terça-feira, 28 de maio de 2013

um discurso em preparação...


DISCURSO DE ANIVERSÁRIO

Queridos convivas,

Mãe, irmãos, filhos, marido e amigos,

Hoje estou feliz porque me encontro aqui reunida com vocês, pessoas chegadas a mim e ao meu dia a dia. Para as que não puderam estar hoje aqui ou que eu não consegui convidar, envio o meu grande abraço de amizade. Eu sei que todos me reconhecem como uma pessoa sensível e de emoções generosas.

Apesar de atualmente já não haver muito o costume de fazer discursos em ocasiões especiais, às vezes nem no momento do brinde, eu, que não me considero velha nem de grande retórica, decidi hoje recuperar este simpático e velho hábito.

Vou fazer um discurso.

Com os direitos que me assistem como co-aniversariante que sou. Depois dou a palavra à minha octogenária mãe, que tanto gosto me dá tê-la aqui na minha presença. Porque a minha estimada sogra, embora não fizesse anos, também era uma boa senhora. Viveu até aos 95 anos e teve uma vida, por assim dizer de alguma qualidade. Esteve nos últimos anos nos mesmos aposentos onde se encontra a viver a minha mãe. Foi a sua última morada, como costumava dizer com serenidade.

Já chegámos a 2013. Mais um ano de sacrifícios e desafios. Sempre me considerei uma pessoa atenta e lutadora e acho que vou continuar a ser. Apesar de ter nascido numa família numerosa e de poucos recursos, sempre tive orgulho das minhas raízes alcantarenses, de fado e operariado. A minha fábrica são os livros e os acordes de música. Já em menina queria ensinar os mais novos a pensar e a saberem defender-se. Escrevia toscas composições sobre a vida dos mais indefesos, em especial as crianças e os velhos. Visitei muitos infantários e lares de terceira idade com as minhas colegas, com quem partilhava o interesse pela educação e a justiça social.

Desculpem esta inusitada narrativa. É que ainda não estou na fase de contar histórias.  

Contudo a vossa preciosa presença apela-me às boas memórias. Ao tempo em que os meus pais me consideravam a menina tímida e obediente que, até hoje, ainda sou. Aprendi a gostar de falar com a prática da minha profissão, mas ainda continuo com as minhas dificuldades de fazer fáceis amizades. Apesar de ser uma pessoa simples e de fácil trato. Eu acho que o meu marido me considera a pessoa que mais o ouve e não refila. Sou semi-vegetariana, não como carne, tive uma educação católica, sou pacifista, sou poetisa à minha maneira e só não gosto que contrariem a minha vocação para a arte e para a música.

De resto, dispenso telemóveis, embora o computador seja indispensável para o meu trabalho.

Sempre tratei todos com respeito. Adoro a minha família, embora nem sempre tenha capacidade de ajudar toda a gente. Felizmente, até hoje tenho conseguido ter, como tive desde tenra idade, a força para me orientar nos meus estudos, na minha profissão, nas minhas responsabilidades. Só peço que me respeitem. Amar, sei que me amam, apesar de me acharem tipo dona de mim mesma. Não faço por mal. Não é para me envaidecer. Gosto de desafios e todos os resultados tenho-os partilhado convosco. Nada do que é feito por mim, faço só para mim.

Este momento estou a partilhar-lho convosco. É com todo o amor que vos sinto aqui ao meu lado.

Se gosto muito de sorrir, ou de cantarolar, ou de partilhar a minha escrita, ou as minhas ideias teosóficas, não o faço por mal. É porque acredito em mim. No que penso. Não tenho um super-ego. Não sou filha única. Sei o que é partilhar e combater sérias dificuldades. Mas graças a Deus conheço o sabor de algumas conquistas. O prazer da maternidade, por exemplo.

Não sou de queixumes nem de pessimismos. Gosto de apreciar a vida nas suas pequenas grandes coisas. Um fadinho, por exemplo.

Podem pôr-me à prova nos meus sentimentos. Analisar as minhas lágrimas. São água quase tudo e cloreto de sódio.

O meu pai deu-me o nome de Rosa. Rosa Maria. Há um jornal na Mouraria que se intitula Rosa Maria. Se algum dia tivesse que escolher um nome de artista seria o óbvio: Rosa Maria.

O meu discurso já vai longo.

Quero dar os parabéns, mais uma vez, à minha mãe pelos seus oitenta anos.

Agradecer a todos a vossa presença e amizade.

Desejar-vos continuação de boa sorte na vossa vida. A todos vocês e aos jovens presentes e ausentes em particular.

Afinal era só para dizer que vos amo e espero continuar a estar à altura da vossa amizade e confiança.

Bem hajam, meus queridos.

                                                       Alcântara, 2 de junho de 2013

                                                                     a Rosa Maria



 

 

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