sexta-feira, 26 de julho de 2013

homenagem ao príncipe do fado


POEMA A ARTUR BATALHA

                Ao nosso querido amigo


És fadista, de olhar saudoso,
cumprimentas todo o povinho;
no semblante, tens humildade,
no sorriso, a sincera amizade.

Não são aplausos o que ouves,
enlevado no grave cantar
sonhas com beleza do grande amor                                                                e o combate à extrema pobreza.

Foi de sonho o teu nascimento,
tens compaixão pelos demais,
e na voz o destino castiço
de uma Alfama com coração.

És Príncipe do Fado tradição,
de rimas cheias de vida.
Tens nome bem distinto: Artur;
apelido cheio de garra: Batalha.

                                 Lisboa, 25 de julho de 2013

                                        Rosa Maria
 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

publicado no Setúbal na Rede



Lemos com alguma frequência notícias de universidades portuguesas a serem financiadas por entidades estrangeiras para desenvolverem trabalhos de investigação como, por exemplo, o da doença de Parkinson, recentemente apoiado pela fundação Michael J. Fox com um subsídio de 192 mil euros a uma equipa de cientistas da Universidade de Coimbra.

Não há dúvida que a crise cá em Portugal é também de mentalidades.

“Se queremos usar a investigação também como motor da economia e para sairmos desta crise, então não podemos continuar assim” afirmou a jovem investigadora, Diana Neves, indignada, no protesto que os bolseiros de investigação promoveram segunda-feira dia 15 de julho, em Lisboa, para exigir a abertura do concurso de bolsas da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) prometida para junho.

As prioridades na educação revelam as preocupações e a mentalidade de quem gere este país. Corte na atribuição de bolsas, corte nas bolsas atribuídas, num país em que parece que só os de fora sabem do trabalho dedicado dos investigadores portugueses. Estou a pensar em particular no financiamento do ensino público.

Há que investir. Palavras nunca dantes tão ouvidas. Com a certeza, porém, de que o investimento é mais do que aplicar dinheiro para o rentabilizar. Embora conscientes que a maior parte dos projetos respire de subsídios. Mas investir é muito mais do que isso: é acreditar numa causa e hasteá-la no dia-a-dia de trabalho, para lhe dar forma e razão de ser. Sabe deus (seja ele qual for) a que custo… Daí o mérito maior. Um país pequeno como o nosso não tem que ter uma mentalidade proporcional. Pelo contrário, pode provar que sabe priorizar as necessidades do país e aproveitar os talentos internos. Os recursos podem ser os suficientes para estabelecer inclusive protocolos com empresas e universidades estrangeiras.

Porque os jovens investigadores quando saem deste país com bolsas, mesmo que sejam pequenas, muitos são os polos de investigação de destino que asseguram parte dos meios necessários para a prossecução de um trabalho com boas condições. Em Utrecht, na Holanda, por exemplo. Assim haja uma bolsa de origem.

A Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) lançou, entretanto, um abaixo-assinado que, segundo a jovem bolseira citada, conta já com três mil assinaturas. E que põe em cima da mesa (“apenas”) o incumprimento dos prazos…

A FCT reconhece o incómodo dos atrasos na abertura do concurso, justificando com a abertura de vários processos ao mesmo tempo, no âmbito da sua atividade. Pois…muitos dos processos serão de inviabilização na atribuição de bolsas a jovens com C.V. invejáveis. Conheço, infelizmente, muitos casos.

E abrem-se estágios nos laboratórios para aproveitar a boa formação científica de cada um. O ITQB abriu uma vaga no gabinete de comunicação. Desculpem, mas até fico boquiaberta perante os números do desemprego jovem no nosso país…

Há quem diga que a vida é um estágio. Pelos vistos, é um termo que começa a ser vitalício. E é pena que, para muitos, nem isso seja.

Se a resposta oficial relativa a uma candidatura de bolsa de investigação submetida em julho é respondida negativamente no julho seguinte, está tudo dito.

Querem-se rankings no ensino português, então o exemplo de eficiência institucional tem de explicitar esse desígnio primeiramente nos seus patamares decisores.

Continuamos sem luz ao fundo dos corredores ministeriais.

                                                                                                                    Rosa Duarte


 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

homenagem ao rei do fado


Hino a Fernando Maurício
 

São macias as flores que há em ti

E me acordam ao ouvir-te cantar

De brilho amoroso que inebria

E me oferecem um franco sorriso

 

És tu que me prendes e embalas

Ao doce colo da triste melodia

És a história no mais lindo fado

Que te quero hoje aqui recordar

 

São breves e sentidas   tantas

As emoções da tua gente simples

Aquelas que nunca perderei

E me crescem neste sentimento

 

O sol adoça-te o rosto moreno

Já talvez um pouco cansado

E as ruas da nossa Lisboa

Fazem coro com o teu respirar

 

Ai…canto o amor elevado

Que inauguro em dó, ó Maurício

E o fogo do amor sob o sol

Fortalece e trauteia para ti

 

A bandeira que és hasteada

É hino à cidade lusa

E a vida dos nossos momentos

Padecem de saudades tuas.

 

És gente que ficas no tempo

Da poesia então desfraldada

És braço de guitarra gemida

O leito do eterno fadista.

 

                           14 de julho de 2013

                             Rosa Maria (fadista)
 

 

 

terça-feira, 2 de julho de 2013

O MEU FADO


Nunca me deixarei apartar do fado
 

Vivo numa canseira louca

Pois estou encontrando maneira

De me aportar residente

Na terra contagiante do fado

Sem que o teu ciúme infundado

Me procure estrangular o ar.

 

Deixa-me assim tão somente

viver sentida ao teu lado a cantar

Os meus fadinhos d’Alcântara

Da Mouraria e da nossa Alfama

O marujo de boina e madeixa

Lisboa com cheirinho a cravo

A teima do amor perdido

A gaivota do céu encantado.

 

Gosto de ti e dos meninos

Num amor belo e grandioso

De tardia fadista tomada

Pela doença fatal dolorida

A meio de uma semicheia vida

Albergue de letra corrida

E verso humano consentido.

 

Não me toldarás a minha veia

Vital e determinada guerreira

nem que me faças passar

Por mulher vaidosa e convencida

Egoísta sórdida malfadada

Com história vulgar e conhecida.

 

Cantar onde houver guitarras

Não fosse eu mais uma Rosa Maria

Marulho poético concha de praia

Discreta livre na areia lavrada

De amor e som fresco, maresia

Tristeza que é som subido

Verdadeiro sedutor no fado.

 

Nada nem ninguém de todo nada

Me fará por momentos recuar.

Inventa aliados, gestos, disfarces

E olhares de estudada reprovação.

 

O meu destino está traçado:

 Cantarei a vida e a morte

E o canto do esbelto cisne

Amor canção em dor maior

Em homenagem ao meu destino

Meu eterno e querido pai, o Fado.

                                Alcântara, 2 de julho de 2013

                                        Rosa Maria (a fadista)