domingo, 31 de dezembro de 2023
sábado, 30 de dezembro de 2023
Fastread poetry
Ser uma árvore na família dos sons
de folhas a bailar ao vento
às vezes agulhas verde pinho
a cheirar a livros de linho
palavras ao vento que nos ilumina
os sonhos quando saímos
da nossa morada primeira
num corte do cabelo velho
que não conhece a idade
e cresce em pensamento
neste momento a sós.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2023
«Onde São encontrava um ambiente que lhe proporcionava alguma paz era o campo, fosse de dia ou de noite, a sentir o aroma da terra pisada pelos seus próprios passos. Mas agora, que o seu corpo já tinha desistido de respirar, de se mexer, de funcionar, São continuava a sentir-se numa espécie de contemplação e o seu lugar de aquietação espiritual eram agora os picos montanhosos do universo pulsante em harmonia e construção divina.»
quinta-feira, 28 de dezembro de 2023
quarta-feira, 27 de dezembro de 2023
Fastread poetry
Ser breve sendo vasto
ser distante sendo livre
ser vida sendo também verde
ser aceno sendo corpo
ser palavra sendo mudo
ser alegria sendo melancólico
ser vontade estando só
sermos nós sendo apenas eu
ser caminho quase infinito.
terça-feira, 26 de dezembro de 2023
Há dias, a propósito do Natal, alguém questionava: - Para que serve mesmo a Humanidade e tudo o que ela faz, se todos deixaremos de existir um dia?- e acrescentou ao ritmo do seu pensamento - Ah!, a não ser que passaremos a ser de facto estrelinhas no céu ou outra qualquer matéria-prima do Universo...
segunda-feira, 25 de dezembro de 2023
domingo, 24 de dezembro de 2023
Natal feliz para todos, para os que estão, para os que não estão, para os que gostam do Natal, para os que não gostam, para os sonhadores, para os visionários, para os cegos, para os operários, para os queridos, para os bota-abaixo, para os de 4 patas, para os que têm asas, para todos de todos as cores, raças, religiões, idade, género ou condição existencial.
sábado, 23 de dezembro de 2023
sexta-feira, 22 de dezembro de 2023
quinta-feira, 21 de dezembro de 2023
Fastread poetry
Crescer e ser uma ponte pequena brilhante
sonhava esta amiga das duas margens de si
pai e mãe natal de todos os seus visitantes
noite e dia das estrelas e das nuvens do céu
campo cidade em todos os lugares humanos
vida e renovação no novo sentido sem-tempo...
quarta-feira, 20 de dezembro de 2023
terça-feira, 19 de dezembro de 2023
segunda-feira, 18 de dezembro de 2023
«Para os familiares naquele dia naquele espaço, era como se São continuasse ali, vestida como habitualmente de forma simples e convencional, olhar azul, no seu lugar a meio da igreja, em silêncio, ora ajoelhada em oração, ora sentada a conversar em silêncio, à procura do seu momento para beijar o menino.»
domingo, 17 de dezembro de 2023
«Tinha os pés levantados sobre um banco estofado, para ajudar à normal circulação das pernas, talvez um pouco menos inchadas por ser inverno. Ouvia-se algures um lamento trinado de fado. Era natal no mundo dos humanos. O que restava de si? A vida não tem vencedores, pensava São. Somos todos mendigos da vida a implorar mais um dia e mais outro, ainda que São soubesse que já estava para além do que vemos, fragilmente apoiados nos raios de sol na soleira do tempo.»
sexta-feira, 15 de dezembro de 2023
«Acontecia-lhe muitas vezes rezar, fosse onde fosse, como se estivesse no lugar mais solene, e sabia que era uma inevitável propensão humana tão familiar. Mas o seu misticismo era também filosófico e existencial. Havia, pois, uma vocação em São para desejar o amor a todos os seres e também a força da fé para vencer o humano e o natural para alcançar a beleza do divino.»
quinta-feira, 14 de dezembro de 2023
«Começava a sentir o vazio que sucede ao banir-se o sorriso. Estava frio e uma névoa branca soalheira descia e atapetava o lugar. Havia no ar um odorífero sabor a natal. De súbito, um entrecortado improviso de gaita de beiços tornou-se, pouco a pouco, mais audível, mais rítmico, mais próximo...a sua boca inspirada, que as suas mãos enregeladas davam oportunidade, parecia melancolicamente lustrosa, em esforço.»
