sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Diz que disse...

Achas que me incomoda falar ou não falar?

Gostas de me ouvir e eu gosto de te ouvir.

Falo contigo de bom grado. És bom ouvinte.

Mas não contes comigo para o diz que disse.

Cada um assume as suas próprias escolhas,

os seus próprios pensamentos, os seus próprios 

atos, embora, saibamos, nada é verdadeiramente

nosso. Quem somos? O que queremos de nós?

Onde ficámos ancorados? Continuamos os mesmos?

Tudo muda. Mudamos, mas em que direção?

Onde fica a nossa vontade? O que nos prende ou

liberta? Somos agentes de alguma mudança ou

tudo é exatamente o mesmo se não existissemos?

Pensamos, logo mudamos. É bom pensar. Valemos.

É bom que façamos por isso. Não petrificamos.

Não deixamos crescer cordelinhos nos ombros e nos braços.

Sermos. Agirmos. Não mentirmos. Não iludirmos.

Não enganarmos. Falarmos para quem nos sabe ouvir.

Calarmos quando é tempo de ouvir e desenvolver.


Não é castigo não falar para quem não sabe ouvir.

Somos um valor acrescido. Merecemos partilhar

quem somos com quem acreditamos que vale a pena.

Com quem não tem pre-programações nos ouvidos,

ou na língua, ou nos gestos, ou nos raciocínios.

Não contes comigo, por isso, para o diz que disse.


Quando falo, se falo, e não me calo quando decido,

digo o que sei, humildemente, digo o que penso

sem ser preciso esconder ou repetir o que os outros

se dispõem a ouvir, mas é a verdade que merece 

ser defendida, preservada, proclamada e discutida.


Vamos. Diz o que pensas. Sê aberto e não desmedido.

Estamos contigo. Não te prives de falar e querer ser.




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