quarta-feira, 29 de abril de 2015

crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede» e no «Diário da Região»

 

http://setubalnarede.pt/canal/fronteiras

Fronteiras


O tema “fronteiras” é atualíssimo. E atentos, elementos da equipa de investigação coordenada pela Professora Maria Fernanda de Abreu do Centro de História d’Aquém e d’Além Mar (CHAM) organizaram recentemente um Simpósio de três dias (20, 21 e 22 de abril) na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas para debater “Fronteira, Cosmopolitismo e Nação nos Mundos ibéricos e Ibero-Americanos”. Foram momentos de relevante partilha e reflexão.
Sabemos que o fenómeno da globalização reacendeu as questões prementes sobre as regras da emigração, o cosmopolitismo do pobre, o conceito de nação nas suas mais recentes definições… Estas e outras questões foram desenvolvidas pelo Professor e escritor Silviano Santiago na Conferência Plenária de Abertura no primeiro dia do Simpósio, que contou com a presença de figuras como Eduardo Lourenço e José Carlos de Vasconcelos.
Já há 24 anos, o economista e escritor espanhol José Luis Sampedro discorria publicamente sobre o conceito multidimensional de fronteira e sobre a autoria humana das linhas fronteiriças que delimitam o conhecimento, para classificar e identificar o que se entende.
É que a ideia de fronteira pode estar contida em cada palavra e, no plural, erguer fronteiras no mundo da literatura.
A fronteira pode ser encarada como uma porta ou como uma muralha.
Há aqueles que fazem das fronteiras uns altos muros para manter e assegurar o afastamento e a separação daquilo que está do outro lado. Preferem abdicar da liberdade para se esconderem no que julgam ser a sua segurança. Veem a fronteira como uma ameaça porque imaginam o inimigo do outro lado.
Mas felizmente há outros que decidem olhar a fronteira como um convite à descoberta e ao enriquecimento. Esta atitude, no curso do tempo, tem criado possibilidades de evolução na realidade fronteiriça, nos seus vários níveis: social, económico, psicológico, histórico, geográfico, artístico, etc.
Numa atitude de solidariedade, que sempre foi uma emergência nos movimentos migratórios das populações, constata-se cada vez mais a necessidade de soluções concertadas. O próprio desequilíbrio atual das condições do planeta, pela exploração desmedida dos seus recursos naturais, exige um crescente sentimento solidário de empenho e de redistribuição constante de bens.
O nosso mundo está mais anão porque o ranking das telecomunicações exige inovação e concorrência crescentes. E nenhuma cultura pode ter a veleidade de se apartar dos prós e contras dessa realidade proglobalizante.
O lugar que habitamos tornou-se pequeno demais para fazermos vista grossa aos problemas uns dos outros. Mesmo com a consciência de coletivo a teimar pequena…
Há uma culpa agravada nos casos recorrentes de tráfico de emigrantes, que tem enxovalhado indesculpavelmente o rosto das nações. As fronteiras podem e devem ser locais de encontro para o diálogo. Os riscos, em desespero de causa, só se evitam com a atenção institucional à altura.
Não somos todos pobres aldeões deste casario global?
Não é fácil acolher a emigração e legislar em conformidade e concertadamente sobre as necessidades de cada comunidade nos diferentes continentes, sobretudo dos mais carenciados. Mas é uma prioridade de topo. O cidadão não é apenas uma preocupação do seu território. É uma urgência na dignidade conjunta dos povos, ou se quisermos, uma obrigação holística, como é defendido pelas ONG’s.
Será que, sociologicamente falando, o fenómeno da globalização acentua sentimentos, recalcados ou não, de preserva xenofobia e suas variantes?
Refugiados, bichos da terra tão pequenos, no progresso científico e tecnológico que cada dia está mais veloz e absorvente, a boa sabedoria dos povos continua subvalorizada e atrofiada nalgum convés qualquer sobrelotado no Mediterrâneo, a reclamar um pouco de ar e de luz séria de ação humanitária.
Sentamo-nos à espera que chegue a necessária vontade política ou que passe a nossa de reivindicar?
Criança de 74, eu ainda acredito na fronteira que liga a democracia ao esforço comum. É o magnetismo dos cravos colhidos em cada abril e que para longe fazemos por arremessar…

