terça-feira, 24 de dezembro de 2013

abraços natalícios

   Queridos visitantes e amigos,

   Desejo-vos nestes momentos festivos boa reflexão e conversa amiga com votos fraternos e pensamentos revigorados. Bom 2014. De coração aberto e mente afiada.

    Sempre em melodia poética e sentimentos reinventados.

   Abraços natalícios.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede»


EDUCAR PARA O TRABALHO DE EQUIPA

Educar para o trabalho de equipa é um constante desafio. Pois é sempre possível questionar as melhores estratégias quando da sua aplicação. Há métodos já testados que seguem o padrão dos comportamentos grupais e que vão dando resultados. Mas cada grupo é, de facto, único. Um governo, uma equipa de futebol, uma turma, uma família, uma redação de jornal, uma firma…

Valores vividos e entendidos de forma pessoal, ou ainda por entender, e que podem ser a força ou a fraqueza de qualquer empresa. Se existir uma séria vontade coletiva, é uma força. Se houver uma expressão de poder ou de boicote a sobrepor-se ao diálogo, é inevitável fraqueza. E isto quando não chegam algumas, quem sabe premeditadas, “insolvências” prematuramente, porque o espírito de equipa é corroído por negligências ou exclusivismos, e depressa chega aquele momento em que os (outros) membros ambicionam a sua autossuficiência para realizarem os seus próprios projetos. O que também faz parte do processo. É pena é não se evitar o que poderia ser evitado: sucessivos períodos de crise ou desaguisados. Há os conflitos que podem ser naturais, como quando os filhos se querem autonomizar, por exemplo; mas há aqueles socialmente depressivos, no seio de uma classe política ou de um clube desportivo…

Confiamos na nossa natureza gregária, o que é a motivação maior para nos predispormos para o trabalho de equipa, não obstante sabermos que, mais cedo ou mais tarde, há um preço individual deduzido, numa qualquer situação. Por vezes até é diminuto…

Se nos perguntarmos: o que é que fazemos que não é, de todo, trabalho de equipa? Ou, pelo contrário, o que é que o é, genuinamente? Julgo que ainda dá que pensar…

Fernando Pessoa, considerado filósofo da humanidade, um dos génios solitários da cultura portuguesa, não gostava que lhe pegassem no braço, porque não se achava boa companhia. Ele queria ser sozinho. Tudo indica que a vida logo de pequeno lho ensinou; daí sentir-se mais seguro na sua solidão e ter aprendido a tirar partido dela. A sua escrita subscreve-o. Tinha amigos, pelos vistos não muitos, e não estava de facto isolado do mundo. Mas fez do ato solitário da escrita o seu principal passaporte de participação social.

Na época deste poeta, na África do Sul do início do séc. XX onde fez os seus primeiros estudos, não sei que dificuldades ele representaria como aluno para os seus professores. Parece que também não gostava muito da atividade física. O certo é que os professores de hoje ainda continuam a ser confrontados com alunos que preferem desenvolver trabalho individual. Alguns desses alunos até são de temperamento razoavelmente sociável. Será que equacionarão as fragilidades das regras instituídas para o trabalho de grupo? Ou será sobretudo pelas frágeis condutas não regulamentadas, muitas e variadas, que nunca se quer denunciar porque são tão mesquinhas quanto quem do grupo as ouse denunciar?

Claro que um chefe de Estado não costuma revelar publicamente as pressões de que é vítima por parte de certos grupos económicos. Um aluno evita denunciar os abusos de um colega. Um trabalhador procura desembaraçar-se sozinho das dificuldades que certos colegas seus intencionalmente lhe colocam no caminho….

E esta é a história da Humanidade. Há quem a conceba como uma espiral. Outros por ciclos. Dois passos à frente e um atrás. Ou vice-versa. Quem compare os homens aos caranguejos dentro dum balde: quando um começa a subir há sempre algum que cuida de o puxar para baixo.

Apesar de tudo, educar continua a significar dar a alguém os cuidados necessários ao desenvolvimento da sua personalidade e faculdades. O mesmo é dizer que, se aprendemos uns com os outros, intencionalmente ou não, estamos numa permanente dádiva mútua de experiências e saberes. Mesmo que os métodos nem sempre sejam os mais pedagógicos ou legítimos.

