terça-feira, 17 de julho de 2012

o sonho dos sorrisos banidos


onde estás? perguntei-te.

voltaste a esborratar os meus lábios no vermelho banido   

do nosso sol crepuscular.

 inelegível qualquer tristeza…muito menos à noite…

nem riscaste um ligeiro traço de sorriso sincero…….? oh, não!

 emenda-me a boca, por favor.

não me contenho. tenho que sorrir, bem o sabes.

como que em devaneio onírico lamentei por pouco o mau jeito

do tempo infindável deste insólito sonho.

acho que cheirei os girassóis da rêverie da minha mãe e adormeci.

o que foi? nasceram-te fetos enrolados ao cabelo

fulvo florido? não me parecem mal.

 volta a tentar, se não te importas.

 Sabes que a vontade mor dos lábios escuros segredou-me ao ouvido a despedida do

caixãozinho do desamor?! quis agradecer a cortesia. tentei rasgar um sorriso. acho que gemi.

paz à sua alma. e à minha boca.

sofri o parto da dor do mimo na pele esgaçada do desencontro.

fraquejei. entorpeci. então ouvi batalhões de risos sonâmbulos esvoaçando

majestosos como borboletas pardas do esquecimento nas levadas exangues do sangue da

minha pobre carne arrepiada. assustei-me. francamente.

acorda! ACORDA!

grito-me, sempre muda.

noto no alto as nuvens a flutuar sorrisos distorcidos. íncubos desconcertados. endeusados.

mesmo do outro lado, porque não me resgatas ao coração do senhor do riso alucinado?

arrulham-me na penumbra uns lábios pisados de batons arenosos gretados de um sonho sem

 cor. barulhos em coro.

vejo que beijam o espelho do outro lado. olho e não me reconheço. mas sei que me

falta o sorriso.

anda, desenha-me   mesmo que à pressa   um lugar em mim para o sorriso

e um sorriso simples conhecido para um rosto de consentimento. faz-me um daqueles

misteriosos. à madona contemplativa.

serão as tuas mãos na trajetórias da minha boca?

redesenha-me.

já sinto o teu frémito de coragem no meu esboço de sorriso escondido em peito humano.

pareces tu quem eu vejo ao espelho. os teus dedos diamantinos a escolherem sorrisos de

 gratidão. e congratulação.

retocas-me.

podes refleti-lo, se quiseres. os sorrisos são borboletas de capicuas espelhadas nos rostos.

 são almas gémeas, as nossas bocas. sonhadoras insaciáveis de poesia. 



                                                         Corroios, 26 de maio de 2012



                                                                  Rosa Duarte

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