quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A delicadeza do amanhecer

Vejo embaciar o calor no vidro
e mal distingo as formas no exterior.
Mal sinto os braços, as pernas
de não sei quê de açoite do tempo
Quase nada vejo. Tudo sinto.

O quê? Não sou eu que falo
é o vento que uiva nas frinchas
que não se agarram às janelas
e fazem o dia acordar cinzento
friorento, sonolento e triste.

Há uma pasta de branco e negro
que se misturam no horizonte.
Ténues traços vislumbram o cheiro
do sapal escondido em nevoeiro.

Os sons estão suspensos no frio.
A vida segue encolhida na hora
embaciada pelo olhar emocionado
com a delicadeza do amanhecer.



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