EM RISCO DE PERDER TODA UMA GERAÇÃO
Em risco de perder toda uma geração por causa do desemprego.
Palavras recentemente proferidas por Baraka Obama.
O que é que se passa com esta
política mundial que não consegue dar lugar aos recém formados, jovens competentes, que aguardam o seu
primeiro emprego?
Sabemos que a educação está muito
para além da instrução. Não basta dominar todos os conteúdos programáticos das
disciplinas do currículo e fazer boa figura nos exames. Embora saibamos que a
sociedade e o mercado de trabalho se rejam pelos rankings e pelos diplomas. Por isso é que a greve às avaliações e
aos exames faz estremecer mesmo alguns daqueles que habitualmente apoiam a luta
pelos direitos inadiáveis. Porque se vive um tempo economicista em que se
sobrevaloriza o papel examinador da escola em detrimento da sua vital missão
formadora e pedagógica.
As pessoas não podem ser olhadas
como peças de um tabuleiro de Monopólio. É preciso fazer dinheiro, fazer
crescer a economia, mas as jogadas têm de implicar estratégias concertadas que
rentabilizem todos os contributos possíveis de forma inteligente e projetada no
futuro.
Como é que se fortalece um país
com despedimentos, desemprego jovem escandaloso, redução de salários, aumento
da idade da reforma, redução do poder de compra, aumento de impostos,
incumprimentos fiscais e discursos demagógicos?
A instrução não garante o bom
caráter. Mas uma boa educação, sim. Que começa na família, se expande na escola
e se consolida na vivência social e laboral.
O rigor e a exigência, aliados ao
espírito de cooperação e de inovação, fazem de um aluno um potencial trabalhador
qualificado. Os jovens têm estes atributos exponenciados pela educação e estão
ansiosos por rentabilizá-los. Qual é a sociedade em desenvolvimento que pode
dispensá-los, desprezando-os?
A experiência é uma mais-valia.
Mas tem que obedecer às leis naturais da cronologia. Um jovem só pode alegar
experiência depois de ter sido admitido num primeiro emprego. Faz sentido
entidades empregadoras exigirem experiência de trabalho na área de formação
académica aos que se acabam de formar?
Porque é que as universidades
ainda não conseguiram a autonomia desejada, já antes reclamada, para poderem
avançar com a celebração de protocolos com as empresas?
Há toda uma geração à espera da
sua oportunidade. Frustrada e reclamando por direito o seu posto de trabalho. Porque
é uma geração saudavelmente dinâmica e combativa. É pena que num país endividado,
como o nosso, tenhamos que recorrer ao boicote do bom funcionamento dos
serviços. Pelos que trabalham, pelos que vão deixar de trabalhar e pelos que
querem trabalhar. E há pessoas que estão a fazer greve pela primeira vez na sua
vida laboral.
Eu nunca estudei economia,
finanças ou ciências políticas. Mas dada a conjuntura, até eu, pobre mestre em
línguas e literaturas, dou por mim a fazer sugestões de governabilidade.
Consciente, salvaguardo, de que governar não é ter conhecimento parcial de uma
ou de outra pasta governamental. O país pode estar a ser visto como o tal
tabuleiro de Monopólio, mas só se sustenta pela ação corresponsável alargada e
dinâmica de todas as instituições, agentes implicados e estratégicas eticamente
reguladas pelo bem comum. Ser ministro requer experiência. Por isso é que muitos
são sempre os mesmos. Salvo algumas exceções… Ser bom ministro requer,
sobretudo, amor ao estado de saúde da sua nação e do seu povo.
Este país não pode ser só para os
velhos. E mal. É uma nação antiga, mas que não se quer envelhecida porque sabe
ser humilde na sua herança, valorizar a família e a aprendizagem, o civismo, a
solidariedade, as tradições populares e agir com empreendedorismo.
Não podemos deixar que se perca
toda uma geração. Toda uma época de luta e de lutadores. Todo um momento de provas
difíceis, mas de clara consciência coletiva.
Corroios, 27 de junho de 2013