- Achas mesmo que o nosso país é estruturalmente racista, como dizia alguém ontem?
- Se ainda o é, tem trabalhado, acho, para não o ser. Temos uma história que dá conta de coragem, mas também de erros que não se prendem especialmente à questão de raça ou etnia, mas à dificuldade de compreender o outro, sobretudo aquele que é diferente.
- Então achas que o nosso povo ainda tem muitos preconceitos...
- Tem preconceitos, sem dúvida. Mas lá está, tem feito algum trabalho no sentido de compreender e ultrapassar muitos dos preconceitos de género, de raça, de religião, social, de idade...
- Mas se calhar podíamos já ser um pouco melhores, não?
- Sem dúvida! Nós tivemos um período longo de fascismo e uma longa história nacional muito conservadora neste canto do mundo...e depois não te esqueças que o ser humano tem uma natureza intrínseca tendencialmente de domínio. A humildade não é o seu forte e isso manifesta-se nas suas relações interpessoais. Cada ego tem que lidar com a causa-efeito das suas atitudes e evita ao máximo ser um dominado ou um marginal.
- Pois é. Mas as instituições oficiais também nem sempre ajudam à boa regulação de uma comunidade, numa sociedade sempre em mudança e desafios muito exigentes...
- Claro que não. Não te esqueças que as instituições são o espelho da evolução das sociedades. E progresso não é sinónimo de evolução. Por isso é que aparecem, por um lado os oportunistas, com discursos radicais, e por outro, os carolas que querem desafiar a ordem, aparentemente para supervisioná-la...
- Como os denunciantes?