CRÓNICA «FEEL GOOD»
Saímos à rua e um carro deixa um
rasto de música: «I feel good».
Sinto-me bem?
Na verdade, gostava de me sentir
bem. Andamos todos à procura de estar-bem. Queremos viver bem, por muito pessoal
que isso signifique, de alcance abnegado ou egoísta. Como o poeta diz: o mal
vem de nos preocuparmos uns com os outros. Vivemos mal e não queremos morrer. Estranho.
Então apressamos a vida, à espera de melhor… Qual é a armadilha do pensamento?
Continuamos dentro de nós mesmos.
Comportamentos condicionados, afetados, ruidosos, distraídos. Vamos caminhar no
escuro? Onde será o fim do labirinto?
Talvez fluir no prazer da
novidade, desenhar olhares ou construir palavras para mobilar o tempo. Criar os
laços para saborear a confiança e a intimidade dos outros.
Somos só o que vemos. Com alcançar
o horizonte?
Montar a brisa que passa e partir.
Ficar sem permanecer. Ser um malmequer na sombra de troncos, pequenino, sem
pena nem contentamento. Esmagado na terra e sem momento. Apenas húmus.
Na terra, de rosto ao ar, todos somos
timoneiros de mares lavrados pelas crianças meninas saltitantes nas pálpebras.
Olhar é crescer e crescer é
inventar as palavras em movimento. As palavras com sentido ganham vida própria
e rebelam-se na linha horizonte para mergulhar no azul do firmamento.
Insistência saborosa de um veludo
ondulado ciciante da água varrida por pneus sonoros, invade-nos os sentidos: «I feel good». Trauteamos e quase nos
sentimos bem.
agosto/2011
Rosa Duarte
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