Desde la frontera
Sobre o
conceito de fronteira, José Luis Sampedro, conceituado professor, economista e escritor catalão, afirmou que há fronteiras de todas
as classes: geográficas, históricas, biológicas, sociais, psicológicas,
artísticas…
E passou à distinção entre
fronteira e limite.
O cabo «Finis Terrae» (do latim:
fim da terra) para Sampedro não é um limite, mas uma fronteira, porque não é
nenhum final de meta para o Homem. E para ele, em frente do oceano, os olhos e
o pensamento vão mais longe, superando a costa. O mar não é um confim nem uma
barreira, mas a maior porta para a liberdade.
Mis
fronteras son todas trascendibles, como lo es la membrana de la célula, sin
cuya permeabilidade no sería posible la vida, que es dar y recibir,
intercambio, cruce de barreras. Y más aun que trascendible la frontera es
provocadora, alzándose como un reto, amorosa invitación a ser franqueada, a ser
poseída, a entregarse para darnos con su vencimiento nuestra superación: ese es
el encanto profundo del vivir fronteirizo. Encanto compuesto de ambivalencia,
de ambigüedad – no son lo mismo -, de interpenetración, de vivir a la vez aquí
y allá sin borrar diferencias. Más allá nos tienta lo otro, lo que nos tenemos:
nos lo canta y nos lo promete la frontera. (pp. 16/7).
Sampedro distinguiu os traços
comuns das pessoas fronteiriças das que vivem nos centros.
Na sua opinião, os dos centros
vivem encastelados, porque erguem muralhas e fecham as portas para criar
limites ao seu território. Quando ultrapassam as muralhas, é para conquistar o
espaço do outro. “Destruyendo para conservar.” Para estes, a fronteira não é um
convite, mas uma ameaça. Os que estão fora portas são sempre inimigos. E como
não procuram aproximar-se do inimigo, a sua vida está ancorada no interior das
muralhas, onde erguem palácios, templos, normas, dogmas. Preferem a segurança
do sedentarismo e das normas, do que a aventura do movimento e da liberdade.
No seguimento da sua reflexão,
Luis Sampedro considerou que são dois estilos de vida diferentes: o fronteiriço
e o central.
O fronteiriço é ambivalente e
ambíguo, o que faz dele um ser mais dinâmico, aberto à novidade e potencial
vanguardista.
Quem vive no centro é resistente
às mudanças, e defende as suas leis e normas de forma tão rigorosa que pode
chegar a extremos do dogma, da exigência ortodoxa e, mesmo, da tirania.
Os fronteiriços são
revolucionários.
Contudo, tão vital é a mudança
como a permanência. Tão lícita a atitude fronteiriça como a central. Concluiu
esta distinção dizendo que os dois estilos podem ser complementares.
Mas declarou-se fronteiriço,
porque aberto à inovação e ao progresso. “[…] como cantó el gran fronteirizo Pablo Neruda: «no es hacia abajo ni
hacia atrás la vida.»” (p. 20)
Os próprios contrabandistas que
Sampedro conheceu eram alegres, atentos, cordiais e saudavelmente pícaros. Não
viviam enganados, porque tinham consciência que o contrabando apenas é delito
aos olhos da lei do serviço da extorsão fiscal. Para um defensor do mercado
livre, o contrabando devolve a liberdade de oferta que o Estado retirou.
À luz da fronteira aduaneira da
sua vida quando se dedicou a estudar economia, a queda do muro de Berlim servia
de bom exemplo da diferença entre a atitude fronteiriça e a atitude central.
Estes últimos, encararam-no como o fracasso do comunismo e a vitória da verdade
do capitalismo. E o facto é que não há liberdade de eleger no nosso mercado,
porque sem dinheiro não é possível eleger nada.
A ciência económica evoluiu
muito. Mas em que direção, perguntou-se. Sampedro deu a entender que nem o
liberalismo nem o comunismo evoluíram. Então é crucial a reforma dos
pressupostos básicos da economia.
Quienes
creemos que la humanidad evoluciona en espiral, repitiendo su paso por los
mismos ejes, aunque a distancias crecientes del centro, recordamos que así
cayeron antes todos los imperios. (p. 27)
A nossa
civilização, segundo o mesmo autor, rompeu com o sagrado e elevou aos seus
altares o dinheiro e o materialismo. Subestima-se o sentimento. Há muita
ciência e pouca sabedoria. Sampedro alertou, contudo, para os riscos nessa luta
contra os desajustamentos e desequilíbrios sociais, do uso dos extremismos que
só os agravam.
Se o amor não é sagrado, como é
que vai ser a morte, interrogou-se.
Pues la
muerte no es lo contrario del vivir, sino el horizonte que lo confirma y contra
el cual gana la existencia en intensidad […]. Si conscientemente dejamos a la
muerte que nos acompañe, hace milagroso cada instante, retoca voluptuosamente
el irrecuperable pasado, hace incierto el futuro y así más deseable. No es
enemiga, sino amiga, quien nos salva de la decrepitud; pero esta civilización
no lo entiende y escamotea la presencia de la muerte en nuestro escenario
social. (p. 31)
Rosa Maria Duarte, O Canto do Cisne no Retorno do Eu ao Ato da Escrita, 2015.
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