quinta-feira, 31 de maio de 2018

A anedota da Anne Bota

(No final da refeição)

- Agora só se for uma maçã.

- E que tal a maçã do paraíso?

- Porque não? 😊...Sou demasiado curiosa para virar costas ao conhecimento.

- Tenho ali uma bola de cristal. Talvez te informe de alguma coisa.

- Deve ser um pouco estonteante! Prefiro uma maçã-lua pendurada numa macieira, à espera de ser colhida.

- O que é que andas a tomar? Não me digas que queres uma maçã aluada? Tipo a maçã que se descuidou e ficou entalada na garganta de Adão?





Maça-mulher-lua
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Dá-me apenas o R desse teu nome de mulher

Repara: nascemos no mesmo mundo.
Gritámos juntos o nascermos nus
os sermos seres aflitos lado a lado.
Gritámos quase palavras de ordem.
Viver. Eram tantas boquinhas a gritar.
Não nos víamos, nós recém-nascidos,
queríamos de certeza qualquer coisa.

Depois soltámos mexidos anões a correr
agitar cheiinhos braços a rodar a pulular
a baixar e levantar pernas cambalhotas
caracóis loirinhos a rolar a roçar o chão
e gritinhos mais gritos sons de conquista
tontinhos a ver tudo à roda volta não volta
a gritar uns p'los outros sons livres de cor.

Gritos de nome de gente talvez bonitos a valer
que tão mal pronunciava sem saber dizer os rr.

Estou aqui a pensar: e se me desses os rr
desse nome lindo de criança que eu não consigo
ainda pronunciar direito, de tal doçura e magia?
Já não és criança? Não interessa, eu também não.
Dá-me apenas o R desse teu nome de mulher.

Rosa Maria Duarte





Queres pensar comigo XVII

- Olá. 

- Olá.

- Às vezes ponho-me a pensar de onde vêm certos pensamentos que nos ocorrem. Ideias. A inspiração, por exemplo.


- Esse é um pensamento natural de quem procura saber pensar, conhecer e até criar. A mente humana ainda tem muito por descobrir. E depois há outras dimensões do nosso ser que participam no ato de pensar.


- Pois... Por exemplo: existem, de facto, opiniões próprias e esclarecidas? 

- Sim. Vivemos em comunidade. As autorias são discutíveis. Formular pensamentos sem dar espaço à nossa mente para observar e analisar, é muito arriscado. Mas que somos seres dotados de autonomia pensante e não só, somos. Felizmente.

- Será que a fase egocêntrica do ser humano ajuda à autonomia?

- Tudo indica que sim. Claro que como sendo uma fase evolutiva do indivíduo. Não para estagnar e persistir obsessivamente centrado em si mesmo, mas para ajudar a preservar as fronteiras do eu face às múltiplas influências da sociedade. É sempre uma questão de força de caráter individual e de nível de compreensão do outro.

- E se ficarmos absolutamente sós numa visão ou ideia?

- Se acreditares veemente nela, sendo benéfica para ti, poderá sê-lo também para outra pessoa, um dia. Entra aí o valor da resiliência.

- A questão é que o ser humano está em constante crescimento...eu estou em constante construção de mim mesmo...

- Isso não nos deve assustar. Hoje somos a favor de princípios que regem um grupo de trabalho ou associação para evoluirmos lado a lado. Amanhã um de nós segue um caminho diferente. Somos semelhantes, mas o caminho de cada um é sempre único.

- Então quer dizer que os grupos desenvolvem uma mente grupal ou cada elemento tende a desenvolver os seus próprios pensamentos?

- As duas coisas. Nem sempre é preciso sair do grupo para o indivíduo fazer o seu caminho. Às vezes precisa sair e vai juntar-se a outro grupo diferente. Ou fica só e forma o seu próprio grupo. Ou não...

- Por isso se diz que a democracia ainda é um regime político que dá voz ao povo de forma mais aceitável.

- Com todas as suas virtudes e defeitos, até agora, sim. É que depende da evolução de cada indivíduo e do grupo que nos governa, sabes?!



Como é que uma criança vê a proximidade da noite?

Bela, misteriosa, solitária e ao mesmo tempo repleta de vida.

terça-feira, 29 de maio de 2018

A anedota da Anne Bota

- O que é que achas desta votação parlamentar contra a despenalização da eutanásia?

- Acho demasiado séria para estar aqui a conversá-la contigo nesta rubrica humorista!

