Queres vir comigo até ao berço do mundo?
Levo-te comigo num sonho de menina
para partilharmos esse tempo levezinho
do mundo infante azul marinho de céu e luz
a cheirar a verde de algas e girinos cegos
tão mexidos como olhos puros inquietos
curiosos à procura do majestoso génesis.
Queres seguir-me pelo som puro da descoberta?
Boa. Eu também vou afinar esta voz boca
libertar os meus braços e as pernas esguias
limpar a cor de pele marcada pela paixão ao sol
e preparar-me para saltar contigo livres e loucos
a solta queda no vácuo de todos os sons macios
o acontecer oxigenado pela doce maresia.
Não tens medo de vir e voar de costas, assim?
É que, vês, vamos como que navegar de costas
no ar para lá do que somos agora de quem somos
seja lá o que isso seja ou isso queira significar
faz de conta que somos pessoas caladas que alguns
queriam silenciadas para não contarmos a versão
do nosso olhar que é nosso porque é humano.
Porque te ris dessa maneira tão tua a olhares-me?
Continua. Ri-te à vontade comigo de mim sem mim
Ri-te sorri-te arrepia-te delicia-te com cada olhadela
vaga com tempo de agulha na bússola movida a fé
cheia de perfumes limpos e bebés brilhantes de vida
afeiçoados à explosão de fogo de água de terra e de ar
pulmão sentimento tão elementar nas costas do presente.
Rosa Maria Duarte
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