“Projeto Fado nas Escolas”. A ideia consiste em promover atividades pedagógicas e recreativas com Fado itinerante nas escolas do ensino público e privado. Esta ideia não é nova, claro. Tem estado na mente e na boca de alguns amantes do fado, em especial fadistas e músicos. É tempo de lhe dar forma.
Não direi que o fado se deva ensinar nas escolas como uma disciplina autónoma, como o Mandarim que vai entrar como uma cadeira de opção no ensino secundário a partir do próximo ano. O que é uma ideia com potencial e integradora.
(Mas) O fado é música. O ensino da música nos currículos de cultura geral é muito básico. E as escolas de música têm-se visto e desejado com os seus escassos recursos… O que espelha a ainda fraca importância que institucionalmente se tem atribuído à área musical nos ranking dos múltiplos saberes… lamentavelmente.
Mas isto um dia muda (resta saber em qual…). É o meu prognóstico em relação à música e a outras linguagens artísticas no nosso país. Eu sou daquelas que acredita nos ideais das novas mentalidades para marcar a diferença. Dentro e fora do nosso país.
Em fase experimental, esta ideia-projeto pretende levar o fado às escolas, dinamizando alguns ciclos itinerantes que incluirão encontros de diálogo com música, testemunhos vivenciais e outros encontrados também no seio de cada escola e/ou autarquia.
Há muito que se faz muito pelo fado. Felizmente. E sempre houve gente com muita sabedoria e autoridade para o promover e defender. Venturosamente.
Desde as primeiras décadas do séc. XX, com a sua gradual divulgação e consagração, o fado tem tido toda uma trajetória de trabalho que tem atraído a atenção do mundo inteiro para a cultura portuguesa fadista. E os reconhecimentos internacionais têm dado significativos empurrões.
A questão do aligeirar ou contaminar o fado, correndo o risco de o desvirtuar, é uma questão pertinente que, sempre que possível, é debatida, e muito bem; ainda que saibamos que as dinâmicas conjunturais são intrínsecas às épocas e às culturas.
A questão é: Porque é que a maioria dos jovens nunca gostou de fado?
Gostos não se discutem, diz-se. É uma velha máxima. E o nosso conhecimento empírico confirma-o. A própria ciência só muito lenta e recentemente tem vindo a fazer algumas descobertas neurocientíficas neste campo das emoções. Com a devida colaboração da Psicologia na área da inteligência emocional.
É indiscutível o número crescente de jovens talentos no fado de hoje. Naturalmente em muito encorajados por familiares e amigos mais velhos…
Eu lembro-me de ainda criança brincar com os meus irmãos na rua das Fontainhas, nas traseiras da rua de Alcântara, onde aí aprendíamos uns com os outros alguns refrões soltos das músicas da voga (algumas nem sabíamos que eram fados) como o fadinho da Tia Maria Benta, o fado dos Caracóis, Lisboa dos Milagres, entre outros. O contexto familiar bairrista próprio assim o permitiu. E encenávamos, nas brincadeiras, as atitudes de mão na anca ou na algibeira, queixo erguido e olhar ausente…
Hoje, ao longo do país, as escolas em geral têm procurado, a pouco e pouco, recuperar algumas tradições populares e regionais várias, como a gastronomia, o artesanato, os jogos e entretenimentos… no âmbito das atividades curriculares e, sobretudo, em horário extracurricular.
A ideia é introduzir gradualmente o fado nas escolas. Claro que com tempo e podendo pensar também noutros estilos musicais tradicionais, igualmente bem-vindos.
Esta nossa modesta caravana-projeto do fado, com alguns professores, alunos e demais, a servir música ao vivo e conversas fadistas, constitui um desafio lançado a qualquer escola do país que queira abrir as suas portas à causa fadista e aos carolas do projeto. Na parte que me toca, desde já um muito obrigado.
Fotografia de pedrosimoes7

Rosa Duarte

Professora e mestre em estudos portugueses
Rosa Maria da Silva Candeias Tavares Duarte nasceu em Alcântara. É investigadora do CHAM e professora de Português. É mestre em Estudos Portugueses e desde 2010 doutoranda na FCSH em Línguas, Literaturas e Culturas, na área de Estudos Literários Comparados. Fundou dois jornais escolares. É conhecida no meio fadista como Rosa Maria Duarte. Tem dois cd's editados: “Fado Que Cura” e “Fado Firmado”. O seu blogue pessoal é “A Batuta do Olhar”. É casada e tem dois filhos.