Não custa nada ajudar, diz-se por cá. E muitas vezes, confirma-se. Seja uma ajuda a conhecidos ou a desconhecidos. Que depende, naturalmente, das condições (quantas vezes circunstanciais) do ajudador e da confiança mínima que lhe desperta o necessitado.
É, de facto, bom ajudar. Porque sabemos, humanos mais e menos experientes, que quando se ajuda o outro, o nosso sentimento e imagem engrandecem. É uma forma garantida de fazer bem ao eu por intermédio do outro. Algo de vital e de (quase) inevitável…
Um ato que tem muito (também) de cultural (quer seja de cultura nacional, familiar, política, académica, religiosa, financeira…).
Ajudar requer regras, logo, aprendizagem. Porque é um ato que não está isento de (grandes) interrogações. Questões do tipo: será seguro ajudar a favor das causas que circulam na Internet? Algumas serão reais e prementes, mas como distingui-las e avaliar da sua credibilidade?…
Um pedido de ajuda pode não ser explícito e a necessidade não ser captada devidamente. E haver necessidade de tempo para decidir…e já não ir a tempo…
Menos vezes (infelizmente mais do que o desejável), há pedidos de ajuda armadilhados (entre conhecidos) com propósitos menos nobres: testar, manobrar, distorcer… Nem sempre um discurso manipulador alcança o fim desejado e então um cenário aparentemente espontâneo para criar ratoeiras é recurso eficaz para fabricar opiniões e induzir a ilações. Emprestar um pensamento sobre alguém, tipo: “é um ser humano que não sabe ajudar, portanto não presta”, que pode afetar socialmente um “gajo”.
Por isso há que saber ajudar para saber educar para a ajuda. Por exemplo, reafirmando a tónica individual na atenção e na vontade sábia. E na reflexão e discussão, essencial nas decisões em grupo.
Ajudar presencialmente, à partida, parece o mais seguro e constatável. Mas a distância temporal, física e mental pode permitir uma ajuda mais ponderada, levar a uma via institucionalmente mais regulamentada e ser, até, menos constrangedora (quando não, mais abnegada)…
Qualquer atitude perante um pedido de ajuda é individual, mesmo que ela seja apenas uma contribuição parcelar para um grupo ou família. Aí, mais propensa à influência do modelo grupal.
Neste âmbito, quantas vezes já demos connosco a pensar e a discorrer sobre as reações humanas, tão diversas e surpreendentes, até pela observação de nós próprios. Todos diferentes, todos iguais. E ainda assim, entretidos a criar autênticos catálogos humanos.
Senão, vejamos:
Há-os tímidos que quando olham para o passado, pensam que gostariam de ter ajudado num dado momento e não conseguiram reagir a tempo. Se fossem interpelados, talvez o tivessem feito. Ou, pelo contrário, talvez se retraíssem mais, na confrontação espontânea do outro. (Quantas vezes não monologaram: até que podia ter ajudado…)
Há-os que precisam de se preparar logística e mentalmente para darem do que é seu (ou pensam ser seu) e então poder tornar claro na sua cabeça o grau de ajuda que pretendem dar, sem criar expectativas desnecessárias, muitas vezes lidando com o sentimento de frustração em relação às oportunidades falhadas.
Há-os que pouco (auto)conferenciam sobre estas situações. E quando pensam, é para tomar decisões rápidas e definitivas. Do estilo: .
Pelos vistos, depois do ato de ajudar, vem a constatação que o difícil não é ajudar. Nem educar para ajudar. É, na realidade, para o saber receber. Saber o que aceitar, como aceitar e lidar com os rituais humanos de gratidão.
Saber verdadeiramente ajudar o outro implica uma base de interação desinteressada e não manipuladora. Pois… E do outro lado, aceitar a ajuda construtivamente, sem idolatrar ou castigar falhanços (ajudas com contrapartidas de “reeducação/formatação” forçada de outros adultos? Não, obrigado).
O ser humano, quando quer, é até capaz de ir mais longe e descobrir generosidade no parceiro mais distante e descrente na sua raça.
É que a gratidão genuína, a par do perdão, é dos sentimentos mais provocadores e mais gratificantes que qualquer indivíduo pode experimentar. E essa provocação agudiza-se com a aproximação da adultez.
Ironicamente, ou não, é a esses mesmos adultos a quem cabe educar as crianças para a ajuda ao outro. Para serem melhores do que eles/nós, naturalmente.
Pois, irão sê-lo…



Rosa Duarte

Professora e mestre em estudos portugueses
Rosa Maria da Silva Candeias Tavares Duarte nasceu em Alcântara. É investigadora do CHAM e professora de Português. É mestre em Estudos Portugueses e desde 2010 doutoranda na FCSH em Línguas, Literaturas e Culturas, na área de Estudos Literários Comparados. Fundou dois jornais escolares. É conhecida no meio fadista como Rosa Maria Duarte. Tem dois cd's editados: “Fado Que Cura” e “Fado Firmado”. O seu blogue pessoal é “A Batuta do Olhar”. É casada e tem dois filhos.