Vamos mantendo a predisposição inata para a cooperação. Ao longo das diferentes eras da nossa existência, alguma educação necessariamente já adquirimos ao longo da história das civilizações. Mesmo que não seja o espírito de equipa o forte da raça humana, pode ser que um dia o venha a ser… Pelo menos tem despertado com vigor em situações extremas.

Entretanto, nós, educadores de profissão, cá vamos humildemente fazendo também por contribuir para a aprendizagem em grupo, na medida em que nós mesmos queremos (des)aprender.

Há dias deixou-nos um dos grandes defensores da Causa Educativa, Nelson Mandela, mas o seu legado continua mais atuante que nunca: “A educação e o ensino são as armas mais poderosas que podes usar para mudar o mundo” (inscrição mural no Bairro da Quinta da Fonte, em Loures). Um comovido agradecimento pelos seus sábios ensinamentos.
                                                                            
                                                            Laranjeiro, 12 de dezembro de 2013
                                                                        Rosa Maria Duarte

                                                                                         
 

 

 

 

[Setúbal na Rede] - Educar para o trabalho de equipa

[Setúbal na Rede] - Educar para o trabalho de equipa

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede»


«A EDUCAÇÃO JÁ NÃO É A MINHA PAIXÃO»

Hoje em dia, as declarações de amor são cada vez mais raras. Chegam despudoradamente a converter-se em declarações de desamor… É que a educação não é um investimento imediato. E preciso é arrecadar dinheiro já e agora…

«A austeridade é agora a minha paixão» tresle-se em cada declaração política na conjuntura atual portuguesa.

Fazem-se declarações de dívidas, sem amor pelo próximo, porque as palavras amorosas, ainda que retóricas, assustam. Há o medo do fracasso internacional, mas não há o medo da deslealdade e do abuso, até da parte daqueles em quem se queria confiar e respeitar. Já se noticia que a austeridade tem as suas vantagens: mantém as famílias mais unidas, mais em casa, dividindo o pão, o que resulta em menos divórcios…

Fatidicamente, as belas cartas de amor deixam de ser lidas e consideradas ridículas: definham de vez no esquecimento e no desprezo. A distração com as contas bancárias virou costas à paixão pelo bem comum e aos sonhos partilhados.

A atitude agrava-se quando se trata da suposta proteção à Educação nacional, materializada por sucessivas declarações de desamor. Gestos e palavras que têm fragilizado o valor da confiança no futuro da aprendizagem escolar, cada vez mais preterido a favor dos valores da bolsa e do lucro.

O espectro da velha paixão pelo dinheiro a assombrar a mais antiga preocupação civil que é a Educação. Consagrada como gratuita e universal. Ou será que essa preocupação nunca chegou a ser paixão real e correspondida?

Não há seres humanos perfeitos. Em alguns títulos de filmes ou livros, e pouco mais. É verdade que não há professores perfeitos, nem alunos perfeitos. Muito menos ministros perfeitos ou sistemas perfeitos.

Mas as Causas podem devolver o norte e a confiança (quando não são pretextos extremistas ou manobras populistas) e contribuir para o clima social desejável a todos. Quem não sabe que a educação é o berço cultural e a ferramenta genuína para a identidade nacional? Mas infelizmente há sempre quem pense que a sua qualidade de vida é um condomínio fechado, a salvo dos todos os assaltos monetários, civilizacionais, emocionais…

Agora nem as escolas mais seguras e organizadas conseguem assegurar a estabilidade da comunidade educativa do ensino público português se anualmente veem reduzidos os seus direitos e as suas condições de trabalho.

A frase “a Educação é a minha paixão” deixou de ser ridícula: desgastou-se pelo uso abusivo e, sobretudo, pelas insuficientes dádivas efetivas na consumação dessa promessa sentimental adiada.

Os conturbados tempos atuais, que exigem uma maior convicção nos valores educativos, já não conseguem vislumbrar os ténues sinais da velha sensibilidade saudosista que se dizia protetora do ensino público, retoricamente fundamentada na democracia e na alma afoita do coração luso. O fado da árdua conquista.