quarta-feira, 13 de dezembro de 2023
Ontem o céu acordou carregado de gotas, lágrimas de Deus. Umas, fortes, cairam nas mãos da manhã. Outras, o sol tímido da tarde consolou e levou consigo. Mas muitas fez questão de nos oferecer e ainda cá estão acomodadas na nossa alma. Irão cair e reinventar aos poucos o caminho do nosso quotidiano...?
segunda-feira, 11 de dezembro de 2023
domingo, 10 de dezembro de 2023
sábado, 9 de dezembro de 2023
«Respirava e emitia um lamento. Parava por segundos. Voltava a respirar e a soltar um lamento. São estava deitada na sua cama articulada de olhos fechados. O seu rosto pálido era de cansaço. Às vezes dizia não à pergunta se tinha alguma dor. Tinha uma montra, à sua frente, no parapeito da janela virada para a rua com as fotografias dos meninos da sua família: netos e bisneto. Nessa despedida ainda havia vontade. Ainda queria viver um pouco mais, quanto mais não fosse para, em espírito, voar até à beira-mar do mundo humano e ser uma pequena onda a espraiar-se na areia ou uma gaivota a planar ou um pequeno destroço esquecido no areal...e pouco depois o seu espírito regressava revigorado ao corpo velhinho e prostrado.»
sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
quinta-feira, 7 de dezembro de 2023
«Enquanto caminhava em peúgas, esforçava-se por articular os pés, talvez para evitar que arrefecessem no chão da casa na cidade. Dona São há alguns anos que usava calçado ortopédico suficientemente adaptável ao seu pé agora largo como a família providenciava. Mas São ainda gostava de sentir o chão nos pontos sensíveis da planta dos seus pesados pés. Provavelmente porque lhe acudia à memória os seus tempos de menina, quando ia à Ervideira visitar a sua avó e, muitas vezes, deixava descalçar os sapatos largos que herdava dos mais velhos a subir a esforço a encosta da serra e sentia a textura pisada da caruma e dos tojos que a desafiavam e a comoviam. Que espantosas vistas, no céu aves de médio porte e perfume constante a urzes, resina e vigorosas giestas!
quarta-feira, 6 de dezembro de 2023
«O dia nascera limpo e gélido. Apesar de São ter nascido numa pequena aldeia de montanha na serra da Estrela, a sua vida passou-se na capital lisboeta. Em tempos, fora com o marido e os filhos pequenos algumas vezes ver a iluminação à baixa. Agora o seu espírito viajava sozinho, livre da decrepitude do seu corpo ou alguma dor. Neste dia, ficou a olhar o cais de embarque no Terreiro do Paço, decorado de um céu luminoso de muito frio, sombras esguias, gente agasalhada a sonhar com as viagens de outrora à procura do desconhecido.»
terça-feira, 5 de dezembro de 2023
«Da janela do seu quarto, as muitas visitas de São também olhavam os contrastes vigorosos de luz e nuvens, agradecendo a Deus a serenidade e o cuidado lhe eram concedidos num lugar de cura e alívio da dor. O divino somos nós, pensava São, por um flash consciente, enquanto tentava orar e comungar uma pequenita porção de hóstia, que lá conseguia engolir.»
segunda-feira, 4 de dezembro de 2023
«Onde São encontrava um sentimento que lhe proporcionava certa acalmia era no jeito e no tom de voz alegre do seu bisneto Tiago. Estavam geograficamente distantes, é certo. Mas São ainda conseguia brindar àquele momento de vida online e fazer um esforço para desfrutar, ainda que intermitentemente, daquela frescura infantil pelo seu sonolento olhar. Entre o meninoTiago e a bisavó São havia uma diferença cronológica humana de 86 anos. Dois seres próximos nos seus laços de sangue com horários e destinos de viagem distintos.»
domingo, 3 de dezembro de 2023
sábado, 2 de dezembro de 2023
«São sentiu que toda a sua melancolia se derretia como um floco de neve que ainda no ar se desfazia, quando ouviu uma voz sorridente, a saudosa voz da sua irmã freira Conceição. São, mesmo doente deitada na sua cama, procurava agradar-lhe, como sempre. Sempre era uma das suas irmãs mais velhas.. E o seu espírito correu à sua frente, desembaraçando-se facilmente por entre móveis, paredes, pessoas de carne e osso, vozes ao longe, músicas de Natal, escadas atapetadas de folhas amarelas envelhecidas pelo tempo...»
sexta-feira, 1 de dezembro de 2023
Fastread poetry
Arbitrar a vida
em oração e gratidão
ora crianças em palhinhas
ora velhinhos em caminhas.
Aroma e emoções perfumadas
somos sorrisos lágrimas silêncios
palavras de amor humano e divino.