sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Queres pensar comigo LIX

- Achas mesmo que o nosso país é estruturalmente racista, como dizia alguém ontem?

- Se ainda o é, tem trabalhado, acho, para não o ser. Temos uma história que dá conta de coragem, mas também de erros que não se prendem especialmente à questão de raça ou etnia, mas à dificuldade de compreender o outro, sobretudo aquele que é diferente.

- Então achas que o nosso povo ainda tem muitos preconceitos...

- Tem preconceitos, sem dúvida. Mas lá está, tem feito algum trabalho no sentido de compreender e ultrapassar muitos dos preconceitos de género, de raça, de religião, social, de idade...

- Mas se calhar podíamos já ser um pouco melhores, não?

- Sem dúvida! Nós tivemos um período longo de fascismo e uma longa história nacional muito conservadora neste canto do mundo...e depois não te esqueças que o ser humano tem uma natureza intrínseca tendencialmente de domínio. A humildade não é o seu forte e isso manifesta-se nas suas relações interpessoais. Cada ego tem que lidar com a causa-efeito das suas atitudes e evita ao máximo ser um dominado ou um marginal. 

- Pois é. Mas as instituições oficiais também nem sempre ajudam à boa regulação de uma comunidade, numa sociedade sempre em mudança e desafios muito exigentes...

- Claro que não. Não te esqueças que as instituições são o espelho da evolução das sociedades. E progresso não é sinónimo de evolução. Por isso é que aparecem, por um lado os oportunistas, com discursos radicais, e por outro, os carolas que querem desafiar a ordem, aparentemente para supervisioná-la...

- Como os denunciantes?




quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Ouve lá, passarinho...

Ouve lá, passarinho:

Eu sei que nós te devemos ouvir. Tu é que tens o dom natural da afinação. Tu é que tens melodia natural no teu chilreio. E nós, humanos, temos o devaneio de imitar tudo da natureza, até o canto. A nossa mãe é, sem dúvida, uma boa inspiração.
Mas ouve lá, passarinho (que afinal deixaste um ninho numa árvore despida e ainda é janeiro): bem sinto que já não está tanto frio, mas ainda assim parece cedo para pores ovinhos. Porque fizeste um ninho numa árvore nua e adormecida pelo vento? São as alterações climáticas que te alteram o coração? Não sabes do que estou a falar?
Ah! São lindas estas flores? Tens razão. São flores e por isso são lindas, mas nasceram em cativeiro.  
Sê livre. E desculpa-nos, passarinho. Esperamos que até à prima Vera chegar que faças outro ninho, passarinho.



A anedota da Anne Bota

- Que número calças?

- Nem sei bem... Porquê?

- Com coronavírus, poluição, cheias, incêndios, offshores, extremismos, lavandarias, agitações marítimas...parece que tens uma boa pegada ecológica...

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Fastread poetry

 Lança-te a esse imenso céu e plana de olhos fechados a sentir a aragem
como é bom voar, não é? cheira as nuvens e os gansos de passagem
são aves a fazerem travessia e a ensinar a amar o perto e a viagem
a poisar com alegria no sonho e na poesia florida e nessa folhagem 
da vida a devolver o brilho fino a um olhar deslumbrado em liberdade.





Os três gatinhos

- Ai que vem aí o homem mau!!

- Embora esconder-nos, manos.  

- E se nos escondêssemos numa montra?

- Achas???

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

- Ó Robin, Também tu? Deixa o rato, sff.



Fastread poetry

 O fado também é sol. Guitarras acordam especiais cigarras
que inundam de frémito de emoção transeuntes à beira Tejo.

O fado também é lua. Trinados acordam as estrelas ligadas
nos poemas da vida verso a verso via láctea em eterno beijo.




O fado também é sol/Rosa Maria Duarte/Óleo s/tela/55x46





domingo, 26 de janeiro de 2020

Pensamento do dia

No meio do escuro interior do túnel do tempo, as formas mais naturais que parecem fantásticas e às vezes aterradoras, amansam com um olhar sincero de serenidade. 

 

sábado, 25 de janeiro de 2020

Somos raízes

Somos raízes a dar ocultamente as mãos. Saímos da terra para cumprimentar o sol e o céu. E até damos dois dedos de paleio contemplativo aos vizinhos dos lados, aos mais elevados, aos mais decepados, todos irmãos-raízes que merecem a solenidade de quem também aspira à solidez da eternidade.  
A questão é que ansiamos aquela vida gregária que os humanos dizem querer ter, mais próxima, mais unida, mais fraterna. No meio de grãos de terra e pedras de vários tamanhos e formas, no escuro do interior telúrico, lançamos raízes ao encontro uns dos outros. Unimos os dedos longos, nodulados, seivados, sequiosos de amizade. Nem olhamos à casta ou idade dos dos dedos-raízes dos vizinhos que nos estendem. Nem que seja num subsolo o escuro de breu. Está frio e o calor amigo aquece. Quando há sede e ela aperta, o problema é sério. Mas descemos juntos ainda mais fundo, dedos dados, até ao centro duro e húmido do planeta. Somos sobreviventes e alimentamos o mundo.







Queres pensar comigo LVIII

- É pá! Os noticiários andam agora numa roda viva!

- É verdade. Grandes broncas! Embora seja preciso ponderação para tudo se desenrolar de forma judicial, imparcial e abrangente.

- Sim, sim. E será que é desta que o mundo vai ficar melhor...?