Rosa Duarte

Professora e mestre em estudos portugueses
Rosa Maria da Silva Candeias Tavares Duarte nasceu em Alcântara. É investigadora do CHAM e professora de Português. É mestre em Estudos Portugueses e desde 2010 doutoranda na FCSH em Línguas, Literaturas e Culturas, na área de Estudos Literários Comparados. Fundou dois jornais escolares. É conhecida no meio fadista como Rosa Maria Duarte. Tem dois cd's editados: “Fado Que Cura” e “Fado Firmado”. O seu blogue pessoal é “A Batuta do Olhar”. É casada e tem dois filhos.

sábado, 25 de abril de 2015

«porque não posso falar contigo?»


A VOZ DA LIBERDADE EM PORTUGAL

O 25 de abril de 1974 valeu, sem dúvida, a pena.

E por muito que nos custe, porque podíamos estar melhor do que estamos hoje, o facto é que qualquer revolução não se basta a si mesma. Precisa de alimento diário, incentivo e renovação constantes.

Não podemos dizer que já de nada serve reafirmar a festa dos cravos e manter esperança no futuro.

Se há muito a fazer, mais uma razão para concertar esforços e convicções.

Ontem, por exemplo, ouvi um pouco do testemunho da atriz Giuseppa Apolloni sobre a sua histórica dedicação à causa das mulheres. Admirável!

Todos nós merecemos o respeito do outro, homens e mulheres.

Mas na realidade, a sociedade portuguesa precisa de dar uma atenção própria às mulheres.

Na liberdade de expressão e comunicação. Na dignidade como cidadãs, mães, esposas, irmãs, colegas, amigas. No seio da sociedade. Do casamento. Do trabalho. Da família...

Quantas vezes se rouba a palavra a quem tem algo a dizer.

Quantas vezes se limita quem tem algo para dar.
 
Quantas vezes se tenta diminuir quem tem o mesmo valor.

O silêncio é de ouro, mas sobretudo para elevar o coração ao som do fado.

Não como uma imposição. Não como uma repressão.

«Ninguém é de ninguém» canta-nos João Pedro Pais.

Ninguém tem autoridade moral ou afetiva sobre um cidadão livre e honesto, seja qual for o laço parental ou social, por via da repressão.

E a conspiração e a difamação têm que ser severamente combatidas para proteger a liberdade individual, que é o garante da liberdade social conquistada.

Assim prevaleça o discernimento para as detetarmos e neutralizarmos a tempo...
 
Vamos falar sobre isso?

Lisboa, 25 de abril de 2015

Rosa Maria Duarte
 
 

 

as claves em flor

as palavras pintadas em som de fado e revolução
 
 
 
 
 


quinta-feira, 23 de abril de 2015

viva a liberdade!

   A liberdade a passar pela arte.
título: a liberdade
rosa maria Duarte
tela, gouache e carvão

 

domingo, 19 de abril de 2015

Para o Daniel Duarte da Holanda

título: Para o Daniel Duarte da Holanda
autoria: a mãe
colagens, tela e têmperas

Este quadro é dedicado ao meu filho Daniel e à Martinha que estão em Utrecht, na Holanda, a fazer investigação académica e a cultivar no seu jardim jovens tulipas graciosas.
 
Obrigado também ao meu filho Artur pelas suas tulipas holandas na nossa varanda bem portuguesa com canteiros de rama verde e sardinheiras.
 
As tulipas são a natureza na arte universal do recorte na cor e senhoras de água.
 
Muitos beijos com sabor a fado.
 
Rosa Maria Duarte

 


o fado em celebração

Estive lá...e gostei. Obrigado.
foto de Ferdinando
 

sábado, 18 de abril de 2015

prenda de anos

Título: Prenda de anos
autora: a mãe
tela e têmperas
 
 
 
Ao meu filho Artur, que faz hoje 24 anos. Desejo-te uma vida cheia de cores bonitas, filho.
 
A maternidade é a melhor prenda de anos.
 
