quarta-feira, 23 de julho de 2014

crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede» e no «Diário da Região»

Educação
por Rosa Duarte
(Professora)


Aprender com Nelson Mandela

Nelson Mandela ensinou e ensina como os melhores. Foi um bom aluno da vida que aprendeu com o que sofreu e viu sofrer e dedicou-se à causa de ajudar a não sofrer. Por isso, continua entre nós.

O dia 18 de julho foi instituído pela ONU, em 2009, como o Dia Internacional de Nelson Mandela por corresponder à efeméride do seu nascimento que ocorreu há 96 anos na União Sul-Africana. Ganhámos mais um dia comemorativo pela Paz que apela ao respeito pela diferença. Não é uma data bonita no calendário. Pretende lembrar o exemplo de Nelson Mandela que é educar para a Paz. Mais do que uma frase dita pelo próprio, "A educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo", são palavras de estandarte assumido a favor da única possível e autêntica liberdade.
 
Não obstante o esforço dos pais, dos professores, dos cidadãos mais comprometidos com a causa educativa, a verdade é que a determinação de Mandela não está à altura de todos, mesmo (ou sobretudo?) dos que têm governado cada nação.
 
Como é deplorável o infindável conflito israelo-árabe! O terrorismo a propagar-se e a levar a atos desumanos e suicidas. O recente avião malásio abatido por um míssil na Ucrânia com 295 pessoas a bordo, num dos mais preocupantes sinais de alarme para o recente desentendimento político internacional que vem galopando...
 
O poder do conhecimento é um bom aliado da Paz. Mas também pode ser um aliado perigoso da Guerra. E só a educação consegue desenvolver e devolver o espírito crítico a favor do valor-mor que é a vida, ainda a tempo de salvar o homem, imprudente e extremista, da sua autoderrocada.
 
Ninguém nasce a odiar, ensinou Mandela. Se se pode aprender a odiar, não será mais fácil aprender a amar?, continuou. E se todos sabemos isso, onde é que falha, repetidamente na história, a humanidade?
 
Ter consciência não basta para se ser interventivo e ter o pensamento educado, o que já é, claro, muito bom, mas que ainda não chega. É preciso introduzir mudanças mais profundas e consistentes no comportamento instintivo do ser humano, em cada prática diária. Não basta pensar e falar bem. Há que agir em conformidade, mesmo no quotidiano acelerado. Eu, por exemplo, aqui no meu quarto a escrever esta crónica de opinião, tenho consciência da necessidade de quais são as atitudes transformadoras. Será que consigo fazer (sempre ou muitas vezes) o que digo?
 
Ainda que seja verdade que há quem nem sequer o diga, porque não o pensa, não o queira pensar ou não o saiba fazer... o facto é que ter consciência do bem comum não é suficiente para uma nova atitude individual pro-coletiva, que é decisiva para a mudança neste reconhecimento de quem somos e do que queremos, que continua inquestionável. Senão, eu estaria aqui numa ação de diversão ou de equívoco a pregar para o ecrã do portátil. Que nem para mim seria, tão pouco!
 
Quão contentes não ficam, por exemplo, e com razão, todos os agentes escolares no seu papel educativo quando se veem reconhecidos no seu esforço pedagógico com uma boa avaliação por parte das entidades certificadoras da Inspeção Geral de Educação?
 
(Aproveito para felicitar a escola professor Ruy Luís Gomes pela sua avaliação externa e tantas outras escolas no país, felizmente. E à equipa do jornal escolar digital RLG Reportagem que tão bem para isso contribuiu…).
 
A Paz é um bem inacabado sempre em construção com o esforço educativo na família, na escola, nos lugares públicos, na diplomacia, na economia, na arte…
 
Nelson Mandela há uns anos agraciou-nos com a sua vinda a Portugal. E o sonho da fadista Mariza, como moçambicana, teria sido cantar para o senhor Mandela. Não sei se alguma vez chegou a fazê-lo, mas sei que sempre que canta o fado, canta-o também para ele. Por isso não deixa de assinalar esta efeméride. O fado é mesmo assim: embaixador do amor e da união entre as nações.
 
Antes e depois do inesquecível Nelson Mandela, alguns, felizmente, foram e são também exemplos de grandes soldados da Paz. Ou reis sem coroa, como por cá o foi Fernando Maurício, recordado no passado dia 19 na Mouraria, pelo seu genuíno canto de amor à sua terra e à sua humilde gente.
 
São vozes maiores da alma de cada povo que alcançam o sublime azul dos céus.
 
Obrigado, querido Madiba.
 
 


Rosa Duarte - 23-07-2014 09:32



[Setúbal na Rede] - Aprender com Nelson Mandela

[Setúbal na Rede] - Aprender com Nelson Mandela

segunda-feira, 14 de julho de 2014

se uma poeira incomoda uma garganta, duas poeiras distraem muito mais...

Mais um ensaio divertido, na Mouraria, que para alguns é o berço do fado. Para eu me rever e aprender (já agora...)

Uma pequena poeira de pouco mais de 1 minuto no pó perfumado da fadistice.
 

domingo, 13 de julho de 2014

o destino-fado, aquele moinho gigante


MOINHO GIGANTE

 

Somos um fado na cor breve da chuva

Livres da saia plena de brancas rosas

Milagres do mundo em plena ventania

Nos abrigam e nos sussurram um naco

De amor tostado de esforço e cantigas.

 

Caminho percorrido nas velas de um tempo

Alimentado de sorrisos, abraços e de choro

Amassados no forno da intensa sentida vida

Mendigos de saudades, partidas e presenças

Tão queridas na melodia dos sentimentos.

 

Somos um fado no encontro permanente

De nos querermos e sermos quase um terno só

Dedilhados em plangentes e dignos acordes

Versos em métrica de sabores e aconteceres

Maravilhados com o gigante engenhoso qual moinho

 

Intemporal da nobre e peregrina criação do destino.

 

                                 Utrecht, 8 de julho de 2014






                                     Rosa Maria Duarte