sábado, 19 de janeiro de 2013

margem sul online


A EQUIPA DA RLG ESTEVE NOS 15 ANOS DO SETÚBAL NA REDE

No passado dia 5 de janeiro, o Setúbal na Rede comemorou os seus 15 anos e a nossa equipa esteve lá representada. O projeto inovador «Jornalismo na Escola» juntou-nos. A conferência comemorativa foi no Hotel do Sado, um lugar panorâmico da cidade de Setúbal, paisagisticamente facetado por um apreciado quadro de serra-mar, onde ouvimos falar sobre a realidade atual da comunicação social, da imprensa digital, da imprensa regional...

O jornalismo foi debatido. Embora seja um assunto muito familiar e presente no nosso dia-a-dia, nem sempre lhe dedicamos a nossa melhor atenção. E por isso foram feitos também alguns esclarecimentos como de conceitos novos relativos à narrativa impressa, sequencial e linear e à narrativa digital, com o hipertexto, híbrida de linguagens e de media. Uma diversidade de assuntos. Os conteúdos que tanto custam a produzir e que têm um ciclo de vida tão curto, mas que agora têm a possibilidade de se agruparem em várias plataformas. A mudança de paradigma nas preferências do público face aos meios de comunicação social. As próprias rádios, que se estão a transformar em canais de música. A menos custo. A proliferação continuada da informação copiada das mesmas fontes. As vantagens do jornalismo digital, como acesso mais fácil a notícias, nomeadamente passadas. O lucro anteriormente desfasado entre jornalistas e distribuidores que acaba. As desvantagens, com a possibilidade aberta de postar comentários abusivos e desrespeitadores (“às vezes parecendo inscrições de paredes de wc”). Os editores/jornalistas que se consideram espoliados daquilo que produzem, devido às cópias não licenciadas. E isto às mais altas instâncias…

Num evento plural e participado como este, pareceu consensual que não se deve investir tudo no digital, pela natural razão de que a energia elétrica é o seu único pulmão.

E sobre a sobrevivência da publicação de livros impressos, foi feita a divulgação de um novo projeto, quase inédito em Portugal, da Amazon.com por exemplo, com impressão e edição possíveis de acontecer na própria hora. Tudo em tempo recorde.

Quanto aos mais idosos e menos cibernautas, apesar de poderem continuar a ver em papel os seus jornais e os seus livros nas prateleiras das bibliotecas, um dia também terão, com certeza, apoio humano nos centros de recursos para carregarem as suas tabletes para levarem para casa com a bibliografia do momento desejada.

Foi uma tarde de bom jornalismo. As nossas felicitações pela persistência, qualidade, coragem e dinamismo ao Setúbal na Rede.                                  

                                                                            Rosa Duarte

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A música é o grande livro que nos inspira

   Meus caros visitantes,

   Desculpem a ousadia, mas lembrei-me de fazer uma comum experiência instrumental gravada. Digamos que soltei um bocadinho a franga. Talvez um sonho antigo em lista de espera... Ou apenas uma brincadeira que me deu algum gozo. Whatever! Não são os pequenos momentos que nos fazem sentir presentes? Onde está o cameraman? Fugiu? :):)

   Bem, apresento-vos o som da harmónica Blue Harp, que comprei em Amesterdão há uns largos meses. Ora oiçam, se assim o entenderem, claro:

http://www.youtube.com/watch?v=rTuaE6h1_b4  


                                                                                                         
    
                                                                                     Obrigado.


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Setúbal na Rede


OS PROFESSORES TAMBÉM LEEM

Os professores também leem. Esta asserção, aparentemente de mérito, é uma discreta insinuação, na qual tropecei e não pude deixar de me interrogar pelo uso da conjunção aditiva também que pressupõe que os não professores são leitores assíduos e os docentes, principais agentes educativos, lá vão praticando a leitura mais por dever do que por gosto pessoal. Esta farpa arremessada, calculo que por um cidadão anónimo mordaz, interpreto-a de duas maneiras. A primeira, porque ainda se questiona a instrução distinta dos professores, que sabemos são hoje em dia praticamente todos licenciados. Com licenciatura de crédito, presume-se. Logo, com (muitas) leituras feitas, necessariamente. E provas diárias dadas. A segunda, porque se trata de uma classe profissional tão díspar nas suas áreas de formação e de interesses que haverá alguns, segundo esses olhares mais críticos, que pouco se dedicam à leitura metódica. Estarão em causa livros de cultura geral e de diferentes áreas. Estará também, com certeza, em causa a atitude genuína do amor pelo livro. Um nome ainda a criar do tipo «filobiblia». Já para não falar da bibliofilia, cuja versão mais pro comercial serão certos alfarrabistas das nossas bairristas localidades.

