Crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede»
PROFESSORES ESPANCADOS NO MÉXICO
É uma afronta não apenas para alguns, mas para o mundo
inteiro.
São profissionais que, embora se encontrem geograficamente
afastados, vivem uma realidade comum: a luta pelo direito a uma carreira
docente digna. Como os professores brasileiros.
No cenário das agressões contra os professores mexicanos, na
praça emblemática das contestações, é significativo o apelo de uma mulher
transeunte, em alta voz, que se dirigiu emotivamente aos polícias em ação:
“Protejam-nos dos cartéis das drogas; mas não dos professores”.
Pontapeados no chão, com bastonadas no rosto em sangue, as
imagens são chocantes. Para os removerem daquele local.
Estamos perante uma situação social difícil num país cuja
mentalidade dos seus governantes são o grande entrave ao bom entendimento com
os cidadãos. Que indignam toda a classe docente internacional…
É uma inqualificável falta de educação maltratar os
educadores profissionais que, como quaisquer outros, precisam de ver reforçadas
as suas muitas qualidades que os engrandecem.
Agredir física e psicologicamente professores, mestres dos
nossos pais e dos nossos avós, por ordem expressa, por incrível que pareça, dos
próprios representantes da «ordem» nacional, é fender brutalmente o pilar forte
das sociedades e dos valores que as sustentam.
Não são os professores os pais da educação escolar?
Quem não os respeita, precisa
de ser reeducado com novas estratégias de aprendizagem intensiva, cujas metodologias
pedagógicas próprias devem incluir serviço social e voluntariado. Se a política
é a ciência da governação da coisa pública, implica inevitavelmente bons
princípios de sociabilização que não existem sem o valor do respeito pela
dignidade humana.
Há outas formas de agressão, é certo. Aparentemente menos
tribais ou primárias, porque mais habilidosas. Mas que são também graves. Ao
ponto de pôr em causa a sobrevivência das famílias e do indivíduo. Que é o direito
ao emprego. A exclusão profissional pela recusa ao direito ao trabalho.
Que a nossa população está a envelhecer e que leva à dispensa
do contributo de muitos professores, são fatores em voga. Mas porque é que não se
melhora as condições de trabalho de todos, com uma distribuição laboral menos
castigadora, por forma a favorecer a aprendizagem eficaz dos alunos? Até como
incentivo à família e à taxa de natalidade.
Dizem-nos que estamos encurralados num processo de contenção
de despesas públicas. A soberania da troika. Como as oitava e nona avaliações.
Mas todos sabemos onde está o dinheiro que falta: nas negociatas com fundos
públicos e nas fraudes fiscais.
Quase 18 mil professores não tiveram alternativa e recorreram
aos centros de emprego. Profissionais especializados não aproveitados. Subsídios
que, para muitos, com mais uns trocos corresponderiam aos vencimentos que
auferiam.
Este ano é a segunda classe profissional dos quadros superiores
com maior taxa de desemprego (a primeira é o quadro da Administração Pública).
E atualmente são 6 955 065 os portugueses inscritos no centro
de emprego (números recentes divulgados oficialmente). Afinal, em vez da
apregoada retoma, o desemprego aumentou 3,2% face ao período homólogo.
E estão previstos mais cortes nas pensões dos funcionários
públicos. Houve alguém que perguntou se os cortes previstos também atingiam as dos
ex-ministros…
Vivemos na era da apologia da pobreza e da resignação. Que é
aquilo de que não precisamos para
fortalecermos a vontade de trabalhar e viver com mais qualidade. Sem falsas requalificações.
Pelos vistos, nem todos estão dispostos a abdicar da sua dignidade.
E enfrentam admiravelmente os severos obstáculos. São exemplos de firmeza,
integridade e determinação.
Pequenas grandes lições de verdadeiros protagonistas da
mudança.
O nosso abraço solidário aos professores mexicanos e
brasileiros deste lado ocidental atlântico.
16 de setembro de 2013
Rosa Maria Duarte
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