segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Como contaríamos uma história se não tivéssemos memória?

3.1.         A memória ao serviço da narrativa


Hoje em dia pode roubar-se tudo a um homem, até a morte – disse o contador de estórias à sua filha Ritinha. (in Dinossauro Excelentíssimo, José Cardoso Pires)






Sendo o Homem um ser inacabado, está sempre em potencial possibilidade de se completar e ir cumprindo o seu não-acabamento. Esta é uma formulação reflexiva do tipo da que Octávio Paz em Signos em Rotação (1996) faz, que revela a sua própria vivência experimentada e testemunho consciente na escrita.
A expressão idiomática «memória de elefante» não é, no linguajar quotidiano, associável ao ser humano em geral. Mas à sua escala, “cobaias” do terceiro milénio, a memória é uma reconhecida ferramenta imprescindível de sobrevivência, para o Homem se reconhecer ao espelho, fazer um simples feedback para lançar a mão às chaves do carro ou de casa, ou desanuviar de um dia de trabalho com uma imagem mental de companhia.
No prefácio ao livro O Contador de Retratos, Guilherme de Oliveira Martins afirma que “[…]é a memória que projecta para além do efémero” (ANTÓNIO SANTOS, 2013:15).
A memória é a história, a identidade individual e coletiva. Construímo-nos a registar e a reler esses registos. E a cada recordação, mesmo sem querer, fazemos involuntárias reformulações. Contudo, quem acha que não faz sentido ser fiel aos factos, dificilmente será fiel a si mesmo. A vida é aventura do conhecimento.
E apesar do gosto humano por estas viagens memorialísticas, o que recordamos do que sentimos nunca são as sensações rigorosamente reais. Nunca relemos ou recordamos de forma fidedigna um acontecimento, nem mesmo com excessiva atenção ou por força decalcada. Quando analisamos o que sentimos, o que estamos a fazer são juízos de valor sobre o que pensamos que estamos a sentir. E a individualidade das nossas experiências é o que a ciência mais lentamente consegue explicar.
No catálogo da sua Exposição Antológica de Pintura/Desenho, o professor da Sociedade Nacional de Belas-Artes Jaime Silva afirma o seguinte: “[…]acredito na continuidade da memória como fundamento da identidade pessoal. E utilizo as memórias, interiorizo conteúdos; sonho, e a interrogação no sonho, não poucas vezes, obtém respostas fulgurantes. (JAIME SILVA, 2013)
Cada um de nós habita um cérebro único, que a ele estamos ligados pelo humor dos desejos pessoais, momentâneos, moldados nos nossos neurónios. E o eu engloba em si o micro e o macro, cuja hierarquização é fraca e instável. O material nemésico para pensar o eu não é teorizável. Para além de que essa função nemésica é também imaginativa.
A realidade é mais dura quando é memorialística, porque constitui um fluxo contínuo de relações que não se restringem ao indivíduo.
Tanto a ciência como a arte lidam ambas com factos. Marcel Proust dizia: “A sensação é para o escritor o que a experimentação é para o cientista.” (in LEHRER, Jonah, Proust era um Neurocientista, 2007) Mas até agora só o artista consegue amplamente descrever, ainda que só por palavras, a realidade subjetiva.
O filósofo Henri Bergson, Nobel da literatura em 1927, citado por Jonah Lehrer, afirmava que a realidade da autoconsciência não pode ser reduzida ou dissecada experimentalmente. Acreditava que só nos podemos compreender através da intuição, um processo que exige muita introspeção e contemplação. Proust, seu primo por afinidade, foi um dos primeiros artistas a interiorizar esta filosofia. Filosofia tão em voga no ocidente dos nossos dias.
A tal ponto que considerou a literatura realista, a que se limitava a descrever coisas, a mais afastada da realidade. Como insistia Bergson, a realidade é melhor compreendida subjetivamente quando acedemos às verdades intuitivamente.
A neurociência sabe agora que Proust estava certo. Rachel Herz, uma psicóloga em Brown, demonstrou, no ensaio científico Testing the Proustian Hypothesis, que os nossos sentidos do olfato e do paladar são os únicos sentidos que se ligam diretamente ao hipocampo, o centro da memória de longo prazo do cérebro.
António Damásio no seu Livro da Consciência avisa que: “O eu é, garantidamente, uma festa móvel.” (p.215) O “eu” é o ele originário e originante. É nada menos que a substância de toda a obra de Fernando Pessoa ao procurar-se (OCTÁVIO PAZ,1992:12).
A ficção de Marcel Proust, que é principalmente a não ficção, explora a forma como o tempo muda a memória.
Moldamos a memória à nossa narrativa pessoal. Marcel Proust previne-nos que a realidade das nossas memórias deve ser tratada com cuidado e ceticismo.
Hoje curiosamente a ciência está a descobrir a verdade molecular subjacente a estas teorias proustianas. A consciência é cada vez maior sobre a imperfeição das nossas lembranças de factos passados. Porque ao Homem não é feito de substância física e metafísica que nunca muda.
A “desonestidade” da memória foi primeiramente documentada por Freud, por acaso, quando se apercebeu que as suas pacientes, no decurso do seu estudo, acabaram por acreditar na sinceridade das memórias que relatavam de abusos sexuais.
Contudo, a ciência diz-nos que os neurónios não se tocam. Formam memórias por alterações subtis na resistência das sinapses. Então o momento de tempo é introduzido no espaço vazio da arquitetura do cérebro.
Para Marcel Proust, as memórias eram como as suas frases, que nunca parava de as modificar. Ele tornou-se um incansável revisor dos seus textos.
Era um escritor que acreditava no ato da escrita como um processo criativo espontâneo. Nunca começava por delinear as suas histórias. Achava que o romance, tal como a inverdade das memórias que descrevia, devia discorrer naturalmente (in LEHRER, Proust was a Neurocientist, 2007).
A plasticidade da narrativa era um dos elementos mais realistas em Marcel Proust. Até na última noite da sua vida, queria modificar uma parte do romance que descrevia a morte lenta de uma personagem, porque entretanto tinha um pouco mais a experiência do que era estar moribundo.
Também Paul Ricoeur em Vivo até à Morte fez questão de testemunhar na última parte do livro, com letra moribunda, o sentimento de proximidade do fim, já no último mês da sua vida.
Marcel Proust estava intensamente consciente da sua própria fraude. Como ele próprio disse: “O único paraíso é o paraíso perdido” (LEHRER, 2007). Não há maneira de descrever o passado sem mentir. As nossas memórias não se parecem com a ficção. São a própria ficção. Neste sentido, qualquer diário ou texto autobiográfico é autoficcionado.
O romance e a vida, o cronista e o ficcionista são, na realidade, indistintos. A recordação de uma determinada imagem não passa da nostalgia de um determinado momento.
Marcel Proust sabia intuitivamente que as nossas memórias exigiam este processo transformador. O segredo deste escritor, que era filho de um célebre professor de medicina, foi a consciência da distorção da memória de algo para o podermos recordar.
Mas os modelos conservadores científicos não conseguiram explicar a aleatoriedade e a estranheza da memória.
Atualmente começam-se a revelar pormenores moleculares que presidem ao modo como as nossas memórias subsistem, as “marcas sinápticas” de que nos fala o Nobel Eric Kandel, neurocientista austríaco, mesmo depois de nos termos esquecido delas.
As memórias, como insistia Marcel Proust, não se limitam a perdurar, mas também a mudar invariavelmente. Sempre que evocamos os nossos passados, as nossas reminiscências ficam maleáveis de novo.
O jovem autor Jonah Lehrer, no livro Proust era um Neurocientista, explica que embora os priões que marcam as nossas memórias sejam praticamente imortais, os pormenores dendríticos são constantemente alterados, viajando entre os polos da lembrança e do esquecimento. O passado é ao mesmo tempo perpétuo e efémero.
Não é ingenuamente que no Viver para Contá-la, Gabriel García Márquez inicia o livro autobiográfico com a frase: “A vida não é a que cada um viveu, mas a que recorda e como a recorda para contá-la.” Outro escalpelizador da memória da vida e que a foi perdendo drasticamente.
E estaria tudo no bom caminho da descoberta do ser, não fora o Livro das Previsões citado por outro Nobel da literatura, José Saramago, n’ As Intermitências da Morte pressagiar que: “Saberemos cada vez menos o que é um ser humano”.
Numa perspetiva neurocientífica, segundo António Damásio, a memória não está localizada numa estrutura isolada no cérebro: “o cérebro na realidade regista as múltiplas consequências das interacções do organismo com [determinada] entidade” (DAMÁSIO, 2010:170). A memória é um fenómeno biológico e psicológico envolvendo atividades sensoriais e motoras relacionadas com a interação.
A memória é uma faculdade cognitiva extremamente importante porque ela forma a base para a aprendizagem.
Embora, segundo o mesmo especialista, a memória inteiramente fidedigna seja um mito, apreendemos o mundo por interação e por isso recordamos contextos e não objetos isolados. Se não houvesse uma forma de armazenamento mental de representações do passado, não teríamos uma solução para tirar proveito da experiência. Assim, a memória envolve um complexo mecanismo que abrange o arquivo e a recuperação de experiências, que está intimamente associada à aprendizagem, que é a habilidade de mudarmos o nosso comportamento através das experiências que foram armazenadas na memória. A aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos e a memória é a retenção daqueles conhecimentos aprendidos.
 “Só as lesões nos córtices sensoriais iniciais criadores de mente e em seu redor impedem a recordação da informação que em tempos foi processada por esses córtices e registada na sua proximidade.” (DAMÁSIO, 2010:177) As alterações celulares decorrentes da aprendizagem e da memória dependem da eficiência das sinapses e podem aumentar a transmissão de impulsos nervosos, modulando o comportamento. A experiência pode ocorrer a partir de uma aprendizagem ativa ou pelo contacto com espaços de interação humana, cores, música, sons, livros, cheiros, etc.
Com o avançar na idade, o cérebro humano também perde acuidade e a memória pode apresentar alterações. “O cérebro é como um músculo; se não for exercitado, perde-se”, segundo o espanhol Santiago Ramón y Cajal, Prémio Nobel da Medicina em 1906 e o primeiro investigador moderno a estudar os neurónios.
A ideia de estudar a obra literária para compreender melhor o papel da memória no ato criativo e no conhecimento do eu sublinha a importância de uma nova atitude que a gnosiologia e a ontologia apontam com base nos fundamentos essenciais da realidade, como as ciências e as humanidades.
Segundo Émile Durkheim, existem duas consciências distintas em cada indivíduo: uma que se confunde com o todo da sociedade e a ajuda a formar; a outra é a de cada indivíduo e que o faz um indivíduo diferente dos demais, apesar de fazer parte do todo. (in Regras do Método Sociológico, 1895) Nessa conceção, fica claro que numa sociedade o todo não é apenas o resultado da soma de cada uma de suas partes, mas algo distinto delas. O indivíduo é único e tem mecanismos de autonomia, mas é educado segundo regras sociais e culturais exteriores a si, que já existiam antes, que o vão moldando e submetendo.
