sexta-feira, 23 de agosto de 2013

homenagem a urbano tavares rodrigues

                                        Texto publicado no jornal online Setúbal na Rede

http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=20165

UM EXCELENTE PROFESSOR E ESCRITOR 

Ser professor não é apenas um simples estatuto: é uma condição intrinsecamente existencial.

Quem se torna professor, é-o para toda a vida. Mesmo depois de aposentado e dispensado do cumprimento do horário diário de mais de 35/40 horas semanais. Pura e simplesmente não as contabiliza. Gosta de ensinar e de aprender. A tempo inteiro. Até morrer. É um trabalho discreto, mas grandioso pela semente que deixa e pelo exemplo que inevitavelmente perdura.

E há excelentes professores. Urbano Tavares Rodrigues foi um deles. Que nunca se confinou ao espaço da sala de aula. Como qualquer assumido professor.

E para aqueles que, como eu, não estavam em Lisboa nos dias 9 e 10 de agosto, e não puderam participar na última homenagem a este estimado professor e escritor, as desculpas e os pêsames devidos, a toda a família e em particular à sua filha Isabel. Pudemos, ainda assim, comprazer-nos com as inúmeras notícias dos seus muitos amigos que somaram e continuam a reforçar um interminável adeus deveras sentido e merecido. Um adeus até sempre.

Não obstante ter sido este dia o derradeiro encontro com o notável homem de Causas, que Urbano foi, a verdade é que quem pôde fez destes últimos meses o tempo de qualidade de encontro e despedida com a sua pessoa e também de conversa privilegiada sobre a sua obra.

Na qualidade de ex-aluna da FLL e atual professora, é com muito orgulho que penso no trabalho responsável e dedicado dos profissionais do ensino, quantos formados nas aulas do Professor Urbano Tavares Rodrigues.

Por mais exigente e insaciável que o dia-a-dia se afigure a qualquer educador, e o faça por vezes duvidar das suas reais aptidões, esta é uma inquestionável atividade apaixonante, para quem naturalmente por ela sente vocação, e que proporciona o desenvolvimento do espírito humanista, nas suas múltiplas vivências, desafia para as linguagens artísticas e desperta a séria consciência social.

Foi mais ou menos assim o testemunho pessoal que tive do Professor Tavares Rodrigues. A título de o entrevistar, em abril deste ano, para o meu trabalho final de investigação, pude, desse modo, conhecer um pouco melhor o Urbano dos nossos dias. E percebi que ao longo da sua vida bem preenchida, a tarefa por excelência de entre as tantas a que se dedicara, fora a de professor. Disse-o com vontade espontânea e uma comoção desvelada.

Aquela entrevista foi, para mim, mais do que uma boa entrevista: foi um excelente testemunho de vida. E aos 89 anos demonstrou a sua lucidez e memória invejáveis, uma eloquência sobejamente exercitada e a mesma amizade sem reservas. Conversámos durante uma hora…e ainda me apresentou alguns quadros e fotos de família.

Foi uma vida oferecida ao ensino público, com contributos de grande valor, uma participação cívica e política sempre ativas e sempre pronto a partilhar as suas vivências pelo diálogo, pela escrita, pela pintura, pela poesia, na observação jornalística e literária da sociedade portuguesa e do mundo atual. Mesmo com as suas capacidades físicas debilitadas, ciente da ferocidade d’ A Imensa Boca dessa Angústia que conta no último livro publicado em vida, a bandeira desfraldada foi a mesma: a da beleza de respirar cada momento.

Num misto de insatisfação e de comprazimento, o professor agradeceu cada experiência, tentou acompanhar o seu tempo no progresso e avanços das novas tecnologias, mas nunca dispensou o olhar ao vivo e o calor humano da voz genuína do sentimento.

Claro que falámos da conjuntura atual, evitando saudosismos. Afinal, a liberdade não tem amarras no tempo, nem prazos de validade. E também das mentalidades, no seu melhor e no seu pior… dos professores que continuam a sua diáspora pelo árduo espaço de reconhecimento.

