sábado, 22 de julho de 2017

Abraços seiva-de-colo

Tenras, dançarinas, são hastes quase troncos
topo de serras a sonhar ventos, faces de lua
céus de outras ruas, bebendo aromas húmus
trôpegas agulhas filhas de entroncados pinhos
parentes jovenzinhas que fazem pouca sombra 
não sabem sacudir tempestades vociferantes 
soltas e desinibidas, trovejantes e belas
cintilantes e divinais na sua majestade senhora.

Tais árvores-meninas tímidas sorriem à descoberta
de novos sons, cores, companhias formigantes
águias reais em fundo azul, roedores radares
transeuntes elevatórios que provocam comichão
meninas doloridas à espera do abraço seiva-de-colo
sementes das mamãs que espreitam o sentir-lhes
o crescer-lhes, o contar-lhes as invernias de açoites
a apressá-las e a mimá-las carinhosamente
com pinhões soltos das suas vastas economias.

Se o tempo e o mundo quiser, um dia serão também
senhoras e majestosas mães extremosas
de outras árvores-meninas, tão fogosas e dançarinas.

Rosa Maria Duarte


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