ONDE PÁRA A EDUCAÇÃO
PARA OS VALORES DOS EVASORES FISCAIS?
Será desta que o combate aos paraísos fiscais vai para a
frente?
Como professora, sinto-me indiretamente comprometida e
desiludida com a falta de educação de uns quantos indivíduos que estão desde há
muito a maltratar sociedades inteiras, pela sua deslealdade corrupta ao
permitir que os seus incumprimentos fiscais afetem os direitos humanos básicos
como a saúde, a educação, o emprego, a qualidade de vida, quer em Portugal, quer
na Europa e em todos os continentes.
Se a Comissão Europeia calcula que a fraude e a engenharia
fiscais fazem perder aos cofres dos 27 Estados-membros um bilião de euros por
ano…onde é que isto vai parar!
Tenho ouvido a recorrente notícia que se estimam cerca de 14
mil milhões de euros retidos em paraísos fiscais e que dois terços estão
relacionados com a União Europeia.
Valor que excede todos
os pacotes de resgate e cortes na despesa pública.
A ideia eufemística de paraíso fiscal suaviza não apenas as
graves injustiças económico-sociais da responsabilidade de especuladores e
milionários, como o tenebroso negócio do narcotráfico, dos ditadores africanos,
das oligarquias, dos xeques do Médio Oriente…um verdadeiro inferno, na ordem do
insuportável, para grande parte da população mundial.
Pergunto-me: Qual terá sido a educação para os valores destes
infratores implicados em megacrimes fiscais? Valores cuja cotação no mercado está
em histórica e profunda recessão?
É que a educação é o vital investimento intemporal e
universal. E não basta a escola da vida…
Nos anos 30 do século passado, desinvestiu-se na educação
porque se acreditava no determinismo biológico. Os meninos seriam bons alunos
se fossem inteligentes. Hoje sabemos que se não se estimula o cérebro nas
alturas próprias para adquirir diversas competências próprias, nomeadamente de
cidadania, o cérebro não se organiza biologicamente.
Em particular os agentes encartados para o combate ao crime fiscal,
tal como qualquer força policial, têm que ser moralmente firmes, íntegros e eficazes
na sua ação, mesmo que na história da educação das sociedades se tenha de
continuar a pelejar persistentemente contra alguns mentores da megaburla
agravada, arrogantemente sobrepondo os seus interesses autistas ao espírito tão
caro da construção comunitária e da consciência coletiva. Conscientes de que
essa educação não se confina à família e ao trabalho dos agentes educativos
numa escola, mas a toda uma cultura eticossocial ao longo das gerações.
Está visto e comprovado que a solução não pode continuar a passar
por arruinar as condições de vida da população. Extinguir postos de trabalho é
escandaloso. Em vez de investir, desinveste-se. Afinal, onde pára a
inteligência governamental?
O Conselho Europeu debate. Há que por a casa em ordem. Repor
a ordem nas contas fiscais de cada nação. Pois é, são alunos com trabalho de
casa superatrasado. O problema é que agora implica uma maior e acelerada concertação
de esforços europeus. Se não…nem o valor da esperança resiste à derrocada do
sistema, seja ele qual for.
O que é indubitável, e que sempre foi, mas agora é mais
emergente, é que é necessário educar mais e melhor para os valores da cidadania,
desde tenra idade, todos os nossos meninos na cultura da seriedade e da
cooperação, para que o mundo possa um dia, de facto, ser melhor, com uma
economia crescente e bem distribuída, e dispensar os gastos evitáveis e inevitáveis,
como os das instituições de fiscalização, coerção e afins.
Rosa Duarte
a fraternidade
Rosa Duarte