 

quinta-feira, 16 de abril de 2015

16 de abril, dia mundial da voz

Dedico esta «janela-quadro virada para o fado» a todos os cantores e falantes da arte ao próximo.
De viva a voz !
Título: janela-quadro virada para o fado
autoria: rosa maria duarte
materiais: tela, carvão e têmperas

quarta-feira, 8 de abril de 2015

musicis curriculum vitae


A MÚSICA NA MINHA VIDA 

É engraçado chegar a esta altura da meia existência (ou um pouco mais…) e olhar para trás para tomar o peso da importância que a música tem tido na minha vida.

Com a idade de meses, ainda não andava e já os meus pais me punham a ouvir o enorme (na altura) aparelho de rádio antigo que havia na sala de jantar. Segundo a minha mãe, eu bamboleava-me sentada até à dormência.

Mais tarde, miuditas, eu e a minha irmã fazíamos festivais de Eurovisão à nossa maneira. Não perdíamos o nacional e o europeu para imitarmos os cançonetistas. Houve um ano que foi o Carlos do Carmo a interpretar todos os temas em concurso. Eu imitava frequentemente a Simone de Oliveira a cantar a «Desfolhada Portuguesa».

A primeira vez que cantei em público foi em cima de um estrado num ambiente de colónia de férias, com a praia da Costa da Caparica em pano de fundo. Tinha p’á aí os meus 8 anos. Cantei o «Vamos Cantar de Pé» do Paco Bandeira. Havia muitos convidados naquela atividade (creio que foi numa das últimas praias do areal). Depois em dois anos consecutivos em Janas também a cantar em parceria no fogo de campo que fazíamos com espetáculos quase de improviso.

Mais ou menos nessa altura entrei para a catequese e comecei a frequentar o coro da catequista Luísa, que era freira, na igreja de S. Pedro em Alcântara (onde morava). Esta senhora volta e meia ia a casa dos meus pais dizer que era boa cantadeira, mas mais para se queixar do meu vício das pastilhas elásticas. Na missa, era ela a maestrina, cantava e tocava no órgão da igreja. Fazia por ser simpática.

Depois veio o 25 de abril e eu passei para o grupo de jovens que se reunia na sala de cima e já ensaiava com violas, com um repertório mais atualizado e animado, como o «Canta amigo, canta» de António Macedo e muitos outros. Há dias quando fui ouvir o José Gonzalez fiz essa viagem agradável ao meu passado. Foram tempos giros, esses.

Quando adolescente e depois jovem adulta, as férias grandes serviam para cantarolar em tudo o que era sítio, espontânea e planeadamente. Cantar, dançar e assobiar. E tocar harmónica. Quando ia e vou com os meus irmãos e com os meus filhos bem como outra família de férias, todo o programa musical é aproveitado...

A partir dos 22 anos, quando comecei a conduzir, foi uma alegria. Ouvir fado e todo o tipo de música. Trauteio desde sempre ao volante. Misturo com o assobiar. Já uma ou outra vez um agente da ordem olhou para mim para ver se estou a falar ao telemóvel…

Em casa dos meus pais eu já ouvia alguma música. Mas só comecei a ouvir à minha vontade depois de ter um quarto para mim. Com um aparelho gravador emprestado e as cassettes também. Até ouvia os Bee Gees, Moody Blues, Paul Simon, Bob Dylon, Mike Olfield, Eagles, …

Há dias fui desafiada a ouvir Joan Baez no Coliseu de Lisboa… Uma viagem delirante ao tempo do mundo do folk. Com 74 anos e aspeto impecável, Baez sozinha no palco com a guitarra, plateia repleta de gente nova e menos nova, um público participativo, e o ar cheio de sentimento, timbre apurado, vibrações intensíssimas. Muito bom!

Já desde há algum tempo a esta parte, nas aulas com os meus alunos, todos os poemas musicados não passam despercebidos. Quantos grupos musicais interessantes com melodias fascinantes vamos aprendendo e trauteando.

Uma experiência de participação no coro da escola secundária Moinho de Maré onde trabalhei muitos anos também entrou no currículo.

Mais a minha contribuição musical nos encontros da Sociedade Teosófica de Portugal, com a minha harmónica. Inclusivé nas Jornadas Ibéricas, frequentemente em Madrid. Até uma pequena exibição de harmónica na Sociedade Portuguesa de Naturalogia.

