terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

CRIAPROMOVE

O VÍDEO-MENSAL DE MARÇO DE 2017.

http://www.criapromove.com/

In «Paradigmas», Coletànea de Poesia

O promissor miúdo de Hollywood

Digam lá se não tem potencial para protagonizar o «Pirata das Caraíbas», versão infantil?

Bonito, alegre, com atitude, sociável, carinhoso...

Diverte-te, Lucas. A vida é bela.








Que importa a dor que mora ao lado?

Morrem braços pernas sonhos no mar
flutuam cabelos desnorteados sem fim
balanceiam coletes fluorescentes entre
mar e ondas  azul cobre e águas cinzas
teimam a dançar em destroços e penas
triste quem não sabe apenas ouve e sente.

Não sabemos. Não entendemos. Que dizes?
Sim. Houve guerras  batalhas  piratarias
vencedores vencidos risos choros sem fim
jóias misérias acenos fomes e rebeldias.

Hoje há silêncios e mágoas duras melancolias
há aniquilamentos ferozes de mercantilismos
gentes expatriadas esquecidas nas balas bandidas
gentes extasiadas pelo tóxico poder e egoísmos
terras com quase tudo terras a apodrecer do nada.

Rosa Maria Duarte







segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

A anedota de Anne Bota

- Então o que é que se passou com os Óscares?

- Sei lá! Acho que os Óscares foram baralhados de novo, para não haver batota.

- Ao último minuto em cima do palco? Que cena, meu! Andaram então a trocar as estátuas uns com os outros, não?

- Nããão, pá. Foram só as fotografias dos Óscares. Achas que os Óscares cabiam dentro de envelopes?!

- Ah, pois! Ainda aproveitam essas imagens inéditas para uma curta «Onde está o prémio?» 




Autobiografia (página 21)

O meu nome tem sete palavras. Rosa Maria: os nomes próprios escolhidos pelo meu pai (a minha avó paterna chamava-se Patrocínio Rosa). Da Silva: do meu avô materno da Serra da Estrela. Candeias: da minha avó paterna da Beira Baixa. Tavares: do meu avô paterno da Beira Baixa (Fundão). Duarte: do meu sogro de Cabo Verde.
Antes de nos decidirmos pelo apartamento onde ainda moramos, visitámos alguns lugares nos arredores de Lisboa. Mas a Margem Sul tinha também atrativos muito bons. Não era tão animada como Lisboa, obviamente, mas para nós chegava (ainda eu não padecia da fadomania!).
No dia a seguir ao nosso casamento, foi o batizado do meu sobrinho Ricardo.
Passado três meses, engravidei. Como o meu sobrinho ficava algumas vezes em casa dos meus pais, eu quando saía do Barreiro, passava por lá (Alcântara) e brincava com o miúdo. Era o meu instinto maternal acentuado.
Diga-se de passagem que na minha família sempre houve crianças mais novas que eu, o que cedo me deu uma preparação bastante para ser mãe.
Eu, que sou uma pessoa com muitos interesses (embora agora mais atenuados, por razões particulares), tenho dito sempre que o auge da minha realização pessoal tem sido a maternidade.
O meu sobrinho foi, desde cedo, um amiguinho para o meu Daniel, que é o mais velho, embora um pouco mais novo do que aquele. E também amigo do meu Artur, o mais novo.
O Daniel mudou muito a nossa vida de recém-casados. Não foi fácil. Mas tornou-se muito gratificante. Até a sua energia quase que desmedida. Como na infância pôde gastar todas as baterias (ainda que eu, como professora, fosse prodisciplinadora...), tornou-se um adulto ponderado e muito responsável.
Entretando, quando o Daniel tinha 3 aninhos, fiquei grávida do Artur. Uma gravidez fruto do estágio profissional. Nada original. Andava sobrecarregada com trabalhos, deslocações para Setúbal. Entretanto engravidei. Eu já falava em ter outro, mas nem deu tempo para respirar.
O Daniel queria um irmão-rapaz para brincar. E assim aconteceu.








O meu sobrinho Ricardo quando criança
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
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domingo, 26 de fevereiro de 2017

Pensamento 'à la minute'


Os espantalhos podem já não espantar pássaros, mas continuam a espantar pessoas.