Ao estudar o sonho, Maurice Halbwachs mostrou que o passado não é guardado na memória verdadeiramente individual. Nesta restam apenas impressões, fragmentos e imagens que não são memórias completas. As representações coletivas são as memórias reais. Segundo ele, memórias pessoais autossuficientes não existem, porque o indivíduo realmente não se lembra bem do passado, e por isso ele não pode revivê-lo como tal, mas reconstruído a partir das necessidades do presente. A reflexão sobre a evocação de memórias não é possível sem o trabalho de consciência. E os quadros sociais da memória são precisamente "instrumentos" para o indivíduo consciente reconstruir uma imagem do passado consistente e de acordo com as necessidades do seu presente, a sua existência como um ser social, de harmonia com o equilíbrio existencial de sua personalidade, da sua identidade.
La conscience collective est une réalité spirituelle, et le résultat de la science nouvelle fut de la révéler peu à peu beaucoup plus riche et profonde que toutes les autres, puisque celles-ci en dépendaient et s'y alimentaient. Son action, ses prolongements se suivent en effet dans toutes les régions de la conscience de chaque homme ; son influence sur l'âme se mesure à celle que les facultés supérieures, qui sont les modes de la pensée sociale, exercent sur la vie sensitive. (Halbwachs, 1952:410).
Reportando o tópico para o corpus do trabalho, cronisticamente as recordações apresentadas por José Cardoso Pires em De Profundis, Valsa Lenta obedecem, de forma espontânea por vontade do escritor, à sequência narrativa dos acontecimentos, procurando fundamentar e clarificar o conhecimento que foi ganhando de si, num determinado contexto.  
 Até que certa manhã acordo em claridade aberta com gargalhadas a crepitarem à minha volta. Dum momento para o outro, o sentido de presença. E tudo concreto, tudo vivo […]. Sinto-me tomado de gratidão. Isto de alguém se recomeçar assim depois de nulo é algo que deslumbra e ultrapassa. (PIRES, 1998:46)  
José Luis Sampedro, no seu livro Monte Sinaí, também relembra, num discurso temporalmente ordenado, o sucedido em Nova Iorque, já em casa dos seus filhos e neto:
 Y empiezo ahora mismo, ya instalado hogareñamente en la casa de mis hijos y nieto, porque mi memoria cada vez graba menos lo reciente aunque siga recordando tenaz lo muy pasado. Como solo cuento con dispersas notas de los últimos días en el Sinaí, desciendo ya su ladera, he de recuperar lo no escrito con la evocación cuanto antes de aquellas horas, adentrándome por mis galerías en busca de quien soy ahora y de la nueva región en donde estoy desembocando tras pasar la frontera. (SAMPEDRO, 1998:11)
No livro La Ciencia y La Vida, é com o lema de abertura “Para dialogar, parar”, que Sampedro questiona o Homem e a sociedade de hoje: “[…] es un mundo súper acelerado en el que no hay tiempo para la reflexión […]”(p.27)
Um contemporâneo e amigo de José Cardoso Pires, António Alçada Baptista, que como ele refletia muito sobre a vida, no livro já citado A Cor dos Dias, memórias e peregrinações, confessa-se […] a fazer de psicanalisado sem psicanalista, a tentar destrinçar a meada das herdadas construções do mundo que sinto enoveladas por dentro de mim”. Neste livro é possível ler uma crónica intitulada «A Alice» que conta que uma amiga comum encontrou José Cardoso Pires dias antes de este ser internado para morrer e que o próprio se despediu, com tranquilidade, dizendo-lhe que seria a última vez que a veria neste mundo.
No De Profundis, Valsa Lenta, este doente apenas se queixou de mal-estar físico durante o momento do acidente vascular cerebral propriamente dito. Descreve que fixou o olhar, sentiu-se mal como nunca antes por momentos e pouco depois falou com sua mulher para lhe perguntar o nome. Revela que manteve uma “fria tranquilidade”.
O breve diálogo que reconstituiu na primeira pessoa com Edite, sua esposa, decorre brando, como toda a narrativa, sem peripécias de ansiedade exaltada, algumas vezes num tom distante, de observação omnisciente: “[…] ele ao princípio sabia-se doente”, mas era “[…] uma impossibilidade com a qual convivia numa aceitação natural.” Convertida a experiência em recordação, narra então na terceira pessoa os dias de estranheza no mundo dos sentidos e dos sentimentos “[…] a desmemória não só o isolou da realidade objectiva como o destituiu, pode dizer-se, de sentimentos […]”(p. 38), narra o isolamento mental (i.e., a mente sem o conhecimento de si) e a consequente ausência de cada nome dos outros e dos lugares: «Eu tenho filhos, não tenho? […] Como é que eles se chamam?». José Cardoso Pires procura identificar-se através do reconhecimento daqueles que participam na sua vida. Sem nomes, sem memória, o autor sente-se fragmentado, usando indicadores de alteridade, de polifonia. ”O universo para onde desertou esse Outro que eu acompanhei com as esvaídas recordações que trouxe dele ou com os relatos da minha mulher e dos amigos que me visitaram era assim.” (p.27)
José Cardoso Pires entende a sua realidade dependente da mitologia do real que o liga ao mundo à sua volta. E cita Ernest Hemingway, que ele considera o viajante das mortes, em The Garden of Eden: «os nomes penetram-nos até aos ossos».  
De Profundis que significa das profundezas, recitado nas cerimónias fúnebres e no ofício dos mortos, é também título escolhido por Óscar Wilde em 1897, sob a forma de uma longa e emocional epístola, escrita na prisão onde o escritor irlandês cumpria pena, que foi mais tarde corrigida e inserida no livro de cartas intitulado The Letters of Óscar Wilde. Autor que Cardoso Pires conheceu bem, porque o traduziu.
Nota-se que José Cardoso Pires também se sentiu submetido a uma “prisão”, quando afirmou: […] fui desapossado das minhas relações com o mundo e comigo próprio.” (p. 23) Esta prisão “implacável e irreversível”, vedou-lhe o acesso ao eu. Na manhã em que a claridade lhe trouxe de volta a consciência de si, o sofrimento (e também a compreensão desse sofrimento) foi experimentado graças à memória, a posteriori, num processo de reconstrução mental a partir do seu presente e sobretudo dos testemunhos de um passado recente vivido e observado por outros.
O narrador depara-se com a questão da identidade para a representação humana durante a construção do seu texto, quando narra, por exemplo, os diálogos jocosos dos seus companheiros de internamento a desafiarem o próprio medo da morte. Mas enquanto José Cardoso Pires foi personagem acidentada, a sua mente não pôde recorrer a quaisquer registos mentais, quer de natureza ontogenética quer filogenética.
No momento do ato da escrita, o narrador recorda a ausência de sentido no período pré e durante o internamento hospitalar: “Por cima duma porta não sei onde havia um letreiro que me obrigava a um soletrar intrigado […].”(p. 44) Logo que recupera a consciência de si, sente ativar a sua costumada cumplicidade com a arte da captação da imagem e do diálogo pela observação “Agora que eu tinha despertado o mundo recomeçava a partir de dois companheiros de hospital que iria deixar em breve e que até lá eram os meus personagens de cada dia.” (p. 59) Depois, em pleno ato narrativo, dá conta do excesso de sentido que não consegue esgotar na sua ficção, oferecendo ao leitor uma representação daquela realidade (“Já dois anos sobre isto e só hoje é que dou por encerrada para sempre a minha viagem à desmemória […]” p. 63). Naturalmente, ficaram alguns significantes ausentes no texto… “Esta absoluta economia de meios […] concentra a acção em três metros quadrados de sofrimento; não existe nada mais perigoso para um escritor do que abolir as sombras.” (António Lobo Antunes, Visão, 1997).
De lembrar a fértil intertextualidade neste livro, qual organismo vivo textual que engendra o eu com outros na dimensão da palavra percepcionada num deslizar suave, sem densidade, “numa galeria sem história”, no período em que as palavras chegavam “cegas” e […] o Outro que andava por lá o Outro que afinal não era mais que uma sombra saída de algures de mim []” (pp. 40-41).
De Profundis, Valsa Lenta, Monte Sinaí e La Ciencia y La Vida são testemunhos escritos que transportam consigo uma mensagem de humildade e de atenção necessárias perante a fragilidade da condição humana, particularmente em situação potencialmente fatal, que é pelos autores experienciada e cuja atitude redobrada acontece naturalmente quando se é um sobrevivente com consciência dela.
A perda da memória e/ou da autonomia, que os levou ao internamento, ao afastamento temporário da atividade literária e à desmarcação de compromissos, trouxe-lhes uma claridade própria, o silêncio, a ausência de ambições e de desapego aos projetos. Mas a memória desencadeou um projeto maior: o conhecimento de si. A compreensão da vida passou a ser o projeto literário, de que são testemunhos os textos em estudo.
No livro Monte Sinaí de José Luis Sampedro, não há diagnóstico de perda de memória, mas de um caso agudo cardíaco de grande risco, em que este recorda o seu médico “[…] como un arcángel […] como alguien que vino a proporcionarme la seguridad en el sentido de que se estaba haciendo lo que se debía hacer.”(p.246)
Nove anos depois, no livro Escribir es Vivir (2007), que reúne conferências de José Luis Sampedro, o autor comprova a sua boa memória retrospetivando a sua vida e autoapelida-se de emigrante no tempo porque considera que a sua vida longa já não pertence ao mundo de hoje.
No pertenezco al mundo de hoy. Estoy aquí de polizón. Eso sí, no he venido en patera y tengo mis papeles en regla, pero no soy de aquí. Los artefactos no me interesan. No me gusta el teléfono. […] el mundo de mi infancia, sigue siendo mi mundo. Afortunadamente, sigo siendo el niño que vive allí y no quiero ser otra cosa. (pp.44 e 55) 
Dando o seu testemunho de escritor, de acordo com o tema das conferências, revela que ainda não escreveu a sua autobiografia porque a sua experiência de vida está nas novelas que nascem como uma “[…] prehistoria, a veces muy larga desde que la idea empieza a cuajar como una nebulosa en la mente del autor” (p.270) e depois os primeiros parágrafos vão servindo de ecografia literária que mostra a singularidade e a apaixonada gestação de cada livro.
O modo discursivo, nos livros citados, é tendencialmente substantivo, o que no caso de De Profundis, Valsa Lenta de José Cardoso Pires foi fruto de uma terceira versão do texto. Estão impregnados de franqueza e de sinceridade perante a fragilidade e a criatividade humanas que é tónica dominante, em particular a força da vida sobre a doença, cujo ser se mostra consciente da sua finitude, usando um tom confessional e lúcido sobre a importância da memória para os sentimentos (de gratidão à ciência e seus discípulos) e a atenção ao mundo circundante.
Rosa Maria Duarte, O Canto do Cisne no Retorno do Eu ao Ato da Escrita, 2015.