Os nossos filhos também tiveram uma complementar instrução musical e sempre nos acompanharam nos vários espetáculos a que temos assistido, como os Dias da Música no CCB, os ciclos na Gulbenkian, na Casa da Música, os diferentes festivais de música de verão e outros.

Os meus pais eram grandes amantes do fado e gostavam muito de me ouvir cantar (a mim e à minha irmã), mas nunca me incentivaram a ser cantora ou fadista. Escritora, pintora, professora, jornalista, sim. Ainda hoje, a minha mãe diz-me: «Vais deixar, não vais, filha?»

Mas o destino é o que tem de ser. O fado que é amor é para toda a vida…no sofrimento e na alegria.

                                                                Lisboa, 8 de abril de 2015

                                                               Rosa Maria Duarte
 

 

 

terça-feira, 7 de abril de 2015

esclarecimento público aquém e além fronteiras, com amizade


MEIA HORA DA VERDADE (AS OUTRAS MEIAS FICAM PARA DEPOIS) 

A verdade é uma necessidade que muitas vezes se adia. Por várias razões.

Uma delas é deixar que os outros a descubram. Como nos filmes policiais. Quem parece a vítima é o criminoso e vice-versa.

Hoje vou tentar desvendar um pouco a minha verdade que tem levado muito tempo a ser detetada e compreendida. Só um pouco, claro está, porque envolve algumas situações delicadas…

Porque é que não o fiz antes?

Porque estava suficientemente embrenhada no meu trabalho de investigação. Todo o minuto e pingo de energia contavam (já estou na outra fase…)

O que eu gostaria, neste primeiro capítulo, que ficasse minimamente esclarecido é que não quero chamar à pedra ninguém nem devolver as amáveis cortesias. Apenas me decidi pela via do diálogo (espero…).

Como muitos sabem, sou professora faz 30 anos. Comecei em 1985 (no ano em que me casei).

Posso dizer que sempre tive uma boa relação com os meus alunos. Sou oriunda de uma família numerosa e fui criada com dois irmãos mais velhos e três mais novos. Uma família tendencialmente masculina (daí também a minha natural familiaridade com o temperamento masculino). Atualmente, no meu agregado familiar sou a única mulher.

Sempre fui de convicções, mas aprendi com o tempo a moderar-me e dar mais espaço ao benefício da dúvida. Hoje considero-me uma razoável pedagoga. Acho que devemos dar o nosso melhor quando acreditamos no que fazemos.

Se sou mais ou menos parecida com a maioria das pessoas, é uma resposta que ainda não estou certa dela. Afinal não somos todos únicos? Claro que há pessoas que têm mais afinidades umas com as outras…

Mas eu não sou, nem nunca tive excesso de autoestima. Em Psicologia não existe excesso de autoestima. Apenas arrogância ou complexo de superioridade. De que nunca sofri. E às vezes é de grande crueldade quando pessoas, jovens e crianças, ao tentarem superar as suas inseguranças com uma atitude mais assertiva, os outros atacarem-nas, por vezes de forma brutal, a querer deitar por terra esse esforço.

Um curso intensivo de Psicologia devia ser obrigatório, com uma sábia e adequada metodologia em função da idade e do nível de ensino, ao longo da vida para cada ser humano. Não uma Psicologia de bolso, mas a séria Psicologia que se encontra em constante desenvolvimento e fascinante descoberta.

Como é que é possível que indivíduos com talento e até de sucesso sofram inversamente agressões afetivas e psicológicas por parte dos seus pares? E os que têm pouco também sofrem, claro.

Mas os que o desenvolvem, é surpreendente (pelo menos aparentemente), porque têm algo para oferecer aos outros. O que é que se passa, afinal?

Todos sabemos que a máxima «a felicidades dos outros é a minha própria felicidade» é só para muito poucos.

Quando José Cardoso Pires ganhou o prémio Pessoa, de imediato telefonou ao seu amigo Júlio Pomar e disse-lhe mais ou menos isto: - ganhaste o prémio, amigo (ver Autobiografia de José Cardoso Pires de Inês Pedrosa).

Não se pode exigir que o simples mortal não sinta a pequenez de sentimentos menores. Até (ou infelizmente sobretudo…) perante as pequenas felicidades dos mais próximos.