É pena que as ridículas declarações de amor de antigamente se pareçam hoje com as secas declarações dos divórcios, sem comum acordo, por traição consumada com os contratos do novo regime jurídico sem restrições para o ensino privado com o Estado, mortalmente dilacerada pelos cortes sucessivos nos salários dos funcionários públicos, nos subsídios de alimentação e pelo exponencial desemprego, quer dos professores, quer dos alunos que se veem desprotegidos e votados à frustração da precariedade e da emigração.

Não é preciso ser-se filósofo para se pensar que a sociedade deve ter um sistema educativo justo e responsável. E são urgentes as intenções pragmáticas que compreendam e respondam às necessidades de todos os jovens e das suas escolas, com vista a uma ação social saudável e pedagógica de sucesso.

As extemporâneas declarações de amor ridículas, ainda que moribundas, parecem atingir níveis de ridicularidade ao ponto de haver quem mande condicionar o trânsito rodoviário e aéreo no período da realização das provas de acesso ao ensino superior, como aconteceu há dias na Coreia do Sul. Até a bolsa abriu mais tarde. Decididamente, não reivindicamos tanto….
 
                                                                             Laranjeiro, 13 de novembro de 2013

                                                                                                     Rosa Maria Duarte

 

 

 

[Setúbal na Rede] - A educação já não é a minha paixão

[Setúbal na Rede] - A educação já não é a minha paixão

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

2ª versão «À beira do tempo»


À BEIRA DO TEMPO

 

FADO: Pedro Rodrigues

LETRA: Rosa Maria  

 

À beira do rio da vida

Jovem marujo com tempo

Ei-lo fitando o tormento. 

Altas vagas, sofrimento,

Pálido som, despedida,

Carrega no sentimento.

 

Porque ateimas, meu amigo,

Não arrisques o teu sonho

A tempestade contigo. 

A família é o nosso abrigo

O trabalho o nosso ganho

O amor forte postigo.

 

Ergue-se o mar das redes

O vento engravida o tempo

E chovem tragos de sedes.

Indif’rente ao sofrimento

Beija de sal suas vestes

navega p’ró firmamento.

 

Olhos se acendem no agoiro

Corpos resistem n’agrura

Remos são cruzes de açoite.

 

Rez’á sprança, moça afoita,

Grit’ó nome da doçura

E cant’ó fado que cura.


                                    São Martinho, 11 de novembro de 2013
                                                       Rosa Maria

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

letra de fado


       À BEIRA DO TEMPO

 

FADO: Pedro Rodrigues

LETRA: Rosa Maria  

 

Gente na proa do tempo

À beira do rio da vida

Ei-la fitando o momento.

 

Jovem casal consentido

Pálido som, despedida,

Carregam no sentimento.

 

Porque ateimas, meu amigo,

Não arrisques o teu sonho

Na tempestade maruja.

 

A família é o nosso berço

O trabalho o nosso fado

O amor forte destino.

 

Ergue-se o mar p'las redes

O vento engravida o tempo

E chovem tragos sem fim.

 

Indif’rente ao sofrimento

Beija de sal quem ficou

navega p'ró firmamento.

 

Olhos se acendem na noite

Corpos benzem-se de lua

Remos são cruzes de açoite.

 

Cant’á dor, moça de luto,

Lev’ó fado da saudade

Ao novo fruto de vida.
 
                               28 de outubro de 2013
                                      Rosa Maria


 

domingo, 20 de outubro de 2013

crónica publicada no «Setúbal na Rede»


PROJETO «JORNALISMO NA ESCOLA»

Na conjuntura atual, em que há demais cursos que não representam “um bom futuro”, creio que é legítima a pergunta: Será que o jornalismo continua a ser uma área de interesse escolar  para os alunos?

Que o jornalismo continua a ser a atividade especializada de grande relevo na sociedade moderna nesta era da Comunicação, é inquestionável. E que as novas ferramentas online têm engrossado a participação popular, mais ou menos espontânea, de cidadãos de diferentes idades mais interventivos, também é verdade, nomeadamente através das redes sociais.

Qual é então atualmente o papel formativo da escola na educação dos jovens para algum tipo de desempenho jornalístico com vista à sua participação social?