Um exemplo de um excelente professor e escritor: Urbano Tavares Rodrigues.

Um espelho de gentileza e de afirmação longeva nos diferentes compassos que uma intensa vida exige.
                                                                           Lisboa, 11 de agosto de 2013
                                                                                     Rosa Duarte
 

 

domingo, 4 de agosto de 2013

Boas férias, se for o caso.


Meus queridos visitantes,

 

Obrigado pela vossa presença virtual ao longo destes meses por tão modesto refúgio de ideias e sentimentos.

 

Quero desejar-vos bom descanso estival. Boas contemplações marítimas ou serranas. De extensas planícies alentejanas. Ou veraneios citadinos, de boa comida e frescas esplanadas.

 

Deem bons mergulhos. Façam boas leituras. Desenvolvam melhores conversas. Com muita poesia e alguma música.

 

E não se esqueçam: ouçam e cantem um fadinho de vez em quando!

 

Grande abraço solarengo.

 

Rosa Maria (a fadista)

4 de agosto/2013
 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

publicado no Setúbal na Rede


HUMANIZAR MAIS A ESCOLA E PARTICIPAR DA NOVA CONSCIÊNCIA COLETIVA


Eu penso que quanto mais ameaçada está a educação no nosso país, maior é a consciência da opinião pública quanto à necessidade de esta ser valorizada no sentido da construção intelectual, cívica e profissional dos nossos educandos.

Muito tem sido o recente apoio de pais e alunos aos professores a favor da qualidade de ensino, no que toca aos direitos adquiridos, ao direito ao trabalho e às condições mínimas necessárias para se desenvolver e  humanizar mais a instituição escola.

A crise, como todos sabemos, não é apenas económica. É sobretudo uma crise ética e de competências sociais.

É ação prioritária da classe política de qualquer nação a criação de futuros para os seus jovens. Que passa pelo respeito por quem trabalha e por quem quer trabalhar.

E há bons profissionais no ensino.

Os alunos afirmam com frequência ter uma boa relação com a escola.

Mesmo nas classes sociais menos favorecidas, temos pais e encarregados de educação de grande espírito de investimento educacional no acompanhamento escolar dos filhos, apostando num futuro melhor para eles.

Muitos dos meus alunos sentem a escola como a grande oportunidade de se desenvolverem como pessoas e como cidadãos.

Hoje que a escolaridade é até ao 12º ano, a obrigação do estado é maior ainda para assegurar os meios necessários para a dignificação do ensino. 

Contudo, há muita distração, nomeadamente consumista, resultante da falta de consciência social.

Os políticos deviam de ser os principais agentes de descodificação das reais necessidades e desejos da população.

Também é uma obrigação cívica de qualquer um de nós a participação e intervenção na vida política do país.

De preferência, com o saudável despreendimento em relação a cargos e a protagonismos.

Eu sou e sempre fui defensora da escola pública. Foi nela que me formei. Defendo a sua qualidade e a sua gratuitidade. Que está consagrada na declaração universal dos direitos do homem.

Acho que não temos licenciados a mais. Temos é um país com um problema gravíssimo de governabilidade que descuida os seus próprios filhos.

Ou que dispensa a sua força de trabalho porque não lhes sabe oferecer oportunidades e novos projetos de trabalho. 

Não há dinheiro nem condições para dar trabalho? Não é verdade.

O problema é a falta de autoridade no controle do incumprimento fiscal e na promiscuidade de interesses entre o setor público e o setor privado. Entre a política e as empresas. Os escritórios. Os hospitais. Etc…

A solução passa por estarmos atentos e à altura de remover as teias intrincadas de corrupção.

Reabilitar a ideia do serviço público é vital.

O que é que de melhor nós, professores, podemos dar aos nossos alunos?

Para além dos nossos conhecimentos e experiência, é a nossa atenção dedicada, o nosso afeto e a consciência responsável do nosso exemplo como seres humanos.

                                                                                 Rosa Duarte