domingo, 29 de janeiro de 2017

A anedota da Anne Bota.

Um senhor bem composto chega ao restaurante mais chique que encontra, senta-se, lê o cardápio e pergunta ao empregado:

- Ó psst. Faça o favor. O senhor sabe dizer-me se esta pescadinha frita com arrozinho é da vivinha?
- Ora pois, se é! Das bem frescas! Então se ela é das pescadinhas contorcionistas?!





O autor explica a sua obra.


O que vemos?
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
50x70

  Quando peguei num dos paus de carvão para traçar as linhas mestras da figuração que tinha mais ou menos pensado para este quadro, hesitei. Tinha muitas ideias para um quadro só. Já me tem acontecido começar com uma ideia figurativa e acabar num estilo abastrato.
  De facto, o autor não consegue pensar integralmente o seu quadro de antemão, com o risco de o racionalizar de tal modo que pode perder a sua dimensão mais intrínseca (simbólica, metafórica, alegórica, espiritual, intuitiva, instintiva, chamem-lhe o que quiserem). Mesmo no caso de quadros encomendados. 
(http://setubalnarede.pt/canal/a-obra-de-arte-sabe-mais-do-que-o-artista/)
  Este quadro «O que vemos?» foi concebido ontem. A tela e as tintas já cá estavam em casa (pinto na sala; não tenho atelier).
 Não sei bem classificá-lo. Talvez tenha alguma dimensão surrealista. O olhar é uma das ideias-chave. Como alcançar a verdadeira realidade, a nossa e a dos outros? A escada até ao olho da esquerda quer ajudar. Como interpretar com verdade o sentimento espelhado no olhar?
   A vida é uma maçã apetecível, vermelhinha, para quem lhe dá o devido valor. A do quadro já tem uma dentadinha no canto inferior direito. A vida é maior que qualquer olhar, que qualquer árvore (mesmo muito especial que seja...), é maior que qualquer cordilheira. Está dentro de nós e nós pertencemos a algo bem maior, o universo.
   O olho aberto, que nos fita, mais abaixo para a direita, simula um dispositivo espacial ou naval em movimento dentro da própria maçã, que pode ser lida como, também, um grande aquário que é o mar do mundo.
   A árvore pode ser um plâncton macro-terrestre que dá fruta, como a banana, ou outra, na qual crescem também eco-guitarras de vários tipos, que são saudáveis para a saúde.
   Cada um pinta o céu da cor que quiser.  
                                                                 Rosa Maria Duarte
  






sábado, 28 de janeiro de 2017

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Autobiografia (página 18)

É mais fácil falar da nossa vida há alguns anos atrás do que da fase mais recente. Até porque as pessoas às vezes têm formas de interagir invulgares. Parece que se andam a por à prova diariamente. O que decidimos querer ver nesta ou naquela pessoa?
As mulheres não são, de facto, o sexo fraco. Nem sei se existe um sexo fraco. Existem simplesmente pessoas mais fortes do que outras.
A velha máxima de que «o que não nos mata, torna-nos mais fortes» muitas vezes funciona; contribui para o passo difícil de sermos lembrados, mas o feito heróico nasce do fundo do ser. Os nossos feitos, sim, podem ser recordados na memória dos que nos quer lembrar.
Não gostamos muito da ideia de morrer, ou de acabar de vez.
A arte é um dos meios de excelência para se acreditar na imortalidade. O cosmos é a obra de arte divinal.
A 7ª arte, por exemplo, inspira e acompanha-me desde menina.
Filmes de animação de grande qualidade desde muito cedo. A «Pantera Cor-de-Rosa» de Friz Feleng. O sentido de humor genial neste e outros.
Ou filmes como «Les uns et les autres» de Claude Lelouch que vi, creio que no Londres, com a minha amiga Mafalda, e que tem uma cena simplesmente insuperável ao som do Bolero de Ravel que premeia o espectador com uma coreografia espantosa de Nureyev. Inesquecível! Na minha fase do ballet e da dança, que não morreu e vem dos meus primeiros tempos de chavalinha...
Desde então, já ofereci este filme a amigos (VHS e DVD). E não é assim tão fácil de encontrar... Uma história tocante passada em cenário de guerra.
Houve vezes em que andava a apanhar frases nos bons argumentos que eu gostaria de as ter pensado. Tipo «Os sonhadores» de Bernardo Bertolucci. 
Hoje já nem por isso... hoje sobretudo nos bons livros de literatura, nacional e não só. Alguns que imortalizam grandes falas de filmes e boas peças de teatro.