Será a «filobiblia» essencial para educar para a cidadania? Serão os professores intelectuais os mais admirados pelos alunos?

E não incluo aqui a leitura assídua de periódicos que exigiria uma reflexão profunda distinta, por gente com experiência para tal, nos lugares próprios, como na Conferência dos 15 anos do Setúbal na Rede do passado dia 5 de janeiro. Até porque hoje em dia os jornais já se encontram praticamente postos nas mãos (ou nos olhos) dos seus consumidores, antes mesmo que cada leitor se decida a pensar neles. Segundo a experiência do jornalista José Mendes, que participou na referida conferência, apesar da crise socioeconómica dos Media, estes nunca estiveram tão presentes na vida dos cidadãos. Há crise, mas também há mudança de paradigma.

No caso dos livros, embora alguns já se encontrem disponíveis online, (ainda) implicam investimento de procura e de dinheiro.

Não obstante recentes estudos revelarem que a docência é uma das atividades profissionais mais apreciadas, pelo seu reconhecido empenho pedagógico e social, continua, no entanto, a ouvir-se recorrentemente que muitos professores são uns chatos e que não sabem motivar nem ensinar os alunos. Serão estes, os chatos, os que leem pouco, nomeadamente sobre as novas abordagens pedagógicas para uma Educação de sucesso? Ou são as ações de formação, creditadas ou não, e a troca de experiências personalizada que mais ajudam ou ajudarão os professores na sua prática letiva e nas atitudes para os valores, bem como na seleção dos melhores métodos didáticos para cada um? Claro que qualquer uma destas questões tem sido suficientemente abordada por um espectro alargado de estudos e opiniões, umas mais esclarecedoras do que outras, umas mais atuais do que outras, realidades a compartilhar e descobrir, bem como uma infindável lista de bibliografia diversa, alguma dela com suficiente interesse. Salvaguarda, desde já, para o segredo do sucesso educativo que depende, em muito, da capacidade de cada profissional responder ao grande desafio que é a prática do dia-a-dia escolar com todas as idiossincrasias de cada aluno, de cada grupo, na sua escola e naquele meio. Os bons profissionais não se fazem sozinhos…

Em boa verdade, alguma coisa tem sido feita em prol da Educação nas últimas décadas no que toca ao incentivo ao livro. A prática de leitura dos adolescentes e dos jovens tem aumentado. Ainda num certo ângulo de liberdade e participação social. Mas é com satisfação que circulo nas livrarias da Margem Sul e de Lisboa, sobretudo, e vejo malta nova a folhear livros de matérias diversificadas e de se dirigirem aos pais e amigos num discurso que espelha o seu interesse pelo domínio da nossa admirada ferramenta linguística. Os agrupamentos e demais instituições, com a escolaridade obrigatória, têm um universo estudantil mais heterogéneo. Sobretudo aqueles que se localizam num meio social multicultural e, por vezes, socioeconómico problemático. O respeito e o intercâmbio são indispensáveis. Por isso, todos os contributos são bem-vindos. E o ato da escrita disciplina o pensamento e o uso da palavra. E questiona a ação própria e do outro. As razões para nos equivocarmos são muitas, como dizia Freud.

O bom livro é gerado com esforço e generosidade. Dá ânimo e satisfação a quem escreve e a quem lê. E a quem o vende. É um parceiro inseparável dos educadores. Por isso, continua a fazer sentido manterem-se as leituras integrais de obras literárias e não literárias nos programas disciplinares curriculares de todos os anos de escolaridade até ao 12º ano. Com eventuais reformulações periódicas, naturalmente. E certas iniciativas que também têm implementado os contratos com os alunos no âmbito das orientações do Plano Nacional de Leitura. Leituras extensivas a partir das escolhas do aluno, num leque variado de categorias. E também, por exemplo, trabalhados num espaço de opinião individual, de cinco minutos no início da aula, que também pode e deve incluir os Media.

Não obstante o uso crescente das novas tecnologias, o fenómeno do acolhimento do livro convencional continua surpreendente. É certo que a informatização simplificou e economizou o processo de edição, e até de uma forma ainda quase inédita em Portugal, segundo nos explicou Nuno Ribeiro no passado dia 5 em Setúbal. Mas o livro encadernado ainda continua a ser indispensável, e a ser apreciado, até pelo mais ferranho cibernauta. O próprio Nuno Ribeiro quis ver em formato papel o seu livro intitulado Digital, que parece ser bastante elucidativo sobre estes avanços tecnológicos imparáveis. Alguns são a baixo custo. De alargada distribuição e cómodo acesso. Com encomendas de confiança, também via internet. De facto, não há desculpas para não ler. A não ser o analfabetismo, que, felizmente, é cada vez menos. Ou a falta de tempo, mas esse nem que se roube a tarefas inglórias como aquela de repisar mentalmente vezes sem conta as chatices do dia.

