À
BEIRA-MAR
Com
muito sol este Dezembro
Feito
de momentos e ausências
Ou
presenças quase fugidias.
De
Sofias sibilinas enlevadas
Revivendo
um mar sempre presente
No
olhar de um marinheiro
No
berço de uma baleia
No
corpo de um homem-rã
Na
dor de um fadista
Na
canastra da varina
Carregada
de pregões de sal
Que
emanam da voz matriarca
Uma
pátria à beira-mar.
Muito
peixe a secar ao sol
Cada
vez mais a sul de uma
Costa
feminina lusitana.
Barracões
enredados
De
bóias, anzóis e iscos
Daqueles
que o vão dividir
À
mesa dos pescadores,
Mentes
grávidas de uma vida
Cansada
e impaciente,
Que
poetas do mar salgado
Abraçam
com o cantar do galo.
Prestes
se fazem ao mar
Estes
marinheiros da escrita.
Destemidos
em vagas encapeladas.
Soltam
as redes da emoção
Os
beijos à virgem-mãe
E
agradecem de novo aos peixes
O
alimento vocabular.
Saciados
com o banquete
Em
terra firme com carapaus
Chocos espadartes e bacalhaus,
Brindam
à saúde dos sonhos
Daqueles
que nascem no ventre
Da
dor da amante esquecida.
C.Caparica,
22 de Dezembro/04
LETRAS
DE DESASSOSSEGO
Fico
calada!
Vejo
a vida a meu lado
Na
azáfama da conquista,
Um
epíteto de conforto
Rumo
ao sonho idealizado.
Fico
emudecida
E
esforço-me em silêncio:
Não
quero desfazer o nó
que
me ata a garganta e
Abafa
desacordos, desconcertos,
Depósito
de cansaços,
Fracassos
do ser.
Fico
passiva e
Exorcizo
a razão em mim.
Rebentos
de lágrimas despontam
Nos
extremos da visão
Na
esperança de perdoar
Quem
não me compreendeu.
Atiro-me
ao espaço sideral
(e
deixo-me…)
Salvé
aquela dor
Parida
na tolerância e
Na
nossa união!
Cacilhas,
29 de Janeiro/05
INCERTEZAS
Trocar
de sentimento
Rebenta
o peito
Reescreve
o sonho
Estoira
de cansaço
Condena
o mundo
Queima
a vida
E
atira-nos para fora
Do
interior de nós.
Que
risco é falar
Aliviar
o ruído
De
dentro do teu
Pseudo-amor!
As
ruas são longas
Os
braços são curtos
Para
alcançar-te.
Beija-me
o som
Daquele
ressonar
Masculino,
ventoso,
Narinas
dilatadas
Sonhando
comigo?
Caparica,
7 de Fevereiro de 2005
SONIDOS
SUBIDOS
Ouvir
cantar a Vida
Em
momentos excelsos de contemplação
De
distância à Dor, esquecendo-a,
É
sentir o dia fazer-se crepúsculo
Ao
longo da rua do amolador
Onde
se faz tarde. E fica noite.
Recortadas
silhuetas naturais
De
um sapal quase amado
Animadamente
visitado por
Seres
elevados da Noite
Que
grilam, piam, ralam, coaxam,
Guturizam
a sinfonia da sobre(a)vivência,
Na
harmonia acima do convívio,
A
verdade simplesmente partilhada.
Caparica,
5 de Junho de 06
O
NADA QUE SOU
Visto
e travisto-me
No
quarto, depois da esquina
Da
morada encontrada
Dentro
de mim.
Olho-me
ao espelho
Desprendidamente
E
vejo-me abraçada a um
Corpo
diferente do eu
Ainda
sobreposto ao brilho
Do
tempo, momento,
De
eterna juventude.
Não
me pertenço!
Entro
a falar e preciso pensar
No
entroncamento entre a cozinha
E
a sala, nas letras e a ordem dos talheres,
Nos
piscas, o sexo e a omolete,
As
aulas, as estrelas e a bracelete,
As
compras, as roupas e a marioneta,
Qual
mãe, mulher, esposa e expatriada
Alienada,
ludibriada, manipulada,
Babada,
gozada, engraxada,
Apertada,
amada e abraçada
Pela
dor de ser Tudo
E
ser Nada.
Almada,
8 de Junho de 2006
POEMA
A TI
No
fundo de Ti, Amigo,
Há
o Ser observando o Outro
Nem
sempre distinto
Muitas
vezes amado
Breve
na busca da Palavra
Grande
na intenção do Amor.
Rosto
magro, de finos óculos,
Serena
tens a expressão corporal.
Figura
solta, firme com a Vida.
Sabes
olhar para além de Tudo,
De
Ti, jovem intemporal,
Da
Verdade que conheces
E
do silêncio a que te permites.
És
o Maior das constelações
Mais
brilhantes da Humanidade.
Tens
nos olhos a transparência
Iluminada
pela melodia da Amizade
E
na Alma a Liberdade peregrina
Por
idílicos caminhos zagalenses.
Com
Shiva cultuas a Vida aventurosa,
Com
Osho a compreensão do Amor.
