quinta-feira, 30 de maio de 2013

crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede»


ONDE PÁRA A EDUCAÇÃO PARA OS VALORES DOS EVASORES FISCAIS?

Será desta que o combate aos paraísos fiscais vai para a frente?

Como professora, sinto-me indiretamente comprometida e desiludida com a falta de educação de uns quantos indivíduos que estão desde há muito a maltratar sociedades inteiras, pela sua deslealdade corrupta ao permitir que os seus incumprimentos fiscais afetem os direitos humanos básicos como a saúde, a educação, o emprego, a qualidade de vida, quer em Portugal, quer na Europa e em todos os continentes.

Se a Comissão Europeia calcula que a fraude e a engenharia fiscais fazem perder aos cofres dos 27 Estados-membros um bilião de euros por ano…onde é que isto vai parar!

Tenho ouvido a recorrente notícia que se estimam cerca de 14 mil milhões de euros retidos em paraísos fiscais e que dois terços estão relacionados com a União Europeia.

 Valor que excede todos os pacotes de resgate e cortes na despesa pública.

A ideia eufemística de paraíso fiscal suaviza não apenas as graves injustiças económico-sociais da responsabilidade de especuladores e milionários, como o tenebroso negócio do narcotráfico, dos ditadores africanos, das oligarquias, dos xeques do Médio Oriente…um verdadeiro inferno, na ordem do insuportável, para grande parte da população mundial.

Pergunto-me: Qual terá sido a educação para os valores destes infratores implicados em megacrimes fiscais? Valores cuja cotação no mercado está em histórica e profunda recessão?

É que a educação é o vital investimento intemporal e universal. E não basta a escola da vida…

Nos anos 30 do século passado, desinvestiu-se na educação porque se acreditava no determinismo biológico. Os meninos seriam bons alunos se fossem inteligentes. Hoje sabemos que se não se estimula o cérebro nas alturas próprias para adquirir diversas competências próprias, nomeadamente de cidadania, o cérebro não se organiza biologicamente.

Em particular os agentes encartados para o combate ao crime fiscal, tal como qualquer força policial, têm que ser moralmente firmes, íntegros e eficazes na sua ação, mesmo que na história da educação das sociedades se tenha de continuar a pelejar persistentemente contra alguns mentores da megaburla agravada, arrogantemente sobrepondo os seus interesses autistas ao espírito tão caro da construção comunitária e da consciência coletiva. Conscientes de que essa educação não se confina à família e ao trabalho dos agentes educativos numa escola, mas a toda uma cultura eticossocial ao longo das gerações.

Está visto e comprovado que a solução não pode continuar a passar por arruinar as condições de vida da população. Extinguir postos de trabalho é escandaloso. Em vez de investir, desinveste-se. Afinal, onde pára a inteligência governamental?

O Conselho Europeu debate. Há que por a casa em ordem. Repor a ordem nas contas fiscais de cada nação. Pois é, são alunos com trabalho de casa superatrasado. O problema é que agora implica uma maior e acelerada concertação de esforços europeus. Se não…nem o valor da esperança resiste à derrocada do sistema, seja ele qual for.

O que é indubitável, e que sempre foi, mas agora é mais emergente, é que é necessário educar mais e melhor para os valores da cidadania, desde tenra idade, todos os nossos meninos na cultura da seriedade e da cooperação, para que o mundo possa um dia, de facto, ser melhor, com uma economia crescente e bem distribuída, e dispensar os gastos evitáveis e inevitáveis, como os das instituições de fiscalização, coerção e afins.
                                                                                                      Rosa Duarte
                                                                                               in Setúbal na Rede
http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=19598

a fraternidade
Rosa Duarte
 
 

 

terça-feira, 28 de maio de 2013

um discurso em preparação...


DISCURSO DE ANIVERSÁRIO

Queridos convivas,

Mãe, irmãos, filhos, marido e amigos,

Hoje estou feliz porque me encontro aqui reunida com vocês, pessoas chegadas a mim e ao meu dia a dia. Para as que não puderam estar hoje aqui ou que eu não consegui convidar, envio o meu grande abraço de amizade. Eu sei que todos me reconhecem como uma pessoa sensível e de emoções generosas.

