segunda-feira, 9 de abril de 2018

Porque não gostas de mim VII

Não percebo porque é que há tanto fumo e destroços à minha volta. Não percebo porque é que bombardearam a minha casa. Não percebo porque é que os meus amigos desapareceram. Estarão vivos? Não percebo porque é que eu estou todo ligado, a pensar nisto tudo.
O meu país nunca mais tem paz! Eu sei que não é só o meu país, mas sei que nós aqui temos sofrido muito. Eu não percebo nada de guerras. Não sei quem é que tem razão. A minha mãe, que Deus tem, costumava dizer que nas guerras ninguém tem razão. Só pode ter razão quem trabalha, mesmo que incansavelmente, para o entendimento nacional e internacional.
Porque é que os nossos governantes deixam as bombas cair sobre nós? Que mal é que fizemos? Eu sou ainda criança. Já há muito tempo que não brinco, nem tenho brinquedos. Já algum tempo que não vou à escola, pois ela está destruída.
Eu não sei ler, mas já vi como são os livros e gosto muito. Há sítios tão bonitos no nosso planeta! O meu irmão mais velho, que não sei onde está, diz que o nosso país era muito bonito antes da guerra.
Eu não sei porque é que as pessoas fazem guerras. Quem é que ganha com as guerras?
Não sei se tenho ainda alguém para me ajudar. Não falo em cuidar de mim, porque já vou cuidando. Melhor ou pior. Não sei se vou conseguir sair daqui. Dói-me o corpo todo.
Mas sei que gostava de sobreviver a esta guerra. Gostava de um dia encontrar o meu irmão. Gostava um dia de ter uma casa e aprender a ler e a escrever.
Se sair daqui com vida, vou ajudar a reconstruir o meu país. Vou fazer casas bonitas para toda a gente. Parques infantis para as crianças brincarem. E vou ajudar quem eu conseguir ajudar. Dar um lar aos órfãos e aos animais abandonados.
Se eu algum dia for adulto, gostava de ter uma profissão para ensinar crianças a ler e a escrever.
Eu gosto do meu país. Estou ferido, mas sei que tudo vai melhorar. Foi o meu pai que me disse, antes de ir combater. E eu acredito nele.
Eu gosto de pensar que um dia podemos ser todos amigos.
A minha mãe ensinou-me a ter estes pensamentos e a falar com esperança.
Eu estou muito ferido, mas os médicos e os enfermeiros do meu país vão ajudar-me.
Será que quem me feriu não gosta de mim?
Eu estou aqui, esta noite, no escuro, juntamente com outros feridos, a sentir o corpo fraco e dorido, mas tenho esperança que tudo vai melhorar. Aqui e se calhar até no mundo inteiro.
Espero um dia poder ajudar. Espero que um dia mais alguém possa gostar de mim.


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