Não obstante me parecerem poucas as escolas secundárias nacionais com o curso profissional de Comunicação e Jornalismo, provavelmente (também) por causa da tal conjuntura do mercado atual de trabalho, muitas continuam sendo as atividades de jornalismo que as escolas desenvolvem.

Na minha escola, por exemplo, aceitámos, no ano letivo transato, o desafio de desenvolver algumas atividades no âmbito do projeto «Jornalismo na Escola» promovido por este jornal online Setúbal na Rede. Os alunos puderam publicar algumas notícias na respetiva secção. Aproveitámos ainda para assistir e participar em alguns debates mensais, organizar workshps moderados pelo presidente da direção deste jornal…

Falar de saudades da antiga composição feita à mão nas páginas de papel de um jornal, como se fazia tão artesanalmente nas escolas, soa a um analfabetismo informático indesejável. Apesar do convívio que tal implicava até às tantas da noite, como aconteceu com os primeiros números do jornal escolar O Celeiro da ex-escola secundária Moinho de Maré, é unânime o reconhecimento da qualidade, rapidez e outras potencialidades dadas pelas novas tecnologias à imprensa escrita. Online e em rede.

Como é hoje feita a aprendizagem curricular e extracurricular do jornalismo nas escolas secundárias?

Obviamente com o indispensável recurso às novas tecnologias e aos ainda manuais em livro, no âmbito de programa de Português, das TIC e de clubes ou projetos escolares. Os jornais em suporte papel, felizmente, ainda sobrevivem, mas o professor recorre à Internet para mostrar e trabalhar os conteúdos jornalísticos. Por curiosidade, traz alguns jornais para a sala que, por vezes, dispersam a atenção dos alunos. Que ainda são consultados com entusiasmo, é um facto.

Sabemos que a proliferação de meios e cadeias de comunicação massiva tem, muitas vezes, banalizado ou mesmo desautorizado o princípio da seriedade e da responsabilização individual e coletiva, o que só poderá ser efetivamente salvaguardado pelo natural processo educativo desde tenra idade.

Não basta ser-se um hábil utilizador ou técnico exímio das ferramentas eletrónicas. O seu devido uso implica inevitavelmente o conhecer e respeitar as regras do bom jornalismo e a ética implícita à privacidade de cada instituição e de cada indivíduo (nada de escutas, por ex.).

Por isso, a educação escolar para a atividade jornalística, ainda que possa não ter o estatuto de uma disciplina ou área especializada no desenho curricular das turmas do básico e secundário, continua a ser (ou a ter que ser) trabalhada regularmente no espaço escolar pelo seu papel didático insubstituível na formação das comunidades educativas.

Mesmo que o produto final não se apresente num formato convencional de jornal ou folha informativa, porque os hábitos de consumo dos diferentes públicos mudaram, os seus conteúdos jornalísticos poderão, por exemplo, integrar o corpo central da página eletrónica das escolas, como contamos venha a acontecer na nossa página da RLG.

O segredo está na vontade leal e no desempenho em equipa.
                                                                              15 de outubro de 2013
                                                                                   Rosa Duarte

 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

a minha escola

Nós Somos o que Escrevemos

No ano letivo de 2012/2013, um grupo de alunos do ensino secundário produziu textos literários individuais, em prosa e poesia, que decidiu reunir numa coletânea eletrónica, no âmbito das atividades do departamento de Línguas. Intitula-se «Nós Somos o que Escrevemos». Pode conhecê-la aqui.
http://es23.ruyluisgomes.org/

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

és o vento da minha vida


                     Sonho em tronco e raízes

 


 

Sonho remexido pelo tempo

Com sinos, anjos e querubins

Infinito éden à minha espera

Cativa enamorada do teu colo

Cosmo tão imenso de vento.

 

Quando chegas nasce o dia

Tudo em volta é claridade

Contigo sou um feliz arco-íris

Nas pérolas do teu enlaço

Seiva mel de contentamento

Brilho colar do meu viver.

 

Jatos, asas e pensamentos

Descrevem no céu a geometria

Fresca rosácea do mundo veloz

Ardentes olhares rodopiantes

Revelação de mil sentimentais proezas.