Sinto que vou cantar uma cantiguinha

Ainda mal me despertei
já começo a ouvir trautear
no parapeito da minha goela
um sonido mal conseguido
um chilreio pouco parecido
um preciso afinar matinal.

Minha oração é de alvorada
um pensamento breve positivo
um gesto sonolento desprovido
de graça e raça de humanidade
ânimo necessidade de cantarolar.

Ergo esta massa que me ocupa o andar
troco a veste que me esconde do olhar
coço a pele que quer estar a formigar
eis que se remexe a língua e o paladar
sinto que vai sair uma cantiguinha.

Rosa Maria Duarte








sábado, 25 de fevereiro de 2017

A anedota de Anne Bota

Entre um casal: 

- Sabias que a nossa geringonça está a fazer furor lá fora?!

- O nosso sistema de rega? Nã. Então porquê?

- Porque, ao que parece, a caranguejola, de costa para a esquerda, está a inspirar outras terras aquém e além fronteiras...

- Estás mas é gorjeando. Espera aí: fala a direito que não te entendo!!

- Então é assim: somos pequeninos e desengonçados, mas desembaraçados e engraçadinhos.

- Ai António, que me vou já à feira comprar uns belos de uns cravos para plantar na horta da ti Marcelina.





sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Autobiografia (página 20)

Quando casei, em 85, não sabia que tinha direito a dias para a lua-de-mel. Por isso marcámos nas férias de Natal. Casámos a 21 de dezembro. Já eu estava a dar aulas na Escola Secundária de Santo António, na Cidade Sol, Barreiro. Dei lá dois anos aulas. Um verdadeiro desafio.
Quando os meus colegas souberam que me ia casar, juntaram-se e compraram uns utensílios para a casa, como um ferro de engomar.
No segundo ano, já estava grávida do meu primeiro filho, o Daniel. Apanhava a camioneta para Cacilhas. O Cacilheiro para o Terreiro do Paço. O barraqueiro para o Barreiro. E a camioneta do cais no Barreiro para a Cidade Sol, que dava (ainda deve dar..) muitas voltas no centro.
O Daniel nasceu a 3 de dezembro. Nos meses de maio, junho, julho, nos dias mais quentes, eu ficava tão ensonada que adormecia e o que me valia é que saía sempre, em todos os transportes, na última paragem. Só quando ia acompanhada é que não adormecia. Às vezes acompanhava alguém da minha escola e ia a conversar. A minha colega Rosa, por exemplo. Chegámos a fazer autênticos piqueniques no barraqueiro, de regresso a casa, tal era a fome.
Foi no primeiro ano da minha carreira docente que conheci também a Fátima e a família. Ela emprestou-nos muitas roupas e a cama da filha Ioli. No tempo em que todos os tostões contavam.
Eu fiz uma grande barriga e estava um bocadinho assustada com o parto. A minha colega Margarida dizia-me, como mãe que já era: - O que entra, tem que sair. Não custa nada. - E sorria. Eram cumplicidades que ajudavam.
Eu ia às consultas mensais do Hospital de Santa Maria, mas pensei em fazer uma preparação para o parto. Então a Fátima falou-me na lendária Dra. Cesina Bermudes, obstetra, que conhecia bem. Tinha consultório na sua própria casa, na Santos Dummond (que entretanto foi remodelada). Era a pioneira no nosso país do parto sem dor. Foi uma experiência extremamente rica a todos os níveis. Ela quase não levava dinheiro. Tinha dedicado a sua vida às senhoras mais pobres e àquelas que sendo ricas, não podiam contar com a sua família depois de grávidas. Oferecia-nos os medicamentos. Tinha caixas cheias deles. Queria que os maridos acompanhassem as grávidas ao longo dos nove meses. E que assistissem ao parto. À época, já era muito progressista.
E assim aconteceu. Quando tive sinais de parto, que primeiro foram falsos, fomos tocar-lhe à campainha durante a noite. Estava a fazer sopa. Dizia que só dormia quando tinha sono. Já tinha uma idade considerável, mas ainda se sentia com força e capacidade para fazer partos.
Quando fui, de facto, para a Clínica Cabral Sacadura, onde a Dra. Cesina trabalhava, fui a conduzir, porque o meu marido ainda não tinha carta de condução. Ia a fazer os exercícios de respiração.
Enquanto não fiz a dilatação necessária, a Dra. sentou-se à minha cabeceira a ler. Eu até dormia nos intervalos das contrações. A minha família estava lá comigo.
Entretanto, o meu marido vestiu uma bata e foi para a sala ajudar no que foi preciso durante o parto.
O Daniel nasceu um bebé lindíssimo. A enfermeira assistente elogiou-o muito.
O Manel fez questão de dormir lá.
Então fiz um grande grande sono, de uma imensa tranquilidade e felicidade.
Já lá vão 30 anos.