A anedota de Anne Bota







Diz um cliente para outro:

- Desculpe, amigo, estou sem dinheiro e estou sem perceber se este é o novo banco...
- Novo, novo não é, mas está bem iluminado.





segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Nós somos gestos


Nós somos gestos que querem dos braços
outras mãos expressivas e bocas que sorriem
e nos pertencem, cheias de palavras de afeto
cortejo aos olhos de Deus, sem destroços
porque ainda na infância são tempos de ação.

Nós somos contentores de encantamento
em sonhos enviados pelas ruas e terraços
folhas quase brancas de intenções de aves
no alto da nossa tenra alma de viajantes.

Rosa Maria Duarte










As cores do Afeto
Rosa Maria Duarte
Óleo s/tela
30x40





domingo, 22 de janeiro de 2017

Autobiografia (página 17)








Em Alcântara, quando o clube de futebol do Atlético subia à primeira divisão, havia sempre alarido. Digo alarido porque eu nunca entrava nas festas na sede do Atlético. Apenas me apercebia nesses dias da animação na zona do largo de Alcântara. Quando ainda existia a rotunda que confluía o trânsito de todas as artérias e gerava caóticas acumulações de trânsito; era sempre uma zona com um trânsito muito nervoso.
Assim que via chegar os cabeçudos ou gigantones, ficava cheia de medo. Mal me lembro porquê, mas acho que era muito pequenina quando um cabeçudo se chegou à minha carita assustada. Desde então fugia quando se aproximavam, aquelas cabeças feitas de pasta de papel muito engraçadas e que hoje se podem ver no museu de etnologia em Lisboa.
Mas de resto, nunca fui muito medrosa. 
Gostava de me aventurar. Dar braçadas no mar até longe. Fazer explorações, ou seja, ir vascular sítios e coisas. Fazer viagens. Conhecer...
Não era friorenta. Andava sem casaco no inverno. Gostava de andar à chuva (por isso andava com frequência com o pingo no nariz).
Não tinha medo de animais. Gostava de me aproximar, fazer-lhes festas e, às vezes, conversar com eles.
Gostava de dançar e cantar pela casa. Imitar estrelas do rock.
Em casa dos meus pais, enquanto eu lá vivi, não havia telefone. Tudo o que havia para resolver ou conversar, tinha que ser pessoalmente, quando era possível. Então o dia era ocupado facilmente com poucas coisas. Mas mesmo assim não me pareciam curtos, os dias. O tempo para mim andava devagar. Sobretudo quando eu queria que chegasse um momento importante. Até lá, punha-me a ler o Diário Popular que o meu pai comprava todos os dias e punha em cima da mesa da sala, depois de almoço.
Um dia combinei com uma colega minha de Carcavelos ir ter com ela à estação, logo de manhã, para irmos à praia. Ela foi de propósito a minha casa em Alcântara para combinarmos, porque eu não tinha telefone. Estávamos então nas férias grandes.
Eu estava muito entusiasmada com essa saída. 
Durante a noite ouvi uma chuvada muito forte. Mas como estava estremunhada, não liguei.
Ao outro dia de manhã, a minha mãe disse-me que não valia a pena ir porque estava frio e chuva e não dava para ir à praia.
Eu fiquei com muita pena. 
Calculei que a minha colega Manuela nem saísse de casa com aquele tempo, mas como não a tinha avisado, porque não podia, fui de propósito à estação de Carcavelos.
O progresso tecnológico tem inegavelmente as suas vantagens (que desvantagens já sabemos que sim).

sábado, 21 de janeiro de 2017

Relembrar o livro que pensei com o 11º D (ano letivo de 2012/2013)

NÓS SOMOS O QUE ESCREVEMOS



PREFÁCIO

A minha formação académica, e julgo também a moral, têm sido trabalhadas na área das Humanidades, o que reforça a minha vontade de fazer aqui a devida honra na abertura desta coletânea de textos literários aos meus alunos do 11ºD, saudando-os comovidamente a todos, e a cada um em particular, pela ousadia de corresponderem ao desafio de caminharem lado a lado na senda das palavras embebidas de sentimentos e questionamentos, celebradas por um consentimento autoral coletivo.
Estes são os rapazes e as raparigas da única turma de Humanidades do 11º ano da nossa escola deste ano letivo que querem ser mais que bons comunicadores: querem aprender a revestir cada palavra da sua poeticidade e dar-lhes o brilho que a língua portuguesa merece e respira. Para os alunos que ainda não alcançaram o desejado manejo desta multifuncionalidade, vai uma especial palavra de alento, de agradecimento pelo esforço e pela coragem de mostrarem os seus tímidos passos nesta longa, porém saborosa viagem pelo mundo surpreendente e deslumbrante que é o da criação literária. Na certeza, porém, de que a escrita na literatura é garantidamente amante do inédito e do contemplativo, mas também, e quantas vezes, do solidário e do interventivo, que homenageia a realidade e a humanidade pela observação crítica de outros mundos mais pragmáticos ligados à política social e cultural, à sociologia étnica e financeira dos povos, ao pensamento, à invenção…
A juventude continua a ser prometedora. Mais instruída. Mais familiarizada com o progresso. Cabe-nos a todos nós, educadores, pais e professores, orientá-los e ajudá-los no caminho do investimento individual, cooperativo e associativo.
Escrever é uma forma de marcar presença em cada espaço de identidade, neste caso na sua escola, alargando esse ato de escrita a todos os lugares e a todos aqueles que queiram participar deste seu projeto, lendo-os e encorajando-os.
Apreciar os seus textos, naturalmente também pela devida cumplicidade didática, é valorizar um processo que pode continuar os seus propósitos criativo, pedagógico e recreativo em futuras produções e publicações.
Com o mesmo espírito de liberdade que presidiu entre nós à ideia da construção deste livro, me despeço com a humildade partilhada e a muita alegria consumada.


Laranjeiro, 30 de abril de 2013
Rosa Duarte
(profª de Português)

Adilson Semedo

Angústia

Dor indescritível, sentimento que me corrói
Incertezas que me atormentam, certezas que procuro
Longe de ti sinto-me perdido
Perto de ti questiono-me sobre tudo,
Tudo o que sinto é meramente tristeza.
Perco-me nos teus olhos, perco-me nos teus suspiros
 O teu silêncio e a tua incerteza são uma tortura.
Será que esta angústia não terá fim?
Questiono-me inúmeras vezes.
Fizeste-me acreditar no amor e na felicidade,
E tudo o que sinto neste momento é dor e angústia.
Quando tudo parece desabar,
Com um simples toque, com uma simples reação tua
Tenho certeza do que quero e do que desejo.
És passado e és futuro mesmo que não sejas presente.





Ana Sousa

Viagem a terra de sua majestade

Ainda faltava uma semana para as férias da Páscoa, mas para mim as aulas terminaram mais cedo. Efetivamente no dia 10 de março, depois de ter sido acompanhada ao aeroporto de Lisboa pela minha família, embarquei com um grupo de colegas da minha escola e com duas professoras de Inglês para a tão esperada viagem ao reino de sua majestade. O meu estado de espírito era um tanto contraditório: por um lado estava muito contente por finalmente se ir realizar a tão sonhada viagem, por outro lado ansiosa e insegura porque pela primeira vez ia andar de avião. Ia deixar o ninho materno e paterno, ia para uma terra estranha, onde não conhecia ninguém e onde ia por à prova o meu inglês. Felizmente a minha ansiedade começou logo a dissipar-se mal o avião levantou voo e o meu batismo de ar correu lindamente!
O destino era Londres, e lá cheguei sem nenhum contratempo. Ao pisar pela primeira vez as terras de sua majestade, o primeiro impacto foi um choque térmico: estava um frio sibérico! Porém, lá resolvi o problema vestindo roupas mais quentinhas.
Foram cinco dias maravilhosos de descoberta, de aventura e de aprendizagem. Visitei os sítios mais emblemáticos, passei no famoso Hyde Park, e por algumas ruas londrinas, fiquei deslumbrada com o museu de cera, dei uma voltinha no London Eye, do topo do qual pude ter uma vista deslumbrante sobre a cidade e testei o meu inglês acabando por descobrir que afinal a aprendizagem desta língua tinha sido muito útil pois os súbditos de sua majestade a quem tive que me dirigir, perceberam-me perfeitamente!
Ao sexto dia e infelizmente lá tive que fazer as malas arrumando carinhosa e cuidadosamente os “souvenires” para a família e regressar à pátria.
Foram cinco dias inesquecíveis e espero um dia poder voltar com mais tempo à bela cidade do Tamisa.





