terça-feira, 31 de outubro de 2017

A anedota da Anne Bota

(Dois putos na rua)

- Um, dois, três: vou-te apanhar!

- Hoje não quero jogar.

- Porquê?

- Porque não tenho dinheiro.

- O que é que isso tem a ver?

- Quem não tem dinheiro não tem vícios.



Hoje é o dia das bruxas??? Ui que medo!

Tenho medo que adivinhes o que eu vou dizer.

És bruxa ou quê? Não te vejo empoleirada na vassoura.

Agarrada sim, a remover as partículas que conhecem

a lei da gravidade. Não é grave ser bruxa, uma bruxa boa.

Uma bruxa boa é uma espécie de fada, não? Sabes voar?

Ah, pois, sonhar é contigo. És uma feiticeira sonhadora.

Gostas de abóbora? É muito do teu regime macrobiótico.

Queres hoje ir às danças noturnas e pedir doces na rua?


És mais a menina de outrora a maravilhar-se com o maravilhoso.





És a criança de outrora
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Desliga e volta a ligar.

Estás com algum problema técnico?

Não consegues captar o meu sentimento?

Eu traduzo-to por palavras. Podem ser poéticas?

Simples? Fica descansada que gosto delas simples.

Sabes que perceber as palavras não chega. Pois.

Há que conhecer o texto com de quaisquer palavras.

Conhecer o rosto das palavras e de quem as profere.

Leem-se palavras desenhadas no rosto das pessoas.

Eu sei que sabemos. Eu própria às vezes esqueço-me. 

Conhecer, se possível, o coração pulsante dessas palavras.

Não têm coração? Têm aqueles que nós lhes queremos dar.

E veias, pois, que são belas entrelinhas dos símbolos

Que ficam subentendidas, o que fica por dizer ou desdizer

Que o seu interlocutor pode conseguir entrevê-las, se cúmplice.


Estás a ler-me? Também preferia falar contigo em pessoa.

Olhar-te o rosto e o que comunicas sem palavras

Tão expressiva que és. Mas hoje tem que ser assim.

O amanhã e o logo o dirão. A distância que marca a saudade.

Ergue o nosso fado. Cantá-lo-emos ao nos reencontrarmos.


Estás a deixar de receber o sinal de amizade em latência?

Não te preocupes. Desliga e volta a ligar. Espera uns minutos.

A nossa amizade é um cabo resistente, muito mais forte

do que um like, um smile, um emoji ou um aceno ao longe.


Ah, já cá estás. Sê re-bem-vinda. Vamos aproveitar esta energia.





domingo, 29 de outubro de 2017

A anedota da Anne Bota

- Sabes o que é um barómetro? - perguntou o pai.

- Sei - respondeu o filho. - É uma espécie de tascómetro.




É preciso é contactar!

- Vou à rua. Queres alguma coisa?

- Se não te importares de me trazer uma carta e um selo da papelaria...

- Não me importo nada. Ainda escreves cartas?

- Escrevo. Vou escrevê-la à minha mãe que vive na Serra da Estrela.

- Porque não lhe telefonas?

- Telefonava, se as redes telefónicas estivessem todas em forma e recomendáveis.


sábado, 28 de outubro de 2017

Visualizamo-nos e clicamos a vida com muitos sorrisos.


Precisas do «likes*?

Precisas de «likes» para saberes que gostam de ti?

Quando fazes «like» gostas mais de ti próprio?

Achas que as pessoas que não te fazem «like» é porque não gostam de ti?

Gostas de fazer «like» aos outros? Escolhes bem as tuas preferências?

Quem não recebe «like» achas que sofre sem o tal «like»?

Quem tem muitos «likes» é mais feliz do que quem não tem?

Quando é que tens mais «likes»? Quando dás o teu melhor?

Gostas mais de «likes» ou de «smiles»?

Ou gostas ainda mais de visualizações? É isso?

Porque partilhamos com conhecidos e desconhecidos?

Já que existimos, gostamos de partilhar, não é?

Não é fácil partilhar. É preciso saber partilhar. Preservar.

Vale sempre a pena partilhar. Escolher as melhores qualidades.

