Mãe, leva-me contigo. Também quero pendurar as nuvens
no céu brincar com os braços do sol desenhar mais horizontes
encher as praias de areia e mar chamar o vento p'ra conversar.
Mãe, leva-me contigo. Também quero caminhar a esvoar no
frio e esfregar estas mãos na espuma livre da natureza, mãe.
Vamos caminhando num chão que abranda os nossos passos e um céu que acende o nosso olhar perscrutador todos os dias, aprendizes seres que somos à procura de um saber maior...
Somos leves troncos de dois sonhos a rolar na areia arrastados
p'la aragem do momento em movimentos de pernas perseguidos
p'lo velho vento mensageiro força do tempo à procura grãos idos
feitos dedos pegadas quase desfeitas de quem vai mas quer ficar.
Há chuva no olhar de uma criança que vai e quer conhecer
a realidade dos seres que nascem e morrem no mesmo lugar
a sentir a ausência da gratidão humana pelo bem que lhes dá.
- Já pensaste que há estátuas expressivas que devem ter dado muito trabalho?! Estou a pensar por exemplo na estátua que vi há dias...já visitaste a estátua do navegador Gonçalves Zarco?
- Eu sou como o José Saramago (até pareço um gajo entendido...), acho que as estátuas são boas para os pombos. De resto, também ainda não fui à Madeira.
- Mas olha que em Lisboa há uma estátua gira deste navegador em frente à escola Paula Vicente!
- E a estátua da Paula Vicente? Está em frente à escola Gonçalves Zarco?
Traçamos linhas diversas com os olhares e os pensamentos.
Desenhamos paredes, quartos, ruas, mapas de sentimentos.
Oferecemos gestos regalados linhas de cor em ponto cruz.
Não há vento ou tempestade que derrube um espírito elevado que esteja determinado a ser livre nos seus pensamentos, nos seus sentimentos, na sua humilde compreensão do universo e evolução existencial.
Vem. Queremos ser humildes cidadãos humanistas em sociedades integradoras e acolhedoras com as condições devidas, participativos, com direito à reflexão e a sentimentos, valores individuais e coletivos discutidos e respeitados, num planeta que apela encarecidamente ao amor, à ajuda e à vida, à arte e melodia.
- Maninho, o que é que está ali debaixo daqueles grãozinhos da areia?
- São bivalves.
- Biquê?
- Bichinhos aspiradores que deitam a língua de fora. Queres ver?
- 😧?
Ai comadre, que sol rijo nosso senhor que pinta tudo em colorido
azul celeste amarelo vinho mais o verde lavadouro cortiça sobreiro
inebriam quem passa e sente o fervor das ervinhas pingas de mel.
- Ó mãezinha, isto são maçãs pequeninas? São tão engraçadas...
- Não são maças pequeninas. As aparências iludem, filha. É um perigo comer seja o que for que não se conheça mesmo bem...
- O pai diz que até as democracias podem ser um perigo porque às vezes parecem que são democracias, mas não são mesmo mesmo...
