EDUCAR PARA O TRABALHO
DE EQUIPA
Educar para o trabalho de equipa é um constante desafio. Pois
é sempre possível questionar as melhores estratégias quando da sua aplicação. Há
métodos já testados que seguem o padrão dos comportamentos grupais e que vão dando
resultados. Mas cada grupo é, de facto, único. Um governo, uma equipa de
futebol, uma turma, uma família, uma redação de jornal, uma firma…
Valores vividos e entendidos de forma pessoal, ou ainda por entender,
e que podem ser a força ou a fraqueza de qualquer empresa. Se existir uma séria
vontade coletiva, é uma força. Se houver uma expressão de poder ou de boicote a
sobrepor-se ao diálogo, é inevitável fraqueza. E isto quando não chegam algumas,
quem sabe premeditadas, “insolvências” prematuramente, porque o espírito de
equipa é corroído por negligências ou exclusivismos, e depressa chega aquele
momento em que os (outros) membros ambicionam a sua autossuficiência para
realizarem os seus próprios projetos. O que também faz parte do processo. É
pena é não se evitar o que poderia ser evitado: sucessivos períodos de crise ou
desaguisados. Há os conflitos que podem ser naturais, como quando os filhos se querem
autonomizar, por exemplo; mas há aqueles socialmente depressivos, no seio de uma
classe política ou de um clube desportivo…
Confiamos na nossa natureza gregária, o que é a motivação maior
para nos predispormos para o trabalho de equipa, não obstante sabermos que,
mais cedo ou mais tarde, há um preço individual deduzido, numa qualquer
situação. Por vezes até é diminuto…
Se nos perguntarmos: o que é que fazemos que não é, de todo, trabalho
de equipa? Ou, pelo contrário, o que é que o é, genuinamente? Julgo que ainda
dá que pensar…
Fernando Pessoa, considerado filósofo da humanidade, um dos
génios solitários da cultura portuguesa, não gostava que lhe pegassem no braço,
porque não se achava boa companhia. Ele queria ser sozinho. Tudo indica que a
vida logo de pequeno lho ensinou; daí sentir-se mais seguro na sua solidão e ter
aprendido a tirar partido dela. A sua escrita subscreve-o. Tinha amigos, pelos
vistos não muitos, e não estava de facto isolado do mundo. Mas fez do ato
solitário da escrita o seu principal passaporte de participação social.
Na época deste poeta, na África do Sul do
início do séc. XX onde fez os seus primeiros estudos, não sei que dificuldades ele
representaria como aluno para os seus professores. Parece que também não
gostava muito da atividade física. O certo é que os professores de hoje ainda continuam
a ser confrontados com alunos que preferem desenvolver trabalho individual.
Alguns desses alunos até são de temperamento razoavelmente sociável. Será que equacionarão
as fragilidades das regras instituídas para o trabalho de grupo? Ou será sobretudo
pelas frágeis condutas não regulamentadas, muitas e variadas, que nunca se quer
denunciar porque são tão mesquinhas quanto quem do grupo as ouse denunciar?
Claro que um chefe de Estado não costuma revelar publicamente
as pressões de que é vítima por parte de certos grupos económicos. Um aluno
evita denunciar os abusos de um colega. Um trabalhador procura desembaraçar-se
sozinho das dificuldades que certos colegas seus intencionalmente lhe colocam
no caminho….
E esta é a história da Humanidade. Há quem a conceba como uma
espiral. Outros por ciclos. Dois passos à frente e um atrás. Ou vice-versa. Quem
compare os homens aos caranguejos dentro dum balde: quando um começa a subir há
sempre algum que cuida de o puxar para baixo.
Apesar de tudo, educar continua a significar dar a alguém os
cuidados necessários ao desenvolvimento da sua personalidade e faculdades. O mesmo
é dizer que, se aprendemos uns com os outros, intencionalmente ou não, estamos
numa permanente dádiva mútua de experiências e saberes. Mesmo que os métodos nem
sempre sejam os mais pedagógicos ou legítimos.
Vamos mantendo a predisposição inata para a cooperação. Ao
longo das diferentes eras da nossa existência, alguma educação necessariamente já
adquirimos ao longo da história das civilizações. Mesmo que não seja o espírito
de equipa o forte da raça humana, pode ser que um dia o venha a ser… Pelo menos
tem despertado com vigor em situações extremas.
Entretanto, nós, educadores de profissão, cá vamos humildemente
fazendo também por contribuir para a aprendizagem em grupo, na medida em que
nós mesmos queremos (des)aprender.
Há dias deixou-nos um dos grandes defensores da Causa
Educativa, Nelson Mandela, mas o seu legado continua mais atuante que nunca: “A
educação e o ensino são as armas mais poderosas que podes usar para mudar o
mundo” (inscrição mural no Bairro da Quinta da Fonte, em Loures). Um comovido
agradecimento pelos seus sábios ensinamentos.
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