A anedota da Anne Bota

- Mãe, quando eu morrer vou para o paraíso?

- Vais, querido, tu és um bom menino, portas-te bem.

- Mas eu não quero morrer pequenino.

- Claro que não, filho, Deus há-de permitir que chegues a muito velhinho.

- E se eu for um velho chato? Há velhos tão rabugentos que Deus não deve gostar de os levar para o seu paraíso. Ontem o pai disse-me que prefere ir para um paraíso fiscal. É melhor do que o paraíso normal, mãe?





quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Sou uma professorinha

Eu estou aqui, professorinha
toda entregue à tua inventiva
lembrança de quão alheia é emoção
de ser leve fadinha do teu coração.

Sei que tu sabes que eu não sei
quase nada de dentro de mim 
de dentro de ti liberdade de existir
mais de quem comigo quero estar
e de existir a todas as horas do dia.

Rosa Maria Duarte




Pensamento 'à la minute'

Os livros, a música e a pintura (l/m/p), adequados a cada idade, são muito boas ajudas para uma criança aprender a falar.


Quadro em exposição na Casa das Artes em Cacilhas

A anedota da Anne Bota

- Sabes, fui ontem à Rádio Amália.

- Boa! O que foste lá fazer?

- Ver a fadista, a Amália.

- Ah?? Ao vivo? Como assim se a senhora já morreu? Tu és médium, ou quê? Cá para mim, tens é uma grande imaginação!

- Desta vez foi real. A sério. 
Acontece que a Amália Rodrigues tem aparecido lá muito. Até tem feito a cadeira do estúdio elevar-se e descer sozinha. Eu já vi. Aliás, a Ana Meixedo também já contou uma ou outra vez.

- Ah, ok! Mas tu não viste mesmo a diva? Não inventes, se faz favor.

- Vi, pois! Eu estava na assistência, encolhida. Senti aproximar-se do meu ouvido uma brisa fresca e ouvi um sussurro arrastado e macio: - Miúda, tu nunca te atrevas a cantar fado, ouviste?! - Virei-me de lado, quase assustada, e juro que vi o sorriso inconfundível da grande Amália, ainda que no corpo de uma senhora de idade que estava sentada ao meu lado.





quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Homenagem em tons de fado a Mário Eloy (à minha maneira).












Homenagem a Mário Eloy à minha maneira
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
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Aconteceu ser eu um dia...primavera.

Aconteceu ser eu um dia  uma flor
Ser alguém terno na planície-mãe
de olhar erguido à vida estrela-tela
e no alto do infinito-mestre sentir
quase saudades de mim em aromas
de arco-íris, chuvas e ventania.

Aconteceu ser eu ao lado de vulto
sombra que não conheço, incógnita
bailante céu baixo da montanha sem 
brancos de neve. Apenas urzes firmes 
e erva pisada minha companhia divina
deserto Deus-nevoeiro bem-me-quer.

Aconteceu ser eu a querer ser rosa-flor
frágil pequenina em surdina atenção
macia de alvura compleição e veludo
de mãos a desenhar um avião tão azul
na terra do sempre e amor em poesia.

Não estou só. Afinal, primavera, és eu.


Rosa Maria Duarte
Quadro a óleo em exposição na Casa das Artes em Cacilhas


terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A anedota de Anne Bota

Entre duas gentis senhoras, bem entradas nas suas memórias, sentadas a conversar:

- Às vezes ligo a TV, mas já não é o que era!
- Ah pois não! Olhe, querida, gostava muito da programação de 2ª feira. Premiavam muito a arte de representação!
- Então é cá das minhas, Dona Efigénia. Diga-me cá: acha que os jovens de hoje gostam tanto como nós gostávamos...? 
Como me deliciava a ver aqueles dramalhões de amor com o António Vilar, a Carmen Dolores, a Eunice Melhor...
- Eunice Muñoz, quer a amiga dizer.
- Não, não! A Eunice, Melhor que elas todas.