Às vezes precisamos de nos ausentar. Falar de amizade não basta.






sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Diz que disse...

Achas que me incomoda falar ou não falar?

Gostas de me ouvir e eu gosto de te ouvir.

Falo contigo de bom grado. És bom ouvinte.

Mas não contes comigo para o diz que disse.

Cada um assume as suas próprias escolhas,

os seus próprios pensamentos, os seus próprios 

atos, embora, saibamos, nada é verdadeiramente

nosso. Quem somos? O que queremos de nós?

Onde ficámos ancorados? Continuamos os mesmos?

Tudo muda. Mudamos, mas em que direção?

Onde fica a nossa vontade? O que nos prende ou

liberta? Somos agentes de alguma mudança ou

tudo é exatamente o mesmo se não existissemos?

Pensamos, logo mudamos. É bom pensar. Valemos.

É bom que façamos por isso. Não petrificamos.

Não deixamos crescer cordelinhos nos ombros e nos braços.

Sermos. Agirmos. Não mentirmos. Não iludirmos.

Não enganarmos. Falarmos para quem nos sabe ouvir.

Calarmos quando é tempo de ouvir e desenvolver.


Não é castigo não falar para quem não sabe ouvir.

Somos um valor acrescido. Merecemos partilhar

quem somos com quem acreditamos que vale a pena.

Com quem não tem pre-programações nos ouvidos,

ou na língua, ou nos gestos, ou nos raciocínios.

Não contes comigo, por isso, para o diz que disse.


Quando falo, se falo, e não me calo quando decido,

digo o que sei, humildemente, digo o que penso

sem ser preciso esconder ou repetir o que os outros

se dispõem a ouvir, mas é a verdade que merece 

ser defendida, preservada, proclamada e discutida.


Vamos. Diz o que pensas. Sê aberto e não desmedido.

Estamos contigo. Não te prives de falar e querer ser.




quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Somos emigrantes da vida

Somos emigrantes da vida, imigrantes
de flor nascida do amor que precisa
de migrantes de livre pensamento
corpos-território a re-amanhecer.

Somos refugiados do ser, recolhidos
a receber alimento nosso da fronteira
onde estamos a falar da vida e de víveres
ancorados na esperança de mais um dia.

Somos sem-abrigo do firmamento, viajantes
sonhadores da aurora rósea a desabrochar
de mãos dadas na locomotiva vagabundeante 
que ama quem é, quando parte e quando fica. 


Rosa Maria Duarte



A anedota da Anne Bota

(O colega com ar preocupado)

- É pá, nem sabes o que aconteceu ao Luís!

- Entããão?? Estranhei ele não ter vindo ao café.

- Sabes o que ele me disse há bocado ao telefone? Que está de gesso.

- Coitado! Aquilo deve ter sido nos treinos, estou mesmo a ver.

- Não estás a ver. Está de gesso a mesada dele. Tirou negas nos testes.









quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Vamos convergir?


Vamos convergir com urgência
com tua anuência bondosa, amigo
que tens mérito de ter um brilho
especial para toda a gente, mar.

Rosa Maria Duarte 

As escolhas da minha tia

- Então tia, quais são hoje as suas escolhas?

- Olha, Miguel, acabei de reler «O Jogador» do Fiódor Dostoievsky, que te recomendo. Vais ver que lês rápido.

- Hummm... É daquela coleção de bolso que a «Visão» tem oferecido aos assinantes, não é?

- Sim. Posso emprestar-to. Sabes que sempre que posso, leio. E tu?

- Bem, eu gosto mais de ver vídeos no youtube.

- Ok, não te censuro. Mas de vez em quando podias ler um livrinho?! Lá vais perguntando pelas minhas escolhas. 

- Então o jogador é o personagem principal?

- É. É ele o narrador. Um jovem russo que vai contando as suas peripécias de percetor e como se vai relacionando com os seus conterrâneos numa  cidade da Europa. Uma escrita despretensiosa e envolvente.

- Como é que ele se mete no jogo?

- Por necessidade de dinheiro e por influência de uma certa cultura de jogo que se sente naquele ambiente social. 

