DISCURSO
DE ANIVERSÁRIO
Queridos
convivas,
Mãe, irmãos,
filhos, marido e amigos,
Hoje estou feliz porque me encontro aqui reunida com vocês,
pessoas chegadas a mim e ao meu dia a dia. Para as que não puderam estar hoje
aqui ou que eu não consegui convidar, envio o meu grande abraço de amizade. Eu
sei que todos me reconhecem como uma pessoa sensível e de emoções generosas.
Apesar de atualmente já não haver muito o costume de fazer
discursos em ocasiões especiais, às vezes nem no momento do brinde, eu, que não
me considero velha nem de grande retórica, decidi hoje recuperar este simpático
e velho hábito.
Vou fazer um discurso.
Com os direitos que me assistem como co-aniversariante que
sou. Depois dou a palavra à minha octogenária mãe, que tanto gosto me dá tê-la
aqui na minha presença. Porque a minha estimada sogra, embora não fizesse anos,
também era uma boa senhora. Viveu até aos 95 anos e teve uma vida, por assim
dizer de alguma qualidade. Esteve nos últimos anos nos mesmos aposentos onde se
encontra a viver a minha mãe. Foi a sua última morada, como costumava dizer com
serenidade.
Já chegámos a 2013. Mais um ano de sacrifícios e desafios.
Sempre me considerei uma pessoa atenta e lutadora e acho que vou continuar a
ser. Apesar de ter nascido numa família numerosa e de poucos recursos, sempre
tive orgulho das minhas raízes alcantarenses, de fado e operariado. A minha
fábrica são os livros e os acordes de música. Já em menina queria ensinar os
mais novos a pensar e a saberem defender-se. Escrevia toscas composições sobre
a vida dos mais indefesos, em especial as crianças e os velhos. Visitei muitos
infantários e lares de terceira idade com as minhas colegas, com quem partilhava
o interesse pela educação e a justiça social.
Desculpem esta inusitada narrativa. É que ainda não estou na
fase de contar histórias.
Contudo a vossa preciosa presença apela-me às boas memórias.
Ao tempo em que os meus pais me consideravam a menina tímida e obediente que,
até hoje, ainda sou. Aprendi a gostar de falar com a prática da minha profissão,
mas ainda continuo com as minhas dificuldades de fazer fáceis amizades. Apesar
de ser uma pessoa simples e de fácil trato. Eu acho que o meu marido me
considera a pessoa que mais o ouve e não refila. Sou semi-vegetariana, não como
carne, tive uma educação católica, sou pacifista, sou poetisa à minha maneira e
só não gosto que contrariem a minha vocação para a arte e para a música.
De resto, dispenso telemóveis, embora o computador seja
indispensável para o meu trabalho.
Sempre tratei todos com respeito. Adoro a minha família,
embora nem sempre tenha capacidade de ajudar toda a gente. Felizmente, até hoje
tenho conseguido ter, como tive desde tenra idade, a força para me orientar nos
meus estudos, na minha profissão, nas minhas responsabilidades. Só peço que me
respeitem. Amar, sei que me amam, apesar de me acharem tipo dona de mim mesma.
Não faço por mal. Não é para me envaidecer. Gosto de desafios e todos os
resultados tenho-os partilhado convosco. Nada do que é feito por mim, faço só
para mim.
Este momento estou a partilhar-lho convosco. É com todo o
amor que vos sinto aqui ao meu lado.
Se gosto muito de sorrir, ou de cantarolar, ou de partilhar a
minha escrita, ou as minhas ideias teosóficas, não o faço por mal. É porque acredito
em mim. No que penso. Não tenho um super-ego. Não sou filha única. Sei o que é
partilhar e combater sérias dificuldades. Mas graças a Deus conheço o sabor de
algumas conquistas. O prazer da maternidade, por exemplo.
Não sou de queixumes nem de pessimismos. Gosto de apreciar a
vida nas suas pequenas grandes coisas. Um fadinho, por exemplo.
Podem pôr-me à prova nos meus sentimentos. Analisar as minhas
lágrimas. São água quase tudo e cloreto de sódio.
O meu pai deu-me o nome de Rosa. Rosa Maria. Há um jornal na
Mouraria que se intitula Rosa Maria. Se algum dia tivesse que escolher um nome
de artista seria o óbvio: Rosa Maria.
O meu discurso já vai longo.
Quero dar os parabéns, mais uma vez, à minha mãe pelos seus
oitenta anos.
Agradecer a todos a vossa presença e amizade.
Desejar-vos continuação de boa sorte na vossa vida. A todos
vocês e aos jovens presentes e ausentes em particular.
Afinal era só para dizer que vos amo e espero continuar a
estar à altura da vossa amizade e confiança.
Bem hajam, meus queridos.
Alcântara,
2 de junho de 2013
a Rosa Maria
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