segunda-feira, 30 de setembro de 2013

és o vento da minha vida


                     Sonho em tronco e raízes

 


 

Sonho remexido pelo tempo

Com sinos, anjos e querubins

Infinito éden à minha espera

Cativa enamorada do teu colo

Cosmo tão imenso de vento.

 

Quando chegas nasce o dia

Tudo em volta é claridade

Contigo sou um feliz arco-íris

Nas pérolas do teu enlaço

Seiva mel de contentamento

Brilho colar do meu viver.

 

Jatos, asas e pensamentos

Descrevem no céu a geometria

Fresca rosácea do mundo veloz

Ardentes olhares rodopiantes

Revelação de mil sentimentais proezas.

 

                                   30 de setembro/2013

                                        Rosa Maria

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

a ternura

ternas são as coisas belas da vida
que nos afagam as amarguras
do amor tranvestido de egoismos
saltimbancos ditos malabaristas.

ternas são as tuas mãos sonhadoras
que traçam no meu destino breve
delongas conversas de olhar ardente
dilatado pelo meu ventre rimado.

tensas são as tuas veias incontidas
que me amarram a luz do poente
no travesseiro aquecido pela espera
sonâmbula do lúcido adormecer.

tesas são as tuas repetidas vontades
que me norteiam no fado sentido
nas sinuosas calçadas estreitas
mal amadas da alfama sorridente.

tidas são emoções cantadas em verso
que não pedes em gesto agreste
mas desconcertado ciúme disfarçado
oculto nos devaneios intimistas.

adeus




.
vou com o fado.

                           25 de set/2013
                        Rosa Maria (a fadista)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

"give a little respect..."

   Crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede»

PROFESSORES ESPANCADOS NO MÉXICO

É uma afronta não apenas para alguns, mas para o mundo inteiro.
São profissionais que, embora se encontrem geograficamente afastados, vivem uma realidade comum: a luta pelo direito a uma carreira docente digna. Como os professores brasileiros.
No cenário das agressões contra os professores mexicanos, na praça emblemática das contestações, é significativo o apelo de uma mulher transeunte, em alta voz, que se dirigiu emotivamente aos polícias em ação: “Protejam-nos dos cartéis das drogas; mas não dos professores”.
Pontapeados no chão, com bastonadas no rosto em sangue, as imagens são chocantes. Para os removerem daquele local.
Estamos perante uma situação social difícil num país cuja mentalidade dos seus governantes são o grande entrave ao bom entendimento com os cidadãos. Que indignam toda a classe docente internacional…
É uma inqualificável falta de educação maltratar os educadores profissionais que, como quaisquer outros, precisam de ver reforçadas as suas muitas qualidades que os engrandecem.
Agredir física e psicologicamente professores, mestres dos nossos pais e dos nossos avós, por ordem expressa, por incrível que pareça, dos próprios representantes da «ordem» nacional, é fender brutalmente o pilar forte das sociedades e dos valores que as sustentam.
Não são os professores os pais da educação escolar?
 Quem não os respeita, precisa de ser reeducado com novas estratégias de aprendizagem intensiva, cujas metodologias pedagógicas próprias devem incluir serviço social e voluntariado. Se a política é a ciência da governação da coisa pública, implica inevitavelmente bons princípios de sociabilização que não existem sem o valor do respeito pela dignidade humana.
Há outas formas de agressão, é certo. Aparentemente menos tribais ou primárias, porque mais habilidosas. Mas que são também graves. Ao ponto de pôr em causa a sobrevivência das famílias e do indivíduo. Que é o direito ao emprego. A exclusão profissional pela recusa ao direito ao trabalho.
Que a nossa população está a envelhecer e que leva à dispensa do contributo de muitos professores, são fatores em voga. Mas porque é que não se melhora as condições de trabalho de todos, com uma distribuição laboral menos castigadora, por forma a favorecer a aprendizagem eficaz dos alunos? Até como incentivo à família e à taxa de natalidade.
Dizem-nos que estamos encurralados num processo de contenção de despesas públicas. A soberania da troika. Como as oitava e nona avaliações. Mas todos sabemos onde está o dinheiro que falta: nas negociatas com fundos públicos e nas fraudes fiscais.
Quase 18 mil professores não tiveram alternativa e recorreram aos centros de emprego. Profissionais especializados não aproveitados. Subsídios que, para muitos, com mais uns trocos corresponderiam aos vencimentos que auferiam.
Este ano é a segunda classe profissional dos quadros superiores com maior taxa de desemprego (a primeira é o quadro da Administração Pública).
E atualmente são 6 955 065 os portugueses inscritos no centro de emprego (números recentes divulgados oficialmente). Afinal, em vez da apregoada retoma, o desemprego aumentou 3,2% face ao período homólogo.
E estão previstos mais cortes nas pensões dos funcionários públicos. Houve alguém que perguntou se os cortes previstos também atingiam as dos ex-ministros…
Vivemos na era da apologia da pobreza e da resignação. Que é aquilo de que não precisamos para fortalecermos a vontade de trabalhar e viver com mais qualidade. Sem falsas requalificações.
Pelos vistos, nem todos estão dispostos a abdicar da sua dignidade. E enfrentam admiravelmente os severos obstáculos. São exemplos de firmeza, integridade e determinação.
Pequenas grandes lições de verdadeiros protagonistas da mudança.
O nosso abraço solidário aos professores mexicanos e brasileiros deste lado ocidental atlântico.