A ideia seria partilhar e estender o mais possível ao coletivo o bom que a vida vai proporcionando…mas nem sempre é assim. Quantas vezes por medo e por despeito. Da parte do próprio e, quantas vezes, da parte de quem reconhece silenciosamente o valor de alguém, mas desenterra falsas razões para não o fazer!

E a Humanidade leva tanto tempo a aproveitar os seus próprios recursos. Sobretudo os humanos. Quantos talentos, ao longo da sua história, não foram quase integralmente desperdiçados? Digo quase porque acredito que a vida tem um propósito e algo de cada um tem que reverter em benefício do presente para o futuro. Nem que seja algo muito insípido e mínimo…

Nunca se questionaram porque é que as pessoas, como as ligadas ao cinema, à música e a outras áreas do espetáculo e do saber, que têm tudo a seu favor para serem felizes e nunca o foram (às vezes apressam o seu fim)?

As razões são múltiplas e circunscritas a cada caso. Mas que faz pensar, a mim faz!

Há dias via um documentário com os meus alunos sobre a vida e obra de Eça de Queirós e eles ficaram muito admirados com o facto de a filha do célebre escritor, mesmo que em Paris (ou especialmente por isso), por altura do seu falecimento, tenha ficado estupefacta com a quantidade de gente que acorreu às cerimónias fúnebres em honra de seu pai. Segundo o próprio testemunho, esta jovem que era na altura só conseguiu justificar o fenómeno público com o tipo de profissão que o seu pai exercia de cônsul (que afinal sempre fora e nunca tivera este apoio público).

Há algum tempo atrás, uma colega minha dizia-me que as pessoas que se distinguem pela sua obra, nunca deveriam de ser publicamente reconhecidas antes da sua morte.

Será possível esconder a vida toda esse reconhecimento ao próprio, ou o grau e suas variações de imagem pública em tempo real?

Será legítimo e mesmo humano fazê-lo?

Será que os outros (já não falo do próprio) beneficiam mais dessa obra assim ou da obra que poderia ser feita com apoio e não são proporcionadas condições para isso?

Ainda mais: será legítimo fabricar uma imagem social de desinteresse e fraca qualidade, imagem essa trabalhosa para ser por vezes exclusiva para o próprio, só para que este não se envaideça (se partirmos desde já desse pressuposto)?

Parece que somos em boa parte o que os outros pensam de nós. Ou mesmo muito. Mas a inteligência humana consegue melhor, ainda que não o confesse por tática pessoal ou incrível respeito por essa vontade. José Régio não foi nisso e manifesta-o bem no seu «Cântico Negro». Podiam considerá-lo arrogante ou obstinado, mas ele fez o seu próprio caminho. Talvez num grau de solidão evitável…ou não…

Agora o castigo e a distorção da verdade que se faz a um ser humano devem ser denunciados e dadas respostas em conformidade com a realidade dos factos.

Nós não temos o direito de roubar a felicidade uns aos outros. De maltratar quem vive para o seu propósito de vida. Porque o mau estar de um é o mau estar de todos. É o que eu tento passar aos meus alunos.

Quem apoia, a seu tempo, é reconhecido por quem é ajudado. Cada um tem o seu timing para avaliar as situações e os carateres. Mas é bom colher frutos e não alimentar remorsos.

Todos temos talentos e é nossa obrigação pô-los ao serviço do coletivo. Não perder tempo a não deixar fazer, mas ganhá-lo fazendo também. Cada um com as suas qualidades. É essa riqueza que nos comove. Somos tantos, alguns tão parecidos como os gémeos verdadeiros, e somos sempre diferentes.

Que há chico espertismo, claro que há. Mas a seu tempo tudo se revela. Viver na desconfiança e no medo de dar um abraço e agradecer é um existir desperdiçado.

Eu recuso-me a tal.

Se desistirmos, então o homem é um projeto falhado. Se somos suficientemente humildes para estarmos juntos, há que trabalhar honestamente para isso.

Para terminar esta minha primeira (e para já única) revelação pública do meu caso (que dava um folhetim…com várias edições), prometo aos meus amigos (aos que me querem ajudar, embora com certas dificuldades…) que continuarei arduamente a cumprir a minha missão que é dar o que tenho melhor em mim.