Ainda faltavam meses para a partida
E eu receava abandonar a familiar guarida
Mas no dia da saída
Mostrei-me destemida
E a viagem foi muito divertida!

Por lá havia aquela brisa!
Cumprimentei o rio Tamisa
Mas fiquei um pouco indecisa
Em usar aquela língua tão concisa!

De autocarro, de metro e a pé muito lá visitei
E todos os segundos ao máximo aproveitei
E por isso poucas horas dormitei.

Tudo por lá adorei
Mas o meu país nunca abandonarei!







Artimiza Biai

Criança

Ser criança é a melhor fase da nossa vida. É aquela em que somos ingénuos e inocentes, é aquela em que não temos a noção das coisas, é aquela fase em que vemos tudo com outros olhos e em que gostamos de sentir o tempo a passar.
Agora eu gostava que o tempo retrocedesse para poder voltar a ser criança e fazer as traquinices e continuar com um sorriso na cara e um brilho nos olhos.
Mesmo ainda jovem, já sinto saudades da minha infância.        







A ironia do destino

É muito engraçado como a vida é
As voltas a que ela nos leva
A ironia com que ela nos faz vê-la 
Mas tem que se a seguir

Segue o teu destino
Não olhes para trás
O caminho é à frente
Porque assim é o certo

O destino é severo
Sejamos nós indulgentes
 O que é preto talvez não seja escuro









Artur Fino

A realidade feita pela Walt Disney

Vivemos enfeitiçados na história do amor perfeito, aquela história dos príncipes encantados, de passeios a cavalo na praia, de beijos à chuva, de noites ao luar e promessas momentâneas. Somos levados por sentimentos intensos, mas ainda assim precoces que nos impossibilitam de distinguir e entender o conceito de amor, a atração pelo aspeto físico e pelo esforço inicial de agradar, acreditamos conhecer alguém com quem pouco privamos, sentimo-nos traídos quando a atração e esforço se dissipam, mas afinal, o erro foi nosso.
         Esperamos sempre mais dos outros do que de nós e achamos dar sempre mais do que recebemos, isto porque o amor não é perfeito, os príncipes não existem, os passeios a cavalo e as noites ao luar são exageradamente fantasiadas e as promessas são quebradas.
         Uma frase já muito gasta é a de que se vê pessoas, mas não se vê humanidade, e é com esta frase que me confundes, que me iludes mas apaixonas. Não és certa como as horas nem inconstante como o tempo. És algo que ainda não encontrei no meu dicionário, por vezes vejo-te humana, sendo tu algo que me apaixona, mas outras tantas vezes perco-te nesta multidão, sendo tu um mero pingo num vasto oceano de gente. O teu reluzente brilho sobressai e ao mesmo tempo ofusca-se em palavras e gestos teus, ora és tudo ora és nada, és quem mais perto tenho do que preciso, mesmo não te tendo. Tenho-te em mim e tu tens-me em ti, não sabemos, não dizemos, contemplamos somente momentos nossos sem nos apercebermos que o são. És meramente inspiração de palavras e és tu inspirada por quem as escreve. Soubesse eu quem és, soubesses tu quem sou... e o "para sempre" não seria imaginação dos contos da Walt Disney.  São apenas verdades minhas, conceitos meus e pensamentos do mundo.




O outro lado da janela

Não sei se é o vidro da janela que me impossibilita ou se é o mundo que me impede de viver além da janela. Desconheço o que os move... Acreditam eles que é o sonho do futuro, justificam-se e quantificam-se com o vazio numérico. Reprodutores exímios dos que tendem a movê-los num completamente louco mundo jogo viciado. Uns, viciados em jogá-lo, outros porém apenas se movem ao sabor do vento mas jamais contra ele. Não comem ou emitem mais do que palha, a barriga e a mente cheia não os deixa comer ou pensar do outro lado da janela. São meros pássaros sem asas, carenciados de orgulho e pensamento próprio.







Falar é fácil

Vejo nos teus olhos, toda a raiva, guerra, sede, fome, desespero, tristeza, toda a tua (vossa) revolta. Oiço todo este silêncio que deixas de agonia, de dias e noites de dor… vives o que a sociedade produz (nada), todos falam, opinam, poucos ajudam. Já não sorris, já não choras, já não sentes nem vives, és, mero boneco dos “gigantes” deste mundo, escravo de uma sociedade sem cura. Estás num jogo de roleta russa, com balas em todas câmaras de um tambor de uma pistola, és inocente. Admito, também eu sou, um mero espectador deste mundo obscuro, mas não me gabo de algo que não fiz, boas ideias temos todos, mas há quem seja “escravo da preguiça”.
Ensina-me o que é ter fome, sede e fraqueza que eu ensino-te a viver, sorrir e sonhar. Tive sorte, nasci no lado certo do mundo, e tu?



  



Firmeza

Deixa-te de truques e fintas, a vida é simples, não compliques o que é fácil, mete os teus medos para trás e encara o adversário, por mais complicado que te pareça, nada será mais forte e persistente que a vontade. Valoriza-te a ti e aos teus feitos, vive os momentos e recorda alegrias, relembra também as lições de tristeza de momentos mal passados, desenvolverás capacidades e descobrirás em ti, um novo eu. Porque todos temos valor, mas nem todos sabemos como aproveitá-lo.







Bruno Rodrigues

Lógica e Razão

Porque talvez nos tenhamos esquecido de onde vimos, mas apenas nos concentramos para onde vamos, e onde queremos estar, apreciar sempre o momento através de emoções, e não através da razão e da lógica, onde tudo se centra, certo que temos que utilizar tudo, mas de forma razoável e não em demasia. Sei bem que a estupidez é igualmente para ser utilizada, mas apenas em brincadeiras, e não como uso diário, que por vezes até ''cheira mal'', e como se diz o que cheira mal não presta, mas não podemos viver num mundo de ilusões, sem pensar pela nossa própria cabeça, onde aparências reinam e descriminação é a rainha de toda a estupidez.
Sei bem o que estou a dizer aqui, pois lido com coisas que hipoteticamente ''cheiram mal'' todos os dias, e a estupidez nas cabeças de hoje em dia tem que ser reduzida, pois quem perde a lógica e a razão, perde tudo.
Pensar acima de tudo, medir as consequências daquilo que dizemos, daquilo que fazemos, não viver à base da emoção e da experiência, essa não nos garante conhecimento, o que nos garante conhecimento é a razão e a lógica, questionar o porquê das coisas, serem desta forma e não de outra.





Débora Guerra

Um dia

Sempre que vivo, sonho
E sempre que sonho, vivo
A vida é uma constante mudança
Mas nunca devemos perder a esperança

Um dia vou conseguir
Tudo o que sempre desejei
Surpreender aqueles que eu até hoje amei
E com uma lágrima os deixarei

Quando queremos algo alcançar
Devemos de arriscar
E desse modo poder evoluir,
Quem sabe progredir

Um dia serei feliz
Com tudo aquilo que sempre quis




Carta para o melhor amigo

Guarda. Guarda contigo tudo aquilo que eu te dei. Guarda todos os carinhos, mimos, festinhas e abraços.
Guarda os beijos grandes nas tuas bochechas gordas. Guarda, os sorrisos e as lágrimas que já partilhamos. Os olhares, a cumplicidade e até os nossos simples gestos de mãos. Guarda... Guarda também, as coisas más. As nossas conversas sérias, os nossos telefonemas que acabavam em lágrimas. Guarda, as nossas diferenças, guarda as minhas teorias, guarda as nossas "discussões" (se é que alguma vez existiram). Guarda, as nossas fotos, as nossas músicas, os nossos vídeos. Guarda...as cartas, os desenhos, as prendas. Guarda os meus segredos, confidências, medos e desabafos. Guarda, cada momento nosso. Os passeios pelas ruas, as conversas no nosso banco, a beber coca-cola. Guarda, os jantares, almoços e os lanches.
 Guarda bem, guarda só para ti e não deixes que ninguém te tire... Sabes porquê? É que tudo aquilo que vivemos nestes anos, ainda foi só um terço daquilo que temos para viver... É que eu e tu temos muito para contar aos meus filhos, que vão ser os teus afilhados, e aos meus afilhados que vão ser os teus filhos.
Eu também vou guardar, vou guardar cada palavra tua, cada segredo teu, cada história tua. Guardo também, as tuas brincadeiras. O teu sorriso e o teu olhar...
Sabes, as vezes parece que ainda consigo te sentir ao pé de mim, como se me tivesses a abraçar como a última vez, consigo também imaginar a tua voz a soar-me no ouvido e o teu riso... e sabe tão bem.
Ninguém sabe, mas tudo isto conforta-me nos momentos em que mais preciso de ti e estás a km de distância… De uma forma ou de outra, nunca deixarás de ser o meu porto de abrigo. De alguém que te ama, de alguém que te admira, de alguém que te venera…



Erica Gomes

Um pequeno ser

No decorrer do tempo nada notei
Fui tão longe como tão perto
Caí várias vezes e chorei
Tinha saudades daquele monge
Ele era pequeno, era um pequeno ser
No primeiro dia que foi à escola
Estava cheio de pressa para o seu lazer
Estar com os seus amigos e jogar à bola
Olhou em redor tudo mudou
Já não era quem era
Ele cresceu o tempo avançou
As flores floresceram chegou a primavera
Fui passear senti um cheiro a mar
Quero ser grande terei que crescer
Neste belo dia que só quero sonhar
Afinal sempre fui um pequeno ser.

