Numas águas-furtadas de Lisboa, a rapariga do Mariquinhas esperava-o. Quem era o Mariquinhas?
O Mariquinhas era o inquilino mais bem vestido do velho prédio, com sapatos de verniz, unhas de guitarrista e sempre vestido de negro luzidio. A sua cadeira era esta.
A Mariquinhas, uma moça séria do povo, estava vestida e aprontada para a sua chegada. Ele nunca se atrasava.
A sua casinha era muito modesta, mas tinha um brilho inconfundível. A esta hora já toda a vizinhança estava à janela. O que quereriam?
O Mariquinhas beijou sua companheira, despiu o casaco para se sentar na sua cadeira...
A guitarra portuguesa também estava à sua espera. Não a queria pendurada. Achava-a mais segura e acomodada deitada no chão. Ninguém podia aproximar-se dela. Para além deles, também só havia uma gatinha amarela muito fofinha e obediente.
Não é que se sentia confortável com eles? A vizinhança já a ouvir a sapatear...era bom sinal.
Naquele dia, o Mariquinhas foi para a janela dedilhar a guitarra. O que seria que ela iria cantar?
A Mariquinhas fez o sinal da cruz antes de cantar. Agradecia a Deus a voz que tinha, de olhos fechados.
Foi então que se começou a ouvir um trinado bem gemido: era o fado Vianinha.
A Mariquinhas olhava absortamente o seu quadro de camélias, enquanto sentia a sua alma na letra que tinha aprendido há pouco...
«Canto o fado porque gosto/Deus me deu este condão...». E ao cantar, o seu corpo ia lentamente balouçando-se pela saleta, junto à janelinha...
Puxaram a cadeira e à vista de todos, os dois fizeram a maravilha da sua gente que também estava à janela e outros parados na calçada. Ouviram-se muitas palmas. "Ah fadista!" "Ah, boca linda!". O casal agradeceu e recolheu a casa, felizes.
A casa dos Mariquinhas Rosa Maria Duarte Óleo s/tela 55x46 |
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