Não acham que deveria existir para além das instituições que já conhecemos (ou sendo mesmo da responsabilidade de uma dessas instituições) um número de acões efetivas no terreno no sentido de preservar de forma mais próxima a integridade moral, social e afetiva dos artistas e dos criadores em geral perante as variadas situações que se lhe deparam, quer perante os seus pares, quer perante a sociedade em geral?

Porque não… ver ou ouvir o que fazemos nas melhores condições? Contrariar para desmotivar pode ser uma arma de dois canos inversos. E as caretas são para as caricas velhas e riscadas. BAHH!

Vai um tirinho?

Até à próxima.

7 de abril de 2015

Rosa Maria Duarte

domingo, 5 de abril de 2015

«que hei-de fazer senão sonhar» (Herberto Hélder)

título: Herberto Hélder
autor: Rosa Maria Duarte
materiais: tela, gouache e pastel
 
 
Herberto Hélder era um dos mestres da palavra. A poesia vivia em si.
 
Não alimentava máscaras. Com a vivência poética a bastar-lhe...  
 
Porque "Há quem viva escondido a vida inteira" com "máscaras sufocantes" (Jorge Palma Deixa-me rir.)
 
Às vezes respiramos o estar vivos e precisamos do nosso sentido de presença, como eu e quantos de nós! A ainda condição de aprendizes...da vida.
 
As palavras vão crescendo, cantando, dominando e o autor some-se. A memória fica em cima da mesa a guardar a obra.
 
"As letras cresciam em torno da terra, as telhas vergavam ao peso do que me lembro." (Herberto Hélder, Poemas Completos)
Herberto Hélder (1930-2015)
 




sexta-feira, 3 de abril de 2015

manoel de oliveira: mais uma estrela no céu

título: Manoel de Oliveira
autoria: Rosa Maria Duarte
materiais: tela e gouache
 
Como cinéfila, não podia deixar de me juntar às vozes que agradecem e homenageiam um dos grandes cineastas portugueses: Manoel de Oliveira.

Bem que podia ter sido o primeiro homem imortal!

Foi um inegável obrador da cultura nacional que partilhou com o mundo.

Homem da cidade do Porto, a arte deu-lhe a longevidade invejável conhecida (106 anos).

Deus não se esqueceu dele. Distraiu-se apenas com os seus filmes.

Uma estrela de cinema em tela pintada de olhar fixo e deslumbradamente reflexivo.

Viverei tantos anos quantos os filmes que Manoel de Oliveira realizou?...

Os artistas têm mesmo que ascender para darem mais espaço à sua obra nas catedrais da imaginação?

Bons filmes manuelinos. Sem requiem. Imortalizemos a arte.

Cenas recomendadas do trailer seguinte: fechar os olhos e ver a eternidade na autobiografia do autor.

O seu derradeiro pensamento em bobine para o próximo filme em modo celestial:
                                                                   a infinitude do olhar.


tertúlia fadista no Alentejo na tarde de dia 9 de maio (alterada para 10 de maio)

Queridos amigos,

Se quiserem alinhar numa tertúlia fadista em Grândola, são bem-vindos.

É um piquenique seguido de uma tertúlia de fados para os amigos.

No domingo dia 10 de maio, pelas 12 horas, juntamo-nos na Aldeia da Justa (a 2 km de Grândola), numa casa rústica que fica na Rua da Mocidade nº 9 (a última da rua do lado esquerdo).

Cada um leva uma comezaina para partilhar. Depois do piquenique, vai-se aos fados. Vão músicos, naturalmente.

Contamos convosco?

Abraço.

Rosa Maria Duarte





quarta-feira, 1 de abril de 2015

crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede» e no «Diário da Região»

http://setubalnarede.pt/canal/as-armas-e-os-baroes-assinalados

 

As armas e os barões assinalados


A História faz-se de histórias. E os guerreiros e os Homens ilustres de Portugal fizeram-se e fazem-se nas narrativas escolares de cada época.