                                                                                                                                                                 




Inês Santos

O grupinho lá de trás

Há pessoas que não consigo descrever
De tanta estupidez, não sei o que dizer.
Os meus dias sem eles não eram nada
Animam-me com uma simples gargalhada.

Não há aula em que não nos mandem calar
Às vezes nem somos nós e dizem que estamos a falar
Somos uns santos e só queremos paz
Os professores dizem que o barulho vem lá de trás.

Nem sempre atentos, nem sempre com boas notas,
Não somos bons alunos, é o que dizem as nossas cotas
Não estamos dentro dos melhores, mas também não somos umas pestes
A nossa inteligência não se mede só nos testes.




Isaque Jesus

Hope never dies

I can really say
That your beautiful smile
Is more like a missing file
But it’s fading away
Every single day
I swallow my sorrow
All I can think today
Is to see you tomorrow
Even though I know
You’re only in my mind
I always keep my head low.

I still hope to find
My soul mate someday
‘till then, here in my bed I lay.


  

Felicidade

O que todos procuramos
Sejamos ricos ou pobres
Tristes ou nobres
A felicidade é o que mais desejamos
Mas, será esta felicidade alcançável?
Ou será apenas uma ilusão,
Uma longa escada inalcançável
Um caminho preenchido de escuridão
Escuridão esta, tão negra e sombria
Mais ainda que a noite
É como se levasse um açoite
Mas, não é a penumbra que eu queria
O desejado, não é sofrimento
Nem ser condenado sem julgamento
Será só meu este sentimento?
Ou terá alguém este pensamento
Também desde o seu nascimento?
De que vale toda esta vida
Se há gente até sem comida
Tanto desagrado com que a gente lida;
Serão estes apenas versos soltos ou uma alma destemida
Terei eu afinal uma mente desprovida?
A felicidade é o mais complexo
Nem tudo na vida tem nexo
Somos frutos apenas do sexo
No espelho só vemos o nosso reflexo
Mas a nossa imagem é apenas um quadro desconexo
De que vale viver se não há escapatória
Nascer para morrer não tem qualquer glória.


Jéssica Rebelo

Nada tem nexo
Neste Mundo perplexo
Onde o teu aspeto é o teu reflexo

E em cada verso
Que eu me expresso
E me questiono porque é que eu rezo
E o porquê deste mundo ter curiosidades em excesso


  



João Marques

Quero escrever versos,
Versos de amor, de ironia,
Quero preencher todos os espaços,
Desta folha vazia.

Quero, ao escrever,
Ser completamente livre,
Lembrar-me do que quis ter,
Mas que nunca tive.







Luís Geada

Não devia interessar como se age no momento,
A maneira de o viver,
Não devia interessar como se revela o sentimento,
A maneira de o dizer.
                          
 Não devia interessar o idioma quando o significado é semelhante,
Não devia importar pois tudo significará amo-te,
Se digo, love you,  je t’aime, saranghee,
Porque no fim quando se ama tudo que se diz é importante.

Não devia interessar a maneira de se expressar,
Se o digo pessoalmente,
Se o digo por uma carta,
Não devia importar se o faço a chorar,
Não devia interessar se o faço sério ou a sorrir,
Pois sentimentos de dentro nunca sabemos como irão sair,
Não devia importar se o digo por meio de uma prosa ou uma canção,
Não devia interessar como se revela o sentimento,
Desde que cantes o que vem escrito no coração.

Não devia interessar se o digo a ver a lua ou o teu reflexo na água salgada,
Afinal faço ambas quando encaro o teu olhar,
Pois é onde consigo apreciar a sereia do meu céu,
A lua do meu mar.




Mafalda Garcia

Polly the poor pathetic parrot

Polly the parrot born a pet
Placed on a prison above a price tag at the reception
A plausible product to possess but forget
Perhaps, but one person was the exception

Pulled from his primogenital place
Polly was put on a paradisiacal palace
With a puppy has partner he was left near the vase
Problem was this place packaged malice

For poor Polly was the plaything of evil
He possessed no protection, only pathetic powerlessness
And when fed the pesticide poisoned pear
He passed away and his eyes lost the glare

Polly was properly powdered, polished and pasted
Processed by a professional, no part wasted
Placed in a perpetual position
By a proud psycho for an exhibition



Nada

Eu sustento a tua mentira
Sustenta também o meu teatro;
Chora a tua alma ferida
Como chora também a minha,
Bem sei que chora por nada
E por nada se deixa despedaçar.
Este nada meu,
Este nada teu,
Este nada que é mágoa
E nos afunda neste mar.
Esta música que nos acompanha
E nos faz tropeçar
Mesmo que em nada.






Para nunca mais voltar

Por terra ou por mar
Partes para não mais voltar
Não há adeus, não há nada
Apenas um aceno que se perde na viagem.

Grita o meu peito por ti
Vem… vem calar a dor!
Embala-me nos teus braços,
No teu colo, em ti!
Dispo-me do meu escudo de aço
E deixo-te entrar em mim
Para que possas desarrumar tudo
E por fim partires mudo
Por terra ou por mar
Para nunca mais voltar.


  

Mara Vidal

Sabes aquele momento em que tens uma tremenda vontade de chorar, em que ficas com uma triste solidão dentro do peito como quando não consegues evitar de chorar, e pior, quando isso acontece em frente a toda a gente, mesmo daqueles que tu não querias que te vissem assim, dessa forma, em que as lágrimas te correm pelo rosto.
Lágrimas doces, puras, que expressam o maior sentimento, o mais puro, aquele que consegue demonstrar algo que nunca ninguém viu sem seres tu. Eu já passei por isso, e é desagradável, mas por vezes necessário para a vida continuar para a frente.
Existem vários tipos de choro, o de raiva, o de felicidade e o de tristeza, que é o mais utilizado hoje em dia.
Mas como já disse, chorar é importante, e isso leva-nos a sítios que nunca fomos.





É só hoje

Não tem importância é só hoje;
Amanhã o Sol vai brilhar e aquecer,
Enquanto esta agonia de mim foge,
Prometo que não voltarei a entristecer.

Sim, é só hoje que cai neve.
Amanhã o sol brilhará com fulgor
Iluminando as nossas almas ao de leve
Como se fosse a abertura duma flor.

É só hoje, e vai passar depressa
Este frio ativo que nos fere a alma.
Esperemos que o vento não se esqueça
De mudar para o quadrante da calma.

Sim! Amanhã, amanhã será o dia
Em que o Sol vai brilhar e aquecer,
Suave, o perfume das flores erradia
Nestas encostas e vales, quando o Sol nascer.

Amanhã é o dia reservado ao Amor,
E a fragrância das flores confunde-se na maresia.
Amemo-nos pois, e com todo o ardor.
Que felizes seremos, sim amanhã é o Dia.

...EM QUE HAVERÁ MAIS CALOR...


  

Márcia Oliveira


A vida às vezes é muito injusta, e as pessoas deviam dar mais valor àquilo que tem, por mais frias que sejam. Cada dia que passa, vejo cada vez mais pessoas a "desprezar" aquilo que lhes é dado. Vejo cada vez mais inveja na nossa sociedade, uns querem ter aquilo que os outros tem, e fazem-no da maneira mais hipócrita, e aqueles que lutam pelos seus sonhos com uma força incrível, tem resultados muitas das vezes negativos. O problema é a autonomia. Toda a nossa vida será sempre assim, injusta. Uns terão sempre mais que os outros.