Um dos livros interessantes, por exemplo, a ler sobre educação, mesmo não sendo recente, é um cuja tradução portuguesa tem por título Aviso aos alunos do ensino básico e do secundário do escritor e filósofo belga Raoul Vaneigem (Antígona: 1995). Eu já conhecia a Internacional Situacionista dos anos 60 que aspirava a grandes transformações sociais e políticas. Com todas as suas valências e controvérsias. Mas vale a pena recordar a proposta educativa deste escritor, pelo seu vigor combativo e audaz. Uma reflexão corajosa sobre a educação e os modelos pedagógicos, embora nem sempre consensuais. Apesar do raking das escolas e dos polémicos valores subjacentes condicionarem muito a rebeldia dos nossos jovens, o sentido crítico destes continua atuante e revela-se na proximidade cúmplice com os seus professores e educadores.

Não obstante as virtudes nas recentes reformas do ensino e dos esforços de uns quantos professores para educare, no sentido latino de trazer à luz a ideia ou filosoficamente fazer a criança passar da potência ao ato, da virtualidade à realidade, sabemos que tal não passa pelo aumento do número dos alunos por turma. Ou pela falta de psicólogos e animadores culturais. Ou pela ausência de espaços próprios para os alunos permanecerem e interagirem, como uma sala de alunos, uma rádio escolar, alguns entretenimentos, um palco.

Decidir oferecer um livro é um bom sinal de aprendizagem do ser humano. Do aluno e do professor. Um, por exemplo, com apenas 84 páginas e encontrado numa banca de livros de rua. Porque hoje o leitor pondera antes de comprar. Num tempo em que o orçamento é escasso. Cada vez mais. Mas sabe que a cultura também precisa do seu apoio e de espaço de respiração no implacável mercado económico.

A verdade, mesmo que dura, é preferível, logo boa e intemporal. Como esta: um bom livro ajuda sempre a (re)pensar. Mesmo que a sua proposta de mudança pareça demasiado radical para a sociedade em que vivemos. Que soe a utopia. Ou balizada por uma época de ousadas propostas ideológicas. O caso do citado livro, escrito segundo a experiência e a vivência do seu autor, em muitos aspetos mantém a atualidade e apresenta-nos alternativas a uma realidade tão bem conhecida. “Pois não tem até hoje obedecido a empresa escolar a esta preocupação dominante: melhorar as técnicas de domesticação com vista a que o animal dê lucro?” (p.10)

Este tom de crítica do autor é incisivo e de ultimato à Escola, pois apenas se pauta pelo infortúnio da incerteza no futuro e pelo poder político-económico, em vez de viver para o que cada um deve valorizar nas suas capacidades ao aprender e gostar de compreender e construir. “Chegou o tempo de investir na paixão irreprimível do que é vivo, do amor, do conhecimento e da aventura, paixão que a cada instante, quem quer que tenha decidido criar-se segundo a sua «linha do coração» há-de inaugurar.” (p.19).

Alguém disse um dia que não descobrimos os livros, são eles que nos encontram e nunca é por acaso. Mas então temos que abrir o nosso espírito para eles nos acenarem e nós possamos ir ao seu encontro. “Não será a consciência duma presença viva no sujeito e no objecto capaz de manifestar aquilo que há de mestre no aluno e de aluno no mestre? Onde faltar a inteligência da vida, só se estabelecem relações de brutos.” (pp.39/40)

Raoul Vaneigem reconhece que todos os anos dezenas de inventivos professores dos ensinos básico e secundário sugerem métodos firmados num novo acordo dos seres e das coisas. Mas, mais ou menos inventivos, importante é que os professores possam e saibam trabalhar em verdadeiro espírito de equipa e em esforço concertado em prol do bem maior que é a Educação.