- Não há sentimentos amorosos pelo meio?

- Toma. Lê. Tenho os outros da mesma coleção. Cultura geral, meu sobrinho.



segunda-feira, 23 de outubro de 2017

I like to smile.

É bom estar bem e de saúde e, por isso, sorrir.

- Achas que o Paraíso existe?

- Achas que o Paraíso existe?

- Quê? Paraíso neste mundo?

- Não, pá! O Paraíso que as religiões nos prometem.

- Espero bem que sim. Agora que falas nisso, era bem fixe. Não era preciso dinheiro e vivíamos no maior conforto. Podíamos amar toda a gente, sem confusões. Podíamos distribuir abraços sempre que nos apetecesse a quem quiséssemos. Éramos todos bonitos e talentosos. A harmonia era o estado natural. Todos podíamos ocupar o tempo como muito bem quiséssemos. Sabíamos tudo sem estudar. Nunca adoecíamos ou nos cansávamos...

- Aliás, com asas até seria mais fácil.

- E o tráfego aéreo?

- Se o Paraíso for perfeito, nós também o seremos. Não haverá lugar para falhas ou distrações. O problema é merecê-lo.

- Dará muito trabalho?




domingo, 22 de outubro de 2017

A anedota da Anne Bota

- Venho muito satisfeito.

- Alguma razão em especial?

- Tive o prazer de conhecer a Madona.

- Ao vivo?

- Claro!

- Pintada ou maquilhada?







sábado, 21 de outubro de 2017

- És a pedra da minha vida


- Como eu gostava de estar aí contigo, minha pedra querida, nesse rio tão serrano! Afastaram-me da tua frescura. Aqui ao sol tá-se bem, tenho companhia, mas sinto-me a desfalecer...

Vamos construir um berço de mimos?

(À saída da escola)


- Vamos fazer como o nosso presidente?

- O quê? Ajudar o governo? 

- Não é isso. Visitar a família. Há quanto tempo não vês a tua?

- Agora que falas nisso...

- Pois é! Eu trato de ir ver a minha e tu vais ver a tua.

- Tu também não tens visitado a tua? E o Marcelo é familiar de toda a gente?

- Claro que sim. Um bom presidente é uma espécie de pai de todos os seus compatriotas.

- É como um rei, pr'aí?! Como diz a Maria no «Frei Luís de Sousa»...

- Tens estudado! O rei deve estar onde o povo mais precisa dele. 

- Claro! Quero estudar para ser presidente da república. 😀





sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Queres sair?

Sair, para onde?

Da zona euro, acho que não.

Da crise, claro que sim.

Das calamidades, sem dúvida.

De casa para a rua, talvez dê.

Da adultez para a velhice, se tiver que ser.

Da tristeza para a alegria, embora lá.

Do castigo para a recompensa, com certeza.

Da discussão para a luz, é urgente.

Da intriga para o respeito, vamos a isso.

Da vingança para o amor, estou contigo.





O que pensas dos últimos incêndios?

- O que é que pensas sobre estes incêndios calamitosos?

- O que é que eu hei-de pensar?! Uma barbaridade!

- Não há dúvida! Eu sei que as alterações climáticas estão aí em força. E não é só em Portugal, como sabemos. E que é urgente contar com a ajuda do trabalho daqueles que as estudam, assumidamente, julgo...

- Mas tirarem alguns meios de combate no início de outubro, com o calor que persistia cá...

- E a vigilância 24 horas que anunciavam?! Não terá sido mão de algum desnaturado? Já nem quero pensar em terrorismo...

- Pois...Viste aquela reportagem, salvo erro em Arganil, onde voluntários patrulham 24 horas a serra? É uma boa medida.

- Claro, mas não chega, pá. Se este assunto do nosso território não passar a ser de facto uma prioridade, acho que vamos acabar todos secos.

- 😡




quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Sou um cidadão encartado

Sou um cidadão encartado
que leva uma vida direita
ainda que tenha vindo torta
do tempo de tenro menino
quando minha mãe se despediu
porque foi apagar um fogo
e o meu paizinho que Deus tenha
e me deixaram aqui sozinho
com minha avó pobrezinha
que chorava a tempo inteiro.
Já morreu tão velhinha, amiguinha.