                                                                      16 de setembro de 2013
                                                                          Rosa Maria Duarte






[Setúbal na Rede] - Professores espancados no México

[Setúbal na Rede] - Professores espancados no México

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

fado em espaço aberto

Na Quinta da Atalaia
 

viajar nas linhas do nosso corpo

sou um espelho de quem me vejo.

sou como quem viaja com andas
empoleirada num corpo solto
médio claro vagão de carne
de vigas firmes articuladas.

sustentar-me-ão bons pensamentos?

algo distante a focagem nas ervas rasteiras
e perto das nuvens solitárias que se desenham
na cúpula esbranquiçada da abóbada
luminosa que acolhe aviões de penas.

há um ser sem cor ou bem pardo
que viaja comigo com linhas meio curvas
deste andar desempenado e ideias redondas
que ora me persegue  ora se adianta
na caminhada crespuscular até onde moro.

não me oiço a voar  ou em sereno planar
apenas a calcorrear chocalhando massas
e líquidos viscosos que me lubrificam
rente ao verde bordejante do caminho.

vejo em mim um pouco de ave naquele pássaro
qual planalto tibetano onde se despede da frieza
e vai em busca das cores púrpuras exóticas.

vejo alguém maior que me segura a vontade
e anima nas linhas ténues do nosso corpo
nos abraça no além tempo vigente 
deixa-me desenhar os traços do meu
encanto e me abre a janela do olhar.

é a melodia vigorosa da eterna criação
humana respiração em gestos borboletados
inventados e amorosamente repetidos.

                                                         Rosa Maria Duarte
                                                Aldeia da Justa, 8 de setembro de 2013


 

domingo, 8 de setembro de 2013

votos de bom regresso

vou ao fundo de um canteiro
e cheiro o poder das raízes
no tronco do meu ser
pequenos grandes bichos
da terra escura sangue
saúdam-me com o mexer
de asas negras corvo
e mostram-me o segredo
húmus dos torrões sementeiros
molhados turbulentos de
tanto viver.

venho de fundo do canteiro
ddoroso centro telúrico do nascimento
ensopada de existência agreste
ocres sonoros rumorejantes
de grandiosas insignificâncias
minúsculas ocultas terrenas
que me soam em melodias
chilreantes agora mais claras
quando me ergo e abro
o peito a cantar o fado
das horas mais próximas
de mais um dia no claroscuro
da vida matizada de
silêncios sinfónicos
do acontecer.

Mais um regresso ao
fundo do ciclo concertino.

                              Quinta da Atalaia, 7 de setembro/2013
                                              Rosa Maria





domingo, 1 de setembro de 2013

o fado

  

   O fado é sentimento exaltado, poesia vivida e cultura perpetuada nos dedos de quem o toca.