«COM UM BRILHOZINHO NOS OLHOS»
É com um brilhozinho nos olhos que partilho convosco, talvez alguns fiéis
leitores, um sentimento especial por um escritor e poeta notável, O Homem dos 7 Instrumentos. Nesta
ocasião comemorativa. Que não é apenas de mais um UEFA Euro.
Primeiro porque anuncio que esse suave
brilhozinho nos olhos que ele tão bem canta, que a alguns baralha e com razão,
não é letal. Nos tempos que correm, quem vê brilhos não vê corações e nunca se
sabe quem nos quer roubar, não direi a carteira, porque a faísca teria de sair de
hábeis dedos, mas a própria artéria aorta. Temos medo. É humano. Até de nos
sentirmos vivos. Não fazemos mal, mas tememos o mal. Românticos inveterados que
somos, temos que nos acautelar para não nos descoraçarem. E vamos às lágrimas
quando lembramos de um amigo, um amigo de verdade, porque coisa mais preciosa
no mundo não há. O Sérgio está cheio de razão. Daí que haja, por via das
dúvidas, quem prefira ficar-se por adicionar o “amigo” como a um adoçante, que não
alimenta, mas também não engorda. É que conviver, conviver a sério, sem
artilharia mental pesada, requer tempo e disposição como a jardinagem: olhar e
regar pacientemente sem pisar o canteiro mais próximo, remover e ajeitar com
delicadeza e sem precisar de fiscalização na retaguarda. Por assim dizer em
liberdade, concordando com o nosso medalhado compositor e cantor Sérgio
Godinho. Esse mesmo, merecidamente. 40 anos a trabalhar ideias com arte, com
som, no papel, no cinema, sempre elevadamente autêntico e interventivo com
muita poesia, é obra!
Segundo, porque no Terreiro do
Paço a malta das festas, ontem na capital, pôde contar mais uma vez com a sua
voz e presença e com os seus convidados: Jorge Palma, Manuela Azevedo, os seus
grupos e inumeráveis fãs, sempre indispensáveis. Mesmo num domingo à noite! E
com um calmo e macio luar de Junho…
Terceiro, porque a palavra cantada
em liberdade continua a contaminar inadvertidamente o olhar dos tugas de todas
as idades e condições, mesmo daqueles que assobiam ao presidente da câmara, se
calhar à falta de outro mais a jeito, que, no seu comprometimento, entregou a
Medalha de Mérito a Sérgio Godinho pelo seu vasto contributo de valorização nas
múltiplas linguagens artísticas que tem trabalhado, de inquestionável qualidade
e reconhecimento. Escritor e poeta que tem dado música ao meu trabalho na sala
de aula, e a muitos profissionais do ensino da língua portuguesa. No dia de
Portugal e do nosso amado Luís de Camões. Nem mais.
Quarto e último, porque nunca
esquecerei que fiz um amigo para toda a vida ao som das músicas do álbum À Queima-Roupa de Sérgio Godinho, e não foi
só um, mas dois amigos, quatro amigos, e mais tarde os seus descendentes,
sementes que aterraram no meu jardim quando entrei para a Faculdade de Letras e
ainda lá estão, amigos do nosso amigo Toni. O Gomes. Que também gosta de
futebol. Ele lá está agora a gritar:
FORÇA
PORTUGAL!
Laranjeiro, 11 de junho de 2012
Rosa Duarte
Sem comentários:
Enviar um comentário