quarta-feira, 8 de abril de 2015

musicis curriculum vitae


A MÚSICA NA MINHA VIDA 

É engraçado chegar a esta altura da meia existência (ou um pouco mais…) e olhar para trás para tomar o peso da importância que a música tem tido na minha vida.

Com a idade de meses, ainda não andava e já os meus pais me punham a ouvir o enorme (na altura) aparelho de rádio antigo que havia na sala de jantar. Segundo a minha mãe, eu bamboleava-me sentada até à dormência.

Mais tarde, miuditas, eu e a minha irmã fazíamos festivais de Eurovisão à nossa maneira. Não perdíamos o nacional e o europeu para imitarmos os cançonetistas. Houve um ano que foi o Carlos do Carmo a interpretar todos os temas em concurso. Eu imitava frequentemente a Simone de Oliveira a cantar a «Desfolhada Portuguesa».

A primeira vez que cantei em público foi em cima de um estrado num ambiente de colónia de férias, com a praia da Costa da Caparica em pano de fundo. Tinha p’á aí os meus 8 anos. Cantei o «Vamos Cantar de Pé» do Paco Bandeira. Havia muitos convidados naquela atividade (creio que foi numa das últimas praias do areal). Depois em dois anos consecutivos em Janas também a cantar em parceria no fogo de campo que fazíamos com espetáculos quase de improviso.

Mais ou menos nessa altura entrei para a catequese e comecei a frequentar o coro da catequista Luísa, que era freira, na igreja de S. Pedro em Alcântara (onde morava). Esta senhora volta e meia ia a casa dos meus pais dizer que era boa cantadeira, mas mais para se queixar do meu vício das pastilhas elásticas. Na missa, era ela a maestrina, cantava e tocava no órgão da igreja. Fazia por ser simpática.

Depois veio o 25 de abril e eu passei para o grupo de jovens que se reunia na sala de cima e já ensaiava com violas, com um repertório mais atualizado e animado, como o «Canta amigo, canta» de António Macedo e muitos outros. Há dias quando fui ouvir o José Gonzalez fiz essa viagem agradável ao meu passado. Foram tempos giros, esses.

Quando adolescente e depois jovem adulta, as férias grandes serviam para cantarolar em tudo o que era sítio, espontânea e planeadamente. Cantar, dançar e assobiar. E tocar harmónica. Quando ia e vou com os meus irmãos e com os meus filhos bem como outra família de férias, todo o programa musical é aproveitado...

A partir dos 22 anos, quando comecei a conduzir, foi uma alegria. Ouvir fado e todo o tipo de música. Trauteio desde sempre ao volante. Misturo com o assobiar. Já uma ou outra vez um agente da ordem olhou para mim para ver se estou a falar ao telemóvel…

Em casa dos meus pais eu já ouvia alguma música. Mas só comecei a ouvir à minha vontade depois de ter um quarto para mim. Com um aparelho gravador emprestado e as cassettes também. Até ouvia os Bee Gees, Moody Blues, Paul Simon, Bob Dylon, Mike Olfield, Eagles, …

Há dias fui desafiada a ouvir Joan Baez no Coliseu de Lisboa… Uma viagem delirante ao tempo do mundo do folk. Com 74 anos e aspeto impecável, Baez sozinha no palco com a guitarra, plateia repleta de gente nova e menos nova, um público participativo, e o ar cheio de sentimento, timbre apurado, vibrações intensíssimas. Muito bom!

Já desde há algum tempo a esta parte, nas aulas com os meus alunos, todos os poemas musicados não passam despercebidos. Quantos grupos musicais interessantes com melodias fascinantes vamos aprendendo e trauteando.

Uma experiência de participação no coro da escola secundária Moinho de Maré onde trabalhei muitos anos também entrou no currículo.

Mais a minha contribuição musical nos encontros da Sociedade Teosófica de Portugal, com a minha harmónica. Inclusivé nas Jornadas Ibéricas, frequentemente em Madrid. Até uma pequena exibição de harmónica na Sociedade Portuguesa de Naturalogia.

Os nossos filhos também tiveram uma complementar instrução musical e sempre nos acompanharam nos vários espetáculos a que temos assistido, como os Dias da Música no CCB, os ciclos na Gulbenkian, na Casa da Música, os diferentes festivais de música de verão e outros.

Os meus pais eram grandes amantes do fado e gostavam muito de me ouvir cantar (a mim e à minha irmã), mas nunca me incentivaram a ser cantora ou fadista. Escritora, pintora, professora, jornalista, sim. Ainda hoje, a minha mãe diz-me: «Vais deixar, não vais, filha?»

Mas o destino é o que tem de ser. O fado que é amor é para toda a vida…no sofrimento e na alegria.

                                                                Lisboa, 8 de abril de 2015

                                                               Rosa Maria Duarte
 

 

 

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