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UM EXCELENTE PROFESSOR E ESCRITOR
Ser professor não é apenas um
simples estatuto: é uma condição intrinsecamente existencial.
Quem se torna professor, é-o para
toda a vida. Mesmo depois de aposentado e dispensado do cumprimento do horário
diário de mais de 35/40 horas semanais. Pura e simplesmente não as contabiliza.
Gosta de ensinar e de aprender. A tempo inteiro. Até morrer. É um trabalho discreto,
mas grandioso pela semente que deixa e pelo exemplo que inevitavelmente perdura.
E há excelentes professores.
Urbano Tavares Rodrigues foi um deles. Que nunca se confinou ao espaço da sala
de aula. Como qualquer assumido professor.
E para aqueles que, como eu, não
estavam em Lisboa nos dias 9 e 10 de agosto, e não puderam participar na última
homenagem a este estimado professor e escritor, as desculpas e os pêsames
devidos, a toda a família e em particular à sua filha Isabel. Pudemos, ainda
assim, comprazer-nos com as inúmeras notícias dos seus muitos amigos que
somaram e continuam a reforçar um interminável adeus deveras sentido e
merecido. Um adeus até sempre.
Não obstante ter sido este dia o
derradeiro encontro com o notável homem de Causas, que Urbano foi, a verdade é
que quem pôde fez destes últimos meses o tempo de qualidade de encontro e despedida
com a sua pessoa e também de conversa privilegiada sobre a sua obra.
Na qualidade de ex-aluna da FLL e
atual professora, é com muito orgulho que penso no trabalho responsável e
dedicado dos profissionais do ensino, quantos formados nas aulas do Professor
Urbano Tavares Rodrigues.
Por mais exigente e insaciável
que o dia-a-dia se afigure a qualquer educador, e o faça por vezes duvidar das
suas reais aptidões, esta é uma inquestionável atividade apaixonante, para quem
naturalmente por ela sente vocação, e que proporciona o desenvolvimento do
espírito humanista, nas suas múltiplas vivências, desafia para as linguagens
artísticas e desperta a séria consciência social.
Foi mais ou menos assim o testemunho
pessoal que tive do Professor Tavares Rodrigues. A título de o entrevistar, em
abril deste ano, para o meu trabalho final de investigação, pude, desse modo,
conhecer um pouco melhor o Urbano dos nossos dias. E percebi que ao longo da
sua vida bem preenchida, a tarefa por excelência de entre as tantas a que se
dedicara, fora a de professor. Disse-o com vontade espontânea e uma comoção
desvelada.
Aquela entrevista foi, para mim,
mais do que uma boa entrevista: foi um excelente testemunho de vida. E aos 89
anos demonstrou a sua lucidez e memória invejáveis, uma eloquência sobejamente
exercitada e a mesma amizade sem reservas. Conversámos durante uma hora…e ainda
me apresentou alguns quadros e fotos de família.
Foi uma vida oferecida ao ensino
público, com contributos de grande valor, uma participação cívica e política
sempre ativas e sempre pronto a partilhar as suas vivências pelo diálogo, pela
escrita, pela pintura, pela poesia, na observação jornalística e literária da
sociedade portuguesa e do mundo atual. Mesmo com as suas capacidades físicas
debilitadas, ciente da ferocidade d’ A
Imensa Boca dessa Angústia que conta no último livro publicado em vida, a
bandeira desfraldada foi a mesma: a da beleza de respirar cada momento.
Num misto de insatisfação e de comprazimento,
o professor agradeceu cada experiência, tentou acompanhar o seu tempo no
progresso e avanços das novas tecnologias, mas nunca dispensou o olhar ao vivo
e o calor humano da voz genuína do sentimento.
Claro que falámos da conjuntura
atual, evitando saudosismos. Afinal, a liberdade não tem amarras no tempo, nem prazos
de validade. E também das mentalidades, no seu melhor e no seu pior… dos
professores que continuam a sua diáspora pelo árduo espaço de reconhecimento.
Um exemplo de um excelente professor
e escritor: Urbano Tavares Rodrigues.
Um espelho de gentileza e de
afirmação longeva nos diferentes compassos que uma intensa vida exige.
Lisboa, 11 de agosto de 2013
Rosa Duarte