quarta-feira, 29 de abril de 2020

O gato e o melro






- Miau, miau. Como te chamas?

- Eu sou o Melro. E tu, como te chamas?

- Eu chamo-me Robin.  És da minha família, Melro?

- Não sei. Acho que nunca te vi.

- Como és preto como eu...

- Porque é que estás enfiado nessa caixa? Anda cá para fora brincar.

- Quem me dera! Não tens medo do vírus?

- Qual vírus? O novo corona? Ele só está chateado com os humanos. Ele nem queria andar por aí a cansar-se...

A anedota da Anne Bota

- Isto é uma casa ou é um barco daqueles maiores?

- Nesta foto? É um prédio a ser soprado pelo vento.

- ...e a deitar nuvens pelas chaminés...

- Já reparaste que nunca mais se viu o céu com riscos...dizem que dá sorte quando eles vão direitinhos.

- Os riscos agora estão entre nós e passam de boca em boca. Já tens máscara?

- Sim. A minha diz: «interdito a qualquer vírus».




terça-feira, 28 de abril de 2020

domingo, 26 de abril de 2020

A anedota da Anne Bota


- Ai, dona salsa, chegue-se para lá! Não sabe que em tempos de pandemia, temos que respeitar a regra da distância social?... Sua chata quarentona em pacote de quarentena!

- Ai, vizinho alho, que ácido! Doem-lhe os dentes? Então ponha aí os olhos no pobre pimento tão calado e de máscara... 

- Não apimente a conversa! Seja aromática e lembre-se que estamos confinados...

- Confinados? Então somos os heróis da Casa de Papel!
  

NÃO! NÃO SOU O ÚNICO NÃO SOU O ÚNICO A OLHAR O CÉU

 


sábado, 25 de abril de 2020

Pensamento do dia

 Solta, Liberdade, o teu cabelo ao vento e descobre sem medo o rosto às amplas searas reluzentes de pão. Porque qualquer rua é o nosso coração.



sexta-feira, 24 de abril de 2020

Fastread poetry

Nas ruas vazias de gente e de movimento, agigantam-se barras
de cimento armado com inscrições de bancos, seguros, viagens
e bailes de cortinados floridos disfarçam os olhares estonteantes
de estranhos tempos sem voos de notícias boas na sombra do ser.

Nas casas aquecidas por dentro e tento nos sentimentos são aras
o lento esquecimento libélula acre do acontecimento veraneante
solto em passeio lajedo incerto memória livre encontro de beijos.

Zeca e Severa

- Ó Zequinha, vai um fadinho, sem abraços?

- Ó Severa, minha menina dos olhos tristes! Se a morte saiu à rua, olha como são verdes os campos, cheios de milho verde e a Maria Faia, amante das cantigas de maio, tem, para ti, uma nova canção de embalar.

- És tão querido, meu menino de oiro! Amanhã vamos à janela cantar a tua Grândola, vila morena.

- Então dá cá mais cinco, de luvas sanitárias, e deixa-te cair nos meus braços, moreninha da travessa.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Pensamento do dia

Como será bom um dia recuperar a liberdade de circular e viajar ao encontro de um mundo mais limpo, mais amigo, mesmo que não possa deixar de ser sobre rodas.

Queres pensar comigo LXV

- É pá! Já viste a polémica das comemorações?

- Já. É pena. Primeiro porque, de facto, são datas importantíssimas para não serem recordadas, mesmo em tempo de pandemia. Mas, por outro, com tantos apelos veementes e tão eficientes ao recurso da tecnologia, não haver ninguém com uma solução criativa de comemoração. Estarão presentes quantas pessoas?...é pena...

- Bem...eu ainda não sei bem como vão decorrer as comemorações...

- Mas já sabemos que vão ser presenciais, ainda que com número limite, não é? Essa é que é a questão. Eu nasci num bairro de operariado. Eu vivi o 25 de abril de 74 com muito respeito e convicção. Mas por isso mesmo, esse espírito ensinou-me a respeitar os valores de liberdade de pensamento, de opinião, de regras como as de confinamento, que devem estar presentes na atitude de todos nós. Se as comemorações presenciais do 25 de abril forem bem planeadas, venham elas. 

- E as pessoas que estão de luto? Ainda são umas quantas, não é?

- O mundo é assim, umas pessoas com saúde, outras doentes, umas felizes, outras infelizes...

- Mas esta crise é de todos. E o valor da solidariedade? 

- Solidariedade com quem sofre? 

- Sim, que na realidade somos todos nós. Uns porque querem estar com a família, outros querem ir à missa, outros querem fazer a sua homenagem ao ente entretanto falecido...

- Mas repara que se esta discussão nacional divide, o que é pena, também refresca o ambiente social entristecido com o seu lado democrático e saudável, porque introduz a discussão sobre a importância destas datas que revolucionaram a nossa sociedade. Andamos sempre a dizer que os jovens se demitem de pensar, de opinar sobre estas matérias...

- Eu tento não me demitir. Mas não é fácil. Cada máquina partidária com os seus defeitos e virtudes. Podemos fazer o nosso próprio caminho, mas quantas vezes as pessoas que nós admiramos, sobretudo no mundo da política, nos desiludem...

- Somos todos seres humanos. Mas não vale a pena muito stress. Como agora: só quem é a favor das comemorações é que respeita e celebra o espírito do 25 de abril? Acho que não é assim. 

- Vais assinar alguma petição?

- Eu gosto de pensar com a minha cabeça. Com todos os riscos, claro. E acho que este assunto deveria ter sido melhor ponderado e conversado com a sociedade civil. Até para percebermos o programa das comemorações em período de estado de emergência. 

- Pois...eu não vou lá estar, porque não posso, por razões óbvias. Mas faço o meu festejo em casa. Pelo menos, não preciso de usar máscara durante as minhas cantorias com temas do Zeca e outros. Achas que lá vão usar máscara?

- Lá onde? Em qual delas? 


  

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Fastread poetry



 Anda. Vem pensar o dia, talvez em que belos pássaros pousarão
nos desenhos cheios de nuvens. E as sombras de gente confiarão
no momento despojado de fina emoção. Soltarão o nosso advento
ao vento e o firmamento ao sentimento na única liberdade eterna.

Toma. Recebe estas asas de seda e renda e voa de contemplação
intensa até ao nariz da lua macia cheia de olhos vivos que fiam
o infinito em ruas de imortalidade sonhadora sem deslumbramento
humano de querer ser apenas unindo-se ao calor do colo materno.


Abril é a nossa casa!