Sou hoje um cidadão encartado
que quer levar uma vida direita
com tristezas do rio passado longe
com saudades de quem partiu
e levou consigo saudades daqui.

Sigo sendo um cidadão com cartão
nascido e criado em alta terra sã
nobre montanha de gente tão beirã
homem melancólico saudoso menino
com braço forte e filhos do monte
que lavro o futuro e canto o ausente.

Rosa Maria Duarte



http://www.ru.nl/astrophysics/

O que saber sobre as ondas gravitacionais (amazing!)




http://www.ru.nl/astrophysics/ 

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Disparatada receita para nascer ou resnacer ou sobre-nada.

- Bicarbonato em parte de sódio
uma raspadinha de fresco limão
duas colheres de sobremesa de leite
um polvilhar de Branca de Neve
uns dois ovinhos bem amarelos.

Batata doce com mel que faz bem
e se não houver não há problema
água quente e coco de pó sem dó
juntas de nuvens fermento Royal
não deixar mirrar a libertina culinária 
bolas e doces cremes para enfeitar.

- Achas que posso comê-lo sem mirrar?
Sobre-mesa sobre-tudo e sobre-nada. Um 
doce que me quer dilatar o autorretrato
no espelho daquela senhora tão sensata.

- Achas que posso comê-lo sem incensar?
Pareço um dos três reis magos que adivinha
que vou enjoar nesta hell kitchen bem intensa.

- Come on
. Vai ligar o forno, mãe, por favor.







domingo, 15 de outubro de 2017

O nosso planeta merece muito amor.


Para que servem as obras-primas, os grandes tratados, as grandes maravilhas, as grandes descobertas, as melhores memórias, os importantes arquivos, as grandes nações, se um dia a Terra não aguentar as constantes agressões conscientes e (ainda) inconscientes do Homem?

Vou cantar o que tu queres que eu cante. Vou ser o que tu queres que eu seja.

- Estou a gostar de te ver!

- Eu também gosto sempre de te ver. És a minha prima querida.

- Bem, o que eu quis dizer é que me pareces mais simpática, mais amiga.

- Achas? Às vezes melhoramos com a idade. Ou pode ser dos olhos que nos veem.

- Ouvi dizer que o teu namorado é muito boa pessoa e que te tem influenciado no bom sentido.

- Às vezes isso pode estar a acontecer. Foi ele que te disse isso? Para ser sincera, acho que tem sido mais o contrário. E tu, o que achas?

- Nem sei... Não leves a mal. 

- Achas? Temos à vontade para isso. 

- Eu sei que as pessoas passam a vida a reclamar louros que não merecem. E, vai na volta, em vez de nos melhorarmos uns aos outros, a tendência será para querermos formatar o outro à nossa imagem e semelhança. E às vezes, santo Deus, para que imagem?! 

- Não te preocupes com isso. Eu gosto muito dele. Tem aquelas cenas... Claro que daí a ele pensar que me inspirou para as minhas qualidades, que sempre tive, vai uma distância. Mas o amor ajuda a aguentar e a soltar a alegria que temos dentro de nós.

- Agora acorreu-me este pensamento: Achas que podemos, de facto, melhorar o caráter uns dos outros?

- Bem, eu acredito na educação. Mas a reeducação já implica uma vontade e esforço maior, sobretudo do próprio. Nunca vai à picareta. Ou então um dia, rebenta um eu sufocado lá das profundezas...

- Às vezes penso que a individualidade está muito amordaçada. Que os outros é que querem decidir por nós.

- Há quem diga que vivemos num mundo egoísta, porque o indivíduo se quer sobrepor ao coletivo. E há alguns sinais disso.

- Acho que tens razão. Vou falar com a Tânia sobre isso, a ver o que ela pensa.

- Faz isso. Não deves pensar o que eu quero que penses, ser o que outros querem que sejas. Cada um com o seu fado.

-  Fado no sentido de karma??

- Isso é uma outra história...Vai que depois conversamos mais😲

- 😊