 

                                   30 de setembro/2013

                                        Rosa Maria

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

a ternura

ternas são as coisas belas da vida
que nos afagam as amarguras
do amor tranvestido de egoismos
saltimbancos ditos malabaristas.

ternas são as tuas mãos sonhadoras
que traçam no meu destino breve
delongas conversas de olhar ardente
dilatado pelo meu ventre rimado.

tensas são as tuas veias incontidas
que me amarram a luz do poente
no travesseiro aquecido pela espera
sonâmbula do lúcido adormecer.

tesas são as tuas repetidas vontades
que me norteiam no fado sentido
nas sinuosas calçadas estreitas
mal amadas da alfama sorridente.

tidas são emoções cantadas em verso
que não pedes em gesto agreste
mas desconcertado ciúme disfarçado
oculto nos devaneios intimistas.

adeus




.
vou com o fado.

                           25 de set/2013
                        Rosa Maria (a fadista)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

"give a little respect..."

   Crónica de opinião publicada no «Setúbal na Rede»

PROFESSORES ESPANCADOS NO MÉXICO

É uma afronta não apenas para alguns, mas para o mundo inteiro.
São profissionais que, embora se encontrem geograficamente afastados, vivem uma realidade comum: a luta pelo direito a uma carreira docente digna. Como os professores brasileiros.
No cenário das agressões contra os professores mexicanos, na praça emblemática das contestações, é significativo o apelo de uma mulher transeunte, em alta voz, que se dirigiu emotivamente aos polícias em ação: “Protejam-nos dos cartéis das drogas; mas não dos professores”.
Pontapeados no chão, com bastonadas no rosto em sangue, as imagens são chocantes. Para os removerem daquele local.
Estamos perante uma situação social difícil num país cuja mentalidade dos seus governantes são o grande entrave ao bom entendimento com os cidadãos. Que indignam toda a classe docente internacional…
É uma inqualificável falta de educação maltratar os educadores profissionais que, como quaisquer outros, precisam de ver reforçadas as suas muitas qualidades que os engrandecem.
Agredir física e psicologicamente professores, mestres dos nossos pais e dos nossos avós, por ordem expressa, por incrível que pareça, dos próprios representantes da «ordem» nacional, é fender brutalmente o pilar forte das sociedades e dos valores que as sustentam.
Não são os professores os pais da educação escolar?
 Quem não os respeita, precisa de ser reeducado com novas estratégias de aprendizagem intensiva, cujas metodologias pedagógicas próprias devem incluir serviço social e voluntariado. Se a política é a ciência da governação da coisa pública, implica inevitavelmente bons princípios de sociabilização que não existem sem o valor do respeito pela dignidade humana.
Há outas formas de agressão, é certo. Aparentemente menos tribais ou primárias, porque mais habilidosas. Mas que são também graves. Ao ponto de pôr em causa a sobrevivência das famílias e do indivíduo. Que é o direito ao emprego. A exclusão profissional pela recusa ao direito ao trabalho.
Que a nossa população está a envelhecer e que leva à dispensa do contributo de muitos professores, são fatores em voga. Mas porque é que não se melhora as condições de trabalho de todos, com uma distribuição laboral menos castigadora, por forma a favorecer a aprendizagem eficaz dos alunos? Até como incentivo à família e à taxa de natalidade.
Dizem-nos que estamos encurralados num processo de contenção de despesas públicas. A soberania da troika. Como as oitava e nona avaliações. Mas todos sabemos onde está o dinheiro que falta: nas negociatas com fundos públicos e nas fraudes fiscais.
Quase 18 mil professores não tiveram alternativa e recorreram aos centros de emprego. Profissionais especializados não aproveitados. Subsídios que, para muitos, com mais uns trocos corresponderiam aos vencimentos que auferiam.
Este ano é a segunda classe profissional dos quadros superiores com maior taxa de desemprego (a primeira é o quadro da Administração Pública).
E atualmente são 6 955 065 os portugueses inscritos no centro de emprego (números recentes divulgados oficialmente). Afinal, em vez da apregoada retoma, o desemprego aumentou 3,2% face ao período homólogo.
E estão previstos mais cortes nas pensões dos funcionários públicos. Houve alguém que perguntou se os cortes previstos também atingiam as dos ex-ministros…
Vivemos na era da apologia da pobreza e da resignação. Que é aquilo de que não precisamos para fortalecermos a vontade de trabalhar e viver com mais qualidade. Sem falsas requalificações.
Pelos vistos, nem todos estão dispostos a abdicar da sua dignidade. E enfrentam admiravelmente os severos obstáculos. São exemplos de firmeza, integridade e determinação.
Pequenas grandes lições de verdadeiros protagonistas da mudança.
O nosso abraço solidário aos professores mexicanos e brasileiros deste lado ocidental atlântico.