- Estás é com medo de ter opinião sobre isto... 
 Eu acho que há já algum tempo a esta parte que se vem praticando a eutanásia...É uma questão de transparência, maturidade e de dar a atenção necessária aos cuidados paliativos. E tu? Diz lá!

- Olha, o que eu te digo é que não gostava de ser médico e ter de praticar a eutanásia. 
   Sabias que dás cabo de mim?!

- Se queres morrer de amor por mim, okay, mas então aguarda por uma assistência devidamente permitida. 

- 😞


Fado é Cultura




Fado é Cultura
Rosa Maria Duarte
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sábado, 26 de maio de 2018

A anedota da Anne Bota

- Exmo. jovem Peter Pan: é uma honra recebê-lo na minha modesta embarcação. Fazemos o pacto da amizade?

- Tréguas, senhor Capitão Gancho. Sabe, é que também me interessa o seu destino.

- Fico muito sensibilizado por, finalmente, se preocupar com a minha sorte (um pouco triste por causa deste tique-taque constante na minha cabeça). A perna de pau é como o outro...

- Peço desculpa, capitão Gancho, mas quando eu falei no seu destino estava a falar na rota da sua embarcação.

- Ah, pois!, claro, que distração a minha! Já vi que hoje não vai para a Terra do Nunca. Prefere a costa mais a ocidente.

- Hoje prefiro a Terra do Sempre.

- Desculpe??

- Portugal, homem!! A Terra do Destino.

- Ah!! A Terra do Fado!! Não o sabia tão sentimental. Veja lá se às tantas está a crescer sem querer...

- 😟?



quinta-feira, 24 de maio de 2018

Todos somos importantes. Não nos queremos esquecer. Hoje vai uma atenção para um de nós.

Júlio Pomar

É bom sabermos um pouco uns dos outros. Sentirmo-nos ligados. Não indiferentes. Não invisíveis. Ou indecifráveis. Irreconhecíveis.
Júlio Pomar? Sobre Júlio Pomar diria talvez um pouco menos daquilo que já muitos sabem. Da sua vida. Da sua obra. Porque (também) vou experimentando as intermitências de uma partilha de interesse modesto pela descoberta insaciável do imenso universo das artes plásticas.
Duma banda nesta terra das letras e das palavras, cá o vamos acompanhando, em sentido entusiasmo, na sua eloquência plástica feita percurso artístico muito próprio. À distância. Sob  tímidos olhares.
Nos últimos anos, a minha curiosidade indisciplinada e a sua obra crescente  convergiram no (re)encontro com o respeitável Zé Cardoso Pires. Velhos amigos nas artes e na vida.
Convergiram, tal como o silêncio e as palavras quando se sussuram. E ganham espaços de multipicidades e cumplicidades.
Como os genesíacos livres traços a carvão que Pomar fazia convergir na expressão assinada de leituras artísticas suas. Veias feitas obras vivas em tela, velando pela boa arte.
Como o escritor que pinta escrevendo palavras de tinta e cor na polifonia da sua voz.
Como o letrista de fado(s) que canta o capricho e a presunção das suas torres de papel ao olhar o amor como mel, talvez sete, em realidades de amargo de fel, no amarelo limão.
Como Carlos do Carmo, em vibratos de sentimento, quando canta as noites mais traiçoeiras, cheias de adjetivos dolorosos, na dor da normalidade infernal, que pasma a pasmaceira.
Como quando vivemos de cara séria, a tecer considerações, quantas vezes a querer parecer o ser, nestas andanças de senhores de computador.
Como quando investidos de pensamento e ficamos atordoados no limbo do frenético e do laser do dito progresso. Só ao machado, à broca e à moca.
E, pasme-se!, consentimos.
Por isso, um letrista que se preza, como Júlio poeta no seu Pomar inspirador, vai pedindo, num fado seu, à sua amada que não o poupe. Com fraqueza, tristeza, perfídia ou aflição que destruam a razão. Não. Ainda mais que levem à frustração. Servida numa bandeja. Decididamente não.
A bem da nação, não quer que isso aconteça. Não quer assentar nessa baixeza.
E termina este artista-pintor-letrista o fado fértil assinado Pomar este seu fado do 112:
«Por favor, peço só/Não te demores, vem logo/Traz gasolina, põe fogo/Meu amor, não tenhas dó».

Descansa em paz, amigo mestre.

Rosa Maria Duarte


Dia Mundial dos Parques Naturais

Como é bom celebrar a Natureza!