segunda-feira, 30 de abril de 2018

Uma ponte para casa

Uma ponte para casa

Voando para casa. É muitas vezes como nos sentimos no final de um dia de trabalho.
E se vivermos entre duas margens, uma boa ponte dá muito jeito.
Eu vivo entre duas margens. Qual delas a mais importante para mim. Uma de nascença. Outra de residência. Ligadas por uma boa ponte. Felizmente agora designada de 25 de abril.
Acontece que quem tem de viver de um lado e trabalhar do outro da ponte,  questiona-se inevitavelmente, de tempos a tempos, sobre a sua segurança.
É que a ponte 25 de abril não é  uma pontezinha. É uma ponte e pêras.
Quando eu vivia em casa dos meus pais e abria a janela da cozinha, era esta ponte a imagem de fundo imponente entre o azul, altas chaminés e telhados. Sem o recente comboio, naturalmente.
Uma ponte cosmopolita. Cada vez mais concorrida. Cada vez mais rentabilizada.
Carente de uma gémea. Uma 25 de abril número 2. Seria o ideal....
Enquanto isso não acontece, teremos que sofrer nós, utentes, pela segurança desta ponte de meia-idade?
Isto não equivale a dizer que não tenha sido sempre preocupação das autoridades competentes. Mas há certas pontes que quando caem, não avisam. Ou se avisam, nem sempre são atendidas a tempo.
A questão não é de medos infundados. A questão é do medo de que nunca haja suficiente medo.
Não bastam as preocupações na gaveta.
A ponte desta quadra comemorativa. Do povinho, digamos. E bem se pode afirmar, porque nem sempre é fácil a sua travessia.
Quantos parafusos lhe saltaram? A ela e a nós? Deixo isso para os especialistas.
Nós, povinho, só queremos chegar com saúde ao destino. Pelo menos com sáude física.
Nem todos somos engenheiros e nós confiamos nos nossos engenheiros. E respeitamos o significado das palavras que o nosso património linguístico nos proporciona.
Por isso fazem-nos pensar no relatório dos especialistas do Laboratório de Engenharia Civil sobre a urgente manutenção desta ponte. Não é fácil. Implica dinheiro. Tempo. Logística. Sacifícios. Condicionamentos... Já está lançada a empreitada?
Não somos alarmistas. Mas sabemos que quando uma ponte cai, faz muitos estragos.
Somos amantes das boas notícias. E do nosso país que, felizmente, tem vivido uns quantos momentos felizes.
Vamos, com certeza, continuar a acreditar nesse movimento concertado. A crescer. Sempre com o nosso ainda tímido orgulho nacional.
Não queremos tragédias. Andamos a limpar os terrenos. A reclamar contra as agressões climáticas. A defender os direitos humanos. A gerir os trocos no bolso.
Não queremos que a natureza se zangue com a humanidade, nem que a tecnologia fique desamparada.
Cada um faz o que pode ou devia fazer. Mas as prioridades decisivas para o bom rumo das coisas não podem esperar nos lembretes do computador. Há assuntos inadiáveis.
Vem aí o bom tempo. O sol da Caparica.
A nossa ponte é bonita. O Cristo a abençoá-la.
E nós, viajantes da vida, só queremos chegar bem a casa, depois de cada dia atarefado.

Rosa Maria Duarte


No tempo das flores e das cegonhas, a porta mais fechada pensa abrir-se com as janelas em serenatas de Grândola, Vila Morena.


























Quadro a óleo: «A Guitarra Chorona»



A Guitarra Chorona
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
55x44






domingo, 29 de abril de 2018

- Estás com olheiras?

Olha que chatice! Então e o teu karma?
Andaste a fazer das tuas, não andaste?

Ah! São as tais olheiras de desfeitas
aquelas que há muito pessoal a querer
e a estudar na confusão a combinação
a doer? Então, pois, é assim a vidinha...

Ou umas bonitas olheiras de ciumeiras...
Se...são umas olheiras de trabalheiras
das que não gostas de ter por canseiras
eis que não há maneira de aligeirar.
Isso! São olheiras de boas trabalheiras
daquelas de partir o coco a rir! Bonita.

Não te deixes levar por parvas rimas
ribanceiras sobranceiras que invisíveis
onde não sabes cair e andar à deriva.
Melhor essas olheiras e rugas de sorrir. 

Rosa Maria Duarte




A anedota da Anne Bota

- Achas que ainda somos lixo?

