sábado, 29 de julho de 2017

O calor não deve ser uma ameaça para as florestas.

Quadro a óleo em exposição na Casa das Artes em Cacilhas

«Tanta gente, Mariana»

Muito gostava o professor Mário Dionísio de falar de «Tanta Gente, Mariana» de Judite de Carvalho.

E não me esqueci. Pelo contrário.

A solidão entre multidões.



sexta-feira, 28 de julho de 2017

A anedota da Anne Bota

- É pá, hoje quando fui beber o café depois do almoço, o empregado, familiar, diz-me assim: «Ai, senhor Rui, ando que nem posso. Quem me viu e quem me vê. Dantes era uma águia. Ninguém me agarrava. Agora não passo de um condor. Com dor aqui, com dor ali...»



Os sonhos da lua

Ei-la
tão redonda e amarela
confiante de si mesma
conversando com cada estrela
e com as bolas de fogo que se passeiam
tão cadentes pelo espaço matizado
-olá- nem que seja um cumprimento.

Ali
a lua
olha tudo à sua volta
não quer dormir a noite é sua
e vai girando a cada portada aberta
gosta de cortinas abertas para espreitar-nos
curiosa   oferece-nos fantásticos sonhos
de que só à lua se lembraria.

Então...
sai de leve
de mansinho 
ainda a cruzar-se com ele
o senhor da sua vida o Sol da sua lua
deixa-se ficar um pouco a fazer fita
a desenhar no seu círculo o azul já em luz
e adormece no firmamento bela e amarela
cantada por seres apaixonados, a humanidade.

Rosa Maria Duarte



quinta-feira, 27 de julho de 2017

Viajar no veleiro Sagres até à ponta de Sagres para beber qualquer coisa...


O ponto de encontro pode ser aqui.


A anedota de Anne Bota



- Queridas amigas, vocês são lindas de morrer, mais belas do que as apaparicadas flores de canteiro!

- Achas mesmo que se nota a nossa beleza no meio de vocês, troncos meio-secos de arbustos silvestres?

- Oh, estaríamos completamente pisados e esquecidos se não fosse a vossa simples graciosidade...vejam o exemplo desta foto!

- Pois...a mim não me valeu de nada (diz uma esmagada miosótis moribunda, que ficou de fora da captação da máquina fotográfica).

terça-feira, 25 de julho de 2017

Rostos que riem de si próprios

Os rostos magoados pelo vento forte
do lado mar são desenhados pelo aroma
a sal e a algas luzidias carnudas de verde
tão verde que apetece cheirar e comer
dormir e oferecer a outros rostos amigos.

Os rostos sofridos sabem também colorir
rostos que riem de si próprios ao luar
porque conhecem a verdade da vida
e da morte e não se escondem nas copas 
das árvores também elas fustigadas
pelos partos dos ramos que tanto amam.

Rosa Maria Duarte



segunda-feira, 24 de julho de 2017

Gosto de ti como és.



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Pensamento 'à la minute'


Somos simples sombras a querer crescer durante a caminhada exigente que é a vida. 
Podemos ser um coletivo, e que procuramos sê-lo, mas o caminho que cada um vai pisando é marcado pela solidão.

sábado, 22 de julho de 2017

Abraços seiva-de-colo

Tenras, dançarinas, são hastes quase troncos
topo de serras a sonhar ventos, faces de lua
céus de outras ruas, bebendo aromas húmus
trôpegas agulhas filhas de entroncados pinhos
parentes jovenzinhas que fazem pouca sombra 
não sabem sacudir tempestades vociferantes 
soltas e desinibidas, trovejantes e belas
cintilantes e divinais na sua majestade senhora.

Tais árvores-meninas tímidas sorriem à descoberta
de novos sons, cores, companhias formigantes
águias reais em fundo azul, roedores radares
transeuntes elevatórios que provocam comichão
meninas doloridas à espera do abraço seiva-de-colo
sementes das mamãs que espreitam o sentir-lhes
o crescer-lhes, o contar-lhes as invernias de açoites
a apressá-las e a mimá-las carinhosamente
com pinhões soltos das suas vastas economias.

Se o tempo e o mundo quiser, um dia serão também
senhoras e majestosas mães extremosas
de outras árvores-meninas, tão fogosas e dançarinas.

Rosa Maria Duarte


quinta-feira, 20 de julho de 2017

Criança-soldado

Oiço um grito, mãe
aqui nesta almofada
já o sufoquei com as mãos
tão pequenas e nervosas
apertadas contra a boca
que afinal era a minha.

Oiço um tiro, mãe
junto a este encolhido peito
será que ainda não morri?
sou franzino quase osso
p'rá dor mal preparado
já mal te conheço, mãe.

Oiço um gemido, mãe
no ventre quase inchado
que se contorce vazio
e transpira perturbado
mal comido açoitado
acordado toda a noite.

Já não oiço, mãe
quando me mexo 
o ar ficou mais frio
deixei de o respirar.
Estás comigo, mãe?
Posso ir aí ter?  Até já.

Rosa Maria Duarte




Fado em tempos de guerra (na Gulbenkian)