sábado, 28 de julho de 2012

I feel good


                                                       CRÓNICA  «FEEL GOOD»

Saímos à rua e um carro deixa um rasto de música: «I feel good». Sinto-me bem?

Na verdade, gostava de me sentir bem. Andamos todos à procura de estar-bem. Queremos viver bem, por muito pessoal que isso signifique, de alcance abnegado ou egoísta. Como o poeta diz: o mal vem de nos preocuparmos uns com os outros. Vivemos mal e não queremos morrer. Estranho. Então apressamos a vida, à espera de melhor… Qual é a armadilha do pensamento?

Continuamos dentro de nós mesmos. Comportamentos condicionados, afetados, ruidosos, distraídos. Vamos caminhar no escuro? Onde será o fim do labirinto?

Talvez fluir no prazer da novidade, desenhar olhares ou construir palavras para mobilar o tempo. Criar os laços para saborear a confiança e a intimidade dos outros.

Somos só o que vemos. Com alcançar o horizonte?

Montar a brisa que passa e partir. Ficar sem permanecer. Ser um malmequer na sombra de troncos, pequenino, sem pena nem contentamento. Esmagado na terra e sem momento. Apenas húmus.

Na terra, de rosto ao ar, todos somos timoneiros de mares lavrados pelas crianças meninas saltitantes nas pálpebras.

Olhar é crescer e crescer é inventar as palavras em movimento. As palavras com sentido ganham vida própria e rebelam-se na linha horizonte para mergulhar no azul do firmamento.

Insistência saborosa de um veludo ondulado ciciante da água varrida por pneus sonoros, invade-nos os sentidos: «I feel good». Trauteamos e quase nos sentimos bem.

                                                                                                                          agosto/2011
                                                                                                                           Rosa Duarte

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