A MÚSICA NA MINHA VIDA
É engraçado chegar a esta altura da meia existência (ou um
pouco mais…) e olhar para trás para tomar o peso da importância que a
música tem tido na minha vida.
Com a idade de meses, ainda não andava e já os meus pais me
punham a ouvir o enorme (na altura) aparelho de rádio antigo que havia na sala
de jantar. Segundo a minha mãe, eu bamboleava-me sentada até à dormência.
Mais tarde, miuditas, eu e a minha irmã fazíamos festivais de
Eurovisão à nossa maneira. Não perdíamos o nacional e o europeu para imitarmos
os cançonetistas. Houve um ano que foi o Carlos do Carmo a interpretar todos os
temas em concurso. Eu imitava frequentemente a Simone de Oliveira a cantar a
«Desfolhada Portuguesa».
A primeira vez que cantei em público foi em cima de um
estrado num ambiente de colónia de férias, com a praia da Costa da Caparica em
pano de fundo. Tinha p’á aí os meus 8 anos. Cantei o «Vamos Cantar de Pé» do
Paco Bandeira. Havia muitos convidados naquela atividade (creio
que foi numa das últimas praias do areal). Depois em dois anos consecutivos em Janas também
a cantar em parceria no fogo de campo que fazíamos com espetáculos quase de improviso.
Mais ou menos nessa altura entrei para a catequese e comecei
a frequentar o coro da catequista Luísa, que era freira, na igreja de S. Pedro
em Alcântara (onde morava). Esta senhora volta e meia ia a casa dos meus pais dizer que
era boa cantadeira, mas mais para se queixar do meu vício das pastilhas elásticas. Na missa, era ela a
maestrina, cantava e tocava no órgão da igreja. Fazia por ser simpática.
Depois veio o 25 de abril e eu passei para o grupo de jovens
que se reunia na sala de cima e já ensaiava com violas, com um repertório mais
atualizado e animado, como o «Canta amigo, canta» de António Macedo e muitos
outros. Há dias quando fui ouvir o José Gonzalez fiz essa viagem agradável ao
meu passado. Foram tempos giros, esses.
Quando adolescente e depois jovem adulta, as férias grandes
serviam para cantarolar em tudo o que era sítio, espontânea e planeadamente.
Cantar, dançar e assobiar. E tocar harmónica. Quando ia e vou com os meus irmãos
e com os meus filhos bem como outra família de férias, todo o programa musical é aproveitado...
A partir dos 22 anos, quando comecei a conduzir, foi uma
alegria. Ouvir fado e todo o tipo de música. Trauteio desde sempre ao volante. Misturo
com o assobiar. Já uma ou outra vez um agente da ordem olhou para mim para ver
se estou a falar ao telemóvel…
Em casa dos meus pais eu já ouvia alguma música. Mas só comecei
a ouvir à minha vontade depois de ter um quarto para mim. Com um aparelho
gravador emprestado e as cassettes também. Até ouvia os Bee Gees, Moody Blues,
Paul Simon, Bob Dylon, Mike Olfield, Eagles, …
Há dias fui desafiada a ouvir Joan Baez no Coliseu de Lisboa…
Uma viagem delirante ao tempo do mundo do folk. Com 74 anos e aspeto impecável,
Baez sozinha no palco com a guitarra, plateia repleta de gente nova e menos nova,
um público participativo, e o ar cheio de sentimento, timbre apurado, vibrações
intensíssimas. Muito bom!
Já desde há algum tempo a esta parte, nas aulas com os meus
alunos, todos os poemas musicados não passam despercebidos. Quantos grupos
musicais interessantes com melodias fascinantes vamos aprendendo e trauteando.
Uma experiência de participação no coro da escola secundária
Moinho de Maré onde trabalhei muitos anos também entrou no currículo.
Mais a minha contribuição musical nos encontros da Sociedade
Teosófica de Portugal, com a minha harmónica. Inclusivé nas Jornadas Ibéricas,
frequentemente em Madrid. Até uma pequena exibição de harmónica na Sociedade
Portuguesa de Naturalogia.
Os nossos filhos também tiveram uma complementar instrução
musical e sempre nos acompanharam nos vários espetáculos a que temos assistido,
como os Dias da Música no CCB, os ciclos na Gulbenkian, na Casa da Música, os
diferentes festivais de música de verão e outros.
Os meus pais eram grandes amantes do fado e gostavam muito de
me ouvir cantar (a mim e à minha irmã), mas nunca me incentivaram a ser cantora
ou fadista. Escritora, pintora, professora, jornalista, sim. Ainda hoje, a
minha mãe diz-me: «Vais deixar, não vais, filha?»
Mas o destino é o que tem de ser. O fado que é amor é para
toda a vida…no sofrimento e na alegria.
Lisboa, 8 de abril de 2015
Rosa Maria Duarte
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