quinta-feira, 19 de setembro de 2013

"give a little respect..."

   Crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede»

PROFESSORES ESPANCADOS NO MÉXICO

É uma afronta não apenas para alguns, mas para o mundo inteiro.
São profissionais que, embora se encontrem geograficamente afastados, vivem uma realidade comum: a luta pelo direito a uma carreira docente digna. Como os professores brasileiros.
No cenário das agressões contra os professores mexicanos, na praça emblemática das contestações, é significativo o apelo de uma mulher transeunte, em alta voz, que se dirigiu emotivamente aos polícias em ação: “Protejam-nos dos cartéis das drogas; mas não dos professores”.
Pontapeados no chão, com bastonadas no rosto em sangue, as imagens são chocantes. Para os removerem daquele local.
Estamos perante uma situação social difícil num país cuja mentalidade dos seus governantes são o grande entrave ao bom entendimento com os cidadãos. Que indignam toda a classe docente internacional…
É uma inqualificável falta de educação maltratar os educadores profissionais que, como quaisquer outros, precisam de ver reforçadas as suas muitas qualidades que os engrandecem.
Agredir física e psicologicamente professores, mestres dos nossos pais e dos nossos avós, por ordem expressa, por incrível que pareça, dos próprios representantes da «ordem» nacional, é fender brutalmente o pilar forte das sociedades e dos valores que as sustentam.
Não são os professores os pais da educação escolar?
 Quem não os respeita, precisa de ser reeducado com novas estratégias de aprendizagem intensiva, cujas metodologias pedagógicas próprias devem incluir serviço social e voluntariado. Se a política é a ciência da governação da coisa pública, implica inevitavelmente bons princípios de sociabilização que não existem sem o valor do respeito pela dignidade humana.
Há outas formas de agressão, é certo. Aparentemente menos tribais ou primárias, porque mais habilidosas. Mas que são também graves. Ao ponto de pôr em causa a sobrevivência das famílias e do indivíduo. Que é o direito ao emprego. A exclusão profissional pela recusa ao direito ao trabalho.
Que a nossa população está a envelhecer e que leva à dispensa do contributo de muitos professores, são fatores em voga. Mas porque é que não se melhora as condições de trabalho de todos, com uma distribuição laboral menos castigadora, por forma a favorecer a aprendizagem eficaz dos alunos? Até como incentivo à família e à taxa de natalidade.
Dizem-nos que estamos encurralados num processo de contenção de despesas públicas. A soberania da troika. Como as oitava e nona avaliações. Mas todos sabemos onde está o dinheiro que falta: nas negociatas com fundos públicos e nas fraudes fiscais.
Quase 18 mil professores não tiveram alternativa e recorreram aos centros de emprego. Profissionais especializados não aproveitados. Subsídios que, para muitos, com mais uns trocos corresponderiam aos vencimentos que auferiam.
Este ano é a segunda classe profissional dos quadros superiores com maior taxa de desemprego (a primeira é o quadro da Administração Pública).
E atualmente são 6 955 065 os portugueses inscritos no centro de emprego (números recentes divulgados oficialmente). Afinal, em vez da apregoada retoma, o desemprego aumentou 3,2% face ao período homólogo.
E estão previstos mais cortes nas pensões dos funcionários públicos. Houve alguém que perguntou se os cortes previstos também atingiam as dos ex-ministros…
Vivemos na era da apologia da pobreza e da resignação. Que é aquilo de que não precisamos para fortalecermos a vontade de trabalhar e viver com mais qualidade. Sem falsas requalificações.
Pelos vistos, nem todos estão dispostos a abdicar da sua dignidade. E enfrentam admiravelmente os severos obstáculos. São exemplos de firmeza, integridade e determinação.
Pequenas grandes lições de verdadeiros protagonistas da mudança.
O nosso abraço solidário aos professores mexicanos e brasileiros deste lado ocidental atlântico.

                                                                      16 de setembro de 2013
                                                                          Rosa Maria Duarte






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