Apesar de atualmente já não haver muito o costume de fazer discursos em ocasiões especiais, às vezes nem no momento do brinde, eu, que não me considero velha nem de grande retórica, decidi hoje recuperar este simpático e velho hábito.

Vou fazer um discurso.

Com os direitos que me assistem como co-aniversariante que sou. Depois dou a palavra à minha octogenária mãe, que tanto gosto me dá tê-la aqui na minha presença. Porque a minha estimada sogra, embora não fizesse anos, também era uma boa senhora. Viveu até aos 95 anos e teve uma vida, por assim dizer de alguma qualidade. Esteve nos últimos anos nos mesmos aposentos onde se encontra a viver a minha mãe. Foi a sua última morada, como costumava dizer com serenidade.

Já chegámos a 2013. Mais um ano de sacrifícios e desafios. Sempre me considerei uma pessoa atenta e lutadora e acho que vou continuar a ser. Apesar de ter nascido numa família numerosa e de poucos recursos, sempre tive orgulho das minhas raízes alcantarenses, de fado e operariado. A minha fábrica são os livros e os acordes de música. Já em menina queria ensinar os mais novos a pensar e a saberem defender-se. Escrevia toscas composições sobre a vida dos mais indefesos, em especial as crianças e os velhos. Visitei muitos infantários e lares de terceira idade com as minhas colegas, com quem partilhava o interesse pela educação e a justiça social.

Desculpem esta inusitada narrativa. É que ainda não estou na fase de contar histórias.  

Contudo a vossa preciosa presença apela-me às boas memórias. Ao tempo em que os meus pais me consideravam a menina tímida e obediente que, até hoje, ainda sou. Aprendi a gostar de falar com a prática da minha profissão, mas ainda continuo com as minhas dificuldades de fazer fáceis amizades. Apesar de ser uma pessoa simples e de fácil trato. Eu acho que o meu marido me considera a pessoa que mais o ouve e não refila. Sou semi-vegetariana, não como carne, tive uma educação católica, sou pacifista, sou poetisa à minha maneira e só não gosto que contrariem a minha vocação para a arte e para a música.

De resto, dispenso telemóveis, embora o computador seja indispensável para o meu trabalho.

Sempre tratei todos com respeito. Adoro a minha família, embora nem sempre tenha capacidade de ajudar toda a gente. Felizmente, até hoje tenho conseguido ter, como tive desde tenra idade, a força para me orientar nos meus estudos, na minha profissão, nas minhas responsabilidades. Só peço que me respeitem. Amar, sei que me amam, apesar de me acharem tipo dona de mim mesma. Não faço por mal. Não é para me envaidecer. Gosto de desafios e todos os resultados tenho-os partilhado convosco. Nada do que é feito por mim, faço só para mim.

Este momento estou a partilhar-lho convosco. É com todo o amor que vos sinto aqui ao meu lado.

Se gosto muito de sorrir, ou de cantarolar, ou de partilhar a minha escrita, ou as minhas ideias teosóficas, não o faço por mal. É porque acredito em mim. No que penso. Não tenho um super-ego. Não sou filha única. Sei o que é partilhar e combater sérias dificuldades. Mas graças a Deus conheço o sabor de algumas conquistas. O prazer da maternidade, por exemplo.

Não sou de queixumes nem de pessimismos. Gosto de apreciar a vida nas suas pequenas grandes coisas. Um fadinho, por exemplo.

Podem pôr-me à prova nos meus sentimentos. Analisar as minhas lágrimas. São água quase tudo e cloreto de sódio.

O meu pai deu-me o nome de Rosa. Rosa Maria. Há um jornal na Mouraria que se intitula Rosa Maria. Se algum dia tivesse que escolher um nome de artista seria o óbvio: Rosa Maria.

O meu discurso já vai longo.

Quero dar os parabéns, mais uma vez, à minha mãe pelos seus oitenta anos.

Agradecer a todos a vossa presença e amizade.