  



Insegurança

 

Medo? Todos sentimos. Todos sentimos medo de qualquer coisa, de perder quem mais amamos, de perder "algo" que nos seja essencial, que nos completa. Às vezes o medo que sentimos faz-nos ver quem são as pessoas que estão sempre do nosso lado, e que ao mínimo deslize nos "segura", apoia, nos garante que somos fortes o suficiente para arrecadar a dor sentida. O medo ajuda a crescer e a enfrentar problemas no futuro que sabemos que iremos sofrer, e que já temos "ideia" de como lidar com eles.


 

 

Não se olha a meios para atingir fins

 

Falo de falsidade, cinismo, hipocrisia. Defeitos do ser humano! Parece ser já uma das grandes necessidades do Homem. Capazes de tudo só mesmo para ficarem "bem na fotografia"!  





Nada é certo


Todos vivemos num mundo cheio de incertezas, nunca sabemos o dia de amanhã.  
Infelizmente, vivemos sempre na dúvida toda a vida, sempre com receio que o mal chegue quando menos esperamos, que o mundo desabe em cima de nós, e como ser humanos que somos nunca estamos "prevenidos" para tal.
A vida é uma caixinha de surpresas boas e más!

"VIDA: BELEZA SEM FIM!
Faz parte da vida as surpresas,
Faz parte da vida as incertezas,
Faz parte da vida as decepções,
Faz parte da vida o sofrimento,
Faz parte da vida conscientizar-se da vida...
Faz parte da vida as decisões,
Faz parte da vida usar de boas intenções,
Faz parte da vida a perseverança...
Faz parte da vida a bonança...
Faz parte da vida as discordâncias...
Faz parte da vida o respeito ao outro.
Faz parte da vida procurar melhorar-se,
Faz parte da vida doar-se,
Faz parte da vida ser autêntico,
Faz parte da vida sentir a vida do outro,
Faz parte da vida sentir o outro na sua vida,
Faz parte da vida, a vida do outro sair da tua vida...
Faz parte da vida entristecer-se...
Só não faz parte da vida sentir tua vida sem vida, quando tua vida é uma parte da VIDA que forma esta BELEZA SEM FIM!" (José Guilherme)




Miriam Pereira

Saudades

Se eu pudesse voltar atrás
Se eu te tivesse dito o que és para mim
Se eu soubesse que ias partir
Dir-te-ia inúmeras coisas, mas...
Quero pensar que estás num sítio melhor.
Hoje, tenho saudades...
Tenho saudades quando brincavas comigo...
Tenho saudades quando ralhavas comigo...
Simplesmente tenho saudades  




Patrícia Santos

Before I die….
I want to travel the whole world and enjoy every second, minute, hour of life !   
I want to be a child again and remember all those times when I  used to have no problems, no responsibilities, and so I would have by my side those who always loved me with all their heart and soul and that today are no longer here to support me, to make me laugh…
I want to spend my time with those I dearly love, and stop thinking that one day they won’t be here anymore. We were meant to lose the people we love. How else would we know how important they are? All the people, all the events of our life are there because we created them. What we want to do with them is up to us.
I want to do something instead of killing time, because time is killing me. I feel that I’m not living my life as other people do. I can’t stand it to think my life is going so fast.
I want to figure out who I am separate from my family and the person I’m in a relationship with, finding who I am in this world and what I need to feel good alone.
I want to do something crazy, it could be skydiving, and feel the adrenaline go through my veins.
I wish I could erase all the sadness in the world, helping as many people as I can, and make a difference.
And last but not least, I want to enjoy my youth. I’ll never be younger than I am at this very moment, right? I think we all should enjoy the power and beauty of youth, without destroying ourselves.

But if I can, I swear that I
Will do all this before I die…

Livre

Finalmente estou em casa
E tudo ficou para trás
Voltei para dizer que estou livre
De todos os teus julgamentos

Ainda não sei para onde ir
Mas sei que não quero voltar
Nunca mais terei culpa
Por tudo aquilo que não fiz

Acho que não sentirei falta
Do fardo do julgamento
Tudo isso não passa de uma aberração
Que dizias sempre que nunca tinhas intenção

Mas agora estou livre
Para viver no meu mundo estranho
Sem ter de te dar explicações
De tudo aquilo que tenho

Fui por esse caminho
Pensando que eras diferente.
Quase um conto de fadas
Que acontece com toda a gente

Sorrisos escapam e se perdem
Na medida em que eu procuro palavras
Que já não se formam,
Que já não se esquecem…




Ricardo Cardoso

Today

Today I felt something new
Something
marvellous,
A new feeling,
Something that I can't describe.

A love that is so intense,
A love that can't ever be destroyed
A love between you and me.

A sensation, a feeling,
A belly hurt, an earth between us.
It's simply stupid see two people
Who love each other not being together.

A simple poem, that does not rhyme
That makes no sense, but expresses feelings.






Perdido num Beijo

Perdido num beijo eu fiquei
E nele me concentrei
Nele me refugiei
E nele confiei.

Enquanto te beijava sorria
Enquanto te amava, tu ignoravas
Tudo parecia perfeito no momento
Mas a tristeza veio e deparei-me com este sentimento.

Amor eu te pedi, para ficares comigo até ao fim
Mas tal não aconteceu, e tu partiste
Amor chorei por ti,
Lutei por ti.

Mas por fim desisti
Deste amor que não merecia este fim
Ingrato
E desesperado.




  

Nasceste, viveste e morreste
Tal como toda a gente o faz,
Não foste nenhum famoso,
Mas para mim foste a pessoa mais forte.

Cresci, sorri, chorei
Cresci contigo, chorei contigo e sorri contigo
Eras avô, eras pai eras tudo.
Acima de tudo eras o meu avô.

Três meses, adoeceste e por fim morreste
Sei que isto soa um bocado mórbido
Mas é aquilo que acontece.
Partiste, e nós ficámos.

Amei-te e por vezes odiei-te,
Mas acima de tudo idolatrei-te
És quem me faz mais falta.
É sozinho que faço o meu luto.

Mais valia não fazê-lo,
Porque te condeno uma coisa,
Apenas uma de todas as que eu te perdoei.
Não me deixaste despedir.

E com tristeza te deixo esta mensagem,
Duas únicas palavras te consigo dizer 
Num sussurro e agora digo-tas
Amo-te Avô                             






Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.
Albert Einstein


Todos dizemos que temos amigos, conhecidos, amores, ódios, tudo... Amigos que bela palavra que muitos de nós dizemos em vão, e a maior parte das vezes arrependemo-nos...
Eu sim, sim já me arrependi muitas vezes de ter chamado amigo, ou mesmo amiga a muita gente...
Amiga, amiga é a minha barriga e mesmo assim essa às vezes ainda me magoa...
Um amigo verdadeiro é aquele que mesmo que nos tenha que dar uma facada para nos salvar dá, pois sabe que vai ser para o nosso bem. Este exemplo pode ser algo exagerado, mas é a verdade...
Tenho um ou dois amigos verdadeiros, e mesmo assim um desses me pode desiludir muito rapidamente...
Gostava de saber porque é que existem pessoas cujo seu único objectivo de vida é magoar-nos, é mandar-nos a baixo...
Aquilo que nos devemos perguntar quando pensamos é: És meu amigo realmente?! 

  


As aparências iludem...

Se formos a ver nem tudo é como nós imaginamos, nem a menina que parece mais feliz o é, ou aquela rapariga que é muito magra é anorética ou sofre de bulimia, e até mesmo aquele rapaz que é considerado o ''machão'' o é, temos várias ilusões e aparências daquilo que não existe, ou até mesmo exista.
Se convivemos com as pessoas, e nos preocupamos com elas minimamente, devemos perguntar, tudo bem, mas não de uma maneira invasora, conheço pessoas que têm mais de 150 cortes em cada braço e cada vez que eu pergunto se essa pessoa se voltou a cortar, ela responde que sim, mas na escola chamam-lhe de tudo, desde ''puta'' (peço desculpa pelo palavrão), ''cabra'', tudo, e cada vez é mais cortes e cortes, não julguem as pessoas pelo que vêm ou pensam que vêm, porque ninguém sabe a vida de ninguém, todos nós sabemos que as raparigas são as que por vezes recorrem mais ao corte, mas rapazes também sofrem disso, mas é algo mais interior, mais mental... Nunca se esqueçam, não façam aos outros aquilo que não querem que vos façam a vocês.
Enquanto tiverem com os vossos amigos e virem que eles estão mais em baixo, perguntem-lhes o que se passa, mesmo que eles não queiram contar, deixem-nos chorar ao vosso ombro, pelo menos isso.





How many times we've lied to ourselves about our own feellings?

Quantas vezes já nos mentimos sobre os nossos sentimentos, eu já, e bastantes vezes, sim porque sou relembrado que sou isto e aquilo, que não consigo isto e aquilo...
Mas o melhor que eu tenho a fazer é erguer a cabeça e demonstrar que sou superior a pessoas que me tentam mandar a baixo.