- Não, pá. As empresas de rating já confiam mais na nossa economia.

- Então porque é que tu me tratas como tal?


sábado, 28 de abril de 2018

A anedota da Anne Bota

- Sabes que repensei o meu regime alimentar.

- Ai sim?! Fizeste bem.

- Agora só como peixe. Mas daquele que não anda nos fundos, que não gosta de metais pesados.

- Não gosta de heavy metal? Olha, a sardinha é melhor. Gosta mais de fado.




sexta-feira, 27 de abril de 2018

Vamos pintar as flores?



Anda daí, vem comigo
vamos à Quinta da Marialva
aquela, da Maria tão alva
que pinta de branquinha luz
a verde, lilás, amarelinha
terra de sol algo marialva
sol que canta o nosso fado
lisboeta e coimbrense
do nascer ao entardecer.

Anda, vem daí comigo
vamos pintar as flores
nesta primavera de cor
com pincéis de tons de ar
mar, terra e algum paladar.

Anda comigo, vem daí
vamos pintar estas flores
pequenas, silvestres, livres
debaixo do teu céu lindo
já pintado de azul.

Rosa Maria Duarte


Saúdo o projeto do Museu da Resistência e Liberdade no Forte de Peniche

A História é a memória que previne o futuro (frase inspirada na epígrafe de António Pedro Vicente em O Canto do Cisne no Retorno do Eu ao Ato da Escrita).


quinta-feira, 26 de abril de 2018

A anedota da Anne Bota

- Já viste bem aqueles cachorritos ali adiante? Não parecem mesmo aqueles que se perderam há dias?

- Os que vimos no cartaz da parede?

- SSSiiiiimmmm!!!!

- Para que me estás a empurrar?

- Eu não te estou a empurrar. Estou só a sacudir-te!

- Mas eu não sou nenhum cachorrito. E tu é que estás em pulgas...está bem que a dona é girita...

- Girita?? E se é a Cruela e me leva a mim também?

- Não tens pintas para tanto!








O naufrágio das guitarras no Cabo da Boa Esperança

    (...) Então Adamastor, de olhos encovados e dentes amarelos, disse-nos: - «Ó gente ousada, que quereis navegar meus longos mares e ver neles os segredos escondidos, tereis pelo vosso sobejo atrevimento um duro e eterno castigo.»

   Logo que contou estes fados, as nossas valiosas guitarras afundaram-se o mais que puderam naquele azul imenso.

   Ainda que assustados, alçados respondemos: «O teu fado, estupendo e maravilhoso Gigante, é o amor pela beleza que está cercando estas águas.» 

   Súbito, espantado com a nossa sentimentalidade, Adamastor fez soar uma trinada melodia de muito fundo das águas tocada nas nossas guitarras naufragadas, que gemeram elevadas um choro de profunda amizade e  de aceitação do convite para ficarmos e ajudarmos o pobre apaixonado a contar e a cantar casos humanos futuros.

Adamastor e as guitarras
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
55x46







quarta-feira, 25 de abril de 2018

Queres pensar comigo XV

- Achas que se o Homem fosse menos inteligente seria mais honesto?

- Nós só somos verdadeiramente honestos quando escolhemos ser honestos. Não somos honestos porque não conseguimos ser desonestos. 

- Então a atitude honesta implica consciência?

- Nós somos educados para sermos honestos. E a honestidade torna-se a prática do nosso dia-a-dia. Podemos ser honestos, ou devemos ser honestos, sem o premeditarmos. Sempre honestos. Vamos sendo educados para distinguirmos a honestidade da desonestidade. Uma criança só é desonesta quando já atingiu a maturidade suficiente para compreender que está a ser desonesta.

- Mas, depois, temos alturas em que não o somos completamente e agimos como se fôssemos.

- A honestidade em cada situação pode não ser sempre de entendimento inequívoco. As diferentes culturas nas relações sociais e familiares balizam o conceito de honestidade.

- As tentações são testes à honestidade de cada um?

- Acabam por ser, de facto. Não há nenhum ser humano sem fraquezas. As tentações podem ter como resultado o fortalecimento do caráter individual ou, pelo contrário, o erro consciente.

- Quem erra mais: as pessoas mais ou menos inteligentes?

- Não conheço estudos sobre essa matéria, em específico. À partida, os mais inteligentes deveriam conseguir mais facilmente evitar o erro. Mas os menos inteligentes não saberão criar, provavelmente, tantas oportunidades de alcançar algo, logo, de errar. É um assunto que não permite dados para uma opinião muito segura. Como o povo diz: «cada caso é um caso.»