Desejar-vos continuação de boa sorte na vossa vida. A todos vocês e aos jovens presentes e ausentes em particular.

Afinal era só para dizer que vos amo e espero continuar a estar à altura da vossa amizade e confiança.

Bem hajam, meus queridos.

                                                       Alcântara, 2 de junho de 2013

                                                                     a Rosa Maria



 

 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

fado, amor eterno


FORA DE MODA

Quem não conhece o «Fora de Moda»?

Estriei-me lá, ainda com “leite creme”. Com uma amarelinha ou outra… Mas firme e com elevado sentimento partilhado. As palmas são um valor acrescentado. O amor que nos anima e nos arrebita.

Quem canta e não consegue evitá-lo, canta sempre bem. A sua sede vai à procura do fontanário genuíno lisboeta. Mouraria, Alfama, Alcântara, Xabregas…

Cantar bem é entrar no coração do povo. É um fado degustado, embora dolorido, mas consentido pelo reconhecimento da alma. Em Lisboa, Cascais ou qualquer zona ribeirinha. É a maresia do destino errante.

Não há prémio superior ao seu berço genuíno: a(l)fama de ser português. Povo pobre, mas honrado. Sonhador, mas poeta. Triste, mas cantadeiro. Sabe de cor o seu coração. Fecha os olhos, mas lê com a voz.

Não é desgraça ter fado na voz. Mas é desgraça a sua paixão cega pelo fado. O lisboeta casa de pequenino com o fado e todos os outros amores são passageiros. O do fado vai até à cova.

O português está fadado a ser fadista.

Navegando nas cordas do firmamento.

Traz sonhos na canastra e sereias no olhar enlouquecido pelo amor ao fado.

Rebenta em cada onda a solidão de cada acorde e no dedilhado repenica com os guitarristas enlevados.

É uma oração cantada a três, no tom veludado do nosso fado português.

Apagam-se as luzes. Esquecem-se as iguarias.

Só silêncio, que se vai cantar o fado.

 

                                                      Alfama, 26 de maio de 2013

                                                                  Rosa Duarte
 

 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O Cérebro Humano

Queridos amigos,

Ontem estive com a minha mãe. Fez 80 anos. Ainda parece aguentar-se bem. Porque nos revemos nos nossos filhos e nos imaginamos um dia no lugar dos nossos pais?

Eu considero-me uma pessoa de mente aberta, com forte predisposição para aprender e confrontar dados, experiências e opiniões.

A qualidade da minha existência é assegurada pelo contacto com a arte, seja ela plástica, literária, musical, teatral…, e sei que a realidade não se confina ao visível e ao observável. Os nossos sentimentos são muito reais. Como as nossas perceções subjetivas do real. Mesmo as nossas intuições, convicções e crenças.

Mas a dimensão científica da vida tem um ascendente preponderante nas minhas reflexões. Há que estudar com rigor e isenção quem somos e os factos que se passam à nossa volta. Não podemos aceitar tudo o que a mente individual nos diz, sem questionar. Nem dar crédito a tudo o que os outros nos querem convencer pelas suas perspetivas, sem as clarificarmos bem. O ideal é a dissecação em laboratório mental e físico. É difícil de obter resultados relativamente à matéria subtil do ser humano. A todos os efeitos que o impacto da música tem no corpo humano, por exemplo.

Mapear o cérebro humano é tarefa ainda ingrata, porque muito demorada e complexa.

Alexandre Castro Caldas, Professor Catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa, começou o seu trabalho de Neurologia com o especialista António Damásio. Ficou entretanto a dirigir o Laboratório de Estudos de Linguagem na Universidade Católica Portuguesa.

Publicou no início deste ano um livro intitulado Uma Visita Politicamente Incorrecta ao Cérebro Humano (Guerra e Paz: 2013) para um público alargado, com uma visão curiosa sobre as explicações científicas e de senso comum sobre o comportamento do ser humano ao longo da vida e, até mesmo, nas experiências de quase-morte. Já li e recomendo.

Tenham um bom fim de semana.

