onde estás? perguntei-te.
voltaste a esborratar os meus lábios no vermelho banido
do nosso sol crepuscular.
inelegível qualquer
tristeza…muito menos à noite…
nem riscaste um ligeiro traço de sorriso sincero…….? oh, não!
emenda-me a boca, por
favor.
não me contenho. tenho que sorrir, bem o sabes.
como que em devaneio onírico lamentei por pouco o mau jeito
do tempo infindável deste insólito sonho.
acho que cheirei os girassóis da rêverie da minha mãe e adormeci.
o que foi? nasceram-te fetos enrolados ao cabelo
fulvo florido? não me parecem mal.
volta a tentar, se
não te importas.
Sabes que a vontade mor
dos lábios escuros segredou-me ao ouvido a despedida do
caixãozinho do desamor?! quis agradecer a cortesia. tentei rasgar
um sorriso. acho que gemi.
paz à sua alma. e à minha boca.
sofri o parto da dor do mimo na pele esgaçada do desencontro.
fraquejei. entorpeci. então ouvi batalhões de risos
sonâmbulos esvoaçando
majestosos como borboletas pardas do esquecimento nas
levadas exangues do sangue da
minha pobre carne arrepiada. assustei-me. francamente.
acorda! ACORDA!
grito-me, sempre muda.
noto no alto as nuvens a flutuar sorrisos distorcidos. íncubos
desconcertados. endeusados.
mesmo do outro lado, porque não me resgatas ao coração do senhor
do riso alucinado?
arrulham-me na penumbra uns lábios pisados de batons arenosos
gretados de um sonho sem
cor. barulhos em
coro.
vejo que beijam o espelho do outro lado. olho e não me
reconheço. mas sei que me
falta o sorriso.
anda, desenha-me mesmo que à pressa um lugar
em mim para o sorriso
e um sorriso simples conhecido para um rosto de consentimento.
faz-me um daqueles
misteriosos. à madona contemplativa.
serão as tuas mãos na trajetórias da minha boca?
redesenha-me.
já sinto o teu frémito de coragem no meu esboço de sorriso escondido
em peito humano.
pareces tu quem eu vejo ao espelho. os teus dedos diamantinos
a escolherem sorrisos de
gratidão. e congratulação.
retocas-me.
podes refleti-lo, se quiseres. os sorrisos são borboletas de
capicuas espelhadas nos rostos.
são almas gémeas, as
nossas bocas. sonhadoras insaciáveis de poesia.
Corroios, 26 de maio de 2012
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