- Ai! isso é pouco provável. A evolução humana é um facto, mas não é linear. Uma coisa é certa, se queremos ser diferentes, temos de agir de forma diferente. E o exemplo fala mais do que as palavras.

- Mas hoje em dia diz-se aquela máxima: «À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.»

- Mas já o nosso Gil Vicente já no séc. XVI falava no mundo às avessas. E o povo ainda hoje lembra: «Quem vê caras, não vê corações.»

- Então quem é que achas que melhor avaliador de carateres? Os psicólogos, os padres, os professores, os videntes, os médicos...?

- Os médicos não são, por razões óbvias: cada tempo de consulta é mínino. Salvo exceções. Falavas dos psicólogos...mas repara: quem te conhece melhor: os teus pais, os teus irmãos, os teus amigos, os teus colegas ou tu próprio?

- Acho que sou eu a mim próprio.

- No templo de Apolo em Delfos está inscrito o aforismo em grego antigo: «Homem, conhece-te a ti mesmo.» 

- Não me digas...ainda hoje é muito atual, não é?

- Pois é, muito atual!

 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Senta, sentes, cinto!

- Senta, Tiago.

- Sentes avó?

- Cinto, sff.

- Tlim, tlim...



Fastread poetry

 Falas tanto, meu Deus! Sentas? Respira, respira um pouco mais.
Estás melhor? As palavras são tão gostosas e variadas. Minerais
com sabor a canção, invenção, sedução, desilusão, consolação...
Mas repara: 🍀🍎🍋🐞🐦🐯🐱🐬🐌🍷 o humano coração
e o olhar deixam entrar a emoção das coisas belas e desiguais.

 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O gato preto que sou

Será que nós, gatos pretos, somos dos mais abandonados? Não conheço estatísticas sobre isso...
Deixem-me que lhes diga que, para além da linda cor que temos, brilhante e macia, somos muito sociáveis, amigáveis e brincalhões. Cada gato é um gato e cada um com a sua experiência de vida. Que nem sempre é fácil... 
Eu não sou veterinário, como imaginam; sou apenas um gato com sorte, mas, como muitos gatos de outras cores e tamanhos, como muitos animais de outras espécies, como muitos dos nossos muito amigos donos, temos tanto de carinhosos como de teimosos. Até aprendemos com alguma facilidade. Mas temos o nosso caráter, a respeitar, sff. Às vezes esfíngicos. Às vezes territoriais. Tantas vezes bisbilhoteiros. Gostamos de ver tudo. É verdade que temos 7 vidas? Gostamos de andar sempre de volta de vocês.
Obrigado aí pelo vosso acolhimento, humanos.






Dorme e come. Ser vivo é ser fado. Ser pessoa é ser poesia.



Cada Pessoa tem o seu Fado / Rosa Maria Duarte / Óleo s/tela / 55x46





terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Fastread poetry

Por favor, flor amiga de quintal, flor campal e despretensiosa:
Não sejas azeda. E se o fores, sê-o de forma doce e luminosa.
Por favor, flor amiga de arraial, flor simples e solar, és amorosa:
Não sejas amarela. E se o és, sê-o de forma colorida e graciosa.
Por favor, flor amiga da liberdade, vizinha do trevo e silenciosa:
Não sejas a tristeza. E se o és, lembra-te do meu sorriso à janela.


Pensamento do dia

Se a vida fosse uma feira, o melhor seria que fosse uma feira popular, onde todos pudessem entrar, felizes sem pagar, com ilusões conhecidas, labirintos sem maldade, mitos e sonhos apetecidos a representar e a fadistar.

 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A anedota da Anne Bota

 - Ouve lá, céu, és tu que és o paraíso?

- Ó dona nuvem, a minha casa é um paraíso!

- O tal paraíso também deve ser grande...tu és mais tipo poeta sonhador...

- Não sei se sou o tal, mas tenho a cabeça nas nuvens.

Um risco no céu

Está um céu azul e limpo com aromas de Alentejo. Quase azul porque se vislumbra muito ao fundo um risco fino e branco. Quem terá autoridade para riscar o céu àquela altitude? E nem o desfigura. Dá-lhe vida. Mas não é uma cicatriz de herói. Porque no céu nada é permanente. Nem na terra. Nem as permanentes das senhoras são permanentes. Nem tão pouco a palavra permanente no seu significado... Só porventura a ilusão de quem a pronuncia...

Mas o risco continua da mesmo tamanho. Estranho! O que será? Tinta de óleo? Aguarela? Ilusão de ótica?

Afinei o meu pobre olhar tão dado a encantamento. Lá está ele, o aviãozinho, de entre limões e ramos e folhas e uma impressão de quintal. Tão direitinho e fininho, o risco no olhar, e tem na ponta  um objeto voador. Um brinquedo tipo avião? Um avião a sério. Tão pequenino! A que distância estará? Para onde irá? Para Lisboa? Oh!!

Porque ficou parado no céu? Se está alinhadinho, é sinal de bom destino. 

Mas...se estás preso numa fotografia, não gastas mais combustível. Eu ajudo-te. Desvio já o olhar para que possas voltar ao céu bem maior fora desta luz rectangular no computador. Não quero que te atrases! Deus te acompanhe, aviãozinho.



domingo, 19 de janeiro de 2020

Fastread poetry

Ó ai ó linda prima pró~primavera de véu azul a descer à terra
a cavalo nas sardinhas de cambraia e cheiros e muitos idiomas 
very cool os aromas de mar tejo intendente e ondas de alentejo.

Poço de vida e água iniciática de convívio e tempo primo a valer.