                                                             Laranjeiro, 24 de maio de 2013

                                                                      Rosa Duarte


P.S.: Ontem a minha mãe ficou contente com a prenda. Os seus oitenta já lhe trouxeram alguns sintomas de parkinsonismo. As tais doenças do cérebro que parecem da "moda"…sempre há como evitá-las?

 

 

terça-feira, 21 de maio de 2013

astuta a gaivota portuga

                                                                       Astuta
 
a gaivota espreguiçou-se no falso poiso da amurada e de pronto
se lançou pr’á de bicada ao cachucho aflito do balde piscatório
 segura de sobranceria jubilada na traineira portuga dançarina
já tão retocada e inflamada por ondas espumosas perfumadas
trasviadas do imenso mar atlântico de barbatanas vivaças
reluzente traseiro embarcadiço em popa de boa pesca
e foi-se a espicaçá-lo solitária na beira de uma ravina reveza
para dar de repasto às suas feiitas crias cegas esfomeadas.
 
        Cacilhas, 21 de maio de 2013
      Rosa Duarte



 
 

 

 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Bom dia


"Hoje as palavras
Tombaram das árvores
Em tons amarelecidos
Cobriram todo o chão."
                             Isabel Fraga

É assim que a palavra poética fertiliza o húmus da nossa mente. Sempre cumpre um ciclo natural: nasce no nosso interior (no vaivém da cabeça aos pés, com paragem obrigatória no coração), liberta a respiração no papel ou na voz, fortifica no olhar sinestésico do outro e cai, feliz, amadurecida, no chão do humilde sentimento.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Bom fim de semana

Queridos leitores,

Vamos a um fim de semana com poesia? Sugiro «A Música das Esperas», Isabel Fraga.

Não esperem, só se for pela música que sopram as palavras...




terça-feira, 14 de maio de 2013

«Há seres inferiores, para quem a sonoridade de um adjetivo é mais importante...»

               FALAI NA FRASE...

Disse Carlos:
Há seres inferiores,
para quem a sonoridade de um adjetivo é
mais importante que a exatidão de um sistema...

(Está a criticar?)

Eu sou um desses monstros.

(Seremos todos?)

O velho avô, que tanto o amava,
exclamou, desarmado:
Diabo! então és um retórico...

Já então diletante, sincero e amante
das coisas intensas, o neto admitiu:
Pois... Quem o não é?
E resta saber por fim se o estilo
não é uma disciplina do pensamento.

(Curiosa a sua consciência!
Ou, melhor, a consciência do seu criador...)

E o jovem Maia continua:
Em verso, o avô sabe, é
muitas vezes a necessidade de
uma rima que produz a originalidade
de uma imagem...

(Cá temos o excelente contributo
dos literatos para o estudo do
valor inventivo humano):

E quantas vezes o esforço para completar
bem a cadência de uma frase,
não poderá trazer desenvolvimentos novos
e inesperados de uma ideia...

Carlos Eduardo emocionado remata:
Viva a bela frase!

Um Carlos intemporal dos enlevos verbais.

O primado contagiante da poesia luminosa
sobre o pragmatismo racional martelado.

Eis o labor de fingimento deveras sentido
De um monstro pensador deveras sincero.

Nada menos do que compreender
o ato criativo em empírica observação
no laboratório literário da mente.

A frase autoral em autorreflexão.

Um experiente mestre da palavra
pode tal discernimento literário da realidade
alcançar da misteriosa raiz da criação humana.

                                Lisboa, 14 de maio de 2013
                                    Rosa Duarte (a partir d'Os Maias de Eça de Queirós, cap.IX)







sexta-feira, 10 de maio de 2013

lágrima tertuliana

 
Lágrima tertuliana
 
 
À recolhida mesa do café inglês
 
Conversamos e rimos de voz enlaçada
 
Breves lábios esgaçados e pernas traçadas
 
Recordando aos pés do artista retratado
 
A sagacidade do seu sorriso loquaz.
 
