedora. 
Foram edições de autor e como tal não estão à venda nas lojas habituais. As edições foram limitadas; todavia há sempre a possibilidade de possíveis reedições. 
Entretanto, no exercício da minha profissão docente, e não só, tenho vindo a promover alguns eventos integrados no «Projeto Fado nas Escolas» em vários ambientes, sempre com o propósito que me move que é o do diálogo inter-artes.
A minha veia de artista plástica não se tem feito rogada. E a temática fadista tem ajudado.
Neste momento, vivo um tempo difícil de explicar. Mais que difícil de explicar, sinto que ainda não posso explicar. Talvez um dia...
Não preciso de muitos mimos. Sei o valor que tenho, os defeitos que tenho, o que ainda tenho de aperfeiçoar em mim (trabalho sem fim), mas sei que muitas coisas têm que melhorar à minha volta. Tenho esperança que isso um dia aconteça. Outras são como são, nada a fazer. Sei os amigos que tenho. Não preciso de «likes». Preciso apenas do dia-a-dia com qualidade que vai sendo possível para recuperar o tempo que não tive para fazer, se tiver condições, o que ainda gostaria. Quem sabe...
Quando eu e o Manel namorávamos, eu acompanhava-o ao A.R.C.O..
Lá conheci o grande pintor e professor Jaime Silva e outras pessoas muito interessantes.
Somos um casal que temos tido muito em comum. Temos uma relação conjugal apesar de tudo forte, que tem conseguido, com esforço, ultrapassar as dificuldades do momento. São vicissitudes próprias das dinâmicas de qualquer casal. Talvez sejamos um casal um pouco menos comum.
Que Deus nos ajude sempre. Se mais alguém ajudar, melhor ainda.


Quadro a óleo de Rosa Maria Duarte em exposição na Casa das Artes em Cacilhas




Excerto da peça «O fado da refugiada» de Rosa Maria Duarte




Anna - Olh'á castanha quentenha.  (Apregoava)

Transeunte - Ó mulher, tens tudo molhado!
                     Lá na tua terra era o que fazias?

Anna - A minha terra está destruída.
             Aqui sempre tenho travalho.

Transeunte - Dá-nos lá então uma dúzia dessas molhadas.

Anna - Senhor, eu ter aqui elas mais quentenhas.

(Mostra as castanhas na gaveta)

Transeunte - Servem-nos bem essas todas molhadas.
             Este bairro de betão é feio, mas ainda tem pessoas bonitas.

Anna - Obrigado, senhor. Eu não ter medo de trabalhar. Ter medo é da guerra e da fome.
             Ofereço a si e à sua senhora mais dous castanhas.

Casal de transeuntes - Sê bem-vinda ao nosso bairro.






«O bairro que temos»
Rosa Maria Duarte
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Dia Mundial do Teatro


Qual é o teu drama?

Não fiques assim. Vem subir ao palco do acontecer.


domingo, 26 de março de 2017

A anedota da Anne Bota


- Bora lá conhecer o oásis na serra portuguesa?

- Qual serra?

- A serra mais perto do céu: a da Estrela, pá.

- Há lá algum oásis?

- O Diário de Notícias disse aqui há tempos que sim.

-  E não esqueceste?! Então porque esperamos? 

- Pelo calor do sol nas Vides das uvas formosas. Sem banhocas no rio Alva ou no rio Alvoco, não há tardes de adegas de bom tintol.

sábado, 25 de março de 2017

O que és, livro?

És livro apenas? Humedeces-m' o olhar.
És bela caravela na minha mente de mar.
Cargueiro de palavras meio-loucas de sal.
Maresias e prantos no pobre peixe a nadar.
Nadas a folhear. Tens bocas a quer tragar.

És livro-ondas d' amar a virar revirar barbatanear
soltas melodias pões a sereia apaixonada assobiar
ao pescador doente perdido que está eis a fundear
no amor vencido. És coral convertido no teu altar.

Livro, és a imortalidade da humanidade tão mortal.

Rosa Maria Duarte

Pormenor de um quadro a óleo em exposição na sala da Cafetaria do Fórum Romeu Correia, em Almada





Autobiografia (página 29)

Uma das minhas tarefas de mãe que eu cumpri com muito empenho foi o acompanhamento das tarefas da escola dos rapazes.
Claro que quando tinham muitos trabalhos de casa e/ou, sobretudo muitos testes marcados, era muito exaustivo. E os domingos à tarde eram sagrados para o descanso e o convívio. 
No secundário a exigência escolar obrigava a mais sacrifícios.
Aprendi umas quantas coisas a estudar com os meus rapazes. Estudávamos recostados, ora a conversar sobre aquilo que tinham estudado, ora com perguntas do manual e do caderno da disciplina em causa. Enfim, segundo um dos métodos mais convencionais. Já havia computadores, pouco sofisticados, claro, mas ainda não se vivia a primazia das novas tecnologias para tudo.
Eu gostava que os meus rapazes também lessem livros. E liam...embora aquilo que mais lhes interessava.
Aprendi nesses estudos um pouco mais de Geografia, por exemplo. Como fui cobaia do ensino unificado, vivi tempos de constantes alterações dos currículos e dos cursos. Nessas reformulações, escapou a Geografia no currículo obrigatório do meu curso, na malta da minha geração. Se bem que percebi depois que a melhor Geografia é aquela que vamos observando e analisando ao vivo.
É assim pena quando ouço dizer a alguém que não aprendeu nada com os professores que teve. Que já tenho ouvido.
As condições nunca foram boas para os professores, mas é pena quando se ouve um Cruzeiro Seixas dizer que não aprendeu nada com os seus professores. Que até chumbou a desenho, que tem sido a única coisa que ele tem sabido fazer bem. É triste!
Faz parte dos sucessos e dos fracassos da humanidade. Às vezes trabalhamos para o sucesso e o fracasso ateima a dar-lhe a mão.
Educar é aquela tarefa missionária ingrata. O educador e o professor fundem-se, mas não fazem exatamente o mesmo. Educar e/ou ensinar é responsabilidade de um ser humano que às vezes também se retrai a dado passo. E pode falhar. Porque também sabe que ele próprio tem que seguir os regulamentos e os programas.
Quando chegamos a adultos, sentimos o apelo de ensinar, sobretudo aquilo que não nos foi possível aprender no tempo certo.
Quando ficamos velhinhos, na nossa cultura, já pouca gente quer saber o que um idoso tem para ensinar. Numa vida inteira quantas vezes longeva! Há a degradação física e psicológica a atrapalhar. Mas há sobretudo uma décalage natural de mentalidades. Uma forte tendência para desvalorizar a sabedoria dos velhos. Porque não são força ativa de trabalho. Não fazem crescer a economia. 
Se foram adultos convictos da sua missão educativa, é tempo de ensinar-lhes que o seu tempo já passou, que agora é mais aprender a submissão ao despojamento feito pelo tempo. E as demências podem ser pretextos para não investir na sabedoria da 3ª idade.
Dizia José Cardoso Pires que não tinha medo de morrer. Tinha era medo de morrer sem a dignidade a que qualquer ser humano tem direito.


«Estou-me nas tintas para o Fado»








«Estou-me nas tintas para o Fado»
Rosa Maria Duarte
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