AS CADEIRAS
O empenho entusiástico
da jovem despertou-nos o interesse pelo trabalho deste artista visual americano,
um dos principais formuladores da arte
conceitual nos anos 60 e 70, conhecido pelo ensaio Arte depois da filosofia
(1969), onde discute que a arte é a continuação da filosofia e assegura o
caráter tautológico do objeto de arte. Parece que a
influência da arte conceitual permanece até aos dias de hoje com, por exemplo,
as instalações, videotecnologias, performances
e, de certa maneira, participa de uma crescente intelectualização do artista,
que passou a ter uma formação teórica mais sólida.
Ao procurar encerrar o caráter material da
arte, parece que Kosuth não se detém na dimensão ou contexto social – e
institucional – que alarga e aprofunda o conceito de arte. Daí o objeto em
particular da cadeira porque questiona a natureza da arte em detrimento da sua
função social. Com a cadeira é indiscutivelmente poderosa. Ou seja, com um
gesto humano de convite perante uma cadeira vaga, o homem enobrece-se, a si e
perante os outros; ao passo que com o gesto contrário, de rutura grupal,
contraria a sua natureza gregária. E compromete o sentimento de harmonia
envolvente. Obviamente que a conceção física do objeto também condiciona a sua
função social. Se tem espaldas mais altas, associamos a um determinado valor estatutário.
Olhamo-la como a uma cadeira do poder. Se todas são iguais, embora cómodas, à
partida não agimos de forma estratificadora. Um assento de descanso a um
peregrino, por exemplo, nunca se nega. Nem que seja uma esteira no empedrado,
com a parede a amparar as costas. O próprio banco do jardim, que manteve o nome,
ganhou espaldas para o regalo dos veraneantes ou dos sem-abrigo com mau dormir.
É assim,
pois, a cadeira um fértil objeto social, lúdico, terapêutico e simultaneamente
muito dado a inovações artísticas e/ou funcionais. Estima-se como um dos
objetos de topo dos designers. Para
além de ajustar o corpo à ideia ergonómica de multifuncionalidade, é conhecido
por participar no mundo fantástico da imaginação, como no da Alice no País das Maravilhas.
Enfim, não há
nada como uma boa guia de museu para carimbar o passaporte de qualquer jovem
que decide compreender a ideia do artista e os meandros de cada ideia sua.
E a quem saltou
os parágrafos anteriores e acabou aqui de chegar, é favor de sentar-se connosco
e olhar o céu a ouvir esta obra de arte intitulada «Receita para fazer azul»:
“Se quiseres fazer azul/pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande/que
possas levar ao lume do horizonte/depois mexe o azul com um resto de
vermelho/da madrugada, até que ele se desfaça/despeja tudo num bacio limpo…”(Nuno
Júdice, Poesia Reunida: 1967-2000).
Laranjeiro, 16 de abril de 2012
Rosa
Duarte
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