 
Ao José Cardoso Pires


quinta-feira, 9 de maio de 2013

a arte nas escolas

Publicado no SETÚBAL NA REDE


EDUCAÇÃO PARA A CULTURA E PARA AS CULTURAS

 

(foi mais ou menos assim a intervenção espontânea, após o contributo dos oradores do painel sobre o tema Cultura na região, entre as demais intervenções, que marcou o arranque do ciclo de conferências do Setúbal na Rede)

De tudo o que de importante foi aqui dito, gostaria apenas de acrescentar que a educação para a cultura e para as culturas continua o seu difícil e sinuoso caminho nas escolas em geral, porque, como sabemos, as artes na escolaridade obrigatória, que é uma área vital da cultura desde tenra idade, se reduz praticamente ao ensino de apenas 2 anos de educação musical no segundo ciclo, à educação visual e pouco mais. Mesmo como opção, as ofertas artísticas são escassas. As poucas escolas com essas ofertas realmente disponíveis implicam muitas vezes sair da área de residência. Muito nos têm valido, aos professores e aos pais, para a educação artística das nossas crianças e dos jovens, os grupos de teatro com o de Almada e de Setúbal e os clubes recreativos locais.

É a educação para o consumismo e para a competição desenfreada que deve dar espaço à cultura, à cultura artística, performativa, plástica, poética, reflexiva, como veículos privilegiados dos valores humanos, éticos e étnicos. Porque se tratam de momentos particularmente críticos nesta conjuntura político-social e económica, mais emergentes são ainda as atitudes éticas, cívicas e pedagógicas, urgentes para reforçar em contraponto.

Desde os primeiros anos de vida de cada criança, a partir de certa altura também na escola, inequivocamente é a prática do exemplo o melhor método pedagógico para a apreensão e interiorização do valor do respeito por si e pelos outros, que é universal, inestimável e transversal a qualquer cultura. Daí, assumir-se o simples ato de observação atenta da realidade, a compreensão crítica e criativa em cada experiência. Com essa responsabilidade acrescida, cada um de nós vê-se confrontado com a inevitabilidade de se reencontrar neste século individualista e reorientar as suas prioridades sociais, profissionais, familiares, necessárias à sua satisfação pessoal. É que sabemos ser a verdadeira realização pessoal o porto seguro do bem-estar de cada indivíduo, só possível pela participação alargada e o consequente reconhecimento grupal. Sobretudo por aqueles grupos que, naturalmente, ganham maior significado, conforme os objetivos e os comportamentos que os animam.

Na nossa região de Setúbal, e estou a pensar na minha escola, a educação é pensada em função sobretudo da cultura dominante, mas também procura respeitar as outras culturas, nomeadamente a africana, a brasileira, a chinesa, a indiana, a afegã, a ucraniana, que têm expressões próprias e de grande variedade local e regional que, em muito, valorizam a nacional e em particular aquela que vai ganhando traços próprios, que é a da nossa região de Setúbal.

O segredo é mantermo-nos em rede, não apenas com os nossos ideais de vida, que é o que mais nos dignifica, mas também, e por essa via, uns com os outros nesta conjuntura atual mais dolorosa. Não nos deixarmos entristecer e constranger com as austeridades económica, política e ética, mas mantermo-nos particular e permanentemente em rede, como vasos comunicantes, através dos melhores projetos que a nossa região nos tem felizmente presenteado: o Teatro Municipal de Almada, o T.A.S., o teatro Extremo, o Setúbal na Rede, as Coletividades e Associações, entre muitos outros.

                                                      Palmela, 5 de fevereiro de 2013
                                                                     Rosa Duarte
 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

[Setúbal na Rede] - Educação para a cultura e para as culturas

[Setúbal na Rede] - Educação para a cultura e para as culturas

Se falares a verdade, mais tarde ou mais cedo, és descoberto

Gostei de ouvir reproduzir a afirmação de Óscar Wilde: "Se falares a verdade, mais tarde ou mais cedo, és descoberto." Também ouviram esta citação há vários dias atrás?
 
A verdade é um investimento de sucesso, mais que não seja a médio ou a longo prazo.