                                                                      16 de setembro de 2013
                                                                          Rosa Maria Duarte






[Setúbal na Rede] - Professores espancados no México

[Setúbal na Rede] - Professores espancados no México

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

fado em espaço aberto

Na Quinta da Atalaia
 

viajar nas linhas do nosso corpo

sou um espelho de quem me vejo.

sou como quem viaja com andas
empoleirada num corpo solto
médio claro vagão de carne
de vigas firmes articuladas.

sustentar-me-ão bons pensamentos?

algo distante a focagem nas ervas rasteiras
e perto das nuvens solitárias que se desenham
na cúpula esbranquiçada da abóbada
luminosa que acolhe aviões de penas.

há um ser sem cor ou bem pardo
que viaja comigo com linhas meio curvas
deste andar desempenado e ideias redondas
que ora me persegue  ora se adianta
na caminhada crespuscular até onde moro.

não me oiço a voar  ou em sereno planar
apenas a calcorrear chocalhando massas
e líquidos viscosos que me lubrificam
rente ao verde bordejante do caminho.

vejo em mim um pouco de ave naquele pássaro
qual planalto tibetano onde se despede da frieza
e vai em busca das cores púrpuras exóticas.

vejo alguém maior que me segura a vontade
e anima nas linhas ténues do nosso corpo
nos abraça no além tempo vigente 
deixa-me desenhar os traços do meu
encanto e me abre a janela do olhar.

é a melodia vigorosa da eterna criação
humana respiração em gestos borboletados
inventados e amorosamente repetidos.

                                                         Rosa Maria Duarte
                                                Aldeia da Justa, 8 de setembro de 2013


 

domingo, 8 de setembro de 2013

votos de bom regresso

vou ao fundo de um canteiro
e cheiro o poder das raízes
no tronco do meu ser
pequenos grandes bichos
da terra escura sangue
saúdam-me com o mexer
de asas negras corvo
e mostram-me o segredo
húmus dos torrões sementeiros
molhados turbulentos de
tanto viver.

venho de fundo do canteiro
ddoroso centro telúrico do nascimento
ensopada de existência agreste
ocres sonoros rumorejantes
de grandiosas insignificâncias
minúsculas ocultas terrenas
que me soam em melodias
chilreantes agora mais claras
quando me ergo e abro
o peito a cantar o fado
das horas mais próximas
de mais um dia no claroscuro
da vida matizada de
silêncios sinfónicos
do acontecer.

Mais um regresso ao
fundo do ciclo concertino.

                              Quinta da Atalaia, 7 de setembro/2013
                                              Rosa Maria





domingo, 1 de setembro de 2013

o fado

  

   O fado é sentimento exaltado, poesia vivida e cultura perpetuada nos dedos de quem o toca.



 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

homenagem a urbano tavares rodrigues

                                        Texto publicado no jornal online Setúbal na Rede

http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=20165

UM EXCELENTE PROFESSOR E ESCRITOR 

Ser professor não é apenas um simples estatuto: é uma condição intrinsecamente existencial.

Quem se torna professor, é-o para toda a vida. Mesmo depois de aposentado e dispensado do cumprimento do horário diário de mais de 35/40 horas semanais. Pura e simplesmente não as contabiliza. Gosta de ensinar e de aprender. A tempo inteiro. Até morrer. É um trabalho discreto, mas grandioso pela semente que deixa e pelo exemplo que inevitavelmente perdura.

E há excelentes professores. Urbano Tavares Rodrigues foi um deles. Que nunca se confinou ao espaço da sala de aula. Como qualquer assumido professor.