- Então a outro nível: quando Fernando Pessoa diz que as pessoas que menos pensam são as mais felizes, é uma afirmação menos rigorosa?

- Fernando Pessoa diz: «...julgando-se feliz talvez». O pensamento não é, de facto, sinónimo de felicidade. Ainda que saibamos que um raciocínio claro possa permitir discernimento e melhor adaptação à realidade.

- Isto é: ser inteligente e gostar de pensar não dificulta a construção do bom caráter e a conquista da felicidade?

- Eu diria que só se é honesto quando se tem a capacidade de entender o valor dessa prática de honestidade. E só se conquista a felicidade quando se reconhece o bem ao seu alcance.

- Quanto mais evoluído o Homem for, melhor ser humano poderá ser?

- Acho que sim. Se por evolução humana não nos ficarmos pelo progresso e implicarmos nessa evolução o mais importante: a sua compreensão cada vez mais integral do que é uma vida com qualidade.




Abril cravos mil

Lá diz o jovem ditado: 

«ao cravinho e ao borracho, põe Deus liberdade com despacho».








Flor de abril
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
40x40


terça-feira, 24 de abril de 2018

Onde é que estavas no 25 de abril?

http://memoriasdarevolucao.pt/index.php/dias-memoria-da-revol/historias-e-memorias-da-revolucao/305-onde-e-que-eu-estava-no-25-de-abril-retrato-de-um-sentimento-em-flor-rosa-maria-duarte

Eu quase que entrevistei o jornalista que eternizou a pergunta «Onde é que estava no 25 de abril?».

Armando Baptista-Bastos, jornalista e escritor, foi companheiro de luta anti-fascista de José Cardoso Pires, Urbano Tavares Rodrigues e tantos outros.

Na década de 80, o Círculo Juvenil de Cultura, a que eu pertencia na altura, convidou Baptista-Bastos para um evento cultural na Junta de Freguesia da Ajuda, que incluía uma feira do livro e de artesanato. Baptista-Bastos compareceu e manifestou-se muito agradado com o convite. Foi um gosto privarmos com ele.

No início da década de 90, na escola secundária Moinho de Maré, em Corroios, lancei o jornal escolar «O Celeiro» em parceria com os colegas Jorge Morais e Isabel Lima. O número zero do jornal, com apresentação pública, contou com a presença de Baptista-Bastos, na sua qualidade de jornalista e escritor. A última página deste número de lançamento contou com uma apresentação deste nosso convidado.

Há cerca de cinco anos atrás, Baptista-Bastos mostrou-se disponível para que eu o entrevistasse no âmbito do tema da minha tese de doutoramento sobre o fenómeno da criatividade literária. Ficou adiada, por razões várias...

Onde é que nós estávamos no 25 de abril de 74?

'uma papoila crescia, crescia, grito vermelho num campo qualquer'

segunda-feira, 23 de abril de 2018

A anedota da Anne Bota

- Mais uma semana de trabalho. Uf!!

- Ah, mas nesta semana há um feriadinho.

- Pois é...bendita revolução. O que é que vais fazer nesse dia?

- Vou as comemorações do 25 de abril.

- E se estiver calor?

- Vou às comemorações.

- E se trovejar?

- Vou às comemorações.

- Isso é que é espírito de revolução!

- Sou jornalista. 

- Ah!!!

- Mas a minha família não é e também vai. 

- E eu que não sou da tua família? 

- Vens trabalhar comigo.

- 😶 ??



domingo, 22 de abril de 2018

Conhece o teu sisu...

- Como está o teu sisu?

Pois é...não é um animal de estimação nem uma palavra secreta.

É uma palavra finlandesa que não é traduzível por um sinónimo em português, dado a sua grandeza.

Sisu - a Arte Finlandesa de Viver com Coragem de Joanna Nylund foi hoje a nossa breve leitura da hora do almoço. Foi uma boa oferta.

O sisu, que é a força da consciência para a ação, afirma-se quando os desafios são mais rigorosos. 

O sisu vai crescendo no nosso interior. Há nele a força e resiliência de cada um nós que se manifesta na serenidade da conquista. 

Ou seja: com o sisu, continuamos sempre a caminhar, mesmo quando o cansaço nos quer afrouxar ou parar.

- Então...como está o teu sisu?





  

Um brinde ao Artur