Todos os seres humanos nascem com um potencial criativo. Diz-nos o famoso Ken Robinson, no seu livro intitulado O Elemento (Porto Editora: 2010). Uma das muitas ideias e desafios que Ken nos lança é olharmos para os olhos dos nossos filhos e daqueles de quem gostamos e, em vez de persistirmos em ideias preconcebidas sobre as suas personalidades, que afiançamos conhecer bem, tentemos perceber quem realmente eles são. A importância do conhecimento e do reconhecimento individual para a compreensão e a autossatisfação. O sucesso coletivo versus o sucesso individual e vice-versa. Os professores têm consciência disso. Assim eles próprios consigam lidar com os seus desejos e o grau da sua própria autossatisfação. E com a sua tão indispensável atenção integradora de todos. É sua tarefa diária fazer uma observação paciente e ponderada do comportamento de cada um dos seus alunos e, de algum modo, de cada um dos seus pares.

Qual é então o Elemento que nos fala Ken Robinson? É saber ser, antes que o mundo imponha restrições. E cita a pergunta desafiadora de Terence Tao, um jovem matemático australiano de origem chinesa atualmente com 37 anos: “Se eu pudesse fazer o que quisesse – sem ter de me preocupar com a minha sobrevivência ou com o que os outros pensam de mim -, para onde me inclinaria?” (p.103)

A frase “os professores também leem” despertou-me esta necessidade de escrever e de pegar em livros que trouxe para aqui para junto do computador, que é a minha ferramenta crucial. No entanto, a minha mente ateima em pensar na revista que folheei há pouco, de que sou assinante, a Superinteressante, pois também sou mãe de dois jovens, cuja capa deste último número que recebi há dias contém um lindo bebé rechonchudo a soprar bolhinhas, com o título: Sobreviver a 2013, Aprenda a Ser Feliz, oito lições de vida…Oito segredos de base científica, afirmam. Quais? Apreciar a solidão, cultivar e preservar a amizade, saber ajudar, saber perder tempo, procurar afinidades (com livros, acrescentaria eu), saber dosear, ter mente sã em corpo são e saber aceitar os outros como são. Só bons conselhos. Neste começo de 2013, com todas as preocupações acrescidas, sentimo-nos ainda mais responsáveis uns pelos outros. O que é bom. Mesmo no ato solitário da escrita. E o escritor, ou o mesmo o jornalista, descobre-se privilegiadamente no ato solitário da escrita. Dizia José Cardoso Pires que para amar é preciso descobrir. E essa descoberta é fundamental para a realização humana, desde os verdes anos, num processo infindável de completamento e de refutação. Porque não recorrendo também à fina ironia?!, aquela que nos agita a mente individual e coletiva, para que não nos deixemos adormecer ou cristalizar no tempo, mas dinamizar e indagar com atos transformadores, inclusive com boas leituras, que são partilhas de ideias, neste caso, com vista a um processo educativo cooperativo e plural. Sem medo das regras nem das mudanças. Com autonomia e humildade. Onde não haja idade para ler. E onde os livros nos façam felizes.

                                                             Laranjeiro, 8 de janeiro de 2013

                                                                           Rosa Duarte

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

o que vem de dentro




CANTAR É ORAR DUAS VEZES

Estava eu a fazer uma das minhas pesquisas, no caso em particular, sobre o canto gregoriano, os salmos, as variações nas traduções dos textos gregos e hebraicos, os graduais, as técnicas melismáticas…quando me deparei com esta singela frase de Santo Agostinho: «Cantar é orar duas vezes». Insight. Foi como se a estivesse a ler pela primeira vez. E gosto de ler. Em silêncio. Em voz alta. Mas a música aliada com arte à poesia é mais do que agradável. É sentir o travo da criação. É tocar o inefável. Deixar a forma das palavras atuar no mundo inesgotável do consentimento. É a liberdade poética exponenciada. Esta afirmação agostiniana purifica qualquer interpretação mundana e elucida sobre o efeito da música na palavra sentida e com sentido. De ligação com o mais profundo de nós mesmos. De profundis. De ligação com o fundo do abismo único da existência. Mesmo que às vezes numa vivência penitencial, mas, sobretudo, de gratidão desvelada pela vida. Com uma compreensão experimentada da dimensão imortal de cada presente temporal.

Há a palavra dita que perpassa um caráter musical inequívoco. Como certa poesia. Os salmos. As cantigas… E as melodias que sem letra nos falam da vida. O Danúbio Azul. O Lago dos Cisnes. O De Profundis. Em valsa lenta ou em contraponto. Ou um simples instrumento de sopro ou cordas na calçada inundada de sentimentos. Um acordeão. Uma gaita de beiços. Em ramblas portuguesas. A palavra não codificada em estado primordial no sopro instrumental de qualquer anónimo humano. Talvez por isso mais grandioso na sua humildade não decretada. Socialmente comovente.


                                          Lisboa, 2 de janeiro de 2013

                                                   Rosa Duarte