Se precisamos mesmo de falar sobre os outros, mais vale com seriedade. Até porque não vale a pena grandes justificações retóricas perante as simples ou as mais consequentes atitudes, porque elas falarão por si. As palavras podem eventualmente poupar algum tempo a quem procura entender os acontecimentos e os carateres, mas também podem afastar da verdade. São belas as palavras. Gostamos delas. Mas uma argumentação pode ser mais sedutora que verdadeira.
Então, ao agirmos com sinceridade e lealdade, o mais que nos pode acontecer um dia é sermos descobertos. Sermos descobertos como seres dignos e capazes de atos de bondade velada. E, porque não?, um sentido elevado de abnegação e discrição. Podemos mesmo proteger ou ajudar, sem proveito próprio ou com riscos próprios... Se por acidente descobrirem o nosso ato de humanidade, resta-nos agir com discrição. A solidariedade facilmente é interpretada como devaneio ou conveniência.

Não devemos perder as boas oportunidades de desfrutar de um bonito pensamento sobre um ato de um ser humano, sempre em construção.
 
Tenham um bom dia.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

José Luis Sampedro deixou-nos...muito para pensar e fazer!

<a href="http://fotos.sapo.pt/fundacaosaramago/fotos/?uid=y0tyooZ8KOwZN3wP84zq" target="_blank" title="jose_saramago_jose_luis_sampedro.jpg"><img border="0" alt="jose_saramago_jose_luis_sampedro.jpg" src="http://c8.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/B6b13dfdb/14845660_a0JWr.jpeg" /></a>

A sua lucidez foi notável até ao fim. Chegou aos 96 anos. Não apenas com a consciência de estar vivo, que muito prezou e ensinou a aproveitar, mas com uma incomum consciência social incorruptível. Fez muito pela economia, pela literatura e pelas causas libertadoras. 96 anos quase pareceria muita idade, não fosse a apreciada presença para quem o procurava acompanhar... Sabemos que sentiu a sua hora a chegar...disse-o sem tristeza, com seriedade e saciedade... mas manteve-se com vigor e coragem firme nos seus ideais, como sempre estivera no auge da ditadura.
Continua a ser forte fonte de inspiração para a gente do seu tempo. Afinal José Luis Sampedro foi muitas gerações numa só vida. Além fronteiras.
 Inspiração para mim, e muitos mais. E incrivelmente, sobretudo para os mais jovens, que são os mais críticos das atuais sociedades. Os mais sacrificados com a má gestão da repartição de recursos e oportunidades.
Vamos ver se o José Luis, e a lucidez de outros seres maiores, conseguirão provar que só falta um pouco de ética mundial para resolver esta crise de pensamento empreendedor e de atitudes para o bem comum.
O planeta continua generoso. A vida é maravilhosa. O ponto de encontro é a cooperação.
Não precisamos de ser solitários. Não tenhamos medo uns dos outros. Basta sermos solidários. Há lugar para todos. Somos todos peças únicas. Basta partilhar momentos e provimentos.
A humanidade é o grande projeto. O mais lucrativo e o mais compensador.
Continuamos juntos.
  

A MÃE

Ser mãe não é receber um beijo ou uma flor
embora muitas vezes nem tal recebam

É ser respeitada pelo seu amor incondicional
e pela sua individualidade humana

Aconselhar, afagar, desfrutar, refilar
com suas crias e amá-las pelas suas conquistas

Gostar de as ver comer, rir, conversar, crescer
gostar de as ver bem amadas por si próprias

E por todos e cada um também
porque vão sendo e serão filhos de valor

E gostar de ser mãe de cidadãos de valor
por ser ela mesma cidadã de valor

E de ensinar e de aprender e de sorrir
de criar filhos e obras de arte

De ser apreciada pelas suas preocupações
e despreocupações e contemplações

Gostar ser mãe e mulher do seu tempo
de cantar, estudar, trabalhar, passear

Abraçar o mundo dos filhos, dos pais
dos amigos, o seu mundo também

Amar o fado das cantigas e das guitarradas
plangentes do dia a dia melodioso e belo

De ser fadista da beleza e do destino
construindo um mundo melhor com a sua voz.

Cantar até que a voz lhe doa e lhe entoe
o amor e a fraternidade maior de saber Ser.

Ser mãe-poeta do fado e do Acontecer.