E para aqueles que, como eu, não estavam em Lisboa nos dias 9 e 10 de agosto, e não puderam participar na última homenagem a este estimado professor e escritor, as desculpas e os pêsames devidos, a toda a família e em particular à sua filha Isabel. Pudemos, ainda assim, comprazer-nos com as inúmeras notícias dos seus muitos amigos que somaram e continuam a reforçar um interminável adeus deveras sentido e merecido. Um adeus até sempre.

Não obstante ter sido este dia o derradeiro encontro com o notável homem de Causas, que Urbano foi, a verdade é que quem pôde fez destes últimos meses o tempo de qualidade de encontro e despedida com a sua pessoa e também de conversa privilegiada sobre a sua obra.

Na qualidade de ex-aluna da FLL e atual professora, é com muito orgulho que penso no trabalho responsável e dedicado dos profissionais do ensino, quantos formados nas aulas do Professor Urbano Tavares Rodrigues.

Por mais exigente e insaciável que o dia-a-dia se afigure a qualquer educador, e o faça por vezes duvidar das suas reais aptidões, esta é uma inquestionável atividade apaixonante, para quem naturalmente por ela sente vocação, e que proporciona o desenvolvimento do espírito humanista, nas suas múltiplas vivências, desafia para as linguagens artísticas e desperta a séria consciência social.

Foi mais ou menos assim o testemunho pessoal que tive do Professor Tavares Rodrigues. A título de o entrevistar, em abril deste ano, para o meu trabalho final de investigação, pude, desse modo, conhecer um pouco melhor o Urbano dos nossos dias. E percebi que ao longo da sua vida bem preenchida, a tarefa por excelência de entre as tantas a que se dedicara, fora a de professor. Disse-o com vontade espontânea e uma comoção desvelada.

Aquela entrevista foi, para mim, mais do que uma boa entrevista: foi um excelente testemunho de vida. E aos 89 anos demonstrou a sua lucidez e memória invejáveis, uma eloquência sobejamente exercitada e a mesma amizade sem reservas. Conversámos durante uma hora…e ainda me apresentou alguns quadros e fotos de família.

Foi uma vida oferecida ao ensino público, com contributos de grande valor, uma participação cívica e política sempre ativas e sempre pronto a partilhar as suas vivências pelo diálogo, pela escrita, pela pintura, pela poesia, na observação jornalística e literária da sociedade portuguesa e do mundo atual. Mesmo com as suas capacidades físicas debilitadas, ciente da ferocidade d’ A Imensa Boca dessa Angústia que conta no último livro publicado em vida, a bandeira desfraldada foi a mesma: a da beleza de respirar cada momento.

Num misto de insatisfação e de comprazimento, o professor agradeceu cada experiência, tentou acompanhar o seu tempo no progresso e avanços das novas tecnologias, mas nunca dispensou o olhar ao vivo e o calor humano da voz genuína do sentimento.

Claro que falámos da conjuntura atual, evitando saudosismos. Afinal, a liberdade não tem amarras no tempo, nem prazos de validade. E também das mentalidades, no seu melhor e no seu pior… dos professores que continuam a sua diáspora pelo árduo espaço de reconhecimento.

Um exemplo de um excelente professor e escritor: Urbano Tavares Rodrigues.

Um espelho de gentileza e de afirmação longeva nos diferentes compassos que uma intensa vida exige.
                                                                           Lisboa, 11 de agosto de 2013
                                                                                     Rosa Duarte
 

 

domingo, 4 de agosto de 2013

Boas férias, se for o caso.


Meus queridos visitantes,

 

Obrigado pela vossa presença virtual ao longo destes meses por tão modesto refúgio de ideias e sentimentos.

 

Quero desejar-vos bom descanso estival. Boas contemplações marítimas ou serranas. De extensas planícies alentejanas. Ou veraneios citadinos, de boa comida e frescas esplanadas.

 

Deem bons mergulhos. Façam boas leituras. Desenvolvam melhores conversas. Com muita poesia e alguma música.

 

E não se esqueçam: ouçam e cantem um fadinho de vez em quando!

 

Grande abraço solarengo.

 

Rosa Maria (a fadista)

4 de agosto/2013