quinta-feira, 20 de julho de 2017

Criança-soldado

Oiço um grito, mãe
aqui nesta almofada
já o sufoquei com as mãos
tão pequenas e nervosas
apertadas contra a boca
que afinal era a minha.

Oiço um tiro, mãe
junto a este encolhido peito
será que ainda não morri?
sou franzino quase osso
p'rá dor mal preparado
já mal te conheço, mãe.

Oiço um gemido, mãe
no ventre quase inchado
que se contorce vazio
e transpira perturbado
mal comido açoitado
acordado toda a noite.

Já não oiço, mãe
quando me mexo 
o ar ficou mais frio
deixei de o respirar.
Estás comigo, mãe?
Posso ir aí ter?  Até já.

Rosa Maria Duarte




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