                                                   Lisboa, 5 de maio de 2013
                                                          Rosa Duarte


sexta-feira, 3 de maio de 2013

A educação no SETÚBAL NA REDE

http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=19480
 
A EDUCAÇÃO DOS FILHOS DOS OUTROS

Porque é que tenho de pagar a educação dos filhos dos outros?

Nunca ninguém vos confrontou com este pensamento?

É uma interrogação mais ouvida do que o desejável, que se prende e se depreende facilmente da conjuntura económica atual. Embora se saiba que, na prática, a educação nunca foi verdadeiramente isenta de pagamentos, dos dispendiosos manuais, os consumíveis diversos de cada área de saber ou disciplina, as refeições fora de casa, as visitas de estudo…, todavia parece que agora estão a ser equacionados novos custos adicionais. Parte das atividades extracurriculares. Para já…

Até ao momento tem havido pequenos, cada vez mais pequenos, subsídios para os mais carenciados, de acordo com o rendimento per capita. (E há quem os condene!) Esperemos que os famigerados não sejam arrastados pelos cortes. Alguns poderão ser fraude e oportunismo, é possível. Mas cabe às instituições certificadas acionarem os mecanismos legais para os combater e evitar. Porque bem pior são os paraísos fiscais que, se acabassem, então a crise instalada seria uma inofensiva criança irrequieta. O bem-estar de poucos não pode estar a cargo do sofrimento de muitos!

E se desenvolvermos a corresponsabilidade social e a cooperação nesta sociedade que precisa de continuar a investir e de cumprir regras?

A responsabilização dos pais na educação dos seus filhos é um valor da máxima prioridade. É aqui que reside a génese do sucesso da construção familiar, social, económica e política de uma nação. Esse papel educativo parental deve ser exercido com uma expressão muito efetiva no acompanhamento diário dos educandos, quer na interação com a sua vida escolar e social, quer na resposta às suas necessidades materiais e didáticas. Na certeza de que os filhos dos outros poderão ser os amigos dos nossos. E não há pais perfeitos. Apenas muitos que dão o seu melhor, o que já é perfeito.

Se devemos instituir multas para os pais que descuram as suas responsabilidades educativas? Percebo a intenção da ideia, mas considero que a multa mais pesada para qualquer pai ou mãe é ou deveria ser a sua própria consciência perante as dificuldades ou mesmo incapacidades de ajudar os seus filhos no direito inalienável que é a educação. Se nem todos são bons pais é porque eles próprios precisam de apoio. E não estou só a falar de dinheiro, naturalmente. A relação da escola com os pais é, na maioria dos casos, muito proveitosa. Mas a verdade é que é mais fácil educar uma criança ou um jovem do que um adulto. Não obstante o amor dos pais ser tão incomensurável que conseguem, às vezes, autorreavaliar-se e reformarem os princípios da sua cultura familiar. É bom quando se acredita no processo e nas metas de um sistema educativo, também no português, participando ativamente no trabalho que há a fazer em cada realidade local e escolar.

Porque é que temos de pagar a educação dos filhos dos outros?

Porque aos pagarmos a educação dos filhos uns dos outros com os impostos de todos, refiro-me aos que os pagam bem entendido, estamos a garantir, à partida, que todas as famílias poderão defender uma escolaridade obrigatória para os seus filhos. Mesmo que, como sabemos, alguns pais ainda não tenham percebido o verdadeiro impacto formador da aprendizagem em contexto escolar para o bom crescimento dos seus educandos. E, acima de tudo, qualquer pai não consiga encontrar pretextos no seu íntimo, por mais cético que seja, para não participar da educação dos filhos, embora muitas vezes se debata com a difícil situação de desemprego e/ou de divórcio, e, não importa como, consiga cooperar no trabalho escolar com humildade e resiliência face ao aturado processo de aprendizagem de qualquer indivíduo.

Pois não é a consciência individual de participação num coletivo uma das principais aprendizagens a começar no seio familiar e a estender-se ao ensino nas escolas através de experiências pedagógicas especializadas que se querem formativas e diversificadas?
                                                                                                                  Rosa Duarte