Em jeito de aparte: quando uso a palavra homens estou naturalmente a referir-me aos homens e às mulheres (embora em outra época se pensasse só no masculino). Esta herança linguística que faz prevalecer o masculino sobre os dois géneros tem preguiçosamente resistido à evolução, ainda que lenta, da mentalidade latina, e é assumida pelos seus falantes, em especial pelos lusos, com a conivência ou conformismo das suas falantes. Em Espanha a atitude no feminino é de outra assertividade e determinação…


No pós 25 de abril de 74, grafava-se sempre homens no sentido de humanidade com maiúscula. Depois foi-se perdendo esse hábito na escrita. Ultimamente, eu própria recuperei a palavra grafada com maiúscula por indicação académica, com intenção de manter o princípio democraticamente adquirido e merecido (a questão é: será que por se destacar assim a palavra Homens, ela continua a encerrar a mesma a ideia biforme de género de outrora?).


Desde há algum tempo que os oradores mais mediáticos e prodemocráticos optam por se dirigirem aos cidadãos em público, convocando a sua atenção pelo uso das duas palavras patriotas distintas de género e, pelo menos aparentemente com gentileza cavalheiresca, nomeando os indivíduos do género feminino primeiro: portuguesas e portugueses.


Todos sabemos que os guerreiros de hoje já não são só homens, mesmo no conflito armado (lamentáveis são os conflitos, mas não necessariamente a participação das mulheres neles…ou pelo contrário…?). Felizmente há outros guerreiros sem armas, que são os precursores da paz, homens e mulheres, que procuram no seu dia a dia ferramentas para o entendimento e progresso pela aprendizagem mútua e no respeito pela vontade individual.


O modelo de escola atual, pensado e repensado nos últimos anos, revela um sucesso escolar de ainda insucesso do sistema. E não há dúvida que a tecnologia está a mudar a forma como os alunos estudam e os professores ensinam. Mas a escola virtual do futuro que tem vindo a ser profetizada nunca poderá resumir-se à internet, no isolamento de quatro paredes. O conhecimento está aquém e além-tecnologia, seguramente com a ajuda desta. É que a falência da educação humanista não consta do cardápio social ou das metas de proficiência…


Ou será que é cada vez mais difícil hoje ver para além do progresso tecnológico?


Nos tempos que correm… mares nunca dantes navegados para descobrir é quase impossível. As terras viciosas atuais não são as dos incivilizados e estes querem a liberdade e a religião muito à sua maneira… Mais barões… só se forem os do dinheiro e do tráfico. Os heróis antigos perderam o respeitinho. Os reis e os presidentes estão a braços com a austeridade e dizem que não têm cofres cheios de obras valorosas. A fé e o império diminuíram drasticamente, a não ser o império do consumismo e do autoritarismo. A lei da Morte tem tido dificuldade em manter vivos no quotidiano das gentes os feitos verdadeiramente grandiosos da humanidade, a avaliar pelo espólio cultural e ético em risco como os vestígios arqueológicos, a lealdade e por aí fora….


Pode ser que o programa internacional de avaliação dos alunos (PISA) deste ano nos dê algum alento com indicadores animadores. Pode ser que encontrem um panorama com assinaláveis razões que, esgrimidas pelas “armas” da educação em luta pelos nossos sempre ilustres discentes, sejam inspiradoras para o crescente fértil projeto humano, qual espírito empreendedor concertado que se almeja.


Porque afinal… onde andamos nós, grandioso herói lusíada cantado no século XVI? Houve alguma parte da narrativa que tivéssemos deixado de perceber na nossa epopeia?


Assim de repente… não me parece que tenha sido aquela do poeta quando se oferece para cantar e espalhar por toda a parte as façanhas épicas, porque agora temos as redes sociais e outros afins para nos engrandecermos…


Ou será antes a do engenho e da arte para as boas façanhas (cada vez menos épicas) que exigem uma tuba canora e belicosa e um espírito valoroso nacional proglobalizado?

Fotografia de capa por Fiore S. Barbato

Rosa Duarte

Professora e mestre em estudos portugueses
Rosa Maria da Silva Candeias Tavares Duarte nasceu em Alcântara. É investigadora do CHAM e professora de Português. É mestre em Estudos Portugueses e desde 2010 doutoranda na FCSH em Línguas, Literaturas e Culturas, na área de Estudos Literários Comparados. Fundou dois jornais escolares. É conhecida no meio fadista como Rosa Maria Duarte. Tem dois cd's editados: “Fado Que Cura” e “Fado Firmado”. O seu blogue pessoal é “A Batuta do Olhar”. É casada e tem dois filhos.