sou como quem viaja com andas
empoleirada num corpo solto
médio claro vagão de carne
de vigas firmes articuladas.
sustentar-me-ão bons pensamentos?
algo distante a focagem nas ervas rasteiras
e perto das nuvens solitárias que se desenham
na cúpula esbranquiçada da abóbada
luminosa que acolhe aviões de penas.
há um ser sem cor ou bem pardo
que viaja comigo com linhas meio curvas
deste andar desempenado e ideias redondas
que ora me persegue ora se adianta
na caminhada crespuscular até onde moro.
não me oiço a voar ou em sereno planar
apenas a calcorrear chocalhando massas
e líquidos viscosos que me lubrificam
rente ao verde bordejante do caminho.
vejo em mim um pouco de ave naquele pássaro
qual planalto tibetano onde se despede da frieza
e vai em busca das cores púrpuras exóticas.
vejo alguém maior que me segura a vontade
e anima nas linhas ténues do nosso corpo
nos abraça no além tempo vigente
deixa-me desenhar os traços do meu
encanto e me abre a janela do olhar.
é a melodia vigorosa da eterna criação
humana respiração em gestos borboletados
inventados e amorosamente repetidos.
Rosa Maria Duarte
Aldeia da Justa, 8 de setembro de 2013
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