terça-feira, 17 de abril de 2018

Queres pensar comigo XV

- Queres pensar comigo mais uma vez?


- Tu sabes que sim. Saber pensar é uma arte. Porque também implica usar as palavras mais fieis à nossa ideia. O que às vezes é um ato de esforço. E pode pôr até em causa a verdade dos factos.

- Pois é! Podemos falhar numa palavra certeira e resvalamos na integridade da ideia. E quem nos ouve pode pensar que é intencional, que queremos desviar-nos da verdade. E ser por dificuldade de encontrar a palavra adequada.

- Nem mais. Por isso, estes exercícios de reflexão ajudam a desenvolver a nossa visão das coisas, a pensar nas palavras que de facto queremos usar, a perceber que os pensamentos devem ser bem traduzidos e filtrados pela nossa cabeça. Então diz lá sobre o que queres conversar...

- Estava a pensar no prazer que o ser humano tem de mandar.

- Sim. O ser humano procura liderar a sua vida. E às vezes entusiasma-se demais e quer mandar na vida dos outros.

- Isso. E também o contrário: o ser humano que se acomoda a obedecer e já não tem vontade ou confiança em si. O equilíbrio nesta matéria não é fácil...

- Não é fácil, mas é possível. Isto é como ouvir e falar. É uma atividade interativa. Quando um fala, o outro deve calar para ouvir. E vice-versa. Quando é sempre um a falar, há que equacionar o porquê. Para mim, a atitude mais prudente é ouvir e depois falar. Sem pressas. Com ponderação.

- Também acho. Mas o ser humano é tão complexo ao ponto de dizer uma coisa e fazer outra. Por exemplo: um indivíduo muito opinativo e, no entanto, prefere obedecer. E o contrário também acontece.

- Ah sim! Falar não é sinónimo de verdadeira autoconfiança ou clareza de espírito. Às vezes quem fala muito, não domina o silêncio necessário para o pensamento pretendido.

- Mas devemos comunicar uns com os outros, não é? Por muito que queiramos, por vezes, amordaçar quem tem algo para dizer ao mundo, que é possível, há sempre um dia em que surge uma alternativa de fuga...

- Mais cedo ou mais tarde, sim. É preciso que cada um de nós não se desoriente no ruído interno e externo. A serenidade é um ingrediente fundamental. E a franqueza também. E a bondade do coração, claro.

- Obrigado, amigo.




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