Quem quer afrontar a ética jornalística?
Viver em open space o fast love num zapping delirante ao som da música psicadélica e batatas fritas de
palito pode anestesiar momentaneamente o incómodo da crise económica instalada,
implacável para os potenciais consumidores de futuros profissionais promissores
que vão aguardando melhores dias na sua terra, mas a troco da embriaguez dos media empacotados e amizades sociais sem
rede, por vezes com digestões difíceis de virtualidade continuada. Nos tempos
difíceis, especialmente, os frutos obrigam-se a si mesmos a dar espaço para
alguns brotarem mais suculentos. Assim, nos escombros da conhecida música que
nos vão dando os grandes grupos económicos e políticos, disparam felizmente os
vanguardistas sentimentos dos grupos alternativos que vão respirar uma aragem mais
inventiva, porque falam das tentações sonantes e arremessos de legumes mágicos,
em projetos e concertos inflamados e inflacionados do nosso tempo, com (The)
Temptations, Smashing Pumpkins… Vai-se sobrevivendo com a alegria do som.
De portas-meias com a dura realidade, somos repórteres dentro e fora do
ecrã da nossa mente. Igualmente telecomandados, saltamos de canal em canal e afrouxamos
nos noticiários televisivos mais vivos, comentados, a cada passo, que fazem da
notícia um parente próximo do espetáculo. Nas televisões brasileiras, por
exemplo. É a velha questão da linha ténue que nos poderia levar à reflexão de quem
somos, como interagimos, como reconhecer as contaminações interpretativas sobre
os acontecimentos. Nós sabemos que as gavetas que compartimentam as palavras e os
seus conceitos inversos são propriedade do senso comum, como estas da
objetividade e da subjetividade, vendo a sua contaminação vivencial imparável, cúmplice
e diáfana! A devoção mediática é massiva, mas os alicerces da verdade ainda querem
aguentar as brisas da primavera. Vamos acreditando… Somos construtores civis em
formação. Começamos a ser um coletivo sem c, porque há mudanças que se impõem a
favor do benefício corresponsável dos povos. Há quem resista e há quem não
tenha como fugir-lhes… Claro que a muitos de nós parecem menos comprometedoras as
atualizações ortográficas do que a crescente falta de dinheiro, a escassez de
emprego, a fraca valorização da arte, as agressões ecológicas, o árduo caminho
da construção da integridade social. Onde anda a boa comunicação intrínseca à
preservação do bom entendimento, ao clima de paz e à sustentabilidade? Qual é a
forma física do português cuja espinal medula é a alegria de viver e o reconhecimento
de cada falante como ser único e diverso, na sua imaginação e racionalidade?
E continuamos o rol das dúvidas: a que razões se podem agarrar os
autores deste novo acordo ortográfico para despender tempo, ideias e dinheiro com
o intuito de desferir, ainda que relativos, sérios golpes na prezada etimologia
e apreciada plasticidade da nossa língua anfitriã? Todas as mudanças, que são sempre
dolorosas aos mais afeiçoados, ao longo da história da língua portuguesa deveram-se
naturalmente ao dinamismo da prática da oralidade que vai, aos atropelos,
obrigando a língua a algumas atualizações, como esta da fonética. Estas contrariedades
arrastam desabafos incontidos como o de: Até
parece que já não sei escrever. É um sério desafio ao nosso sentimento de lusa
ancestralidade. Mas algo nos diz: não desanimemos porque a nossa
vulnerabilidade financeira não atordoou o espírito empreendedor do nosso povo,
que continua as suas conquistas, não por terra ou por mar, mas pelo caminho da
disseminação da sua língua e cultura…esperemos que nunca à custa da sua portugalidade.
A solenidade do tempo, esse grande escultor também da nossa língua, confronta-nos
com os anseios dos nossos mestres intemporais da literatura que clamaram pela
árdua, mas inevitável tarefa académica de contextualizadamente repensar a uniformização
ortográfica da língua portuguesa em todos os seus recantos. Por isso aqui vai um
testemunho conhecido em jeito de ilustração: “…de boamente seguirei qualquer methodo mais accertado, apenas haja
algum geral, e racionável em portuguez: o que tam fácil, e simples seria, se a
nossa academia, e governo em tam importante cousa se empenhassem.” (Almeida
Garrett, Camões: 1825).
Porque os acordos são feitos para discordar,
difundo esta minha apressada reflexão num dos mais poderosos meios, democraticamente.
Dia da Liberdade, ano de 2012
Rosa
Duarte
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