sábado, 28 de julho de 2012

com um brilhozinho nos olhos


«COM UM BRILHOZINHO NOS OLHOS»

É com um brilhozinho nos olhos que partilho convosco, talvez alguns fiéis leitores, um sentimento especial por um escritor e poeta notável, O Homem dos 7 Instrumentos. Nesta ocasião comemorativa. Que não é apenas de mais um UEFA Euro.

Primeiro porque anuncio que esse suave brilhozinho nos olhos que ele tão bem canta, que a alguns baralha e com razão, não é letal. Nos tempos que correm, quem vê brilhos não vê corações e nunca se sabe quem nos quer roubar, não direi a carteira, porque a faísca teria de sair de hábeis dedos, mas a própria artéria aorta. Temos medo. É humano. Até de nos sentirmos vivos. Não fazemos mal, mas tememos o mal. Românticos inveterados que somos, temos que nos acautelar para não nos descoraçarem. E vamos às lágrimas quando lembramos de um amigo, um amigo de verdade, porque coisa mais preciosa no mundo não há. O Sérgio está cheio de razão. Daí que haja, por via das dúvidas, quem prefira ficar-se por adicionar o “amigo” como a um adoçante, que não alimenta, mas também não engorda. É que conviver, conviver a sério, sem artilharia mental pesada, requer tempo e disposição como a jardinagem: olhar e regar pacientemente sem pisar o canteiro mais próximo, remover e ajeitar com delicadeza e sem precisar de fiscalização na retaguarda. Por assim dizer em liberdade, concordando com o nosso medalhado compositor e cantor Sérgio Godinho. Esse mesmo, merecidamente. 40 anos a trabalhar ideias com arte, com som, no papel, no cinema, sempre elevadamente autêntico e interventivo com muita poesia, é obra!

Segundo, porque no Terreiro do Paço a malta das festas, ontem na capital, pôde contar mais uma vez com a sua voz e presença e com os seus convidados: Jorge Palma, Manuela Azevedo, os seus grupos e inumeráveis fãs, sempre indispensáveis. Mesmo num domingo à noite! E com um calmo e macio luar de Junho…

Terceiro, porque a palavra cantada em liberdade continua a contaminar inadvertidamente o olhar dos tugas de todas as idades e condições, mesmo daqueles que assobiam ao presidente da câmara, se calhar à falta de outro mais a jeito, que, no seu comprometimento, entregou a Medalha de Mérito a Sérgio Godinho pelo seu vasto contributo de valorização nas múltiplas linguagens artísticas que tem trabalhado, de inquestionável qualidade e reconhecimento. Escritor e poeta que tem dado música ao meu trabalho na sala de aula, e a muitos profissionais do ensino da língua portuguesa. No dia de Portugal e do nosso amado Luís de Camões. Nem mais.

Quarto e último, porque nunca esquecerei que fiz um amigo para toda a vida ao som das músicas do álbum À Queima-Roupa de Sérgio Godinho, e não foi só um, mas dois amigos, quatro amigos, e mais tarde os seus descendentes, sementes que aterraram no meu jardim quando entrei para a Faculdade de Letras e ainda lá estão, amigos do nosso amigo Toni. O Gomes. Que também gosta de futebol. Ele lá está agora a gritar:              FORÇA PORTUGAL!

                                                                                                Laranjeiro, 11 de junho de 2012

                                                                                             Rosa Duarte

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