ADICIONO-TE COMO AMIGO
Vou adicionar-te como meu amigo. De modo que, sempre que nos virmos, reconhecer-te-ei
porque me recebes com um cumprimento de aceitação, estendes-me um lugar à tua
beira e ofereces-me um sorriso desanuviado, desafetado, sincero e com orgulho a
toda a gente.
Sem grandes explicações, compreenderás os meus anseios de aprender e
investigar as palavras dos outros, mais profundas do que as minhas, no
amanhecer da alma dos escritores, sem vergonha de sentir satisfação e sem medo
da minha ignorância perante tanto saber.
Saudaremos juntos a importância da autoridade do conhecimento
consistente no seu humilde exemplo e a sua demanda na beleza do novo paradigma
com todos os saberes.
Captarás o meu consentimento para me olhares por dentro e veres o ser
pequeno em crescimento, qual criança pobre e insegura que sempre fui.
Compreenderemos juntos que os valores não se quantificam por números ou
nomenclaturas sonantes de humano equívoco ou perversão, mas pela bondade do
coração e partilha do saber.
Aprenderemos que a depressão e a angústia são alimentadas por inverdades
e desconfianças e não deixaremos para trás os mais vulneráveis e esquecidos maliciosamente
enredados nestas, porque a verdadeira amizade é determinada.
Observaremos com apreço que o sucesso se alcança pela concertação de
esforços e pelo êxito participado.
Discerniremos que as nossas vidas só farão realmente sentido quando
deixarmos de poluir o mundo com palavras e gestos de exclusão que nos
envelhecem as mãos e nos escurecem o sorriso.
Confiaremos que a amizade não se confina a uma palavra escrita ou a um nome
adicionado no computador, sem expressões humanas no rosto, mas que se manifesta
pela vontade e pela partilha do entusiasmo ou do fracasso.
Sentiremos que somos seres em construção, ansiosos por saber qual é a
nossa missão mais difícil para, a seu tempo, saborearmos o gosto comum do dever
cumprido.
Confirmaremos que a amizade não tem fronteiras de condição social,
estatuto académico, religião, idade ou sexo, interesse ou aspiração, cultura ou
dissidência, moda ou estilo de vida.
Faremos com que a amizade se respire como uma flor num jardim, com espaço
e carinho.
Cuidaremos que ninguém à nossa volta seja maltratado ou desprovido do
nosso olhar amigo.
Inauguraremos a palavra amizade, como um gesto de vida, nascida do quase
nada, num simples clique, mas paciente fertilizadora de quase tudo.
Sonharemos com o nosso sentimento de amizade gerado e expandido para
toda a humanidade, celebrado com banquetes de manjares, de palavras de encantar
e melodias para abraçar.
Vou adicionar-te como amigo, mesmo que ainda não te conheça. És um virtual
aspirante e eu respeito-te por isso. Se fores amigo dos meus verdadeiros
amigos, certo que meu amigo serás. Então, partilharemos aquela amizade menina
que nos lembrará a intemporal frase tão sincera na boca de uma criança Queres ser meu amigo? celebrada com uma
partida de caricas, um treino insuflado de pontaria com caroços ou um simples
concurso de pontapés às latas.
Laranjeiro, 19 de
outubro de 2011
Rosa Duarte
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