quinta-feira, 30 de maio de 2013

crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede»


ONDE PÁRA A EDUCAÇÃO PARA OS VALORES DOS EVASORES FISCAIS?

Será desta que o combate aos paraísos fiscais vai para a frente?

Como professora, sinto-me indiretamente comprometida e desiludida com a falta de educação de uns quantos indivíduos que estão desde há muito a maltratar sociedades inteiras, pela sua deslealdade corrupta ao permitir que os seus incumprimentos fiscais afetem os direitos humanos básicos como a saúde, a educação, o emprego, a qualidade de vida, quer em Portugal, quer na Europa e em todos os continentes.

Se a Comissão Europeia calcula que a fraude e a engenharia fiscais fazem perder aos cofres dos 27 Estados-membros um bilião de euros por ano…onde é que isto vai parar!

Tenho ouvido a recorrente notícia que se estimam cerca de 14 mil milhões de euros retidos em paraísos fiscais e que dois terços estão relacionados com a União Europeia.

 Valor que excede todos os pacotes de resgate e cortes na despesa pública.

A ideia eufemística de paraíso fiscal suaviza não apenas as graves injustiças económico-sociais da responsabilidade de especuladores e milionários, como o tenebroso negócio do narcotráfico, dos ditadores africanos, das oligarquias, dos xeques do Médio Oriente…um verdadeiro inferno, na ordem do insuportável, para grande parte da população mundial.

Pergunto-me: Qual terá sido a educação para os valores destes infratores implicados em megacrimes fiscais? Valores cuja cotação no mercado está em histórica e profunda recessão?

É que a educação é o vital investimento intemporal e universal. E não basta a escola da vida…

Nos anos 30 do século passado, desinvestiu-se na educação porque se acreditava no determinismo biológico. Os meninos seriam bons alunos se fossem inteligentes. Hoje sabemos que se não se estimula o cérebro nas alturas próprias para adquirir diversas competências próprias, nomeadamente de cidadania, o cérebro não se organiza biologicamente.

Em particular os agentes encartados para o combate ao crime fiscal, tal como qualquer força policial, têm que ser moralmente firmes, íntegros e eficazes na sua ação, mesmo que na história da educação das sociedades se tenha de continuar a pelejar persistentemente contra alguns mentores da megaburla agravada, arrogantemente sobrepondo os seus interesses autistas ao espírito tão caro da construção comunitária e da consciência coletiva. Conscientes de que essa educação não se confina à família e ao trabalho dos agentes educativos numa escola, mas a toda uma cultura eticossocial ao longo das gerações.

Está visto e comprovado que a solução não pode continuar a passar por arruinar as condições de vida da população. Extinguir postos de trabalho é escandaloso. Em vez de investir, desinveste-se. Afinal, onde pára a inteligência governamental?

O Conselho Europeu debate. Há que por a casa em ordem. Repor a ordem nas contas fiscais de cada nação. Pois é, são alunos com trabalho de casa superatrasado. O problema é que agora implica uma maior e acelerada concertação de esforços europeus. Se não…nem o valor da esperança resiste à derrocada do sistema, seja ele qual for.

O que é indubitável, e que sempre foi, mas agora é mais emergente, é que é necessário educar mais e melhor para os valores da cidadania, desde tenra idade, todos os nossos meninos na cultura da seriedade e da cooperação, para que o mundo possa um dia, de facto, ser melhor, com uma economia crescente e bem distribuída, e dispensar os gastos evitáveis e inevitáveis, como os das instituições de fiscalização, coerção e afins.
                                                                                                      Rosa Duarte
                                                                                               in Setúbal na Rede
http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=19598

a fraternidade
Rosa Duarte
 
 

 

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