- Olá, bom dia.
- Olá. Hoje estava a pensar na necessidade que temos das expressões artísticas.
- Sim. É um pensamento que todos devíamos de amadurecer.
- Pois é. É que na realidade somos, uns mais do que outros, dependentes da linguagem artística.
- Dependentes, no meu ver, saudavelmente. Claro que a pirâmide de Maslow tem muita pertinência. Eu não consigo escrever, porque tenho dificuldade em pensar, se estiver a morrer de fome.
- O que significa que a necessidade das artes é mais expressiva nos meios sócio-económicos favorecidos?
- Bom, nós sabemos que qualquer projeto, nomeadamente artístico, é tanto mais sucedido quanto maior forem as verbas disponíveis para o efeito. Mas isso não significa que 'a arte não seja amiga dos pobres'. Provavelmente, a necessidade dela é maior nos meios desfavorecidos. Para conseguirem sobreviver aos desencantos da vida. Com poucos recursos, naturalmente. A música, como o fado ou o rap. A pintura, como a mural e os grafites. Talvez haja outras menos acessíveis aos pobres como a arquitetura ou o cinema. Mas isto também é muito relativo...
- Se a arte é cultural, e se formos criados e educados num ambiente mais artístico, isso tem um ascendente futuro sobre os nossos interesses.
- Só posso concordo contigo. Claro que se eu fui criado num bairro onde as crianças passam grande parte do tempo na rua a jogar à bola, se calhar gosto mais de ir ver jogos de futebol do que ir à ópera.
- Provavelmente...
- Muito provavelmente. Mas a escola tem um papel muito importante na formação das crianças e dos jovens e cada vez mais os currículos pretendem ser mais abrangentes. Por isso a cultura de cada povo que se espelha no ensino das suas escolas, faz muita diferença nas necessidades artísticas de cada um.
- Acho que tens razão. Nós sabemos que nos meios economicamente favorecidos, há também uma grande preocupação em formar os novos para o mundo do negócio e das empresas. Nós sabemos que a arte não chega para a sobrevivência humana.
- Claro. E nós também sabemos de casos curiosos de sucesso económico de indivíduos pobres e se tornam grandes catalisadores da economia de uma ou mais comunidades.
- Sim, sim. E em que o sucesso não é inevitavelmente inimigo da ética. Na arte também podem acontecer prevaricações morais.
- Ah, pois sim. É evidente que a arte não tem como fim o lucro, ao contrário do mundo dos negócios. É muito mais questionável o mundo dos negócios do que o mundo das artes.
- Mas o mundo das artes também pode ser, simultaneamente, mundo de negócios.
- Sim. Embora não seja a sua prioritária finalidade, a arte precisa de sobreviver e se não fizer algum dinheiro, é um projeto comprometido.
- A verdade é que nós sabemos que muitos homens de negócios, à partida inteligentes e com ambições, também precisam das linguagens artísticas para aguentar a tensão dos negócios no seu dia-a-dia. Muitas vezes chegam a financiar um ou outro projeto artístico. E ao mesmo tempo fazem prosperar os seus negócios à conta dessa sua visão experiente em transações, aquisições ou apoio a projetos.
- Claro. Mas focando-nos na questão central da nossa conversa, os homens ricos também precisam da arte. Às vezes mais do que se imagina. O mundo dos negócios, muitas vezes, é muito desumanizado. Se não houver a vontade da parte de cada ser humano na procura saudável de uma ou mais linguagens artísticas, toda a riqueza material à volta pode desencantar e, mesmo, angustiar.
- Então, podemos pensar que a arte habitualmente proporciona mais satisfação humana do que o dinheiro.
- Eu não tenho dúvidas disso. Mas se for a arte com algum dinheiro, melhor: significa que vivemos numa sociedade que trabalha para o seu desenvolvimento integral.
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