  

Promessas

Algumas feitas em vão
Outras não
Algumas sentidas
Outras descabidas


Todos nós já prometemos algo, mesmo que não o tenhamos cumprido, mas prometemos, e não está certo prometer algo que nunca o iremos cumprir...
Temos que nos mentalizar que prometer amor eterno já não é possível pois com as relações de hoje em dia, acho que já não podemos prometer nada mesmo, a não ser amor a nós próprios e mesmo assim é complicado comprometer-nos connosco.

I would like to lay down on the grass, with my head over your stomach, say pretty words just to put your mood up, and make you happy...
But remember, don't disappoint me...




         



Novamente confiei em ti e traíste a minha confiança, disseste que nunca mais irias falar comigo e etc...
Como se costuma dizer, "À primeira caímos, à segunda cai quem quer, à terceira cai quem é parvo".
Bem, eu já vou na quarta queda e parece que não aprendo, avisaram-me das tuas atitudes de garota mimada, de que me irias fazer isto e aquilo e confiei em ti, mas tu desiludiste-me outra e outra vez, em que eu também sou o culpado, deposito demasiada confiança em certas pessoas que não devia, e defendo-as a todo o custo, mas não fazem o mesmo por mim. Eu já fui apunhalado nas costas, tu já foste também, mas não faz com que tu me tenhas de fazer o mesmo, uma e outra vez.
Obrigado a sério, pelos bons e maus momentos, mas a minha amizade contigo acabou, e se voltar a haver alguma um dia destes, terás que te esforçar muito para a reconquistar agora, se já confiava em pouca gente, todos perderam a minha confiança, simpatia e serenidade. Agora eu serei uma pessoa amarga e gélida com intuito de não puder ajudar ninguém seja de que forma for.




  


Ruweidah Jamal

O mundo em que vivemos
   
Talvez o mundo não precise de alguém assim, espontânea, divertida, verdadeira, sincera, estúpida, transparente e muito menos sem papas na língua. Parece que ultimamente procuram pessoas vazias, desde que tenham boas curvas e roupas da moda.
Enquanto que no meu mundo, aquilo que existe são sorrisos sinceros e olhares que transmitem felicidade, eu com os meus e os meus comigo sem misturas. Sem grandes capas, sem grandes floreados. Completamo-nos deste jeito e assim serei feliz.
 

  

Sandra Freire
               
Falta de vocês próprios

É essa vossa falta de personalidade que me assusta. É esse vosso desejo de quererem ser todos iguais, de quererem ter todos a mesma coisa que me intriga. Por vezes sinto-me tentada a ser como vocês, a querer seguir esse típico pensamento em manada que vos move, em que o que um faz todos têm de fazer igual. De facto, é bem mais fácil deixar que os outros pensem por nós e seguir a corrente do que nadar contra ela.
Fazem de tudo, e quando digo de tudo é mesmo de tudo para ser conhecidos, para alcançar a fama, não interessando se essa fama é por coisas positivas ou negativas que fizeram, o que vos interessa mesmo é que as pessoas falem no vosso nome, que saibam quem vocês são. Esquecem-se completamente de uma coisa muito importante, que o anonimato é a chave do sucesso.
Como alguém alguma vez disse: a sorte pertence aos audazes, àqueles que arriscam, que não têm medo da diferença, de pensar e agir diferente dos outros.
Olho em volta e tudo o que vejo são pessoas iguais, pessoas que já há muito tempo deixaram de ser elas próprias para agradar aos outros.
E o que nos distingue dos animais, a capacidade de raciocinar deixou de funcionar em muita gente há muito tempo, pois esses, os animais, apenas se preocupam com as necessidades mais básicas e com o corpo. Para mim, vocês são tal e qual os animais, o que mais vos importa é o que vestem, e a vossa cabeça só serve mesmo para usar cabelinhos esticados e bonés de marca.
Por isso peço-vos, façam esse favor a vocês próprios: acordem para a vida, tentem mostrar quem são e não o que os outros querem que vocês sejam. Fica o conselho...







Sonhos de uma garota apaixonada

É esse brilho no olhar, esse sorriso de uma ponta a outra que me fascina. São as tuas particularidades, cada pormenor, cada parte de ti que me faz suspirar. Já tive medo de amar, hoje agradeço por ser amada. Oxalá encontrasse um para sempre contigo neste acaso da vida, e que, por momentos, muitos mais ficasse nos teus braços. Que este sonho passasse disso e que se tornasse na mais feliz realidade. Porque acredito que juntos podemos fazer a diferença e encontrar o tão inesperado caminho da felicidade. Porque não existe nada melhor que passar uma eternidade, seja isso o que for, onde for, o tempo que for, ao lado de quem se ama...







Pormenores

Um arrepio que te percorre a espinha. Um olhar que te deslumbra. Um gesto de bondade que te impressiona. Uma palavra que te emociona. Uma carícia que te conforta. Um sorriso que te leva para outro mundo. Um tempo que desaparece. Um beijo que não esquece. Um amor sem explicação. Detalhes que fazem toda a diferença.





Preste atenção:


Você nem sempre vai ter aquilo que quer, nem sempre vai receber elogios e aplausos. Vai acontecer muitas vezes ser rejeitado, vai ter muitas oportunidades para brilhar e muitas outras para fracassar. Vai querer agradar a tudo e a todos, vai querer ser melhor que ninguém e vai também perceber que antes de querer agradar os outros tem de agradar a si próprio. Na vida tudo o vai mudar e você vai ter de entender que o ensinamento mais importante que vai aprender é que é você que traça o seu rumo. Cada sonho que tiver só se irá realizar se realmente o desejar, se a sua força for maior que o seu conformismo, se tiver a coragem de se superar. Não espere nada de ”mão beijada”, não fique a pensar que a sorte é só para os que a têm e que você não faz parte desse grupo e mostre para você mesmo que é para os que querem. A sua existência vai depender das suas acções e não desperdice um tempo tão curto como este de viver. Marque a sua presença, mostre o que vale, faça algo de positivo e destaque-se dos demais. Porque afinal, esta pode ser a sua única oportunidade…


  


Tânia Baltazar

A amizade do Sol e da Lua

Rompem-se as nuvens no céu estrelado,
Alastra-se a vontade de gritar,
O Sol observa ao longe calado,
Ouvindo o som do lindo luar.

A fada acorda do seu sono encantado,
Com a sua harpa de sonho a tocar,
O Sol a dormir…sonha deliciado,
Visionando ao longe o acordar.

Erguer-se um novo céu…a nevar
De noite e durante a madrugada
O Sol mantém-se tapado a sonhar
Com as estrelas e com a sua amada.

Ouve-se de longe um galo a cantar,
Descobre-se o nascer de um novo dia,
A Lua vai-se embora a chorar,
Mas o Sol acorda com alegria.

A Lua adormece por fim
Mas o Sol não leva a mal,
O Sol ama imenso a Lua,
E voltará a vê-la pois como ela não há igual.




Vitalício Fernandes

O pequeno olhar de um filho!


De ti eu vim e contigo vou, não sei para onde, mas o que eu sei é que contigo estou.
Hoje sou o que sou, pelo que me ensinaste.
Não sei como agradecer, apenas dei-te o prazer de me ver crescer.
Comigo passaste momentos de aflição, dor, angustia e tristeza, quanto a isso pouco me interesso, já dizias tu “ de coisas tristes muito rápido me esqueço “.

Por situações constrangedoras tu passaste onde quer que estivéssemos, sabia lá eu o que fazia, mas de tão brincalhão que eu era, apenas sorrias.
Asneiras estava eu farto de fazer, sem saberes o que fazer dizias tu “ mas que filho fui eu ter!?”
Tão cedo eu falei e andei, dizias tu que até cantei.

Ao pé de ti dizias tu que ninguém me conseguia tirar, se tal o fizessem metia-me logo a chorar.
Não sabes o porquê do mesmo, mas saberá alguém explicar?
Hoje cá estou, nesse quarto tão só, a escrever aquilo que algum dia te fez sorrir e chorar, não sabia o que dizer nem o que escrever, mas quando dei por mim, já estava a sorrir!
E agora mãe o que será de mim, para onde irei se algum dia me deixares?
Guiar-me-ás como sempre o fizeste, ou esquecerás como sempre temeste?

                                                                                    







Alda Ferreira
(English teacher)

'Having reached the end of the line, I am proud to have guided you throughout this two-year-long journey.
Although the difficulties might have sometimes seemed impossible to overbridge, the truth is that you eventually succeeded.
So, never quit your hopes, fight for your dreams, be brave!
I wish you all the best.