Partes
sem ficar à espera do Tempo
E
fazes da ausência o teu regresso.
A
Bússola tem a Água de que precisas
Que
trouxeste do fundo do Mar, onde habitas.
Ainda
a saberes a sal, a algas e a maresia
Recolhes-te,
sem esforço, no Dia agitado
E
recebes dos clientes um sorriso, um aviso:
-
Tudo tem um preço, uma cor, um destino.
Soltas
o teu cheiro a incenso, a terra, a vida,
Em posição
Lótus ou em saudação do Sol
E
com olhar repousado, meditação elevada,
Ofereces
os teus gestos, experiências, alegrias
A
quem mais não tem para retribuir
Do
que é a Vontade de admirar-te e seguir-te.
Qta.Rouxinol,
Julho/06
O
MAR
Vim
visitar o mar.
As
ondas enrolam-se mansas
No
lençol de água azul.
Sonoras convivem em
Cambalhotas
à beira
Bebendo
areia,
Majentas
esbranquiçadas
Ondulações
rasteiras.
As
gaivotas descansam.
O
sol já alto
De
uma claridade
Quase
crua,
Quase
nua,
Beija
as gaivotas
Em
pé
No
areal
Alisado
Empoçado
Infinito.
Deixam-se elas,
Encolhidas,
Ficar
juntas
À
espera do amor do sol
Que
as aqueça.
E
esperam
Tranquilas pacientes
A
luz intensa
Do
meio-dia.
Uma
grasna.
Outra
esvoaça.
Vê-se
ao longe
Uma
prancha.
E
um homem.
É
mais um dia
De
mar.
Costa
da Caparica, Fev/2007
DANÇAR
A CHUVA
Trazem
as nuvens
O
cinzento
Vapor
inalado
Pelo
céu atento
Riscos
desenhados
Em
Cada
cabeça, curiosos.
Chove,
não chove?
Interrogou
Guilhermina.
Chove.
E
quando?
Indagou
Florinda.
Queriam
dançar a chuva.
Repousar
na brisa.
Amar
o momento da chegada
Gota
a gota
Bago
a bago
Sonho
a sonho
E
Ver
rasgar no céu
A
Luz do seu Caminho
Com
dor ou sem ela
Afagos
barulhentos
Demorados
Senhorita
do Firmamento.
Sentir
no peito intenso
O
estalar do Amor alimento
A
terra nascida do ventre
O
acolhimento Primordial.
Vestidas
com a pele aquecida
Pulsar
do desprendimento
Fez-se
Consentimento
natural.
Foi
fusão feminina com
Águas
nascidas no interior
Do
tenro ventre,
Da
terna Vida.
Dançando rodopiando
Criando
gestos palavras
Carinhos
de compreensão
Talvez
suprema talvez surpresa
Em
cada partida
Em
cada perfume deixado
Nos
rostos beijados
Arrebatados
Na
frescura bailante
Da
Mãe-chuva.
24/Setembro/2007 (2º dia de Outono)
A
FANTASIA
Refúgio.
Fantasia.
Cor
de tempo
Sem
rosto
Franzina
Varina
Leito
do
Amor.
Fantansio
A
presença
Essa
prenda
Regalo
Do
meu olhar
Molhado
Regado
Com
teu brinde
À
nobreza
Do
Ser.
Confesso.
Começo.
Esqueço
o
Regaço
de
Minha
mãe.
E
choro.
Doeu
E
ficou.
Para
sempre?
És
um hino
Ao
céu
Eterno
Do
Acontecer.
28/Setemb/07
JORNADAS
FRATERNAS
Katarsis
Em
cada olhar
Una
emoção partilhada
Abraçada
em saudação.
Despertar
Para
cada ensinamento dedicado
Fogo
desenhado por palavras
Ardentes
pela Estrela transformadora
Teosófica
Prodigiosa.
Alquimia
Em
cada coração irmão
Água
em nosso solo ibérico
Melodiosa
convivênvia
Templo
divino erguido
Da
sabedoria antiga.
El
Escorial, 23 de Março/08
FRIDA
KAHLO
Rostos
são os teus de infindável sofrimento
Nas
telas rasgadas pelo impetuoso pincel solitário
Besuntado
das cores da terra e do ventre
Aberto
pelo parto acidental da vida
Sempre
adiado até ao dia da despedida.
Ainda
jovem lambeste a morada da dor
Dissimulada
no banco de um autocarro anónimo
Que
te imolou para a Arte maior
Da
criação, do prazer e do comprazimento
Avistando
o Amor e o Ser outro em ti
Num
regaço da mórbida contemplação.
Gostas
do feio e do insincero masculino
Saciado
nos teus seios de cristo crucificado
Presa
como pele solta de tela descurada
Num
tempo que, esse, conseguiste parir.
É,
Frida, tua a conquista do mundo invisível
na
comunhão, livre do Eu Menor da humanidade.
Hasteaste
em negro fundo da solidão
Da
tua casa, os vincados ferimentos da tua imagem
Bela
e breve, embalada pela Eternidade dos teus mundos
Pintados
pelo vigor de um não-regresso.
2 de Março/2006